Eu, Tina – A História de Minha Vida

28 maio 2011
Escrever autobiografias é um negócio sério, mas infelizmente nos últimos anos acabou se tornando algo banalizado. Culpa daqueles pseudo artistas que se julgam talentosos e no direito de contratar algum escritor em fim de carreira para colocar no papel dados insignificantes de sua vida artística ainda mais insignificante. Enfim: o cúmulo do cúmulo!
Me perdoem o desabafo, mas a coisa da feia! Basta dizer que hoje temos biografias até de ex-BBB’s da Globo! O outro lado da banalização é que qualquer artista conhecido na mídia acredita que a sua experiência de vida vale a pena ser contada. E não é bem assim. Para que o livro prenda a atenção do leitor, a vida do fulano ou ciclano, mesmo que esteja fazendo sucesso na mídia, deve ter sido regada de polêmicas, superações, derrotas, vitórias, e outros ingredientes a mais. Não adianta querer colocar nas páginas somente fatos bons, o sujeito tem que ser forte o suficiente para revelar também as suas fraquezas e aquelas passagens doloridas que deixaram feridas profundas, mas que após muita luta foram superadas.
E será que Madonna, Lady Gaga, Restart e Fiuk (os dois últimos devem ter suas autobiografias lançadas brevemente), estavam ou estarão aptos para dar esse passo importante: “transformar a sua vida num livro?”. Desculpem-me os fãs desses artistas, mas acredito que não.
Por causa dessa banalização, encontrar uma autobiografia que realmente valha a pena ser lida está ficando cada vez mais difícil. É por isso que guardo com todo carinho e cuidado em minha humilde biblioteca  o livro “Eu, Tina – A História de Minha Vida”, o qual considero um verdadeiro Oasis no meio de tanta imbecilidade do gênero. E é esta obra, escrita por Tina Turner em parceria com Kurt Loder, que eu gostaria de dividir com vocês. Um dos melhores livros que li. E olha que eu não sou nem um pouco chegado nesse gênero de literatura. Raramente leio autobiografias ou biografias, mas a vida dessa “mulher-guerreira” vale a pena ser conhecida, até mesmo por aqueles que não são fãs das suas músicas. A história da vida de Anna Mae Bullock, ou simplesmente “Tina Turner”, se resume em uma única palavra chamada: superação.
A cantora simplesmente “escancara” a sua vida para os seus fãs. Ela não esconde absolutamente nada. Desde a sua paixão por Ike Turner até os espancamentos homéricos sofridos pelo tirânico marido. Vale lembrar que tempos depois, o músico também lançaria a sua autobiografia “Quero Meu Nome de Volta – As Confissões de Ike Turner”, onde à exemplo de Tina, também “abre as comportas” de sua vida, relatando desde a perda de sua virgindade aos seis anos de idade, até a sua prisão por agredir a esposa e envolver-se com o narcotráfico. Mas o livro de Ike, apesar de ser tão bom quanto o de Tina, acabou não emplacando, talvez pelo fato dele ter sido o algoz e não a vítima; sei lá.
Mas esse post é sobre o livro de Tina e não de Ike, por isso, vamos ao que interessa. A orelha de “Eu, Tina – A História de Minha Vida” já dá uma noção do conteúdo emocionante da obra aos leitores. Kurt Loder que co-escreveu o livro com Tina, afirma que a história da cantora é difícil de esquecer. E realmente ele tem toda a razão.
Numa linguagem simples e objetiva, o leitor fica sabendo como uma adolescente magrela, desengonçada e cheia de rebeldia, invadiu o palco onde Ike se apresentava e o convenceu a contratá-la para vocalista de sua banda de blues conhecida como “Os Reis do Ritmo”. Após contratá-la, Ike já deixaria evidente a sua personalidade dominadora, ao trocar o nome de Ana Mae Bullock para Tina Turner, sem ao menos consultá-la.
O livro conta ainda detalhes da infância sofrida de Tina que se sentia rejeitada pelos próprios pais Richard e Zelda. Kurt Loder revela que os pais da cantora viviam brigando e no espaço dessas brigas, eles encontravam espaço apenas para Aline, irmã mais velha da cantora. Para Anna Mae , no entanto, havia pouca intimidade, pouco amor e pouca atenção; apenas uma tolerância relutante. A explicação seria a infelicidade de Ana Mae ter sido a última e indesejável filha de um casamento que estava naufragando.
Ao ser abandonada pelos pais que se mudaram para uma outra cidade em busca de emprego, Tina passou a viver na casa de alguns parentes de Richard e Zelda e foi nesse período que conheceu Margareth, sua melhor amiga. A amizade sincera duraria pouco, já que Margareth... bem chega, chega... É que me empolguei tanto com o livro que no momento em que percebo já estou fazendo spoiler no post.
As agressões sofridas e narradas por Tina chegam a causar náuseas. Segundo a versão da cantora, o seu ex-marido havia se acostumado a se abusar dela e humilhá-la durante 16 anos, o que a teria levado a uma tentativa de suicídio em 1968. Ike teria quebrado suas costelas, jogado café quente em sua cara, a queimado com um cigarro e socado o seu nariz com tanta frequência que a obrigou a fazer uma cirurgia. Quando passava os acessos de fúria de Ike, quase sempre causados pelo consumo de drogas, ele procurava a mulher se dizendo arrependido, mas logo depois, as sessões de espancamentos e de torturas físicas e psicológicas se repetiam.
Quando a barra apertou, Tina decidiu deixar de ser submissa e simplesmente abandonou Ike com apenas 36 cents no bolso. Como ela foi embora no meio de uma excursão, teve de assumir milhares de dólares em dívidas. Ela conta em detalhes o que teve de fazer para conseguir pagar essa dívida astronômica, além da luta nos tribunais para que pudesse manter o sobrenome Turner, já que Ike queria que a ex-esposa abdicasse dele.
Mas nem tudo é tragédia, sofrimento e espancamento no livro. Há também os momentos áureos vividos pela dupla Ike e Tina que iniciaram sua carreira de sucesso com "A fool in Love”, além de terem aberto uma turnê dos Rolling Stones.
E como não poderia deixar de ser, a obra aborda também o período de sucesso de Tina na fase pós-separação de Ike, ou seja, como ela conseguiu consolidar a sua carreira de cantora, tornando-se uma das musas mais famosas do pop-rock, graças ao sucesso  What's love got to do with it"  que venceu os Grammy de Musica e Gravação de 1985.
Aqueles que se interessarem, poderão encontrar “Eu, Tina – A História de Minha Vida” apenas nos sebos, já que a obra lançada em 1987 encontra-se esgotada. Ah! Antes que me esqueça, o livro se tornou um filme famoso em 1993 tendo nos papéis principais Ângela Bassett (Tina Turner) e Laurence Fishburne (Ike Turner).
       

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