O meu interesse por Contos Macabros – 13 Histórias Sinistras da Literatura Brasileira,
obra organizada por Lainister de Oliveira Esteves e lançada pela editora
Escrita Fina em 2010, surgiu após ter lido um conto de terror escrito por
Monteiro Lobato presente na coletânea ObrasPrimas do Conto Fantástico (1961) da Martins Fontes. Isto aconteceu há
‘uns’ três anos e ainda me lembro que na época levei um baque danado porque não
assimilava, de maneira alguma, que o criador do Sitio do Pica-Pau Amarelo, que encantou
tantas crianças ao longo dos anos, também fosse capaz de escrever um conto de
terror psicológico tão pesado e mórbido quanto “Bugio Moqueado”.
Adorei a história, me impressionou demais, mas admito
que fiquei meio que em choque ao saber que o seu autor foi o escritor de
histórias infantis mais famoso do Brasil. Depois disso passei a pesquisar
outros romancistas brasileiros que também optaram por seguir o exemplo de
Lobato, fugindo de suas características literárias, pelo menos, em algumas
poucas obras. Com isto, viria descobrir o livro organizado por Esteves - que
trazia em seu conteúdo, contos de terror escritos por grandes romancistas
brasileiros do século XIX e das primeiras décadas do século XX.
Fiquei imaginando Bernardo Guimarães, autor de Escrava
Isaura escrevendo um conto macabro durante os intervalos da redação do seu famoso
melodrama que conquistou o Brasil; ou então, Machado de Assis esquecendo, um
pouco, de Dom Casmurro e ‘atacando’
de Edgard Allan Poe do qual era um leitor ávido, tanto é que foi o tradutor do
poema O Corvo.
Tinha muita curiosidade para ver o lado mais sombrio
desses autores brasileiros famosos. E assim, comprei o livro após descobri-lo
num sebo por um preço bem módico.
Como toda coletânea de contos, alguns são bons e
outros nem tanto. A obra traz 13 histórias sinistras escritas por nove
escritores célebres do passado, quatro deles com direito a dois contos – Machado
de Assis, Aluísio Azevedo, João do Rio e Humberto de Campos.
Confesso que alguns contos me perturbaram muito, como Seus Olhos e A Causa Secreta que mostraram um Machado de Assis bem sádico. O
Bebê de Tarlatana Rosa e Dentro da Noite (João do Rio), Confirmação (Gonzaga
Duque), A Dança dos Ossos (Bernardo Guimarães), Retirantes (Humberto de Campos)
e Demônios (Aluísio Azevedo) também me agradaram.
Por outro lado, achei bem fracas as histórias de
Álvares de Azevedo (Bertram) e Lima Barreto (O Cemitério). Quanto ao O
Impenitente (Aluísio Azevedo), O Defunto (Thomas Lopes) e O Juramento (Humberto
de Campos) são passáveis, ou seja, dão para o gasto, só isso. No balanço final,
trata-se de um uma boa coletânea de contos de terror, mas desde que os leitores
leiam o livro por uma ótica diferente. Deixe-me explicar melhor: os contos
foram escritos no final do século 19 e início do século 20, portanto não
podemos fazer comparações com o que é produzido atualmente. O relato que hoje
pode parecer inocente, há um século atrás causava pânico, apesar disso, os dois
contos do Machadão me deixaram com todos os pelos do corpo arrepiado: de medo e
asco.
Vamos com um breve resumo das 13 histórias.
01
– Bertram (Álvares de Azevedo)
Bertram faz parte do livro de contos chamado Noite na
Taverna, publicado em 1855. A obra traz a história de cinco personagens que,
enquanto bebem numa taverna funesta, contam suas aventuras repletas de sangue e
desejo. Bertram, um desses cinco, é o segundo a pedir a palavra para narrar uma
aventura terrível envolvendo amor e morte.
Além da linguagem rebuscada, achei a narrativa muito
lenta e cansativa. Nem mesmo o clímax final serviu para dar uma animada.
02
– A Dança dos Ossos (Bernardo Guimarães)
Uma autentica história de assombração. Num cenário
rural e isolado, Bernardo Guimarães coloca, ao redor de uma fogueira, homens
rústicos que contam histórias uns para os outros. E uma dessas histórias é
sobre o assassinato de um homem que volta para assombrar as pessoas que
insistem em passar por uma floresta. Conto bem mais divertido do que
assustador, mesmo assim, merece a leitura. Gostei.
03
– Sem Olhos (Machado de Assis)
Uh! Uh! Este é fodástico. E coloca fodástico nisso!
Nem mesmo o tempo, mais de um século, o conto foi escrito entre dezembro de
1876 e fevereiro de 1877, conseguiu amenizar a aura tenebrosa dessa narrativa que incomoda e muito. Machadão narra a sombria história de amor de um homem em
seu leito de morte. O moribundo relembra o passado de um homem muito ciumento
que não admitia, de maneira alguma, que a sua mulher olhasse, literalmente,
para nenhum homem. Certo dia ela olha, mais do que isso, flerta, então... vem o
castigo. Brrrrrrrr!!!
04
– A Causa Secreta (Machado de Assis)
Outro conto do grande Machado que judia dos nervos dos
leitores. “A Causa Secreta”, publicada, originalmente na Gazeta de Notícias
(jornal carioca de grande circulação) em 1885 mostra o lado literário bem
sádico do ilustre romancista. Neste conto considerado por muitos um verdadeiro
clássico da literatura brasileira, temos o drama de um homem que sente prazer
em observar a dor e o sofrimento alheio. Cara, a cena do rato é de embrulhar o
estômago. Fiquei pasmo.
