Existem personagens de romances épicos que no
momento em que entram em cena, pela primeira vez no capítulo de um livro, tem o
poder de transformar qualquer leitor – inclusive, os mais frios e controlados –
num ser ensandecido gritando Hip hipi hurra como se estivesse assistindo uma movimentada
matinê de cinema.
Se você já atingiu o êxtase numa matinê ou então no
escurinho do cinema, no momento em que o todo poderoso protagonista entra em
ação deixando evidente o seu carisma, coragem e poder, com certeza, entende o
que estou tentando dizer.
Conan é um personagem desse tipo. Até mesmo aqueles
leitores que não tem uma intimidade tão grande com o cimério, acabam indo às
nuvens quando leem algo do tipo: “Conan
grudou as costas na parede e ergueu o machado. Ficou estático, como um ídolo
inconquistável... As pernas afastadas, cabeça voltada para a frente, uma mão
apoiada na parede e a outra segurando o cabo do machado. Com poderosos músculos
evocando cordilheiras de ferro e as feições congeladas num rosnado furioso e
letal... Seus olhos queimavam terrivelmente em meio à névoa de sangue que
descera sobre eles. Os homens vacilaram... Eles podiam ser criminosos selvagens
e devassos, mas vinham de uma raça que tinha um pano de fundo civilizado. O rei
(Conan), por outro lado, era um bárbaro... um assassino nato. Eles recuaram...”
ou então esta outra pérola: ‘O cimério pôs a mão sobre o cabo da espada, o
gesto foi tão pleno de ameaça quanto o rosnar de um tigre que mostra as
garras... Conan disse: ‘Não sou nenhum nemédio civilizado para temer diante de
seus cães contratados. Matei homens melhores do que você por menos do que
isto... Qualquer homem que me tocar irá
rapidamente conhecer seus ancestrais no inferno’, respondeu o cimério
entredentes, os olhos lançando flamas rápidas de fúria perigosas.
Todas essas passagens que citei acima marcam
desafios ou então antecedem sangrentas batalhas e situações de perigo
enfrentadas pelo famoso guerreiro que apesar de ser um bárbaro acaba, por sua
vez, conquistando a simpatia dos leitores.
Por isso quando soube que a editora paulista Pipoca
& Nanquim havia colocado no mercado três livros, em edição luxuosa,
contendo na íntegra todas as aventuras de Conan, seguindo a ordem que foram
publicadas, originalmente, na icônica revista pulp Weird Tales no período de
1932 a 1936, não pensei duas vezes e comprei os três volumes.
Acabei de ler o livro I e, simplesmente, adorei. Os
seis primeiros contos da coleção, incluindo o antológico e elogiado “A Fênix na
Espada” não negam fogo e conseguem prender a atenção dos leitores ávidos por
livros de aventura. As batalhas são descritas de uma maneira tão real que faz
com que os leitores acabem presenciando os golpes de espadas e machados envolvendo
valentes guerreiros de grandes exércitos. Li o primeiro volume, com pouco mais
de 300 páginas, em menos de uma semana e como já disse, amei.
“Conan – O Bárbaro – Livro I” mostra como tudo
começou, republicando os contos escritos pelo texano Robert Ervin Howard
(criador de Conan e também do gênero que ficou conhecido com ‘Espada e
Feitiçaria’) na ordem original em que foram lançados nos Estados Unidos,
durante a década de 1930. Também contém uma sessão de extras, com ensaios,
poemas e aventuras de Conan publicados postumamente, além de maravilhosas
ilustrações.
Confiram uma breve sinopse dos contos desse primeiro
volume:
01
– A Fênix na Espada
A história traz Conan já como Rei da Aquilônia,
sendo obrigado a enfrentar uma conspiração que tem por objetivo tomar o seu
trono. Então, ele se vê obrigado a ‘peitar’ todos aqueles que cobiçam o poder
que ele conquistou após muitos sacrifícios, incluindo um temível feiticeiro. O
capítulo da batalha final onde Conan enfrenta os reis que queriam usurpá-lo do
poder é fodástico. Lembrando, que a contenda acontece dentro do quarto do rei.
É mole??!!
