Vale uma divagação antes do post? Uma divagação
engraçada, pelo menos para mim, e que surgiu durante um bate papo com os meus
irmãos. Tudo começou quando conversávamos sobre a cirurgia da próstata que o
meu irmão do meio terá que realizar dentro de mais alguns dias. Conversa vai,
conversa vem, eu acabei me lembrando que o mano mais velho também terá que
passar por uma cirurgia, mas nos testículos. Então, eu lancei a pérola para o
Lango, o do meio:
- Pera aí mano, Você vai operar da próstata, o Beto
dos testículos e eu, fatalmente, vou entrar na faca por causa de hemorroidas de
segundo grau em estágio avançado, sem contar que já passei por uma fístula
perianal,
- Verdade; e tudo naquele lugar! – disse o Lango rindo.
- Aliás, todos nós vamos passar por cirurgias
“naqueles lugares”. – respondi, rindo também.
O cômico disso tudo e que nos fez dar boas gargalhadas
foi o que dissemos depois. Falei para ele que parecia praga porque os três vão
ter que encarar cirurgias em ‘pontos estratégicos’, digamos assim. Um na “porta
de trás” e os outros dois na “porta da frente”. Rindo muito, o Lango soltou uma
joia rara:
– Parece praga. Será que os nossos pais tiveram alguma
desavença com o Bento Carneiro e com isso, aquele vampiro mardito rogou alguma
praga na gente? – Então, eu fui no embalo e completei – “Quem sabe né? Coisa do
tipo: ‘Puquê eu tenhu podê. Se eu quisé é só balança a minha capa que dois
desse aí vão tomá na pimba e o outro vai tomá no fiocó!
Rimos muito, mas muito mesmo. Este momento de
descontração serviu, até mesmo, para esquecermos das cirurgias que teremos de
realizar. Afinal de contas, toda cirurgia gera apreensões.
Mas tudo bem, chega de divagações e vamos ao que
interessa. Na postagem de hoje quero escrever, novamente, sobre os livros de
bolso que foram considerados verdadeiras sensações na década de 70 quando
estavam no auge da popularidade no Brasil. Nesta época era comum vermos as
pessoas ‘sacando’ da bolsa ou do bolso, os seus livrinhos pulp fictions das
coleções ZZ7, FBI, Trevo Negro, entre outras e lendo tranquilamente nas filas
de bancos, nos ônibus, nos consultórios médicos, enfim, nos mais diversos
lugares.
Na lista de hoje, escolhi oito livros de bolso da era
das ‘pulp fiction’ que fizeram um baita sucesso na década de 70. A boa notícia
é que alguns títulos dessas coleções ainda podem ser encontrados nos sebos.
01
– Brigitte Montfort
Abro a nossa top list com a personagem considerada a rainha das pulp fictions. Brigitte Montfort ou simplesmente “Baby” é uma agente da Cia letal até a ‘última gota’. Perita no manejo de vários tipos de armas, desde as mais simples até as mais bélicas, também fala fluentemente vários idiomas. É mole ou quer mais. Ela fez a alegria de muitos marmanjos na década de 1970.
Criada pelo escritor espanhol Antônio Vera que
assinava suas histórias com o pseudônimo de Lou Carrigan - foi considerada o
principal produto da Monterrey, editora especializada na publicação de livrinhos
de bolso em papel jornal. Os traços estonteantes da espiã nas capas dos livros
eram desenhados pelo brasileiro José Luiz Benício.
Os livros de bolsa de Brigitte Montford eram uma
verdadeira coqueluche entre os cinquentões e sessentões da minha geração.
02
– Trevo Negro
Em meados dos anos 70, principalmente a partir de 1976, o gênero terror estava na moda o que acabou originando várias edições de bolso sobre o tema, principalmente em quadrinhos. A mais conhecida foi a série “Trevo Negro”.
A publicação da editora Cedibra conquistou os amantes
das histórias de terror. Cheguei a ler alguns enredos de Trevo Negro e posso
garantir que eram assustadoras. Brrrrrrr.
A Cedibra publicava quatro séries mensais, uma a cada
semana: Trevo Negro séries Vermelha, Verde, Amarela e Azul.
Garanto que muitas pessoas que estão lendo esse post,
já sentiram aquele calafrio incômodo ao terem topado no passado com alguma
história de “Trevo Negro”.
03
– K.O. Durban
Outra série famosa da Monterrey foi K. O. Durban do escritor brasileiro Hélio do Soveral. O personagem era uma paródia dos espiões da cultura pop como James Bond de Ian Fleming. Esta série também teve as capas produzidas por José Luiz Benício.
Vale lembrar que Soveral, criador de K.O. Durban, chegou
a escrever cerca de 230 livros, além de várias novelas para o rádio e peças
teatrais. Aliás, consta que Hélio foi um dos pioneiros da Rádio Nacional do Rio
de Janeiro.
K.O. Durban, se transformou rapidamente numa
verdadeira febre nos anos 70. O personagem protagonizou as mais inusitadas
aventuras de espionagem conquistando um grande número de leitores.
