Fiz uma rápida pesquisa para saber quantos novos
autores brasileiros – quando digo novos, estou me referindo a escritores jovens
que estão tentando lançar o seu primeiro livro – conseguiram publicar a sua
obra numa grande editora. Vasculhei nas lojas virtuais e sites dessas editoras
e juro que fiquei muito triste. Cara, que decepção! Decepção por os grandes
editoras optarem por escolher novos “talentos” europeus ou americanos (notem as
aspas porque na realidade, grande parte deles não são talentosos, pelo
contrário, escrevem muito mal) ao invés dos novos talentos, aqui, da nossa
terrinha.
Então, só resta para a galera tupiniquim publicar o
seu primeiro romance de forma independente, arcando com todos dos custos. E
olha!! Quantos enredos ‘m-a-r-a-v-i-l-h-o-s-o-s’ estão espalhados por esse
mundão de Deus sem nenhuma divulgação, precisando ser garimpados. E quando os
encontramos, a sensação para nós, leitores de carteirinha, é a mesma que se
encontrássemos diamantes lapidados.
Tudo culpa da falta de visão daqueles que comandam
as editoras consideradas bam bam bans.
Cara, é muita falta de visão ou burrice das editoras
‘A-B-C-D e E’ que costumam dar as cartas no mundo editorial brasileiro. E por
essa falta de visão, elas perderam a chance de publicar uma obra fantástica de
um jovem talento brasileiro: o escritor botucatuense Raphael Miguel. Sorte da
editora portuguesa Chiado que está engolindo as tais ‘bam bam bans’ e recrutando
esses jovens talentosos à procura de uma chance no mercado literário.
Foi assim com “Crônicas de Miramar – O Segredo do Camafeu de Prata” de Flavio St Jaime e Wemerson Damasio e, agora, a história se
repete com “O Livro do Destino”, publicado no início desse ano pelo escritor de
Botucatu.
O livro é muito bom. Um enredo que consegue prender
o leitor em suas 208 páginas. Por ser o seu primeiro livro solo, o autor foi
ousado ao desenvolver várias subtramas paralelas ao enredo principal. E se saiu
muito bem. Aliás, são essas subtramas que dão um tempero especial, tornando a
história hiper-interessante.
Como ponto de partida há um garoto de 17 anos,
pacato e que vive uma vida tranqüila e sem preocupações. No entanto, ao receber
um poderoso artefato capaz de alterar o destino das pessoas ao seu redor, interferir
no futuro e provocar até mesmo o apocalipse, sua vida muda da noite para o dia.
De repente, ele se vê portador de um poder infinito capaz de praticar o bem ou
mal; sanar desgraças no mundo e também alcançar objetivos egoístas.
É evidente que um objeto tão especial assim, acabe
despertando a ganância de outras pessoas e instituições mal intencionadas que
querem tirar proveito da situação para moldar o mundo à sua maneira.
E é nesta parte do enredo que autor evita que a história
caia na mesmice. Ele poderia muito bem centrar a sua narrativa num ‘pega prá
capá’ do tipo garoto com um poder descomunal nas mãos foge de vilões dispostos
a roubar esse poder. Bem, para quebrar o
galho, ele acrescentaria alguma crise de consciência no adolescente, algo parecido
com ‘será que uso essa coisa para melhorar a minha vida ou de outras pessoas?’
Não, Miguel foi mais fundo do que isso. Ele inseriu
na história conflitos familiares: um irmão casca grossa, um tio egoísta, um avô
que todos nós gostaríamos de ter e até mesmo noções de física quântica ao
abordar o controvertido tema: universos paralelos. Aliás, a idéia de que o
nosso universo pode ser só mais um em uma série de universos paralelos – alguns
muito parecidos, outros absurdamente diferentes
- é abordado de uma maneira que prende o leitor, através de um
personagem místico chamado Nathaniel, muito importante na trama.
Ao fundir, com competência, as subtramas – avô ‘gente
boa’, irmão maquiavélico (o leitor terá uma surpresa com ele de derrubar o
queixo), tio ranzinza e oportunista, além de universos paralelos – ao enredo
principal - poder nas mãos de um adolescente com crise de consciência e que
foge de vilões - “ O Livro do Destino” se torna um livraço.
No decorrer da leitura, a obra reserva muitas
reviravoltas, incluindo o final apoteótico.
Raphael Dal Farra Miguel tem 29 anos, nasceu na
cidade paulista de Botucatu e além de escritor é advogado e já escreveu
diversas antologias e coletâneas, mas “O Livro do Destino” é seu primeiro
romance solo público.
Vale a pena a leitura.
3 comentários
Difícil encontrar palavras para agradecer pelo apoio a este projeto. Muito obrigado por tudo. Ótima resenha.
ResponderExcluirÓtima resenha, Antônio. Mas o que realmente chamou a minha atenção nesse post foi a crítica limpa que você fez em relação as editoras, realmente o espaço e a oportunidade que é dada ao escritor brasileiro é muito limitada. A percepção dos leitores sobre esse fato é o que impulsionaria uma mudança das editoras, mas o brasileiro ainda sofre do "complexo de vira-lata"... Tudo que é nacional, é ruim. Tudo que vem de fora é bom. A literatura brasileira (e o leitor) precisa sair das referências antigas (importantes, mas antigas) e renovar-se para ter alguma visibilidade e reconhecimento.
ResponderExcluirPaloma, vc fez uma colocação muito inteligente e perspicaz. Nossas referencias antigas foram fundamentais para projetar a literatura brasileira em todo o mundo. Temos o direito e o dever de preservá-las, mas isso não significa que devemos fazer vistas grossas para uma renovação, abrindo as portas para jovens talentos escritores. Ocorre que as grandes editoras do País estão abitoladas e acreditam que escritor brasileiro contemporâneo não tem carisma. Então temos de engolir algumas bombas americanas ou européias; quase sempre bombinhas novas que estão saindo agora da caixa.
ExcluirNão só as editoras, mas os nossos leitores também devem começar a valorizar os novos autores tupiniquins.
Torçamos para que essa mudança de habitos aconteça.
Abcs e volte sempre :)