Olha, a ‘culpa’ desse post é do Otávio, um ex-colega
de trabalho que era responsável pela editoria de um dos jornais que tive a
sorte de estagiar.
Otávio, Otávio... que figuraça! Todo dia ao chegar
na redação, ele tinha uma mania ‘estranha ao quadrado’: fazer algumas flexões
antes de começar a executar os seus afazeres profissionais. Tirava o paletó,
ficava apenas de camisa e gravata, apoiava as duas mãos no chão e lá vamos nós!
‘Umas’ dez, pelos menos. Ele dizia que esse hábito ajudava a oxigenar o cérebro,
fluindo melhor as idéias, deixando o raciocínio mais rápido.
Lembro que lhe perguntava porque não fazia essas
tais flexões em sua casa, ao que ele me respondia que realizá-las minutos antes
do trabalho era bem mais salutar. Por isso, ele chegava antes de todos na
redação para ficar mais a vontade. Como o meu horário geralmente era de
madrugada, o ‘menino, aqui’ acabava sendo o único a constatar esse fato
surreal.
Pois é, vendo o Otávio com essa sua mania escabrosa,
certo dia tive um insight: “Cara, será que tem algum autor famoso que não
consegue escrever sem antes colocar em
prática alguma mania maluca? E quão malucas são essas manias?” Pronto! Surgia
assim, o tema do post. Guardei a idéia, mas com o tempo acabei me esquecendo
dela. Na semana passada, vasculhando as gavetas da minha escrivaninha,
encontrei o pedaço de papel com esse insight escrito, então resolvi elaborar o
texto.
Cara, você não imagina quantos escritores famosos de
bestsellers recorrem as mais estranhas artimanhas antes de começar a escrever.
Fiz uma lista de 10 autores conhecidos e seus hábitos peculiares. Vamos à eles:
01
– Kurt Vonnegut
Obras
de destaque: ‘Matadouro
5’ e ‘Pequeno Almoço de Campeões’
Este escritor estadunidense de ascendência germânica
que morreu em 11 de abril de 2007 tinha – guardados as devidas proporções – o
mesmo hábito do meu ex-colega de trabalho, o qual não vejo há muitos anos.
Vonnegut não conseguia escrever uma linha sequer, sem antes fazer várias
flexões e abdominais, além de correr e nadar.
Sua rotina de trabalho era acordar, fazer as
flexões, os abdominais, tomar um breve fôlego, correr alguns quilômetros e
finalmente: Ufaaa!! Dar algumas ‘braçadas’ na piscina. Somente depois dessa
maratona é que Vonnegut estava apto para escrever os seus livros. E tudo indica
que esses exercícios físicos ‘pré-escrita’ valeram à pena, já que de sua cabeça
saiu uma obra antológica, elogiada em todo o mundo: ‘Matadouro 5’ publicado em
1969, em plena Guerra do Vietnã.
02
– A.J. Jacobs
Obra
de destaque: ‘Um
Ano Bíblico’
Não sei se ele fez isso para aparecer ou se, de
fato, tinha essa mania ao escrever. A verdade é que o jornalista americano,
A.J. Jacobs, atual editor da revista Esquire, escreveu ‘Um Ano Bíblico’
enquanto andava numa passadeira rolante ou esteira, como queiram.
Devia ser engraçado vê-lo digitando a sua obra num
tablet acoplado na esteira. Caraca, como ele conseguia fazer isso?! Sei lá! O
que posso dizer é que essa mania maluca rendeu o livro ‘Um Ano Bíblico’.
O jornalista se propôs a dar cabo a uma tarefa
insólita: reunir todas as regras da Bíblia, do Gênesis ao Apocalipse, e
segui-las à risca durante um ano. Neste bem-humorado livro, Jacobs descreve seu
dia a dia como um bíblico fundamentalista e experimenta uma espiritualidade à
qual não estava acostumado.
