Como um grande fã de mitologia grega já li muitos livros do gênero, mas notei uma grande diferença em As 100 Melhores Histórias da Mitologia – Deuses, heróis, monstros e guerras da tradição greco-romana com os demais. Esta diferença está na abordagem de alguns mitos, ou seja, enquanto grande parte das obras que exploram o tema optam por narrar mitos de deuses, heróis ou de acontecimentos que ao longo dos anos se tornaram comuns e do conhecimento de todos os amantes da mitologia grega, o livro de A.S. Franchini e Carmen Seganfredo brinda os seus leitores com uma grande variedade de mitos pouco conhecidos, mas nem por isso menos interessantes.
Na minha opinião, essa linha de abordagem escolhida pelos autores deixou a obra muito mais interessante, muito mais atrativa, fugindo um pouco da mesmice de histórias tradicionais como “Jasão e o Velocino de Ouro”, “Os 12 Trabalhos de Hércules”, “A Guerra de Tróia”, “Odisséia”, “O Pomo da Discórdia”, “A Caixa de Pandora”, etc. Os autores vão mais além e exploram mitos como: “O Castigo de Eresictão”, “O Javali de Calidon”, “Titão e Aurora”, “Fedra e Hipólito”, Etéocles e Polinice”, “Creúsa e Ion”, além muitos, mas muitos outros. Estes mitos pouco lembrados em outras obras do gênero deixam a leitura mais interessante porque, como já disse escrevi no início saem da mesmice dos contos que já se tornaram do conhecimento de todos os leitores que são fãs da mitologia grega.
Outro ponto positivo do livro é o seu estilo narrativo que foge dos padrões tradicionais. Por exemplo, no capítulo “A Morte de Heitor”, Franchini e Seganfredo optaram por contar a história sob a perspectiva de dois mendigos que moram nos destroços de Tróia há vários anos. Eles relembram, então, como foi a morte de Heitor após o combate com Aquiles. Os sem tetos estabelecem um diálogo muito interessante relembrando um dos momentos mais icônicos da guerra entre gregos e troianos. A narrativa chama ainda mais a atenção quando descobrimos que os dois sem tetos participaram indiretamente desse combate quando há muitos anos, no auge da guerra, eles eram ajudantes – uma espécie de criados – de Aquiles e Príamo, esse último, rei de Tróia e pai de Heitor. Por esse detalhe, ficaram sabendo de muitas novidades que não aparecem em outros livros sobre o assunto.
Os autores também apresentam novos detalhes com relação aos mitos já conhecidos de “Teseu e o Minotauro”, “Jasão e o Velocino de Ouro”, “Hércules” e outros. Eles escolheram contar essas histórias não de um modo distanciado e acadêmico, mas como ocorria no início: como histórias de pessoas reais, de carne e osso, que realmente existiam. Resultado: as narrativas tornam-se hiper-interessantes e os leitores as devoram com prazer.
Vale lembrar que aquilo que hoje conhecemos por mitologia greco-romana começou como histórias mágicas e alegóricas que os antigos inventaram para, na falta da ciência, responder a algumas perguntas. Coisa do tipo: Como começou o universo? Como surgiram os homens? O que há no além-mar? Para onde vão as pessoas quando morrem? De onde surgiram os animais que habitam a terra? O que ocasiona os relâmpagos. As respostas para essas e outras questões foram sendo forjadas pela sabedoria popular, isto é, não foram obradas por um autor específico, mas nasceram espontânea e anonimamente da necessidade delas próprias e passaram de geração em geração em relatos flexíveis, que se modificaram e se modificam conforme as circunstâncias.
De tempos em tempos, um compilador decide fixa-las na forma que melhor lhe convém, daí porque hoje podemos encontrar tantas versões de cada mito. Mas, para mim, a forma de narrativa desses mitos, escolhida pela dupla de autores de As 100 Melhores Histórias da Mitologia foi a mais interessante até agora de todos os livros que li sobre o assunto.
Como diz o próprio título da obra, são 100 histórias diferentes que irão deliciar os leitores. Adorei todas elas e tenho certeza de que os fãs de mitologia grega também irão amá-las.
Boa leitura... boa viagem com os mitos narrados por A.S. Franchini e Carmen Seganfredo.
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