Agatha Mary Clarissa Christie, ou simplesmente, Agatha
Christie. Esta tremenda escritora começou a fazer parte da minha vida durante a
puberdade. Costumo dizer que comecei a ler as aventuras de Hercule Poirot e
Miss Marple simultaneamente ao nascimento dos meus primeiros pêlos pubianos. E
como curtia aquelas histórias! Admirava a inteligência, sagacidade e aquele ar
de certa superioridade de Hercule Poirot. Também amava Miss Marple, aquela
idosa solitária e solteirona metida a detetive amadora e que solucionava os
mais intricados crimes. Enfim, esses dois personagens me acompanharam nesta
fase de minha vida.
Tomei contato pela primeira vez com os livros de Christie por
intermédio da minha bibliotecária. No final das aulas no período da manhã, como
já era hábito passava na biblioteca da escola para dar uma fuçada nas estantes
‘forradas’ de livros. Certo dia, percebi
que a bibliotecária, uma velhinha muito atenciosa, estava lendo um livro, cuja
capa despertou a minha atenção. –“Dona Alice, a capa desse livro que a senhora
está lendo é muito legal”. – “Você gostou?. Sou fã de Agatha Christie, venha
aqui que eu vou mostrar alguns livros dela, talvez você também goste”. Pronto!
E assim, eu com os meus primeiros pelinhos pubianos tinha sido iniciado no
chamado “Universo Agatha Christie”.
Posso garantir que entre os muitos momentos maravilhosos que
vivi na biblioteca da antiga Escola Industrial, a leitura das aventuras de
Poirot e Temple foi um deles. Por isso hoje, resolvi homenagear essa escritora,
escolhendo os cinco livros de sua autoria que marcaram a minha
pré-adolescência.
01 – Assassinato no
Expresso do Oriente
A minha iniciação a “La Agatha” começou com esse livro. E sorte minha que
tinha uma bibliotecária à tiracolo, paciente à beça por perto, caso contrário
encontraria algumas dificuldades para entender quem era o tal Hercule Poirot.
Explico melhor: nesse livro, o famoso detetive é jogado sem nenhuma
apresentação no enredo. Juro que fiquei meio perdidão quando vi Poirot
ingressando no trem acompanhado de um policial. –“Dona Alice quem é Hercule
Poirot??” Perguntei para a boa e saudosa velhinha. “- Ele é um detetive muito
inteligente, talvez o mais inteligente de todos, capaz de solucionar os casos
mais difíceis”. Bem, mais ou menos com essas palavras, fiquei sabendo quem era
Poirot. E assim, mandei ver na leitura.
Posso dizer que foi “Assassinato no Expresso Oriente” que me
estimulou a procurar outros livros da autora. A falta de apresentação de Poirot
não atrapalha em nada a história que tem momentos muito tensos. Agatha escreve
sobre um assassinato que ocorre num trem chamado Expresso do Oriente que está
cheio de passageiros. Um americano é encontrado morto em sua cabina, com doze
facadas, e com a porta estava trancada por dentro. Pistas falsas são colocadas
no caminho de Hercule Poirot para tentar mantê-lo fora de cena, mas num
dramático desenlace, ele apresenta não uma, mas duas soluções para o crime.
Fantastic! Tornei-me um super-fã do detetive belga após ter lido esse livro.
02 – O Misterioso Caso
de Styles
A leitura de “Assassinato no Expresso do Oriente” serviu de
estímulo para prosseguir a leitura das obras de Agatha Christie. Queria
conhecer mais detalhes sobre aquele detetive excêntrico e convencido de sua
inteligência, mas de uma capacidade à toda prova. E nada melhor do que procurar
o primeiro livro escrito pela autora inglesa para digamos... ficar mais íntimo
de Poirot.
Tão logo conclui a leitura de “Assassinato no Expresso do
Oriente”, entrei ‘voando’ na biblioteca e comecei a fuçar as estantes à procura
de “O Misterioso Caso de Styles”. Ao perguntar para dona Alice se o livro
estava emprestado, já que não o estava encontrando, ela respondeu que a escola
não tinha aquela obra. Ao perceber a minha cara de frustrado, a boa velhinha acrescentou com aquele olhar de
vovó matreira: - “A escola não tem, mas eu tenho...” Ehehehe... Adivinhem se
ela não me emprestou o livro? E lá vai o novo fã de Poirot devorar as páginas
do livro. “O Misterioso Caso Styles” começa quando uma aristocrata inglesa
morre trancada em seu quarto, vítima de um aparente ataque cardíaco. A coisa
ficaria por aí, não fosse a suspeita de envenenamento levantada pelo médico da
família. E então, entra em cena com toda a sua perspicácia, inteligência e é
claro... arrogância: Hercule Poirot.
