Cinco livros que transformaram-se em séries antológicas de TV nos anos 70

30 maio 2014


Pessoal, hoje não estou a fim de escrever sobre séries contemporâneas, dessas que atualmente forram os vários dos vários canais de TV. E a falta de inspiração tem um motivo: a ojeriza pela maioria desses programas com enredos tão chatos e simplórios. É claro que há exceções, raríssimas, mas há; como por exemplo: “Arrow”, baseada nas histórias em quadrinhos do Arqueiro Verde. No momento, acho que é só.
Para aqueles que são fãs de carteirinha dessas séries, quero pedir desculpas pela minha falta de inspiração. Please! Aceitem o desabafo desse blogueiro acostumado a assistir aquelas séries fantásticas de TV dos anos 70 e 80. Séries tão boas, mas tão boas, que muitas delas ganharam o status de ‘antológicas’. Cara, será que estou mentindo quando falo que “Terra de Gigantes”, “Viagem ao Fundo Mar”, “O Túnel do Tempo”, “James West”, “A Super-Máquina”, “Além da Imaginação” e “O Homem de Seis Milhões de Dólares” literalmente engolem as séries de hoje? Acho que não.
Portanto, no post de hoje, quero escrever sobre essas séries marcantes que me trouxeram tão boas recordações. Para não fugir da proposta do “Livros e Opinião” que é a de explorar apenas assuntos literários, resolvi selecionar cinco séries de TV “animais”, baseadas em livros e que fizeram a alegria da minha geração nos anos 70. Aliás, é importante esclarecer que a onda de produtores e roteiristas buscarem nos livros inspiração para a criar as suas séries televisivas não começou recentemente. No,No, No... Essa prática já é bem ‘véinha’ como vocês poderão constatar a partir de agora.
E vamos à elas: as séries!
01 – “O Homem de Seis Milhões de Dólares” (1974)
Livro: Cyborg (1972) - Martin Caidin
Podem acreditar meus amigos! A famosa série sobre Steve Austin e seus membros biônicos foi baseada num livro! Na história, Steve (Lee Majors) é um astronauta que sofre um acidente enquanto testa um novo modelo de avião. Gravemente ferido, ele é levado à sala de cirurgia onde é submetido a uma operação que substitui seu olho e braço direito, bem como as duas pernas, por partes biônicas. Seus novos membros lhe dão a capacidade de enxergar a longas distâncias, bem como uma visão infravermelha, além de ser capaz de correr em alta velocidade. Embora sinta-se como um monstro de Frankenstein, Steve acaba cedendo às exigências do governo que gastou, na época, a fortuna de seis milhões de dólares para trazê-lo de volta à vida. Assim, ele se torna um agente que cumpre missões para um departamento secreto conhecido por OSI, uma espécie de CIA dos tempos atuais.
Muito pouco foi alterado do livro para a TV. Os roteiristas fizeram uma adaptação praticamente fiel às páginas escritas por Caidin. No livro, lançado em 1971, o personagem também é um astronauta de teste que sofre um acidente catastrófico e acaba tendo várias partes do corpo substituídas por membros biônicos de última geração. Seguindo os passos de seu sósia na TV, o Steve das páginas acaba se tornando um agente secreto à serviço do governo.
Lee Majors: o cyborg da televisão
A diferença se restringe a alguns dos componentes biônicos transplantados em seu corpo. O Cyborg adaptado para a TV é muito mais poderoso e sofisticado do que o seu homônimo dos livros. Já no primeiro episódio da série foi revelado que o olho biônico de Austin tinha uma característica telescópica (mais tarde expandido para incluir visão noturna ), enquanto o Cyborg original de Caidin tinha apenas uma mini-câmera no olho, além de ser cego no mesmo.
Quanto ao braço biônico do personagem do livro era algo bem rústico e funcionava essencialmente como um cacete ou aríete, inclusive nas sequências de luta, ele é frequentemente descrito como um esmagador de crânios. Já na televisão, o braço de Austin é de última geração bem mais complexo.
