Oi galera, posso divagar um pouquinho? Juro que havia
feito um propósito de só escrever sobre livros nesse blog, afinal ele foi
criado com esse objetivo; taí o nome da página que não me deixa mentir: “Livros
e Opinião”. Mas me perdoem, hoje quero escrever, desabafar, enfim, conversar
vocês, pois estou precisando muito.
Tudo teve início após um papo que eu tive com Lulu na
manhã de hoje. No geral estávamos falando sobre solidariedade ou melhor sobre a
falta dela, inclusive nos núcleos familiares, justamente onde a “Dona
Solidariedade” deveria prevalecer com toda a sua força e pujança.
O que originou essa conversa foi uma situação vivida
por um colega nosso. O Nilton (não é o seu nome verdadeiro) sempre procurou ajudar,
dentro de suas possibilidades, outras pessoas que estivessem sofrendo por algum
motivo. O amparo, nesses casos, vinha com toda a certeza; ou na forma de uma
conversa, de um conselho ou de algum bem material de primeira necessidade que
estivesse faltando. Sei lá, alguma atitude ele tomava.
Pois é, mas o Nilton ficou doente. Tudo começou com
uma fibromialgia, depois o Parkinson e para fechar o pacote: uma neuropatia
periférica que o meteu numa cama fazendo com que ele ande cada vez menos; mesmo
assim, ainda caminha, aos trancos e barrancos. Tantos problemas só poderia
culminar com uma depressão.
Durante certo ponto da conversa com Lulu, ela exclamou
contrariada – Caramba! Ele tem mais três irmãos! – Após a sua indignação, eu
acrescentei – E todos bem de vida. É mole? – Sem contar que acabei me
esquecendo dos tios e sobrinhos.
Um irmão do Nilton é advogado, o outro, um empresário
do ramo de construções e o terceiro, engenheiro civil. Todos eles casados e com
um filho, cada. Nenhum deles se preocupou com estado de saúde do Nilton que
vive sozinho. Quem está cuidando dele, pasmem: é um amigo seu! Este amigo
juntamente com a sua esposa visitam o Nilton todos os dias, passa algumas horas
com ele, conversam, o levam ao médico para as consultas de praxe, verificam se
não está faltando nada na despensa de casa, levam-no ao banco para resolver
alguns detalhes financeiros, etc. Quanto aos seus irmãos e parentes... bem, melhor
esquecer. As suas visitas – uma vez por semana, quando acontecem, não duram mais
do que cinco ou dez minutos.
O abandono familiar dessa pessoa fez com que eu e Lulu
refletíssemos sobre o isolamento cada vez maior em nossos núcleos familiares. Vejam
bem: os nossos pais nos colocam no mundo para vivermos as nossas vidas e
consequentemente formarmos as nossas famílias, mas muito antes disso, durante
nossa infância e adolescência, brincamos de xerife e bandido ou então de bonecas
e casinhas com os nossos irmãos e irmãs formando uma fraternidade que apesar de
algumas briguinhas juram permanecer juntos para sempre. Mas, então, esses
irmãos crescem, se casam, tem filhos e formam os seus núcleos familiares.
Infelizmente, em alguns casos, esses núcleos vão se isolando cada vez mais.
Passando a viver apenas os seus problemas, deixando de se preocupar com aquele
“xerife” ou então com aquele “bandido” ou ainda com aquela parceira de boneca
ou casinha que no passado estavam sempre juntos (as) para o que desse e viesse.
‘Entonce’, aquele núcleo antigo morre, já era, porque agora eu formei um novo
núcleo, o qual tenho que me dedicar inteiramente a ele.
Pois é galera, foi isso que aconteceu com o Nilton. Me
lembro que ele e seus irmãos eram muito apegados, na verdade, carne e unha,
hoje a situação mudou muito, muito, de fato.
Na minha opinião, ser solidário é, também, ser amigo e
empático, permitindo-se sentir a dor do outro para, em seguida, buscar ajudá-lo
de alguma maneira. Mas... putz cara... quando isso deixa de acontecer nos
nossos núcleos familiares envolvendo irmãos e irmãs ... é triste.
Essa colaboração mútua sempre foi e sempre será
fundamental para a sobrevivência humana. O apoio, seja ele funcional ou
emocional, é fundamental para vencermos obstáculos.
Acho revoltante quando alguém diz; “Agora eu tenho
minha família, meus filhos e esposa. A minha preocupação é com eles, o resto
não me importa mais”. Acreditem, conheço pessoas que se expressam dessa
maneira. Essa filosofia faz com que você dispense de sua vida não só irmãos,
mas também pais vulneráveis. Triste não?
Este papo com Lulu nos direcionou para uma outra
vertente dentro desse contexto. Imagine quantos casais vivem com filhos
especiais que necessitam de cuidados constantes por causa de problemas
psicológicos ou físicos. Filhos que podem conviver normalmente com os pais,
desde que sejam acompanhados com frequência.
Já imaginaram o que se passa na cabeça desse pai ou
dessa mãe quando eles não tiverem mais condições – ou quando não estiverem mais
aqui - de cuidar de seu filho? Em saber
que, hoje, os seus irmãos ou parentes próximos dedicam 110% do seu tempo aos
seus núcleos familiares não dispondo, assim, de um segundo sequer para praticar
algumas gotas de solidariedade com você?
Para finalizar essa divagação, gostaria de “dizer” que
a solidariedade começa em família, por isso, o papel dos pais é muito
importante. A família é um dos primeiros lugares onde as pessoas aprendem a
lição da solidariedade e do respeito entre irmãos. Num mundo de individualismo,
competição e indiferença, o amor entre irmãos nunca pode deixar de existir.
Inté galera! No próximo post, prometo escrever sobre
livros (rs).
Ah... antes que me esqueça: manos, amo vocês!
Postar um comentário