Viche! Quase uma semana sem postar nada no blog! Apesar de perceber que os acessos na minha página estavam sofrendo uma queda – afinal, qual seguidor não quer ler artigos novos? – decidi priorizar a conclusão da leitura de A Sociedade da Neve de Pablo Vierci. A narrativa estava tão interessante que resolvi seguir em frente. Portanto, taí, o motivo da demora de quase sete dias nas postagens. Me desculpem aí galera, mas cá entre nós, foi por um motivo justo. O livro é incrível!
A Sociedade da Neve aborda um dos acidentes aéreos mais trágicos da história da aviação mundial. Um acontecimento, aliás, que mexeu com o mundo todo devido as circunstâncias em que os seus 16 sobreviventes conseguiram driblar a morte durante os 72 dias em que ficaram perdidos no meio de uma geleira sem fim.
No dia 13 de outubro de 1972, o time de rugby de uma universidade do Uruguai estava a caminho de Santiago do Chile quando a aeronave da Força Aérea caiu na Cordilheira dos Andes, a mais de 4 mil metros de altitude. O avião transportava 45 pessoas. Durante a queda, 12 pessoas faleceram e 17 morreram com o passar dos dias, por conta do frio extremo e escassez de alimento. A Tragédia dos Andes, como ficou conhecida, foi pauta para diversos debates sobre os limites da sobrevivência humana.
No começo o grupo sobreviveu se alimentando de barrinhas de chocolate e doces que encontraram nas malas. O problema veio após alguns dias, quando a comida se esgotou. Então, eles tiveram de tomar uma decisão radical para continuarem vivos na esperança de um resgate: se alimentar dos corpos dos passageiros e tripulantes que haviam morrido na queda do avião.
O autor de A Sociedade da Neve revela que, após o resgate, autoridades do governo uruguaio aconselharam os jovens a não contar como tinham sobrevivido, “que a verdade, se pública, os assombraria para sempre”. Na época, Nando Parrado e Roberto Canessa, os expedicionários que conseguiram atravessar os Andes e pedir socorro a um montanhista, se negaram a esconder os fatos.
O livro de Vierci conta em detalhes toda essa tragédia, mas com um diferencial muito importante se comparado a outras obras que exploraram o assunto: a saga foi narrada pelos próprios sobreviventes da tragédia, ou seja, cada um deles contou em detalhes o que fez para se manter vivo naqueles 72 dias fatídicos que tiveram início em 13 outubro de 1972.
A obra intercala as narrativas dos sobreviventes com o relato objetivo do autor que dá detalhes sobre os fatos relacionados ao acidente. Cada capítulo é iniciado com descrições de Vierci sobre a tragédia, desde os momentos descontraídos que marcaram o embarque dos jovens no avião da Força Aérea Uruguaia até o instante do resgate, passando pela provação dos 72 dias que definiram a sobrevivência dos 16 jovens, na época. Logo depois desses preâmbulos vem as narrativas. O livro dedica um capítulo inteiro para cada um dos sobreviventes contarem as suas sagas.
Sobreviventes sendo atendidos após o resgate, depois de 72 dias de sofrimento
Confesso que todas as 16 narrativas mexeram comigo. Como por exemplo, o momento em que ouviram pelo rádio que as buscas haviam sido encerradas já que as autoridades uruguaias acreditavam que todos haviam morrido na cordilheira. Mesmo assim, eles nunca perderam as esperanças, tanto é verdade que decidiram por conta própria se salvarem. Mais ou menos assim: “Já que esqueceram da gente, vamos provar a eles que estamos vivos”. A partir desse momento, decidiram começar a fazer expedições exploratórias, todas fracassadas, até culminar com a expedição final de Nando Parrado e Roberto Canessa que resultou no salvamento do grupo. Mas para continuarem vivos, os 16 sobreviventes tiveram de tomar uma decisão que marcaria as suas vidas: se alimentar dos corpos dos seus amigos que haviam morrido no acidente.
O livro mostra ainda como foi a reinserção dessas 16 pessoas na sociedade, as dificuldades que elas sofreram para voltar a ter, novamente, uma vida normal; os momentos emocionantes que marcaram o resgate após os 72 dias perdidos nos Andes; a reação de seus familiares quando souberem que eles tiveram de praticar canibalismo para sobreviver; como esses sobreviventes vivem atualmente; e principalmente como foram os mais de dois meses perdidos nos Andes, a rotina para sobreviver naquelas circunstâncias. Tudo isso narrado por conceitos diferentes com cada um dos integrantes da chamada “Sociedade da Neve” dando o seu ponto de vista sobre a situação.
Já tinha lido há algum tempo o livro de um outro sobrevivente dos Andes, Nando Parrado, que escreveu o também ótimo Milagre nos Andes: 72 dias na montanha e minha longa volta para casa, mas enquanto nesse livro temos apenas a visão de uma das 16 pessoas que conseguiram escapar com vida da tragédia, em A Sociedade da Neve, todos os 16 sobreviventes narram como foi a sua saga, com alguns deles, encontrando o espaço ideal para exorcizar os seus fantasmas.
Livraço!
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