Anotem aí outras diferenças: o Steve Austin idealizado por Caidim ainda tinha em um dos dedos de sua mão biônica uma arma que disparava dardos venenosos e um transmissor de rádio implantado nas costelas. Já as pernas biônicas eram semelhantes as do  personagem da TV.
02 – Kolchak e os Demônios da Noite (1974)
Livro: The Kolchak Papers – Os Papéis de Kolchak (1972) - Jeffrey Grant Rice
Fico triste e frustrado ao saber que o livro de Jeffrey Grant Rice que serviu de inspiração para a conhecida série “Kolchak e os Demônios da Noite” não chegou a ser lançado no Brasil, ficando restrito ao comércio literário europeu. Uma pena mesmo, pois queria demais compará-lo com os dois filmes lançados em 1972 e 1973 e que alavancaram o surgimento da famosa série um ano depois. Mas, fazer o quê; paciência. Hoje, concretizar esse sonho é praticamente impossível, já que o livro não existe nem mesmo em inglês para download. Acessei ‘dias desses’ a Amazon e encontrei a foto do livro ‘bunitinha por lá’, mas só a foto, já que a edição estava esgotada. Talvez volte qualquer dia desses. Vamos esperar com fé. Afinal de contas, nem todos os livros que desejamos e ansiamos são lançados aqui na terrinha. Aliás, em tempos idos escrevi um  post sobre esse assunto.
O livro de Rice foi lançado numa edição de bolso em 1972. Nele, o autor conta a história de um repórter de Las Vegas, Carl Kolchak,  que perseguia um perigoso serial killer chamado Janos Skorzeny que acaba por se revelar um vampiro. Kolchak acaba passa por poucas e boas, mas consegue derrotar o sanguessuga dos tempos modernos.
Apesar do livro ter tido vendas apenas razoáveis, nada de excepcionais, coincidiu de cair justamente nas mãos de um produtor da ABC que viu muito potencial na história e decidiu, então, comprar os seus direitos e transformá-lo num filme.
O pessoal da ABC ficou tão empolgado com a novela de Rice e decidiu abrir os cofres para convencer Richard Matheson - autor de “A Lenda” e “A Casa Infernal”, além de alguns roteiros para séries clássicas como Além da Imaginação e Galeria do terror – à escrever a adaptação para um filme de TV. Matheson aceitou e surgia assim em 1972 o primeiro filme baseado no livro de Rice: “The Night Stalker” (O Perseguidor da Noite) já com Derrin McGavin na pele do engraçado e carismático repórter.
Kolchak inspirou muitas outras séries na TV
A produção fez tanto sucesso que a ABC acabou encomendando em 1973 um segundo filme, também adaptado por Matheson, que se chamou “A Noite do Estrangulador”. De olho em alguns dólares a mais, Matheson também escreveu uma novelização desse segundo filme que vendeu  mais do que o livro original escrito por Rice. Pode um ‘tróço’ desses!!
Como o segundo filme repetiu o êxito do primeiro, a ABC achou melhor produzir uma série de televisão, ao invés de um terceiro ou quarto filme que poderiam cair no ‘azedume’. Para os chefões do estúdio, uma série seria bem mais lucrativa; e de fato, foi. “Kolchak e os Demônios da Noite” estreou em 1974 com altos índices de audiência e ao longo de um ano (período em que durou a série) ganhou o status de antológica, passando a influenciar outros seriados famosos do gênero, entre eles, “Arquivo X”.
Em cada episódio semanal, Kolchak, um repórter do Independent News Service, investigava assassinatos envolvendo sobrenatural e ficção científica. A série trazia ainda uma boa dose de humor negro.
Saudades demais dessa série!
