Algumas pessoas acham os livros de Thomas Harris
fracos, mas endeusam as adaptações cinematográficas baseadas nas obras do autor.
Foi assim que aconteceu com toda a saga de Hannibal Lecter, “O Canibal”. A
maioria dos comentários que via nas redes sociais e também nos blogs dizia que
os filmes do psicopata eram verdadeiros clássicos, bem melhores do que os
livros. Teve um colega blogueiro que até usou um termo bem sugestivo: “A
Maldição da Saga Lecter”. Tétrico, não? O autor do post queria dizer que
enquanto os filmes baseados nos livros de Harris decolavam, a obra literária
ficava no limbo.
Com todo o respeito ao artigo escrito pelo colega,
não posso concordar com tal afirmativa porque considero os quatro livros sobre Hannibal
Lecter – “O Silencio dos Inocentes, “Hannibal”, “Dragão Vermelho” e Hannibal: A
Origem do Mal” muito bons. Muito bons não; excelentes! Ao contrário, por
exemplo, da adaptação cinematográfica de “Hannibal” que foi um verdadeiro
desastre. Quanto aos outros filmes, excetuando “O Silencio dos Inocentes” –
este sim, um clássico – nunca chegaram aos pés dos livros.
Com “Hannibal, A Origem do Mal” não foi diferente.
Achei o filme bem abaixo do nível do livro. Considero Harris um dos autores
mais detalhistas em seu gênero, ou seja, no thriller psicológico e no suspense
policial. Ele tem uma qualidade impar que falta em muitos escritores
consagrados: a facilidade para compor um personagem, descrevê-lo, esmiuçá-lo.
Não dá para comparar o Lecter, o Búfalo Bill, a Starling, o Graham ou ainda o Francis
Dolarhyde dos filmes com os mesmos personagens dos livros. Nas obras literárias
esses personagens são aprofundados, tendo um passado e um presente muito bem
explorados. Nada é jogado aleatóriamente nas páginas. Por exemplo, em “O
Silencio dos Inocentes” temos um perfil psicológico muito bem elaborado do
serial killer Búfalo Bill. Algo que não ocorre no filme, dando a impressão de
que o vilão foi jogado ali, no enredo cinematográfico, meio que de paraquedas. O mesmo acontece com Lecter, que apesar da
brilhante interpretação de Anthony Hopkins não chega a ser tão visceral, doentio
e – como costumo dizer ou escrever – “classudo” quanto o Lecter dos livros. Sei
lá galera, talvez dentro do contexto comparativo entre filme e livro, eu deva
ser a ovelha negra, já que, certamente, a maioria das pessoas acharam o filme bem melhor. Mas tudo bem,
afinal de contas, vivemos numa democracia.
Mas vamos ao que interessa, escrever sobre
“Hannibal, A Origem do Mal”, quarto livro sobre o personagem idealizado por
Harris, mas que dentro da cronologia da saga é considerado o primeiro ou, como
queiram, a origem, o gênesis, onde tudo começou.
A obra de Harris publicada em 2006 é fantástica,
daquelas que você lê numa tacada só, principalmente aquele leitor que já está
familiarizado com o Dr.Lecter. O personagem pode ser considerado um dos mais
famosos e complexos da literatura policial. Um serial killer letal e impiedoso,
mas com uma classe... uma educação... um verdadeiro gentleman. E além de tudo,
com um QI bem acima do normal. E é esse caráter dúbio que faz de Lecter um
personagem, de fato, apaixonante.
Os três primeiros livros da saga, trazem
pouquíssimas informações sobre a infância e a mocidade do serial killer. Temos
apenas pequenos resquícios desse período, somente o necessário para que o
leitor entenda, bem a grosso modo, o que levou Lecter a se tornar um perigoso
matador de pessoas com o estranho habito de se banquetear com alguns pedaços de suas vítimas.
Em “Hannibal, A Origem da Mal”, o autor aproveita
para nadar de braçadas na infância, adolescência e juventude do personagem,
dando todas as informações possíveis sobre o Lecter criança, o Lecter adolescente e o Lecter jovem.
Após ler as 343 páginas da saga, cheguei a conclusão
de que Hannibal Lecter só se transformou num dos piores serial-killers da
história da literatura policial por causa dos eventos da 2ª Guerra Mundial.