02
– A Cidadela Escarlate
Cara, devorei esse conto! Ação, monstros, traições e
feitiçaria. Uma verdadeira montanha russa. O leitor que gosta do gênero irá se
deliciar. Neste conto, à exemplo do primeiro, vemos um Conan já mais velho e
coroado rei da Aquilônia. Mas nem por ser mais velho, o nosso bárbaro deixa de
ser... um bárbaro. E o cimério, definitivamente barbariza na história. Após ser
traído por outros três reis - submissos à um terrível feiticeiro chamado Tsotha-lanti
– que desejam tomar o seu reino, Conan cai numa armadilha e vê o seu exército
ser praticamente dizimido. Após ser capturado, o bárbaro é jogado numa masmorra
cheia de monstros criados por Tsotha para ser morto. Mas ocorre que os
traidores se esqueceram que estavam lidando com ninguém menos que Conan. Então,
o bicho pega. Iahuuuuuu!
03
– A Torre do Elefante
O famoso cimério, antes de ter se tornado um respeitado,
poderoso e temido rei, foi ladrão, pirata, mercenário e guerreiro. Neste conto,
por exemplo, vemos um Conan ainda bem jovem sobrevivendo como ladrão no reino
de Zamora, na infame Cidade dos Ladrões, onde proliferam os piores facínoras
que a civilização tem o infortúnio de produzir.
O bárbaro comete o erro de tentar roubar o lendário
tesouro da igualmente lendária Torre do Elefante. Ele nem imagina que a
majestosa edificação oculta horrores capazes de atemorizar até mesmo os deuses!
A Torre do Elefante é considerado pela crítica como
o mais memorável conto de Howard, criador de Conan.
04
– O Colosso Negro
Neste conto, vemos um Conan mercenário a serviço de
um reino. A rainha,
em sonho, recebe uma mensagem do deus Mitra que
ordena que entregue o comando do seu exército e o destino do seu povo nas mãos
do primeiro guerreiro que encontrar ao vagar pela cidade. Advinhem só quem é
esse tal guerreiro? (rs). Pois só assim, ou seja, seguindo essa profecia, é que
a jovem rainha conseguirá salvar o seu reino do ataque de um poderoso e
maléfico feiticeiro que quer conquistar as suas terras. O conto ganhou esse
nome porque o feiticeiro tem o poder de invocar um demônio parecido com um
camelo que arrasta uma carruagem soltando fogo negro.
05
– Xuthal do Crepúsculo
Após participar, como mercenário, de uma sangrenta
batalha, Conan e uma garota fogem de seu captores e vão parar no árido deserto.
Lá, eles encontram uma cidade que aparentemente será sua salvação, porém o
cimério, juntamente com a garota, não esperavam os perigos irracionais que a misteriosa
cidade reserva. A cidadela guarda um segredo horripilante e que será desvendado
por Conan. Logo depois, o guerreiro bárbaro e sua espada entram em ação,
comendo o couro.
06
– O Poço Macabro
Neste conto, Conan é um pirata e está perdido no
mar, quando avista um navio e decidi nadar até ele. O cimério é recebido pelo
capitão da embarcação, um homem muito violento, e também por sua bela escrava.
Após alguns conflitos entre comandante e tripulação,
o barco vai parar num misteriosa ilha onde existe um poço maldito de propriedade
de seus estranhos moradores que guardam um segredo muito tenebroso. Tenham
certeza de que, novamente, a espada de Conan irá assobiar bonito!
No capitulo reservado aos extras, o livro ainda
brinda os seus leitores com o conto “O Deus na Urna” que foi uma das primeiras
aventuras de Conan que Howard escreveu.
A curiosidade é que essa história foi, junto de “A
Filha do Gigante de Gelo” e “A Fênix na Espada”, submetida à avaliação do
editor da revista pulp Weird Tales, Farnsworth Wright, em 1932. Querem saber o
que aconteceu? Ok, eu conto. Wright, simplesmente, rejeitou duas delas,
aceitando publicar apenas “A Fênix na Espada”.
“O Deus na Urna” e “A Filha do Gigante do Gelo” só
foram publicadas muitos anos após a morte do autor.
Apenas lembrando que ainda no capítulo dos extras,
você encontrará o poema Ciméria e uma explicação completa sobre o surgimento e
desenvolvimento da fictícia Era Hiboriana onde nasceram e viveram os ancestrais
de Conan.
O primeiro volume de “Conan – O Bárbaro” da Pipoca
& Nanquin é divinamente incrível.
Uma leituraça que vale à pena.
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