03 – O Homem Invisível (1975)
Livro: O Homem Invisível (1897 – 1ª Edição) – H.G. Wells
Neste livro de H.G. Wells, o protagonista, Dr. Griffin, se torna praticamente invisível após uma experiência parcialmente bem sucedida. A obra foi adaptada inúmeras vezes para o cinema e a televisão. A primeira adaptação cinematográfica aconteceu pela Universal Pictures em 1933, num longa-metragem dirigido por James Whale,tendo no papel principal Claude Rains como Doutor Jack Griffin, um cientista que para provar a autenticidade de uma fórmula química, aplica em si mesmo, transformando-se num ser invisível. Mas como efeito colateral dessa experiência, o cientista vai perdendo a razão, aos poucos, até ficar completamente louco e transformar-se num perigoso assassino invisível.
O sucesso do filme deu origem a várias continuações, entre elas: “O Retorno do Homem Invisível” (1940), “A Mulher Invisível” (1940) e “O Agente Invisível (1942).
Se no cinema, o livro de H.G. Wells teve várias adaptações; na televisão, então, nem se fale! Foram muitas as séries contando a saga do Dr. Griffin, cada uma à sua maneira, mas todas tendo por base o livro de Wells.
“O Homem Invisível” chegou pela primeira vez na televisão em 1958, em preto e branco e num pacote de 26 episódios produzidos pela ITC Entertainment para a Associated TeleVision na Inglaterra (ITV). Depois vieram outras adaptações. Confiram: “O Homem Invisível” (1975), “Gemini Man” (1976) e “O Homem Invisível” (2000).
David McCallum era o homem invisível no seriado de TV (1975)
Bem galera, de todos esses seriados, aquele que mais marcou para o “sujeito aqui, foi “O Homem Invisível”, exibido em 1975 com aquele ator lourinho o David McCallum que também trabalhou nos anos 60 numa outra série famosa: “O Agente da Uncle”.
Em “O Homem  Invisível”, McCallum interpretava o Dr. Daniel Westin que após várias experiências acaba descobrindo o segredo da invisibilidade. Após testar a sua fórmula com sucesso em vários objetos inanimados, temendo que o seu experimento caia nas mãos da indústria bélica, ele decide testar a fórmula em si mesmo para que ninguém mais pudesse utilizá-la. Dessa forma, o cientista passa a trabalhar para uma organização, usando a sua invisibilidade como arma secreta em diversas missões. Para se tornar visível ele utiliza uma máscara semelhante ao seu rosto, fabricada por um outro cientista, amigo seu. Quando deseja ficar invisível, basta retirar a máscara e as suas roupas e pronto!
O meninão aqui, nos seus 15 anos, não perdia um só episódio dessa série. Pena que durou apenas uma temporada com 13 episódios. Atualmente estou à sua procura na Net para recordá-la. Saudadessss!
04 – M.A.S.H (1972)
Livro: Mash (1968) - H. Richard Hornberger
Quem não se lembra de Radar e do armeiro Trapper. Caraca! Quantas gargalhadas dei  em minha pré adolescência com essa galera! O Radar com aquela cara de bobo (mas que de bobo não tinha nada) era o mais engraçado.
O capitão Benjamin vivido pelo Alan Alda também era o máximo. Tinha ainda outro ator – o qual não me lembro o nome – que ficava contando piadas infames e cantando as enfermeiras enquanto operava soldados com ferimentos graves num hospital improvisado no meio de um campo de batalhas. Com certeza os internautas que fizeram parte da minha geração já sabem de qual série televisa estou falando. É claro que só poderia ser M.A.S.H.
My God! São recordações especiais que jamais esquecerei e por isso mesmo, M.A.S.H estará para sempre guardada na memória desse ex-pré adolescente. Cara, parece que é hoje! Vejo-me assistindo as peripécias de Radar, Benjamin e Cia na televisão em preto e branco da sala da casa dos meus pais. Acho que a série era exibida durante a noite e enquanto ficava curtindo as aventuras hilárias daquele grupo de militares que tinha a tarefa de cuidar dos feridos na Guerra da Coréia, minha saudosa ‘mama’ ficava deitada no sofá-cama tirando um ‘ronco’. My mother era minha companheira das noitadas televisivas. Ela até gostava de M.A.S.H, mas não agüentava o tranco de ver o seriado até o final e caía nos braços de Morfeu. Eu não; aguentava firme até o final porque a história daqueles  caras era por demais engraçada.
