Ao longo da história, muitos escritores equivocados escreveram
obras que ao invés de contribuir para o aprimoramento da cultura ou então para
o desenvolvimento da ciência, serviram apenas para espalhar o medo, a divisão e
o ódio. Obras que pregavam a superioridade de uma raça sobre as demais, que
incentivavam a matança de mulheres consideradas bruxas, que inspiravam as
pessoas a cometerem atos desastrosos, e por aí afora.
Livros que não fizeram nenhum bem para a humanidade,
pelo contrário, prejudicaram um grande número de pessoas que infelizmente, optaram
por seguir a filosofia ensandecida pregada pelos seus autores.
Selecionei seis obras literárias que foram
publicadas ao longo dos anos e que se encaixam perfeitamente nesta categoria.
Vamos à elas:
01
– Minha luta (Adolf Hitler)
O livro escrito por Adolf Hitler em 1925 ajudou a
disseminar pelo mundo os seus pensamentos antissemitas e racialistas. Idéias que
mais tarde foram aplicadas durante a Alemanha nazista e a Segunda Guerra
Mundial. Quem não se lembra do assassinato em massa dos judeus, um dos períodos
mais tristes da história mundial? Pois é, tudo fruto dos pensamentos genocidas
do autor do livro.
Minha Luta (Mein Kampf) tornou-se um guia ideológico
e de ação para os nazistas, e ainda hoje influencia os neonazistas, sendo
chamado por alguns de "Bíblia Nazista".
02
– A sedução dos inocentes (Frederic Wertham)
Os leitores que são fãs dos quadrinhos – assim como
eu – odeiam este livro que propaga
idéias equivocadas das Histórias em Quadrinhos (HQs). No livro lançado em 1954,
o psiquiatra alemão-americano Frederic Wertham afirma que as HQs são as grandes
responsáveis pelos casos de delinqüência, abandono dos estudos e
homossexualidade entre crianças e adolescentes. Acredita nisso?!! Após o
lançamento da obra nos Estados Unidos, o governo americano pensou até mesmo em
proibir a venda das HQs.
Mas querem saber o que aconteceu algum tempo depois?
Eu conto: pesquisadores, também americanos, descobriram que Werthman manipulou
os dados usados em sua obra. Em outras palavras, mentiu.
Em “A Sedução dos Inocentes”, o psiquiatra diz
que recebeu um grande volume de cartas (milhares), enviadas por bibliotecários,
reclamando dos quadrinhos. Ocorre que uma das pesquisadoras, a professora doutora
Carol L. Tilley, da University of
Illinois Graduate School of Library and Information Science encontrou
apenas uma dúzia – se tantas – de cartas. Esse é apenas um dos muitos exageros
cometidos pelo médico.
03
– O martelo das bruxas (Heinrich Kramer e Jacob Sprenger)
Os inquisidores Heinrich Kramer e Jacob Sprenger
possuíam o que se define hoje como uma estrutura psicológica neurótica. “O
Martelo das Bruxas” escrito em 1485 levou muita gente para a fogueira. Os
autores indicam uma série de procedimentos para se identificar uma bruxa, por
exemplo, se a mulher gostava de conviver com gatos já era suspeita.
O manual de caça às bruxas era dividido em três
partes: a primeira ensinava os juízes a reconhecerem as bruxas em seus
múltiplos disfarces e atitudes; a segunda expunha todos os tipos de malefícios,
classificando-os e explicando-os; e a terceira regrava as formalidades para
agir “legalmente” contra as bruxas, demonstrando como processá-las, inquiri-las,
julgá-las e condená-las.
Kramer e Sprenger ensinavam passo a passo como
conduzir torturas, julgamentos e interrogatórios, geralmente acompanhados de
muita violência física e psicológica.
Acreditem, mais de 50 mil mulheres perderam a vida
queimadas nas fogueiras, simplesmente por possuírem algum tipo de problema
psicológico ou então por terem pensamentos modernos, muito aquém dos da sua
época.
04
– Adolescência, sexo e cultura em Samoa (Margaret Mead)
Em 1925, o objetivo de uma jovem estudante de
graduação de antropologia era descobrir se a rebelião, o tumulto e a angústia
tipicamente adolescentes eram naturais ou culturais. E assim, lá vai a
universitária Margaret Mead para Samoa, entrevistar as garotas e os garotos
samoanos.