04 – Coleção FBI
O escritor espanhol Antonio Vera Ramírez, que assinava como Lou Carrigan, além de ter sido o autor dos enredos de Brigitte Montfort também escreveu as histórias da coleção FBI, outro selo de sucesso da editora Monterrey. Era comum Ramirez usar vários outros pseudônimos diferentes – além de Lou Carrigan - para escrever os enredos de espionagem que conquistaram leitores em todo o mundo.FBI foi uma das primeiras coleções de bolsilivros com
temática de espionagem, lançada pela Monterrey. No número 317, a série mudou
para o nome FB7, pois foi proibida de usar a sigla FBI.
Também teve uma segunda edição republicando as mesmas
histórias, apenas com capas diferentes, a maioria desenhadas pelo ilustrador
brasileiro Benício.
O meu irmão mais velho adorava essa coleção. Todas as
semanas chegavam novos livrinhos em casa. E para variar, o menino aqui, pegava
carona nas compras e devorava as histórias.
05
– Chumbo Quente
Os livros de bolso da Monterrey eram divididos por séries: HH (guerra), FBI (policial), além dos inúmeros selos de faroeste, entre os quais: Oeste Carga Pesada, Oeste Beijo e Bala, Tiroteio, Chumbo Quente, Chumbo Mortal, entre outros. O mais famoso deles, no gênero faroeste, sem dúvida, era Chumbo Quente.
Naquela época, eu tinha o hábito de dizer que toda vez
que abríamos esse livro de bolso chovia bala para todos os lados. Os enredos
eram recheados de duelos, vilões, mocinhos, desafios em saloons e por aí afora.
Além da série FBI, o meu irmão também era um grande fã
de Chumbo Quente e claro, Brigitte Montfort. Uma curiosidade dessa série da
Monterrey é que as histórias eram escritas por nomes como Donald Curtis,
Mortimer Cody e Peter Kapra, mas na realidade todos esses nomes não passavam de
pseudônimos de um único autor. Já pensou?!
06
– Mulher e Colt
Não me diga que você acreditava que o velho oeste era território apenas dos homens? E que somente eles eram bons no gatilho? Pois é, sinto dizer, mas você se enganou e muito. A Monterrey tinha um selo chamado “Mulher e Colt”, muito popular nos anos 70, onde as garotas é que davam as cartas nos enredos.
Tudo bem que Chumbo Quente era a campeã de vendas da
editora nesse gênero, mas Mulher e Colt não ficava atrás e também conquistou um
grande número de leitores e leitoras.
07
– Perry Rhodan
“Perry Rhodan” foi o título de uma série de livros de ficção científica publicada a partir de 1961. Os livros de bolso do personagem atingiram décadas de sucesso comercial e tornaram a série um fenômeno de vendas.
As histórias faziam uma crítica feroz à realidade da
época fazendo os leitores refletirem em 1960 sobre a Guerra Fria, em 1970 sobre
a New Age e em 1980 sobre o movimento pacifista e por aí afora, tudo isso, nas
entrelinhas das histórias.
Escrito por uma equipe de autores que se alternam,
“Perry Rhodan” tinha periodicidade semanal.
A série foi criada em 1961 por K. H. Scheer e Clark
Darlton. Inicialmente concebida para ser uma trilogia, ela se tornou um sucesso
duradouro.
08
– O Coyote
Brigitte Montford e o Coyote foram os grandes responsáveis pelo sucesso editorial da Monterrey, dando aos seus criadores, respectivamente, Lou Carrigan e José Mallorqui o status de grandes estrelas, assegurando o sucesso de vendas da editora.
O Coyote pode ser considerado o pai dos livros de
bolso no país, já que tudo começou com ele em meados dos anos 50. Em 1956, logo
após a sua fundação, a Monterrey lançaria o formato no Brasil tendo como
protagonista o justiceiro mascarado. Brigitte Montford só apareceria anos
depois. Por isso, o Coyote foi o grande desbravador do gênero livro de bolso aqui
na terrinha.
Mallorqui escreveu a primeira história do justiceiro
mascarado em 1944 (“A Chegada do Coyote”), o personagem fez tanto sucesso entre
os leitores, que Mallorqui resolveu transformar a sua história – que a
princípio deveria caber em apenas um lívro, e Zefini – em uma série. Resultado:
o autor espanhol acabou escrevendo 192 títulos até 1953. As edições de bolso de
“O Coyote” continuaram sendo relanças pela Monterrey na década de 1970.
Taí galera, valeu!
Por hoje é só.
2 comentários
Li muitos desses livretos, mas já no inicio dos anos 80, principalmente faroeste e não só da Monterrey. Li Brigite Monfort, HH, FBI e Coyote e certa época isso constituiu uma febre para mim, pois sempre andava com um livrinho desses para ler ou trocar. Lia também da coleção Bolsilivros mas lembro-me que tinha uma percepção que os da Monterrey eram mais bem elaborados. Leitura despretensiosa, sem dúvidas, mas muito prazerosa e hoje motivo de recordações, boas recordações.
ResponderExcluirFrancisco, é por aí mesmo.
ExcluirSó quem, de fato, é leitor e viveu a geração "setentista" ou "oitentista" para entender a importância dos livros de bolso. A literatura pulp contribuiu para a formação de muitos devoradores de livros.
Grande abraço!