Se você já assistiu “Conclave” de Edward Berger, filme
indicado em oito categorias no Oscar 2025, incluindo a de “Melhor Filme” e “Melhor
Roteiro Adaptado”, não perca o seu tempo lendo o aclamado livro homônimo de
Robert Harris publicado originalmente em 2016 e que deu origem a produção
cinematográfica. Não estou querendo “dizer” que a obra literária é ruim; longe
disso. Quero apenas alertar: como o livro foi adaptado ao pé da letra para as
telonas – com exceção dos nomes e nacionalidades de alguns personagens – as reviravoltas
que deixam a trama interessante e com a capacidade de, com toda a certeza,
surpreender o ‘leitor-cinéfilo’ perderão todo o seu impacto. Esses plot twists
são semelhantes, ou seja, o que você assistiu no filme também irá ler no livro,
sem mudanças, por mais sutis que sejam.
Feito essa ressalva, o livro de Harris é excelente e consegue
prender a atenção dos leitores com a sua linguagem fluida e reviravoltas
surpreendentes. Sendo mais específico: duas revelações envolvendo dois
personagens e uma reviravolta bombástica (um verdadeiro soco no fígado) que
acontece, somente, no final do livro. Para ser mais exato, esse “soco” é
desferido nas últimas quatro páginas do romance. No meu caso, como ainda não
tinha assistido ao filme, fiquei boquiaberto. Jamais pensei naquela reviravolta
e olha que eu sou bom para descobrir plot twists por antecipação.
A trama de Conclave
gira em torno da morte de um papa reformista e consequentemente do intrigante e
misterioso processo de escolha de um novo líder da Igreja Católica. Dias depois da morte do papa, mais de cem
cardeais do mundo todo se reúnem para eleger seu sucessor. São todos homens
santos, mas têm rivalidades, ambições e fraquezas, e, nas próximas setenta e
duas horas, um deles se tornará a figura espiritual mais poderosa da Terra. A tarefa
não se mostrará nada simples, pois entre os elegíveis e os grupos que se formam
em torno deles há diferenças inconciliáveis: globalistas e isolacionistas, os
que clamam pelo primeiro papa negro, religiosos com fortes opiniões sobre o
papel das mulheres e do casamento gay, as correntes conservadoras e os
reformistas, os que rejeitam a riqueza e os que abraçam o luxo. E, para
completar, surge a notícia de que o falecido papa elegeu em segredo um cardeal
até então desconhecido de todos.
O encarregado de executar e coordenar essa reunião
confidencial do colégio de cardeais (Conclave) é cardeal italiano Lomeli que nos
cinemas foi vivido pelo famoso ator Ralph Fiennes.
Os quatro principais candidatos a suceder o papa morto
são Aldo Bellini, da Itália, um liberal na linha do falecido Papa; Joshua
Adeyemi, da Nigéria, um conservador social; Joseph Tremblay, do Canadá, um
moderado dentro da Igreja; e Goffredo Tedesco, da Itália, um tradicionalista
convicto.
A linguagem do romance é tão fluida que o autor
consegue fazer com que os leitores mergulhem dentro da história, por isso,
temos a impressão de estar alí, no Conclave, no meio dos cardeais participando
de suas tramas, alianças e reuniões secretas visando a escolha de um novo papa.
Aliás, a descrição dos detalhes de como é organizado um conclave, além dos rituais
de votação dos cardeais é perfeito. Fiquei imaginando se tudo aquilo não
passava de invenção, bem longe da realidade, saída da cabeça de um escritor de
ficção; mas no final do livro quando Robert Harris faz os seus agradecimentos
as pessoas que colaboraram com a obra, ele ressalta que entrevistou um cardeal
que já participou de um Conclave, no entanto, como as suas conversas foram não
oficiais, ele optou por não citar o nome desse cardeal. O autor cita também que
no início de suas pesquisas para escrever o livro, ele pediu permissão ao
Vaticano para visitar as locações usadas durante um Conclave e que ficam
permanentemente fechadas ao público. Esta permissão, segundo Harris, foi
concedida por um monsenhor do Departamento das Celebrações Litúrgicas do Sumo
Pontífice. Assim, está explicado o motivo da fluidez na construção da trama,
principalmente, no que se refere a organização, realização e execução de um
Conclave.
Mas vamos às três surpresas da trama que valem a pena ser
destacadas. Sem spoilers, é claro. A primeira delas envolve o cardeal canadense
Tremblay; a segunda, o cardeal nigeriano Adeyemi e o soco no fígado envolve o
cardeal Benítez, cuja existência era desconhecida de todos os cardeais e que
havia chegado ao Vaticano apenas poucas horas antes do Conclave. Não posso
revelar mais do que isso, senão acabaria estragando um plot twist bombástico
daqueles que desnorteiam qualquer leitor.
Enfim, é isso galera. Leiam o livro e somente depois
assistam ao filme... se quiserem, porque, acredito, que apenas o livro já
basta.
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