Jornalista Carla Lacerda |
Há fatos que marcam a vida da gente. Podem passar
anos ou décadas que eles ficam ali agarrados em nossos neurônios e volta e meia
eles ressurgem trazendo recordações boas, ruins, tristes ou alegres. Um dos
fatos que não consigo esquecer aconteceu há quase 31 anos. Na época, eu estava
no auge dos meus 26 anos de idade e vivendo os loucos “Anos 80”: os melhores
filmes, as melhores músicas, diabruras com os amigos, paqueras, zoações, enfim,
uma verdadeira loucura e das boas, diga-se. Tudo teria sido um paraíso naquela
época se não fosse um trágico acontecimento.
Estou me referindo ao acidente com o césio-137 em
Goiânia.
O vazamento do material, em 1987, foi considerado o
maior desastre radiológico da história e pode ter deixado até 80 vítimas fatais.
A tragédia teve início após dois catadores de lixo
entrarem em contato com uma porção de cloreto de césio, o tal césio-137. O
componente químico ficava dentro de um aparelho de tratamento de câncer, que
estava em uma clínica abandonada na capital de
Goiás. Foram necessários apenas
16 dias para que o “brilho da morte”, como a substância ficou popularmente
conhecida, matasse quatro pessoas e contaminasse centenas.
Yago Sales que colaborou na obra |
Em apenas duas semanas, o césio-137 causou o maior desastre
radiológico do mundo.
Até hoje, não entendo tanta irresponsabilidade. Cara!
Como você desativa uma unidade de tratamento de câncer e esquece no local uma
máquina velha de radioterapia?!! E foi justamente isso que aconteceu. Todos os
aparelhos da clinica foram levados, menos a maldita máquina.
Este equipamento que usava cloreto de césio em pó
como fonte de energia chamou a atenção de dois catadores de lixo. Pensando em ‘fazer
dinheiro’, levaram a arma mortal para casa, desmontaram e após entrarem em contato
com a cápsula de césio-137, decidiram vendê-la juntamente com o equipamento
para o dono de um ferro velho que ao ver a cápsula brilhante, acreditou ter
encontrado a verdadeira pedra filosofal. ‘Estourando’ de alegria resolveu
chamar vários amigos, colegas e vizinhos para mostrar a sua descoberta.
Pronto... Tava feito o estrago. O veneno mortal se espalhou e contaminou, praticamente,
toda a cidade.
Acidente com o césio-137 causou medo, pânico e mortes em Goiânia |
Quando o acidente do césio-137 completou 20 anos, a
jornalista goiana Carla Lacerda lançou – pela primeira vez – o livro “Sobreviventes
do Césio-137”. Agora, decorridos mais de 10 anos, ela decidiu – juntamente com
outro jornalista, Yago Sales - recontar
a história de uma maneira mais completa, acrescentando muitas outras informações,
além de novos depoimentos.
Esta 2ª edição de “Sobreviventes do Césio-137”,
lançado em agosto, questiona os dados
sobre as mortes em decorrência do “acidente” com a substância radioativa.
Falaram em seis, 12 e, em seguida, 15.
Na minha opinião, o ponto alto da obra foi a atenção
que os autores dispensaram ao relato das vítimas e de seus familiares que fizeram
revelações surpreendentes , muitas delas contrariando os chamados relatos
oficiais.
Nesta nova edição, ficamos sabendo como viviam as
vítimas do acidente e o que sentiram durante esse período. Entre os depoimentos
estão o de Lucimar e Lucélia, irmãos da
menina Leide das Neves, uma das vítimas mais célebres. Lacerda escutou, ainda,
Wagner Mota que já faleceu e, por isso, o seu testemunho acabou tornando-se
raríssimo. Além dessas, há várias outras entrevistas.
“Sobreviventes do Césio-137” pode ser encontrado no
site da editora Nega Lilu pelo valor de R$ 40,00.
Sem dúvida, um grande livro, um grande lançamento.
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