03
– Truman Capote
Obra
de destaque: ‘A
Sangue Frio’
Coloco a minha mão no fogo se a maioria dos leitores
desse post não ‘bateram os olhos’ em ‘A Sangue Frio’, considerada a primeira
obra do New Journalism. Estou com o livro em minha estante e certamente será um
dos próximos em minha lista de leitura.
Galera, vocês sabiam que Capote escreveu a sua obra
máxima deitado em sua cama? Isto aconteceu porque ele não conseguia concatenar
as suas idéias se estivesse sentado numa escrivaninha. Para raciocinar e
escrever os seus livros, o autor tinha que estar deitado em sua cama ou no sofá.
Ah! Ele também tinha outro hábito peculiar; era
incapaz de escrever o que quer que fosse sem, antes, certificar-se de que, no
lugar onde estava não havia um único inseto.
Aliás, Capote era exageradamente
supersticioso: não colocava no mesmo cinzeiro três bitucas de cigarro; se
estava visitando alguém, guardava os restos dos cigarros em seus bolsos para
não encher o cinzeiro; e na sexta-feira não podia começar nem terminar nada.
Que coisa, hienn?
04 – Isabel Allende
Obras de destaque: ‘A Casa dos Espíritos’, ‘Zorro – Começa a
Lenda’ e ‘O Caderno de Maya’
O que começou como uma superstição
acabou terminando como disciplina. A autora chilena de ‘A Casa dos Espíritos’,
‘Zorro – Começa a Lenda’ e ‘O Caderno de Maya’ tinha a mania de começar a
escrever os seus romances sempre no dia 8 de janeiro. O motivo desse hábito foi
o estrondoso sucesso de ‘A Casa dos Espíritos’, seu primeiro livro. Isabel Allende
se baseou na história de sua própria família, à qual adicionou acontecimentos e
personagens fictícios, que deram grande riqueza e dramaticidade à história.
Talvez, Allende tenha associado o
sucesso de seu primeiro romance a data em que começou a escrevê-lo, o que a
levou a iniciar as suas obras posteriores sempre no dia 8 de janeiro.
Porém, como a própria autora já
disse em várias entrevistas, atualmente não se trata de uma susperstição, mas
sim de uma questão de hábito e disciplina, visto que devido ao fato de possuir
uma vida tão ocupada, ter uma data fixa para começar a escrever é bom para si e
para todas as pessoas à sua volta.
05 – Gabriel Gárcia Márquez
Obra de destaque: ‘Cem Anos de Solidão’
Nem mesmo o grande Gabriel José
Gárcia Márques, um dos escritores mais admirados e traduzidos do mundo – com
mais de 40 milhões de livros vendidos em 36 idiomas - era imune as estranhas
manias antes de escrever os seus enredos. Consta que ele precisava estar num
quarto com uma temperatura determinada e com uma flor amarela na mesa, senão
não sentava para escrever. Tem mais; o autor colombiano que faleceu em 2014
sempre trabalhava descalço.
Marquez nunca revelou a ninguém o
motivo desses cacoetes antes de escrever as suas histórias. Agora com a sua
morte, jamais ficaremos sabendo a origem dessas peculiaridades.
06 – Dan Brown
Obras de destaque: ‘O Código da Vinci’, ‘Anjos e Demônios’ e
‘Inferno’
Taí mais um escritor que ficou com
inveja e decidiu copiar a receita do Otávio. Dan Brown é o tipo do cara que
leva a máxima: ‘corpo são, mente sã’ ao pé da letra. O sujeito acorda todos os
dias as 4 horas e quando está escrevendo um romance faz questão de interromper
a sua escrita para fazer algumas flexões e abdominais. Logo depois, retorna a
sua produção literária.
Não me pergunte se ele faz esses
exercícios no seu escritório, ao lado da mesa onde está desenvolvendo a sua
obra ou se procura por um lugar mais adequado. Para esclarecer esse enigma só
mesmo o próprio Brown ou, talvez, a sua esposa.
