Os gibis da Ebal que marcaram a minha infância

09 setembro 2013


Insights, insights e insights... Acho que eles já fazem parte da minha rotina de vida. Quantos posts desse blog foram ‘frutos’ de lembranças relâmpagos que de repente emergiram do meu subconsciente, fazendo com que me lembrasse de momentos especiais em minha vida.  Estes  insights acabaram se transformando em portas de entrada para um período feliz que vivi em minha infância e pré-adolescência. E agora, ‘pra variar’, eles trouxeram mais uma vez à minha memória, obras que havia lido em minha fase de leitor de calças curtas, quando ainda estava me iniciando no mundo mágico da leitura.
Anteontem, enquanto passava em frente a banca de jornais e revistas de minha cidade tive, novamente, um desses insights. Quando ‘bati’ os olhos naquele estabelecimento comercial que ao longo dos anos passou por tantas reformas, lembrei-me na mesma hora do saudoso ‘seo’ Luiz ou ‘Mariz’, como era popularmente conhecido.  
Meus pais – putz, que saudades da Toura... ainda bem que o Kid Tourão ficou desse lado, caso contrário, a saudade desse casal seria avassaladora, insuportável – tinham o hábito de me levar até a banca do Mariz para chupar um sorvete que era famoso na cidade. Acho que eu tinha 12 ou 13 anos naquela época e o que os meus velhos não sabiam era que o sorvete não passava de um pretexto para que eu pudesse passar um tempão folheando os gibis de heróis da Ebal que ficavam expostos nas prateleiras da banca. Heróis sim; pois era dessa maneira que eu os chamava, dispensando o ‘super’. – “Mãe, hoje à noite eu quero um sorvete esquimó lá do Mariz!”, dizia o ‘menino aqui’, quase grasnando. Mal sabia ela, que o seu filho, na realidade, queria aplicar o golpe já que o sorvete não passava de um pretexto para que ele – quer dizer, eu - pudesse viajar com as capas de Batman, X-Men, Homem-Aranha e O Judoka que era o meu preferido.
Você deve estar se perguntando porque eu não revelava a verdade para a “Toura”e o “Kid Tourão”, dizendo que, na realidade, o sorvete era o que menos interessava, já que o que eu queria, de fato, era ganhar alguns daqueles gibis fantásticos da Ebal. O menino, aqui, não podia fazer isso galera, porque a ‘mamy’ achava que histórias de gibis não acrescentavam nada ao conhecimento de um garoto da minha idade. Vale lembrar que naquela época, os quadrinhos eram considerados uma leitura do tipo marginal, não desfrutando o status que tem hoje. Dessa maneira, a Tourinha não fazia questão de juntar as suas últimas economias para comprar uma coleção de livros, enciclopédias e etc; mas gibis... bem, ela torcia o nariz. Então, certo dia, algo me surpreendeu. No finalzinho de uma das jovens tardes de verão dos anos 70, ela me olhou com aquele sorriso matreiro – Aii... que saudades, novamente... Putz, putz e putz!! Pôxa Toura, judia não pô, tô  com os olhos úmidos e a garganta ardendo tentando segurar a cachoeira que quer brotar dos meus olhos... – e disse, - “Ô ‘Zé do Pito’, vamos lá no ‘seo’ Luiz pegar alguns gibis?”. Pêra; agora pêra aí, porque as lágrimas estão cedendo espaço para as gargalhadas. Zé do Pito!! Ahahaha... Olha só o apelido que a Toura me batizou e com o aval do Kid Tourão! Quer saber a etimologia de ‘Zé do Pito’? Ah ta! Mas não conto mesmo!
Bem, retomando. Quando a minha mãe disse aquilo, pensei que ela tinha descoberto o meu golpe e estava a fim de dar uma bronca nesse otário, mas na realidade, ela estava falando sério. O seu coração de mãe percebeu a minha ansiedade cada vez que eu pegava uma daquelas obras primas nas mãos e então deve ter pensado e refletido: - “Ah que se dane! Gibi também é leitura!”.