05
– Demônios (Aluísio Azevedo)
Demônios é dividido em 13 capítulos e o autor optou
por terminar cada um deles no climax da história, deixando o leitor impaciente
para saber o que irá acontecer no capítulo seguinte. Aluísio Azevedo traz a
tenebrosa saga de uma noite que não parece ter fim. O conto foi publicado em
1891.
A história começa com o despertar de um escritor em um
dia incomum. As horas se passam e ele percebe que o dia não nasce. Há apenas a
noite interminável. Sendo assim, ele parte para uma jornada que se torna mais e
mais assustadora. Às cegas, sem qualquer luz, vai buscar sua amada Laura.
A procura resulta em um reencontro inesperado, que transformará
a vida dos dois medonhamente. Um conto fantástico!
06
– O Impenitente (Aluísio Azevedo)
Apenas razoável, não mais do que isto. Foi publicado
pela primeira vez em 1898. Nele, um frade tem uma horrível surpresa depois de
perseguir a mulher que tanto desejava. Mais uma história de assombração, mas
não tão boa. Como já disse no início desse post, apenas passável.
07
– O Defunto (Thomaz Lopes)
O Defunto narra a angústia de um homem enterrado vivo.
O conto de Thomas Lopes lançado em 1907 aparece ainda na seleção Contos
Brasileiros, publicado em 1922. Apesar do tema macabro, achei a narrativa
arrastada com muita encheção de linguiça. Leitura cansativa, mas deu para passar;
espremido, mas deu.
08
– Dentro da Noite (João do Rio)
Dentro da Noite, à exemplo de O Bebê de Tarlatana Rosa
fazem parte de um livro de contos lançado em 1910 e que fez um sucesso
fenomenal em todo o País, principalmente, no Rio de Janeiro, naquela época. João
do Rio (pseudônimo de Paulo Barreto) explorou, como poucos, em sua obra as
bizarras obsessões e manias presentes no povo carioca. Encontramos neste livro
personagens viciadas no jogo ou na sedução, sádicos, masoquistas e orgíacos.
No conto “Dentro da Noite” (que dá nome ao livro), o
autor narra a decadência de um homem vítima de seus desejos sádicos. Ele só
sente prazer com a sua noiva, uma moça bonita mas ingênua, praticando tais
atrocidades, até que um dia... Bem, não posso revelar mais nada, senão libero
spoilers. Gostei do conto, mesmo sendo ele bem sinistro.
09
– O Bebê de Tarlatana Rosa (João do Rio)
Taí outro conto que faz parte da coletânea “Dentro da
Noite”. Aliás, O “Bebê de Tarlatana Rosa” é uma das histórias mais famosas de
João do Rio. Ela se passa no Carnaval carioca. Heitor, um mulherengo
incorrigível, conta para um grupo de amigos uma experiência bizarra e ao mesmo
tempo horripilante que viveu no carnaval.
Ao sair com alguns companheiros e, depois de percorrer
alguns salões, ele decidiu ir ao baile público do Recreio, onde conheceu
uma foliona vestida de bebê de tarlatana (um tipo de tecido leve de algodão)
rosa.
Heitor se interessa pela moça e eles decidem marcar um
encontro num lugar isolado, só os dois; mal sabe ele que a moça esconde um
segredo nada agradável atrás da inocente fantasia.
Considero O Bebê de Tarlatana Rosa um dos melhores
contos brasileiros de terror que já li.
10
– Confirmação (Gonzaga Duque)
Este conto do escritor, crítico e jornalista carioca
Luiz Gonzaga Duque Estrada, autor do romance “Mocidade Morta” (1899), narra uma
experiência científica com desdobramentos assustadores. Um médico acostumado a
mexer com o ocultismo decide fazer uma experiência mediúnica da qual participam
outros dois colegas que acabam presenciando algo assustador.
11
– O Juramento (Humberto de Campos)
“O Juramento” e “Retirantes” foram extraídas do volume
“O Monstro e Outros Contos” lançado em 1932 por Humberto de Campos. “O
Juramento” é um conto curto, de apenas quatro páginas, onde o autor narra uma
história de amor com final trágico transcorrida na terra de índios antropófagos.
Achei apenas mediana, mas o final até que surpreendeu.
12
– Retirantes (Humberto de Campos)
Um conto triste, trágico e com um final
‘hiper-surpreendente’ capaz de retirar um “Ohhhhh!!!” da boca dos leitores.
Retirantes é o triste e sinistro drama de uma senhora que precisa abandonar sua
cidade em função da seca e da miséria. A pobre coitada não tem sequer roupa
para vestir; então para cobrir a sua nudez ela decide... bem melhor, você lerem
o conto para não estragar a surpresa. Contaço!
13
– O Cemitério (Lima Barreto)
Não gostei do conto do autor do clássico “O Triste Fim
de Policarpo Quaresma”. Achei sem graça, sem medo, sem emoção. O pequeno texto
(apenas duas páginas) trata da perplexidade de um homem que se vê desejando a
foto de uma mulher morta toda vez que passa em frente a sua sepultura. Não há
grandes desdobramentos fantásticos, somente o medo do personagem em relação aos
próprios sentimentos.
Taí galera, uma breve resenha dos 13 contos, espero que
seja de utilidade para que vocês tenham uma noção do conteúdo dos contos que
compõem a obra.
Antes de concluir, é importante lembrar que Contos Macabros – 13 Histórias Sinistras da
Literatura Brasileira traz uma breve biografia dos nove autores que compõem
a obra. Dessa forma, os leitores poderão conhecer um pouco mais sobre a vida
desses ícones da literatura brasileira.
Inté!
2 comentários
Incrível,anotei tudo para ler depois,eu não conhecia essas histórias.
ResponderExcluirOlá Aleandre. Torço para que goste da maioria dos contos.
ExcluirGrande abraço!