Apesar de ter gostado bem mais do ritmo de “Assassinato no
Expresso do Oriente”, não me decepcionei com o caso Styles; nem poderia, já que
há uma boa dose de mistério para os fãs de histórias policiais onde o assassino
só é descoberto no final do enredo, sem contar as inúmeras pistas falsas
plantadas e que são desvendadas por Poirot.
Mas o que me interessou, de fato, no livro foi a oportunidade
de conhecer um pouco mais (bem pouco, mas já deu pro gasto) a origem do
detetive belga, dono de um famoso ‘bigodon’.
03 – Cai o Pano
Após ter lido vários livros onde Poirot elucidava os crimes mais
complicados, eis que criei coragem para ler “Cai o Pano”. Passei a gostar tanto
de Poirot que não tinha ‘colhões’ para encarar um livro que anunciava a morte
do grande detetive, mas no meu aniversário, quando completei – se não me falhe
a memória – 13 ou 14 anos, qual presente eu ganho? Se você respondeu: “Cai o
Pano, acertou, é evidente!”. Quando dona Alice (cara, que saudades dela!!)
chegou com aquele objeto quadrado e muito bem embrulhado, na mesma hora, soube
que se tratava de um livro. Olha galera, até passou pela minha cabeça que
poderia ser um livro de Agatha Christie, já que a minha bibliotecária sabia o
quanto eu gostava das obras da conhecida escritora, principalmente as de
Poirot, mas nunca imaginava que seria “Cai o Pano”.
Fazer o que, né? Não poderia fazer pouco caso de um presente
daquela pessoa que me iniciou no “Universo Agatha”. E lá fui eu.
O livro segue as nuances dos anteriores, onde o verdadeiro
assassino é revelado apenas perto do final da história, dando um trabalho
danado para Poirot. Juro que pensei abandonar a obra no meio ou bem antes de
seu final, tudo para não ver morrer aquele detetive que conquistou o meu
respeito como leitor; mas criei coragem e acabei encarando essa difícil missão.
Muito depois, soube que Agatha Christie havia decidido
‘eliminar’ Hercule Poirot para que outros escritores não utilizassem o seu
principal personagem após a sua morte. Tanto é que a escritora só permitiu que
o livro fosse publicado quando ela ‘partisse dessa para melhor’.
04 – Assassinato na
Casa do Pastor
Já havia ‘virado’ fã nº 01 de Agatha Christie, quando descobri
que Hercule Poirot não havia sido a sua única criação. Existia mais alguém: uma
velhinha danada de esperta chamada Jane Marple ou Miss Marple. Eu queria
comparar os estilos de Marple e Poirot e nos meus delírios juvenis até imaginei
vê-los trabalhando juntos num caso, mas depois soube que infelizmente não
existia nenhum livro dessas duas ‘feras’ tentando solucionar um caso juntos.
No momento de escolher o meu primeiro livro sobre Miss Marple
procurei não cometer o erro que já tinha cometido no passado ao ler as
histórias de Poirot. Dessa forma, procurei pelo primeiro livro da personagem,
aquele no qual, Christie apresentava Marple aos seus leitores. Novamente apelei
para a “Santa Biblioteca” da escola e dessa vez, encontrei a obra que
procurava. Gostei muito de “Assassinato na Casa do Pastor”. Li o livro
‘rapidinho’. Marple é totalmente o oposto de Poirot. Enquanto o detetive belga
gosta de se vangloriar dos casos que soluciona ou então gabar-se de sua massa
encefálica diferenciada; a senhorinha idosa é um poço de humildade e tem
ojeriza de ficar enaltecendo a sua perspicácia. Miss Marple nem sequer é uma
detetive profissional. Nada disso. Ela é vista, frequentemente, tricotando e
tirando as ervas daninhas de seu jardim. Às vezes, é considerada confusa ou
caduca, mas quando passa a resolver mistérios, mostra ter uma mente lógica e
afiada, e um conhecimento incomparável da natureza humana com todas as suas
fraquezas, forças, truques e excentricidades.
No livro, um rigoroso coronel é morto com um tiro na cabeça
na casa de um pastor (dão o título do livro) e ao lado do corpo, o assassino
deixa um misterioso bilhete. O crime torna-se praticamente insolúvel para a
polícia da pequena aldeia de St. Marie Mead, então, Miss Marple decide
investigar por conta própria, contando com a ajuda do pastor, e acaba
encontrando sete suspeitos para o assassinato. O final, pra variar, surpreende.