Elenco fixo da série M.A.S.H, uma das mais longas da TV
Foi a série mais longa de toda a história da televisão americana, com 251 episódios e ficando por onze anos no ar, de 17 de setembro de 1972 a 28 de fevereiro de 1983.
Antes da série, o diretor Robert Altman dirigiu um premiadíssimo filme para o cinema em 1970 que faturou a Palma de Ouro em Cannes e o Oscar de Melhor Roteiro (adaptado). A produção cinematográfica fez tanto sucesso que acabou sendo levada para TV.
O que muitos desconhecem é que tanto o filme de Altman quanto a série televisiva foram baseadas num livro escrito por H. Richard Hornberger em 1968, baseado em suas experiências no Hospital Cirúrgico Móvel do Exército durante a Guerra da Coréia. Ele foi um cirurgião americano que tornou-se médico do Exército dos Estados Unidos, sendo convocado para aquele conflito. A obra autobiográfica foi escrita em conjunto com o famoso jornalista esportivo , W.C. Heinz. Para escrever o livro, Hornberger adotou o pseudônimo de Richard Hooker.
05- Os Pioneiros (1974)
Livro: Os Pioneiros (10 livros) (1932) – Laura Ingalls Wilder
Primeiro livro da série "Os Pioneiros"
Com toda a certeza, você se lembra dessa série produzida entre 1974 e 1983. “Os Pioneiros” fez tanto sucesso na TV, mas tanto sucesso que atingiu a marca histórica de nove temporadas!
O que nem todos sabem é que o enredo de “Os Pioneiros” foi baseado, literalmente, na série homônima autobiográfica de 10 livros da escritora Laura Ingalls  Wilder onde narra a saga de sua própria família.
Ingalls nasceu em 1867, numa pequena cabana de troncos, à beira da Grande Floresta do Winsconsin. Ao longo dos anos, viajou com a família de carroça através de Kansas, Minnesota e, finalmente, do Território de Dakota, onde conheceu e casou com Almanzo Wilder.
Era uma vida de privações e trabalho árduo. As colheitas eram destruídas por tempestades e enxames de gafanhotos. Porém, o mais importante e mais ressaltado em seus livros eram os momentos felizes de amor e riso, passeios de trenó, festas em feriados e eventos sociais. Os livros descrevem com vigor a história da família Ingalls e reproduzem com perfeição o verdadeiro espírito pioneiro americano.
Os Pioneiros, série de grande sucesso na televisão
Mas como a série de livros foi parar na TV? Bem, foi mais ou menos assim. Um sujeito chamado Ed Friendly, acostumado a produzir séries menores para a TV, leu por acaso “Uma Casa na Floresta”, primeiro livro da série. O cara se apaixonou tanto pela história que acabou comprando os direitos de todos os 10 livros, com a intenção de adaptá-los para a TV. Preparou o espelho de um roteiro às pressas e ao saber que o seu colega Michael Landon havia acaba de deixar o seriado Bonanza, o procurou e pediu para que desse uma olhada no roteiro. Resultado: Landon adorou o roteiro, e a sua filha, os livros. Nascia dessa maneira, o seriado “Os Pioneiros”. Landon que tinha fortes ligações com os chefões da NBC, mostrou o roteiro aos todos poderosos que decidiram arriscar uma temporada.  Após o sucesso estrondoso do primeiro ano de exibição, a série não parou mais de crescer até chegar a sua 9ª temporada, em 1983.
E Zefini!

2 comentários

  1. O livro “ Cyborg” foi lançado no Brasil?? Não encontrei essa informação em nenhum lugar...

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    1. David,infelizmente não. A obra de Martin Caidin não foi traduzida para o português. Acredito que nenhuma editora brasileira se interessou em adquirir os direitos da história. Uma pena.

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