Apesar de até agora, as suas histórias só terem sido
publicadas no formato ebook, César Bravo pode ser considerado a principal
referência do terror gore ou splatter no Brasil. Muitas pessoas, por falta de
conhecimento, consideram o gore um subgênero da literatura ou dos filmes de
terror e na realidade não é bem assim. Vários textos e imagens que usam e
abusam da escatologia chegaram a ganhar o status de Cult, tanto pelos críticos
como pelos leitores; caso contrário, “Crash” (1973) de J.G Ballard e “Zombie –
O Despertar dos Mortos Vivos” (1978) de George Romero seriam verdadeiros
fracassos nas livrarias e no cinema; mas não foram. Os dois se grandes divisores
de água na literatura e no cinema.
Mas apesar de nos últimos anos ter ganhado o
reconhecimento de uma parte da crítica literária, o terror gore não é para
qualquer leitor. Com certeza, muitos ainda não aceitam ou não conseguem ler narrativas
com sangue em excesso, órgãos expostos e membros decepados. Por esse motivo,
escrever gore é muito difícil, cara. Colocar um festival de escatologia no
papel e ainda conseguir transformar essa carnificina numa história interessante
e, principalmente, inteligente é uma missão quase impossível. Bravo é um dos
poucos (no Brasil, o único que conheço) que consegue fazer isso. Um ponto a
mais para ele é dar realismo aos seus enredos, onde quase todos os personagens
são marginalizados, vivendo num submundo de exploração em nosso País. Com isso,
a linguagem desses personagens também deve corresponder a sua realidade de vida.
O resultado é simples:“Que droga” passa a dar lugar para “Que merda”; “Caramba!”
é “Porra!”; “Que se dane!” sai, e entra “Que se foda!” e por aí afora.
Agora analise bem: escrever textos escatológicos já
é complicado, imagine unir escatologia com uma linguagem vulgar? O problema é que se
você começar a poluir a sua história com tripas expostas, sangue e ainda por
cima palavrões, caraca, não há mártir que agüente ler! O segredo é dosar tudo
isso. Não abusar, e Bravo conseguiu esse equilíbrio, pelo menos nas histórias
que eu li.
Neste romance, Bravo deu uma preferência maior aos
diálogos do que a narrativa – aliás essa é uma de suas características – e o
fêz muito bem. Sempre admirei os escritores que sabem escrever diálogos competentes porque fazer isso é uma
arte. Conheço bons autores que são ótimos em narrativa, mas quando chega a hora
de ‘colocar palavras na boca de seus personagens’ o desastre é total. No caso
de Bravo, ele faz isso com a maior naturalidade sem deixar que esses diálogos
se tornem artificiais.
Em seu novo romance, o autor optou por trabalhar com
um número bem maior de personagens o que fez com que alguns ganhassem capítulos
específicos. No decorrer da história, o contexto desses personagens, tratados
individualmente, acaba se cruzando com o contexto de outros.
Alguns trechos do romance lembram um pouco “Trocas Macabras”
e “It” – de Stephen King - principalmente aqueles relacionados ao vilão (ou
vilões).
O mote de “Ouça O Que Eu Digo”, é o assassinato da
filha de um pequeno proprietário rural pelas mãos de seu namorado. Antes de
matá-la, o rapaz se encontra, casualmente, com um ser misterioso envolto em
sombra que o incentiva a cometer o crime com extrema brutalidade, prometendo dar
algo em troca. Depois desse acontecimento, o tal ser envolto em sombras vai
incutindo idéias malévolas na cabeça dos moradores de uma pequena cidade
brasileira chamada Nova Enoque (creio eu que fictícia). Lançada essa semente do
mal, a cidade vira um inferno, um verdadeiro barril de pólvora.
O final é apoteótico e a reviravolta na trama, perto
de seu final, com certeza irá surpreender os leitores.
Enfim, vale a leitura.
3 comentários
Ainda ão li nenhuma obra do César Bravo, mas todas resenhas que li até agora foram positivas. Achei muito interessante esta história.
ResponderExcluirbomlivro1811.blogspot.com.br
Maurilei, se você curte o gênero terror "gore", César Bravo pode ser considerado referência no Brasil. Suas histórias, de fato, prendem o leitor.
ExcluirLi ano passado Livros de Sangue 3 do Clive Barker e gostei muito. E como alguns dizem que o César Bravo é semelhante ao Clive, provavelmente irei gostar sim !
Excluirbomlivro1811.blogspot.com.br