As malditas sobrecapas, contracapas, orelhas e cintas de livros que estragam qualquer história

01 fevereiro 2023

Cara... peguei ojeriza, ódio, raiva, asco – sei lá, entendam como acharem melhor – dessas malditas sobrecapas, contracapas, orelhas e cintas de livros. Elas já me estragaram muitas histórias. Às vezes penso que alguns ou muitos editores subestimam a inteligência dos leitores. Desculpem, mais não consigo entender de outra forma. Já vi orelhas de livros com spoilers dantescos que entregam o momento mais impactante da trama. O mesmo aconteceu com contracapas que destrincharam o perfil psicológico de protagonistas do enredo.

Na minha opinião não existe nada mais prazeroso para um leitor do que ir descobrindo aos poucos as nuances que envolvem a personalidade dos personagens que protagonizam a trama ou ainda ir se inteirando aos poucos das transformações no perfil psicológico de um vilão ou do chamado “mocinho”. Fazendo uma analogia com uma deliciosa refeição: o ato de ler um livro é como degustar aos poucos um prato especial, deixando que os receptores sensoriais da nossa língua que detectam os sabores doce, salgado, azedo e amargo desvendem cada um desses sabores até atingir o ápice do nosso paladar. Mas para quebrar esse clima especial, chegam essas cruéis e insensíveis sobrecapas, contracapas e orelhas e estragam tudo.

Há um bom tempo passei a ignorar essas partes de um livro e desde então, passei a desfrutar muito mais do prazer da leitura. Mas confesso que já ‘pelejei’ muito com isso porque a curiosidade em querer saber um pouco mais sobre a trama que iria ler – acreditando na boa fé dos editores – acabou estragando muitas histórias fantásticas.

O Sorriso da Hiena de Gustavo Ávila lançado pela Verus Editora é um exemplo de orelha e contracapa traiçoeiros. Logo na primeira orelha do livro, já ficamos sabendo de uma maneira discreta, detalhes sobre a origem do serial killer. Na contracapa, o discreto cede lugar ao escancarado. Ali, os leitores curiosos já descobrem a ligação do serial killer com um outro personagem importante da trama, além da motivação que levou uma criança a se tornar o próprio serial killer. Vale lembrar que todas essas revelações só acontecem após vários capítulos da trama.

Talvez, alguns seguidores do “Livros e Opinião” que lerem a resenha que escrevi sobre O Sorriso da Hiena afirmem que eu também liberei um spoiler relacionado a um transtorno psicológico do detetive Artur Veiga que é portador da Síndrome de Asperger. Tudo bem, concordo, de fato é um baita spoiler, mas já ficamos sabendo logo nas primeiras seis páginas do romance que o personagem tem esse estado de espectro autista. Assim, esse spoiler não atrapalha em nada a leitura do enredo.

O Fio da Navalha, de Somerset Maugham, é outra pedrada na cara do leitor; entrega toda a história. A orelha inicial desse livro é fatal. Outra orelha que quebra o leitor ao meio é do romance A Firma de John Grisham lançado pela editora Rocco em 1993. Caráculas!! Nas duas orelhas, você encontra um resumão da história lotado de spoilers! Nunca vi aquilo. Aliás, já comentei com amigos que não há a necessidade de “encarar” o livro de Grisham inteiro, basta ler as suas orelhas e pronto (rs).

E que tal você ficar sabendo quem foi o assassino de uma das história de Agatha Christie antes de você ler o livro? Não, não... Não foi nenhum amigo leitor mal-intencionado que me contou; foi a própria contracapa do livro. Isso ocorreu há algum tempo e nem me lembro mais o nome da obra literária, só me recordo que era uma história, acho que do Hercule Poirot. Até hoje, Lulu se recorda desse episódio com boas risadas. Fiquei puto na época (rs).

Portanto, fica aqui o conselho de um “macaco velho” no assunto: Vai ler um livro que você está aguardando há muito tempo? Passe longe da sobrecapa, contracapa, orelhas e o escambau a quatro. Feche os olhos para elas e abra esses mesmos olhos para o enredo que está guardadinho nas páginas esperando para ser devorado.

Inté galera!

 

 

 

 

 

 

 

 

Postar um comentário

Instagram