Zorro – começa a lenda

23 julho 2011
Há mais de sete anos, quando os jornais e a Internet começaram a divulgar, com freqüência, que o novo livro de Isabel Allende seria sobre o mito mascarado Zorro, confesso que fiquei com um pé atrás. Não que eu duvidasse da capacidade dessa grande jornalista e escritora chilena. Longe disso! É que a autora iria explorar um campo bem diferente do que estava acostumada. Eu conhecia a Allende dos livros “Eva Luna”, “Meu País Inventado” e “A Casa dos Espíritos”; obras fortes que eu li há vários anos e que me marcaram muito. Obras dramáticas, introspectivas e até mesmo um pouco filosóficas. Então eu parei para pensar. Espera aí?! Uma autora acostumada a escrever livros com essas características, de repente resolve reescrever uma obra prima do gênero capa e espada?! Não vai dar certo.
Via Allende como um marinheiro que estava acostumado a navegar em certas águas que conhecia na palma de sua mão, mas agora, havia decidido explorar outros mares que desconhecia e por isso mesmo não os dominava.
Então quando o livro foi lançado em 2005 e a crítica internacional esparramou elogios para todos os lados, percebi como havia sido injusto com Isabel Allende, pois tinha duvidado da sua capacidade de readaptação, ou seja, de escrever enredos diferentes do seu estilo habitual. Mesmo assim, precisava ver com os meus próprios olhos como o Zorro da escritora havia saído. Só pude fazer isso em 2006 quando o livro foi traduzido para o português e lançado aqui na terrinha pela editora Bertrand Brasil.
Li e amei a versão de Allende que foge totalmente da história original “A Marca do Zorro” escrita na década de 20 por Johnston MacCulley.
O livro de MacCulley omite totalmente a infância e adolescencia do herói mascarado, mostrando apenas o lado aventureiro do alter-ego de  Don Diego De La Vega. A vantagem dessa obra – a qual, brevemente, estarei fazendo um post – é a sua adrenalina pura. Considero “A Marca do Zorro” um típico livro de aventuras... e muito bem escrito, do tipo que prende o leitor da primeira a última página como se o arrastasse para uma montanha russa. O lado negativo, é a superficialidade do enredo que por focar somente na aventura, se esquece completamente de explorar detalhes relacionados a origem do herói. “Don Diego tinha mãe?” “Como era o seu relacionamento com ela?” “Como foi a infância de Don Diego?” “Como ele se tornou um mestre na esgrima?”, “O que o levou a se transformar no Zorro?”. O livro “Zorro – Começa a Lenda”, de Isabel Allende esclarece todas essas dúvidas. Hoje entendo o quanto a escritora chilena foi inteligente ao decidir escrever uma obra sobre um herói considerado um verdadeiro ícone da cultura pop e que não tinha um passado. Posso afirmar com convicção que a autora deu uma infãncia para Zorro, e se MacCulley foi o pai do herói, Allende pode ser considerada a sua mãe.
Se você que acompanha esse post esta afim de ler um livro de aventuras sobre o Zorro onde prevalecem duelos e mais duelos de espadas, lutas e desafios fuja da obra de Allende, mas se o que o leitor procura, de fato, é se aprofundar no passado de Don Diego De la Vega e também do seu Zorro, não pense duas vezes, cmpre logo o livro.
Escritora chilena Isabel Allende

Na primeira parte intitulada “Califórnia” que vai do período de 1790 a 1810 acompanhamos em detalhes a infancia de Diego; época em que nem sonhava que um dia viria a se transformar no herói mascarado. Allende nos conta como o pai de Diego conheceu a bela india guerreira, de apenas 20 anos, chamada Toypurnia e como eles iniciaram um relacionamento apaixonado, apesar das diferenças sociais de ambos. O nascimento do pequeno Diego, a sua infãncia agitada de menino mais do que peralta e a formação da sua personalidade forte e corajosa, são muito bem explorados por Allende.
A amizade entre Diego e Bernardo, seu fiel escudeiro, é outro ponto alto do livro. Os dois rapazes apesar de terem personalidades distintas acabam se tornando amigos inseparáveis, verdadeiros irmãos.
Na  segunda e terceira parte da obra chamada Barcelona, a escritora escreve sobre o embarque de Diego e Bernardo a Barcelona. O pai do pequeno Don Diego decide dar uma educação européia ao seu filho e com todos os requintes. Dessa forma, aos 16 anos, o futuro Zorro e seu inseparável amigo Amigo Bernardo apanham um navio e seguem viagem para o seu destino.
Nesta parte do livro, Allende aproveita para passar alguns conhecimentos históricos ao leitor como por exemplo, a ocupação da Espanha pelos franceses liderados por Napoleão Bonaparte. É nesse contexto que Diego vive boa parte de suas aventuras e amores.
Em Barcelona, ele recebe aulas de esgrima com um dos mais famosos mestres do mundo naquela época, tornando-se um exímio espadachim. É o tal mestre que inicia Don Diego em uma irmandade secreta formada por grandes espadachins espalhados pelo mundo que tem a missão de ajudar e proteger o povo mais pobre, sofrido e injustiçado. Começa assim, a nascer a lenda do herói mascarado.
Já no final do romance, Diego descobre que seus familiares e pessoas amigas, que o ajudaram em sua educação - enquanto se encontrava em Barcelona - estavam sofrendo nas mãos de um tirano. Então, ele decide retornar para a sua terra natal afim de proteger esses moradores.  
A transformação completa de Don Diego em O Zorro só acontece nas últimas páginas da obra de Allende, o que deixa os leitores com um gostinho de “quero mais”.
Um livro que recomendo sem medo de errar: para devorar numa tacada só. Os fãs de carteirinha do Zorro terão a oportunidade de conhecer detalhes importantes da infância e adolescenciaa do herói nesta obra antológica de Isabel Allende.
Sem dúvida, vale a pena!  
 

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