Muitas vezes a ficção acaba se fundindo com a
realidade e por isso, quando lemos um livro com personagens tão carismáticos, a
primeira pergunta que fazemos é se esse personagem que nos proporcionou tantas
emoções foi baseado numa pessoa real. Junto à essa pergunta, fazemos outra: ‘o
que é mito e o que é realidade na composição desse personagem.
Pois é, essas dúvidas acabaram dando origem a esse
post. Selecionei oito personagens marcantes da literatura que, de fato,
existiram mas nem tudo o que lemos sobre eles aconteceu; muitos detalhes de suas
vidas e personalidades foram enfeitados pelos autores para dar um tempero a
mais no enredo.
Vamos à eles!
01
– Sherlock Holmes (Arthur Connan Doyle)
Realidade:
Arthur Connan Doyle sempre afirmou que a inspiração para tal singular figura
vinha de Dr. Joseph Bell, um cirurgião para quem Doyle ainda jovem trabalhou em
Edimburgo, e Sir Henry Littlejohn, um ex-cirurgião policial do qual tinha
atributos similares aos de Bell: ou seja, conseguia grandes conclusões a partir
das menores observações que fossem.
Todavia, a história pode não ter sido contada por
completa, e fragmentos da construção de Holmes assim como sua mitologia e
metodologia investigativa podem ter sido inspirados por uma figura de fato
tão notória quanto o próprio personagem ficcional. Jerome Caminada. Ele foi um detetive investigativo do
Departamento Policial de Manchester, uma divisão da polícia que existiu entre
1842 a 1968. Filho de pai e mãe italianos, Caminada nasceu em 1844 e viveu em
Manchester, Inglaterra.
A exemplo de Sherlock Holmes, O detetive inglês de
carne e osso solucionava os casos usando-se de uma metodologia considerada
revolucionária para a época, onde usava a observação dos detalhes, o seu poder
de dedução, além de um vasto conhecimento forense em suas investigações.
Caminada, assim como Holmes, tinha fascínio por mentes
criminosas atraentes e inteligentes. Caminada também tinha um arqui-inimigo;
claro que não era o professor James Moriarty, mas um outro bem real que se
chamava Bob Horridge – um criminoso de carreira – e adivinhe só: também um
professor de matemática que se virou contra a lei.
Mito:
Jerome Caminada nunca fumou cachimbo e tão menos usou chapéu. Sempre trabalhava
sozinho em suas investigações, ao contrário do famoso personagem criado por
Doyle que contava com a assistência do inseparável Watson. Além da polícia de
Londres, Holmes também aceita trabalhar em casos envolvendo clientes
particulares ao contrário de Caminada que exercia a sua função exclusivamente
para o departamento de polícia no qual trabalhava.
02
– Ebenezer Scrooge (Charles Dickens)
Realidade:
O velho Ebenezer Scrooge criado por Charles Dickens em seu livro Um Conto de Natal foi baseado em um político
chamado John Elwes, que viveu no século 18 e que apesar de ter nascido em
família rica e ter muito dinheiro vivia como um sem teto, ermitão, só para
economizar a fortuna. Ele era proprietário do Gloucester Old Bank. O milionário
era tão avarento, mas tão avarento que ficou conhecido como "The
Gloucester Avarento".
A avareza de Elwes chegava a um extremo inacreditável.
Para gastar menos dinheiro, sempre que convidava seu tio, o baronete Sir Harvey,
para tomar um drink, ele pedia apenas um e os dois eram obrigados a beber no
mesmo copo.
Elwes também ia para a cama no escuro para economizar,
utilizando apenas uma vela já usada. Os cômodos de suas várias casas não
seriam lugares particularmente agradáveis para se viver, já que o unha de
fome se recusava a pagar por qualquer manutenção.
Outra história relata como Elwes uma vez machucou muito
as duas pernas enquanto caminhava para casa no escuro, mas apesar das dores, só
permitiu ao farmacêutico tratar uma delas, apostando que o outro membro não
tratado curaria primeiro. Elwes venceu a aposta, poupando-se com prazer de
pagar o médico.
Mito:
Não há indícios de que John Elwes desprezasse o Natal, portanto, Dickens pode
ter criado esse mote apenas para incrementar ainda mais a história. No conto
escrito pelo autor, Scrooge tinha um empregado muito pobre chamado Bob
Cratchit, pai de quatro filhos, com um carinho especial pelo frágil e pequeno
Tim que tem um problema nas pernas. Elwes nunca teve um empregado com essas
características.
03
– Pocahontas (Walt Disney)
Realidade:
Embora tenha existido, sua história não é nada romântica: Em 1612, Pocahontas, cujo
nome verdadeiro era Matoaka, com apenas dezessete anos, foi aprisionada pelos
ingleses enquanto estava em uma visita social e foi mantida na prisão de
Jamestown por mais de um ano. Catequizada nos moldes britânicos, foi
convencida de que havia sido abandonada pelo pai. Rebatizada de Rebecca,
casou-se em 1614 com um inglês chamado John Rolfe. Pocahontas provavelmente
morreu aos 22 anos de tuberculose.
