Ufa, terminei! Que alívio! Não, não pensem que essa ‘desopressão
pós leitura’ significa que o livro escrito por Emily Bronthë é ruim. Pelo
contrário, “O Morro dos Ventos Uivantes” é uma verdadeira obra prima da
literatura mundial. O que estou querendo dizer é que a história é muito densa e
tensa, recheada de vinganças, amores mal resolvidos, raiva, cólera, ofensas,
xingamentos, seres humanos destruídos em seu amor próprio, mortes... Olha...
melhor parar por aí. Detalhe importante: todos esses ingredientes fazem parte
de uma história de amor. Acredita? Verdade!
A estrutura do romance e o clima tenso da história fizeram
com que os críticos da Inglaterra vitoriana não aceitassem e muito menos valorizassem
a obra. A violência e a paixão contidas no enredo levaram os leitores daquela
época a acreditar que tinha sido escrito por um homem. Por outro lado, críticos
mais ferrenhos – até mesmo nos dias de hoje - passaram a tratar o livro como
uma obra patológica, ou seja, escrita por alguém que sofresse de algum
distúrbio emocional.
Quanto a essa ultima afirmação, acho de uma pobreza
de raciocínio muito grande. Na minha opinião, Emily, simplesmente, teve coragem
de transpor para as páginas de seu romance, os hábitos, costumes, linguajar,
enfim a realidade do local onde a história se desenrola: nos povoados que
ficavam nos morros distantes da Yorkshire vitoriana. Naquela época, os
habitantes das charnecas do norte da
Inglaterra tinham maneiras e hábitos próprios, diferentes dos moradores que
viviam nos grandes centros.
O que autora fez foi pegar a sua pena e colocar no
papel uma brutal história de amor envolvendo camponeses iletrados e fidalgos
não refinados que viviam nessa região e que se criaram com ensinamentos e
atenções proporcionados por mentores tão rudes quanto eles próprios..
Escritora Emily Bronthë |
Sai de cena a mocinha frágil e amorosa e em seu
lugar, entra a mocinha forte e com personalidade indomável, inclusive no amor.
Sai, o galã atencioso, conquistador e de bom coração e entra o galã – se é que
podemos chamá-lo assim – bruto, vingativo e com uma maneira sui generis de
amar.
Por tudo isso, “O Morro dos Ventos Uivantes” não foi
bem aceito numa época acostumada a histórias de amor convencionais e
estereotipadas. Emily Bronthë rompeu todos esses arquétipos, mandando-os para o
PQP. A sua obra só começaria a conquistar o respeito merecido após a sua
morte. Pena que a escritora britânica
morreu ainda jovem, aos 30 anos (1818-1848), e assim, não pode ver o sucesso de
sua criação, nem teve tempo de escrever novos livros. Podemos dizer que “O
Morro dos Ventos Uivantes” é o seu ‘filho único’.
O enredo desenvolvido por Bronthë ganhou várias
adaptações para a televisão e o cinema, além de ter servido de inspiração para
a criação do sucesso “Whutering Heights”, composta e interpretada por Kate
Bush.
Cena do filme de 1992 com Ralph Finnes e Juliette Binoche |
Ao ler o livro experimentei uma série de
sentimentos: raiva, ódio, amor, etc. Comecei gostando de determinados
personagens e torcendo por eles, mas depois com o virar das páginas queria que
eles sofressem ou morressem. Assustei-me com as atitudes de outros personagens,
chorei com o sofrimento injusto de outros.
Resumindo: a história é perturbadora e despertou em minha as mais
diferentes emoções.
Por causa desse montanha russa de emoções, onde
muitas vezes o amor anda de mãos dadas com a vingança e o ódio, a saga de
Heathcliff e Catherine Earnshaw não é recomendada para os leitores que apreciam
as histórias de amor tradicionais ou clássicas, por isso, até hoje o livro
desperta tanta polêmica. Muitos que estão à procura de um romance simples,
apenas para passar o tempo, lendo-o com um lencinho na mão, às vezes, topam com
“O Morro dos Ventos Uivantes”, então o choque é grande; com isso, as polêmicas
crescem ainda mais.
Para finalizar, gostaria de dizer que adorei a
personagem Nelly Dean que foi inspirada numa empregada da família Bronthë
chamada Thabita que todos os dias reunia Emily e suas duas irmãs para contas
histórias. Costumo dizer que Dean é a brisa suave que chega para acalmar os
corações dos leitores que muitas vezes encontram-se disparados por causa de
sentimentos conflitantes provocados por Heathcliff e Catherine. Grande parte da
história, inclusive, é narrada em primeira pessoa por Nelly Dean que conta os
acontecimentos que presenciou na propriedade conhecida por Morro dos Ventos
Uivantes, cenário onde se desenvolve toda a trama.
Recomendo, e muito, o livro de Bronthë, mas para
aqueles leitores que querem fugir, um pouco, das puritanas histórias de amor.
Valeu!
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