E foi assim que os gibis da Ebal entraram em minha vida de leitor mirim fissurado. Acredito que apesar de nos dias atuais ter perdido o tesão pelas histórias em quadrinhos, acho que devo à elas o meu gosto pela leitura, pois foram aqueles ‘heróis’ maravilhosos que conseguiram me transformar num devorador de páginas. Só depois dos gibis vieram os livros e que são hoje, a minha verdadeira paixão.
Acredite que após passar em frente a banca de jornais e revistas e ter sofrido esse insight abençoado, eu quase não conseguia trabalhar direito porque ‘volta e meia’ lá estava eu recordando a ‘Banca do Mariz’, os quadrinhos do Batman, as capas do Homem Aranha; todas elas da Ebal. Caraca! As recordações eram tão gostosas, mas tão inebriantes que juro que fiquei com um baita medo de perder o interesse pelos meus livros e voltar a fase dos quadrinhos! Pensei comigo: - ‘Jesus! Vou ter que desfazer dos meus mais de 500 ou 600 livros (rs)!!  
Sei lá, não dá prá definir a alegria que senti. Se tinha os livros como parte da minha vida, agora, os quadrinhos também estão querendo recomeçar a fuçar por ali. Putz! Que insight danado!
Então, tive a idéia de prestar uma homenagem para os quadrinhos da minha época e “quadrinhos da minha época” é sinônimo de Ebal.
Hoje quando entramos nas bancas ultra-modernas, sejam elas físicas ou virtuais, a primeira ‘coisa’ que vemos é aquele festival de gibis com capas também ultra-modernas. Estas capas nos mostram um Homem Aranha com roupa negra ao invés da vermelha, um Batman com um exo-esqueleto todo preto a prova de balas no lugar do velho e tradicional poliéster cinza ou então um Superman cabeludo e com uma capa roxa tendo um caso com a Mulher Maravilha. Isso mesmo! Um caso com a Mulher Maravilha! Ohohohoh!!!
O que muitas pessoas esquecem ou desprezam, não sei ao certo, é que a pedra angular que deu início a enxurrada de publicações dos super-heróis da Marvel e DC Comics aqui no Brasil foi a Ebal. ‘Man’! Se não fosse essa saudosa editora, talvez, jamais o nosso país tivesse vivido o chamado ‘boom dos quadrinhos’. Foi a Ebal que preparou o terreno para que a Marvel e a DC aterrissassem definitivamente em terras tupiniquins e montassem os seus acampamentos de maneira definitiva.
Os grandes personagens dos comics books que estavam bombando na terra do Tio Sam só chegaram ao Brasil graças a primeira revista em quadrinhos da Ebal chamada “O Herói” e lançada por aqui em meados da década de 50.  Assim, os brasileiros podiam se esbaldar com personagens marcantes como The Flash, Superman e Batman que deixaram de ser um privilégio exclusivo dos americanos. Alguns anos depois, o homem de aço e o morcego ganhariam as suas ‘revistas solo’ pela Ebal e repetiriam no Brasil, o mesmo sucesso alcançado lá fora.
Cara! A Ebal era foda! Desculpa aí o palavrão, escapou... mas prá ser sincero, esse termo cai como uma luva, porque para a editora brazuca não tinha tempo ruim não. Todos os heróis que hoje pertencem a Marvel e DC Comics passaram pela ‘dita cuja’. Ela publicou histórias do Homem Aranha, Batman, Superman, Superboy, X-Men, Thor, Flash, Namor, Hulk, Mulher Maravilha... Ufa!! Deixa tomar um fôlego aqui... pronto! Prosseguindo: Homem de Ferro, Capitão América, Shazam... Cara, vou parar por aqui....