A autora pretendia responder as perguntas sobre sexualidade
que se mais se faziam nos Estados Unidos na década de 1920 – em particular com
referência às mulheres. Infelizmente para Mead, os garotos que entrevistou em
Samoa narraram contos selvagens de promiscuidade sexual e a autora aceitou
todos como um fato real. Quanto as jovens mulheres samoanas, disseram que
adiavam o casamento por muitos anos enquanto desfrutavam do sexo ocasional, mas
que, uma vez casadas ‘sossegavam o fogo” e passavam a criar com êxito os
próprios filhos.
Mais tarde, uma das garotas entrevistadas disse se
referindo à Mead: “- "Ela não devia
ter levado tão a sério, era só uma piada. Como vocês sabem, as meninas de Samoa
adoram uma brincadeira".
Fico pensando nos leitores que naquela época
decidiram experimentar na prática os ensinamentos dos jovens samoanos – quero dizer,
‘os estranhos contos de fadas dos jovens samoanos’ - pensando que estavam sendo
liberais e modernos.
05
– Ensaio sobre a desigualdade das raças humanas (Joseph Arthur Gobineau)
Este cientista social francês que chegou a ocupar um
cargo diplomático na corte de D. Pedro II nunca escondeu a sua animosidade com
o Brasil. Segundo ele, o nosso País tinha muita miscigenação. Gobineau afirmava
que a mistura de raças era inevitável, e levaria a raça humana a graus sempre
maiores de degenerescência, tanto física quanto intelectual. É atribuída a ele
a frase: "Eu não acredito que viemos do macaco, mas creio que estamos indo
nessa direção".
“Ensaio sobre a desigualdade das raças humanas,
publicado em 1855 também passou a ser usado para sustentar a legitimidade do
tráfico negreiro. Os pensamentos ‘infelizes’ do autor exerceu grande influencia
em muitos outros personagens que deixaram a sua marca negativa na história
mundial, entre os quais Hitler que aderiu a linha de pensamento que ficou
conhecida por “gobinismo”.
06
– Meu filho, meu tesouro (Benjamin Spock)
Publicado originalmente em 1946, Meu Filho, Meu
Tesouro é considerado, depois da Bíblia, o segundo livro mais vendido no Século
XX nos Estados Unidos. Em 1998, ano de falecimento do Dr. Benjamin Spock, o
livro havia sido traduzido para 42 línguas, com quase 50 milhões de cópias
vendidas mundo a fora.
O lançamento do livro foi um marco, ajudando a
disseminar as noções de puericultura na população, em uma época em que esses
tipos de conhecimentos eram quase que exclusivos da comunidade médica. O livro
se tornou um best-seller.
Tudo seriam mil maravilhas se não fosse por um
detalhe: o conselho para colocar os bebês para dormir sob seus estômagos. Spock
acreditava que se os pequeninos dormissem de costas poderiam sufocar no seu
próprio vômito – levando à morte. Os cientistas finalmente descobriram que o
conselho de Spock realmente levava a mais mortes por asfixia. As estimativas do
número de mortes causadas por este conselho ruim do médico são cerca de 50.000.
Taí pessoal!
Por hoje é só.
Por hoje é só.
3 comentários
Adorei o texto! Desses só tinha ouvido do primeiro. Fiquei pensando, mesmo esses livros passando conceitos distorcidos, o quanto é certo bani-los e não aprender com os erros dos autores...
ResponderExcluirAbraços!
Olá Joelma,
ExcluirFico muito feliz que tenha gostado do post. Pois é, sem contar que ainda temos muitos livros contemporâneos nesta linha. Mas tudo bem, as boas obras e os bons autores compensam.
Continue comentando as postagens do blog :)
Grande abraço!
Eu gosto muito de ler hqs, já tinha ouvido falar sobre a "sedução dos inocentes" e percebi que no livro havia um grande exagero:
ResponderExcluirOs jovens delinquentes,ouvidores derock e "maniacos" era tudo culpa de uns gibizinhos?