07 – Honoré de Balzac
Obra de destaque: ‘A Comédia Humana’
O francês Honoré de Balzac
considerado o fundador do Realismo na literatura moderna era um viciado em
café. Man, sem brincadeira, durante a fase produtiva de um livro, ele consumia
em média 50 xícaras do ‘pretinho’ por dia!! Fico imaginando a quantidade total
de café consumido durante o período em que escreveu ‘A Comédia Humana’,
considerada sua principal obra, composta por 95 romances. My God! Deve ter sido
garrafões e mais garrafões de café.
Agora, se formos analisar a
quantidade de café que ele tomou durante toda a sua vida de escritor, bem...
Podemos trocar os garrafões por tonéis.
08 - Alexandre Dumas
Obras de destaque: ‘Os Três Mosqueteiros’ e ‘O Conde de Monte
Cristo’
Talvez, a mania deste outro
escritor francês seja a mais bizarra dessa lista. O grande Alexandre Dumas
escrevia pelado! Ele agia dessa maneira para não perder o foco na história.
Como? Ok, eu explico. Ele tirava toda a sua roupa e dava aos seus criados para
esconderem porque assim, não tinha como sair de casa antes de concluir o
trabalho. É importante frisar que uma vez começado um livro, Dumas trabalhava
dia após dia, noite após noite, sem cessar, até ver concluído o trabalho.
Epa...Pera aí. e quanto ao seu guarda
roupa? Pois é, acho que Dumas também dava ordem para que escondessem as chaves,
pois assim, ele não tinha a chance de apanhar uma calça ou camisa reservas.
Outra mania do autor era o amor por
maçãs. Elem devorava dúzias de maçãs por dia; escrevendo ou não.
09 – Victor Hugo
Obras de destaque: ‘Os Miseráveis’ e ‘O corcunda de Notre Dame’
Cara, como a França tinha
escritores com manias estranhas! Depois de Balzac e Dumas, apresento-lhes
Victor Hugo e o seu estranho hábito de escrever de pé. Saiba que ele produziu
‘Os Miseráveis’ e muitas de suas outras obras dispensando cadeira e mesa. Como
ele conseguia fazer essa proeza?! Caraca...melhor deixar pra lá. O que
interessa é que esse poeta,
dramaturgo e estadista francês conseguiu escrever verdadeiras obras primas como
"Os Miseráveis", "O Homem que Ri", “O Corcunda de
Notre-Dame", "Cantos do Crepúsculo", entre outros enredos
célebres.
Victor Hugo pode ser considerado o
grande representante do romantismo, tanto é que chegou a ser eleito para a
Academia Francesa.
10 – Pablo Neruda
Obras de destaque: ‘Vinte Poemas de Amor e uma Canção
Desesperada’, ‘Versos do Capitão’ e ‘Confesso que Vivi’
O poeta chileno Pablo Neruda provou os prazeres da
vida, amou as mulheres e se comprometeu com o socialismo no Chile, onde morreu poucos dias
depois de seu amigo Salvador Allende.
O escritor morreu 12 dias após o golpe militar de Augusto Pinochet, há 40 anos, e hoje a justiça investiga se ele teria sido assassinado.
Após o suicídio de Allende no palácio de La Moneda,
Neruda, Prêmio Nobel de Literatura 1971 e comunista, era talvez a figura mais
emblemática do caminho traçado pelo Chile para o socialismo, que tantas
esperanças despertou.
Esta emblemática figura da literatura chilena só
escrevia com tinta verde. Inclusive certa vez escrevia um poema quando à tinta
se tornou escassa. Quando o estoque voltou ao normal já era tarde, perdeu a
inspiração e seu poema ficou inacabado.
E você? Tem alguma mania estranha que influencia o
seu trabalho?
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