Todos esses gibis encantaram várias gerações de leitores, incluindo a minha. Histórias e ilustrações que fizeram a alegria de muitos ‘calças curtas’ do meu tempo, hoje adultos bem casados ou bem realizados e ávidos leitores de obras literárias. Mas não podemos esquecer que tudo começou com os quadrinhos da Ebal.
A Ebal que na realidade se chamava Editora Brasil-América foi uma das mais importantes editoras de histórias em quadrinhos no Brasil. Fundada em 18 de maio de 1945 por Adolfo Aizen, considerado o "Pai das Histórias em Quadrinhos do Brasil", foi de extrema importância por difundir o gênero no país. Em seu período áureo, a editora era dirigida, também, por Paulo Adolfo Aizen e Naumin Aizen, ambos filhos de Adolfo Aizen, bem como pelo jornalista Fernando Albagli.
Durante suas primeiras quatro décadas a Ebal foi uma forte influência em várias gerações de editores, artistas e leitores, contribuindo decisivamente para a estabilização das histórias em quadrinhos no Brasil.
Atualmente fala-se muito do impacto das revistas em quadrinhos como uma forma de expressão artística importante no mundo atual. Mas nem sempre foi assim, já que nas décadas de 50 e 60 as críticas e os ataques por parte de setores conservadores e clericais da sociedade eram constantes, propagando que o gênero era prejudicial aos jovens.
Mas Adolfo Aizen defendeu de forma ferrenha os quadrinhos em inúmeras entrevistas, artigos e campanhas, afirmando que as revistas, na realidade, estimulavam o hábito de ler, sendo de uma importância ímpar na educação.
Por isso mesmo, a  trajetória da Ebal  chega a se confundir com a luta da imprensa brasileira contra a ditadura.
A editora de Adolfo Aizen também conseguiu atingir um marco histórico: idealizar um herói inteiramente brasileiro para competir com as feras da Marcel e DC. Estou me referindo ao “O Judoka”, que como disse no início do post era o meu preferido. As histórias em quadrinhos do Judoka eram criadas por Pedro Anisio e Eduardo Baron e contavam a saga de Carlos da Silva um jovem, que salva um senhor de ser atropelado por um caminhão e logo descobre que esse homem é o mestre em judô Minamoto, que em agradecimento decide lhe ensinar as técnicas do combate, Carlos, então, se torna o Judoka. Aqui, cabe um lembrete:  com o tempo, Lúcia,  a namorada do herói também passaria a treinar Judô e lutar a seu lado.
A Ebal encerraria suas atividades em 1995, ou seja, 50 anos após a sua fundação em 18 de maio de 1945. No início dos anos 80, a editora já sofreria um baque com a debandada dos heróis da Marvel para outras editoras devido a problemas contratuais. Depois disso viria o golpe fatal quando a editora deixaria de publicar a série dedicada ao Superman. Com a saída dos heróis da Marcel e DC, a Editora Brasil-América estaria fadada  ao fechamento.
Cara, pensando bem, fui um sujeito de sorte, pois pude ler e pegar em minhas mãos os gibis da Ebal. Mais do que isso, tive a oportunidade de viver o período de ouro dos quadrinhos aqui na terrinha.,
Vale a pena recordar, também, nesse post a relação completa dos títulos publicados pela editora ao longo dos seus 50 anos de história, segundo fonte do Guia Ebal. Vamos lá, remorando...