Sei lá galera, mas os fãs de Marple não me levem a mal, mas
achei a personagem um pouco mala no seu primeiro livro. Sabem aquelas velhinhas
do tipo ranzinza, fofoqueira e que só pensa no pior? Foi assim que eu á vi.
Quando perguntei para dona Alice o que tinha achado da
personagem, ela me disse: -“Leia esse outro e depois conversamos”. E me
entregou: “Um Corpo na Biblioteca”, mas isso é assunto para o post aí debaixo..
05 – Um Corpo na
Biblioteca
Este livro me ensinou uma lição e que lição. Foi através dele
que cheguei a conclusão de que os piores crimes, os mais complicados sobraram
para a boa velhinha descobrir. Cara, confesso que nos livros que li de Agatha
Christie - e foram muitos – sempre cheguei perto e em algumas vezes até descobri
ol assassino, mas em “Um Corpo na Biblioteca” a ‘coisa pegou’. Fui enganado duas
vezes e cai como um pato na lagoa. Para!!!! Que qué isso!! Que final surpreendente!
Quanto a Miss Marple, esqueça aquele velhinha fofoqueira de
“Assassinato na Casa do Pastor”; em “Um Corpo na Biblioteca” ela está muito
mais simpática. Com isso cheguei a conclusão de que a minha ex-bibliotecária
foi a maior especialista em livros de Agatha Christie; uma cicerone
incomparável na indicação de livros da autora inglesa.
Galera é isso aí. Fui!
6 comentários
Muito bom, Jam!
ResponderExcluirEu estava esperando por essa postagem! Assim como você sempre fui fã incondicional de Agatha Christie, já tendo lido metade da obra dela, tanto que dos que você citou, eu só não li ainda Assassinato na Casa do Pastor.
Infelizmente já há algum tempo que não leio livros de Agatha Christie, embora pretenda voltar a ler em breve, e esse parece ser uma boa sugestão.
Valeu e até a próxima!
Ola Texfacepotter, como vai?
ExcluirPor acaso vc é fã de Harry Potter?
Qto a Agatha, achei os seus livros o máximo, mas hje acho que não conseguiria ler aqueles que ainda não li. Com certeza foi uma fase muito importante em minha, mas Dejavu (rs).
Mas, apesar disso, desejo boa sorte em suas novas leituras da "Rainha do Crime".
Abcs!
Respondendo sua pergunta, Jam, sim, sou um mega fã de Harry Potter, assim como de Tex Willer, um personagem de quadrinhos de faroeste! <- (e eu ainda preciso configurar esse perfil; eu tinha outro, mas deu uns problemas lá)
ExcluirMe lembrei de um livro fenomenal de Agatha Christie que garanto que se você não leu, deveria ler, mesmo tendo dito que não conseguiria mais ler os livos dela: O Caso dos Dez Negrinhos. (Nota: o livro sofreu uma reedição, e talvez você o encontre apenas por E Não Sobrou Nenhum). É excelente, impossível de se arrepender!
No momento estou lendo Tubarão, que também recomendo muito.
Até!
Uhauuu!! Tex Willer, o ranger mais temido do velho oeste! Naum acredito que acabei de encontrar um (uma) fã de Tex. Esse sujeito foi um dos que marcaram a minha adolescência! Logo, logo estarei escrevendo sobre ele e outros no post "raridades do baú secreto de meu irmão mais velho". Aguarde. Quanto a "Tubarão", de fato, uma leitura de primeira. Recomendadíssimo. Confira esse post...
Excluirhttp://livroseopiniao.blogspot.com.br/2011/05/tubarao.html
Minha iniciação com ela também foi com Assassinato no Expresso do Oriente. Eu devia ter uns onze anos, por aí. Depois, li Assassinato no Campo de Golfe e O Mistério dos Sete Relógios.
ResponderExcluirMas não sei, hoje em dia acho a narrativa dela superficial demais, não consigo mais ler. Repetitivo também. Acho que estou muito acostumado com o "Kinga". E com Gaiman.
Abraço.
Olá amigo! Que bom vê-lo por aqui novamente;
ExcluirPois é, tudo são fases em nossas vidas. Lembro que devorava os livros de Harold Robbins quando era um meninão de calças curtas, mas hoje não dá. E assim vai.
Abraços!