Creio que se, aquela criança de oito anos de idade que nutria um amor
incondicional por sua irmã Misha que tinha quase a sua idade, não tivesse
vivido os horrores daquele conflito, hoje o temido “Lecter Canibal” não
existiria.
Aquela criança dócil deixou de existir em 1945, após
ver os seus pais serem mortos num confronto entre o Exército Vermelho e os
alemães. Como não bastasse esse trauma, o pequeno Lecter ainda presenciou a sua
querida Misha ser canibalizada por um grupo de lituanos traidores e famintos
que ajudavam os nazistas. Este fato, com certeza acabou contribuindo para que o
personagem adquirisse o hábito de degustar as suas incautas vítimas. Sei lá, talvez,
o trauma de ver Misha sendo comida por seus algozes acabou provocando um
desequilibrio tão grande na mente daquela criança, de apenas oito anos, que a
melhor maneira encontrada por ela para suportar tais lembranças foi fazer o
mesmo com outras pessoas. Cara, como diz o ditado: “Só Freud explica”.
‘Anniba’, como sua irmãzinha costumava chamá-lo, viu
e sentiu na pele tanta crueldade dos homens durante a guerra que acabou
apagando em sua mente todos os resquícios de respeito à existência humana.
Bem, esta é a essência de “Hannibal – A Origem do
Mal”, livraço escrito por Harris. É evidente que não vou ficar vomitando
spoilers do enredo neste post. Basta dizer que o autor dá detalhes não só sobre
a juventude de Lecter, mas também sobre os seus pais: um conde lituano casado
com uma mulher pertencente a alta burguesia italiana.
O leitor tem a oportunidade de ver momentos
emocionantes vividos pelos dois irmãos que se amavam mutuamente; a fase do “Lecter
estudante e como ele acabou se tornando um brilhante psiquiatra, um dos mais
influentes do país.
Harris esclarece ainda como o personagem acabou
ingressando na criminalidade, dando os primeiros passos para se tornar um
perigoso serial killer.
Um dos momentos mais tensos da obra é aquele em que Lecter,
após atingir a maioridade, decide voltar as ruínas do local onde Misha foi
morta e devorada, com o firme propósito de encontrar os soldados lituanos
responsáveis pelo crime. Então tem início a sua terrível e selvagem vingança. Um
livro imperdível para os fãs da saga do Dr. Lecter.
No final desse post, aproveito para dar uma sugestão
à galera. Se vocês pretendem ler os quatro livros sobre o serial killer,
comecem pela “Origem do Mal”, depois leiam “Dragão Vermelho”, na sequência agarrem
“Silencio dos Inocentes” e por último ataquem de “Hannibal”. Fazendo isso,
vocês terão uma sequência lógica do enredo, passando a entender melhor esse
complexo personagem da literatura policial. Não façam como eu que “promovi” uma
verdadeira salada russa, lendo inicialmente “O Silencio dos Inocentes”, depois “Hannibal”,
na sequência “Dragão Vermelho” e por último “Hannibal, A Origem do Mal”. Se eu
fizesse a leitura dos livros em ordem cronológica, com certeza, teria
aproveitado melhor essa excelente saga policial.
Boa leitura!
2 comentários
Olá, preciso da sua ajuda, entrei em outro blog e a ordem que foi passada foi pela de lançamento, agora estou confusa!! Não sei qual leio primeiro
ResponderExcluirGabriella, a cronologia correta de leitura da saga é aquela que citei na postagem. Vc deve ler antes de tudo, "Hannibal - A Origem do Mal" onde o autor Thomas Harris nos apresenta a infância de Lecter na Lituânia, passando por sua adolescência conturbada na França até chegar aos primeiros crimes do famoso psicopata canibal. Este livro é o início de tudo e explica os motivos que transformaram Lecter num psicopata canibal. Em "Dragão Vermelho", o autor narra de que maneira Lecter foi preso por Will Graham e como começou a ajudar o FBI a solucionar alguns crimes, traçando o perfil posicológico de serial killers. Já em "O Silencio dos Inocentes", Lecter ajuda um outro policial, dessa vez, Clarice Starling. O livro também conta como o psicopata conseguiu fugir da prisão. E finalmente, em "Hannibal", Thomas Harris narra a saga da mesma Clarice Starling que dessa vez sai na recaptura de Lecter, com a missão de devolvê-lo para atrás das grades.
ExcluirCapiche?
Espero ter ajudado.
Grande abraço!