01 – Aí Mocinho
Conteúdo: Bem Bowie e os pioneiros, 7ª série, 9ª série, Gavião Negro, Bonanza,  Almanaques, A Maior, Superduplas, extras
02 – Album de Buck Jones
03 – Album do Fantasma
04 – Album Gigante
Conteúdo: 2ª série, Thor, extras
05 – A Melhor
Conteúdo: Caçadores de Extrelas
06 – Aquaman
07 – Batman
Conteúdo: 1ª série, 3ª série, 4ª série, bi 1ª série, especial em cores, formatinho, extras
08 – Bonita
Conteúdo: Supermoça Especial em Côres
09 – Capitão Z
Conteúdo: Capitão América em Côres
Homem de Ferro e Capitão
América
10 – Coleção Nostalgia
Conteúdo: Tim e Tok
11 – Cinemin
Conteúdo: 6ª série, Extras
12 - Coleção Clássicos das Histórias em Quadrinhos
13 – Coleção Histórias em Quadrinhos
14 – O Demolidor
Conteúdo: 1ª Série
15 – Dimensão K
Conteúdo: Flash
16 – Edição Maravilhosa
Conteúdo: 1ª Série, Série Mini Heróis, Extras
17 – Edição Monumental
Cinco por Infinitus
18 – Elektron
19 – Episódios da História Brasileira
20 – Epopéia
Conteúdo: Epopéia-Tri, extras e especiais
21 – Estréia
Conteúdo: Discos Voadores, Monstro do Pântano, Ficção Científica, extras e especiais
22 – Fantomas
23 – Hiper
Conteúdo: Jornada nas Estrelas
24- Invictus
Conteúdo: Flash, Arqueiro e Lanterna Verde; O Guerreiro; Superman e Batman; Superman e Batman em Côres, Almanaques, extras
25 – James Bond 007
26 – Judô Master
Conteúdo: O Judoka
27 – Kung-Fu
Conteúdo: 1ª Série
28 – Lançamento
Conteúdo: A Legião dos Super-Heróis, Origem dos Super-Heróis, Galax, Mulher Maravilha, Kamandi, extras
29 – Minha Revistinha
Conteúdo: Hércules libertado, extras e especiais
30 – Misterinho
Conteúdo: Especial em cores, extras e especiais
31 – Os Biônicos
32 – Os Clássicos da Década
33 – Os Grandes Álbuns em Quadrinhos
34 – O Herói
Conteúdo: Turma Titã, Solar, Sargento Rock, Tor, extras e almanaques
35 – O Homem Aranha
Conteúdo: 1ª Série, especial em cores, almanaques
36 – O Juvenil Mensal
Conteúdo: Tomahawk, extras e especiais
37 – O Poderoso
Conteúdo: Gunsmoke 1ª Série, especial em cores
38 – Pequenina
Conteúdo: O Homem Borracha
39 – Personagens do Oeste
40 – Príncipe Valente
41 – Quadrinhos
Conteúdo: Os Justiceiros, Os Justiceiros em cores, Mulher Maravilha, O Sombra, Tim Relâmpago, Jaspion, almanaques
42 – Reis do Faroeste
Conteúdo: Black Diamond, Cheyenne, Jonah Hex
43 – Série Sagrada
Conteúdo: 1ª série
44 – Star Álbum
Conteúdo: Supermoça, Terror em Combate
45 – Superamigos
Conteúdo: 3ª Série, almanaques
46 – Superboy
Conteúdo: 1ª Série, Superboy-Bi, especial em cores, extras e especiais, almanaques
47 – Super-Heróius
Conteúdo: Shazam especial em cores, Shazam formatinho, extras e especiais, almanaques
48 – Superior
Conteúdo: extras
49 – Superman
Conteúdo: 1ª, 2ª, 3ª e 4ª série; Superman-Bi; especial em cores; formatinho, extras e especiais, almanaques
50 – Super X
Conteúdo: Namor e Hulk, almanaques
51 – Tarzan
Conteúdo: 3ª Série, 1ª Série-Bi, 1ª Série em cores, 2ª Série em cores, 2ª Série em Cores-Bi, formatinho em cores, 12ª Série, almanaques, extra
52 – Um Homem, Uma Aventura
53 – Zorro
Conteúdo: 3ª Série, especial em cores, extras e especiais
54 – Edições Extras e Especiais
Conteúdo: Agente Secreto X-9, Brick Bradford, Korsar, Wolf, Zephyd, Holandeses no Brasil

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