Mito:
Pocahontas esteve presente em diversas mídias: cinema, televisão e livros. A
história da famosa indígena foi recontada com muitas licenças poéticas, a
começar por Pocahontas ser uma jovem adulta, que se apaixona por John
Smith. Nos livros e cinemas, ela era filha do chefe Powhatan, que comandava
tribos no leste dos EUA. Quando os ingleses chegaram, em maio de 1607, ela se
apaixonou por um deles.
Ao contrário do que dizem os romances sobre sua vida,
Pocahontas e Smith nunca se apaixonaram. Smith serviu como um tutor da língua e
dos costumes ingleses para Pocahontas. Em 1609, um acidente com pólvora obrigou
John Smith a se tratar na Inglaterra, mas os colonos disseram a Pocahontas que
Smith teria morrido.
04
– Dorian Gray (Oscar Wilde)
Realidade:
John Gray foi um poeta inglês considerado amigo íntimo de Oscar Wilde. Sendo um
poeta sofisticado, belo, inteligente e ambicioso, John inspirou Wilde a criar um
jovem personagem chamado Dorian Gray.
O poeta frequentava as mesmas rodas sociais de Wilde e
tinha a reputação de Adônis entre as mulheres por sua beleza.
Surpreendentemente, 30 anos depois, o verdadeiro Gray,
deixou a vida boêmia para trás para se transformar num padre da Igreja
Católica.
Mito:
Dorian Gray, para quem não conhece é o personagem mais famoso do escritor Oscar
Wilde, em seu livro O Retrato de de
Dorian Gray.
Dorian, um jovem muito belo vende sua alma ao diabo, que fica presa em um
quadro e enquanto o quadro envelhece, o jovem permanece belo e sem rugas.
05
– Zorro (Johnston McCulley)
Realidade:
O emblemático Zorro existiu na vida real. A narrativa do justiceiro criado em
1919 pelo escritor norte-americano Johnston McCulley é baseada na história real
de Joaquin Murrieta, um vaqueiro, minerador e lendário fora da lei da
California durante o período da febre do ouro na década de 1850. Foi líder de
um grupo de foras da lei chamados “Os cinco Joaquins”. Eles eram uma espécie
de “Robin Hoods del Mexico”, já que roubavam por Sierra Nevada para usar o
dinheiro para ajudar famílias pobres hispânicas da região.
Murrietta era um homem amante da paz mas que foi levado
a buscar vingança quando ele e seu irmão foram falsamente acusados de roubar
uma mula. Seu irmão foi enforcado e Joaquín chicoteado. Sua jovem esposa foi
estuprada por gangues e em uma versão ela morreu nos braços de Joaquim. Jurando
vingar-se, Joaquín perseguiu todos os que haviam violado sua amada. Ele
embarcou em uma curta mas violenta carreira que levou a morte a seus
torturadores anglos. O estado da Califórnia ofereceu, então, uma recompensa de
até US$ 5.000,00 para Joaquín "morto ou vivo". Ele teria sido
morto em 1853, mas as notícias de sua morte foram contestadas e mitos mais
tarde se formaram sobre ele e sua possível sobrevivência.
O personagem criado por Johnston McCulley e inspirado
em Joaquim Murrieta é um nobre fidalgo espanhol chamado Don Diego de la Vega
que mantem em segredo o seu alter ego Zorro, um exímio espadachim mascarado com
capa, chapéu e roupas pretas.
Ele é filho único de Don Alejandro de la Veja, o mais
rico proprietário de terras da Califórnia, enquanto a mãe de Diego está morta. Ele
aprendeu sua esgrima enquanto estava na universidade na Espanha e criou seu
alter ego mascarado depois que foi inesperadamente convocado pelo pai porque a
Califórnia havia caído nas mãos de um ditador opressor.
Convenhamos, uma vida bem diferente de Joaquim
Murrieta.
06
– Severus Snape (J.K. Rowling)
Realidade:
O emblemático Severus Snape personagem criado por J.K. Rowling na saga Harry
Potter foi inspirado num professor que, realmente, existiu: John Nettleship.
Ele lecionava química e Rowling foi uma de suas alunas.
Foi exatamente Nettleship quem inspirou o personagem do
professor Snape nos livros da autora. Ele era magricelo e “branco
fantasmagórico”, com cabelos pretos longos e muitas vezes oleosos, um olhar
ardente, um jeito intenso, dentes irregulares e um nariz bem grande. Ainda,
segundo Rowling, o seu professor era um pouco desalinhado e desleixado, mas por
outro lado, sua inteligência, sagacidade e paixão por seu campo eram enormes.
O próprio professor concorda com a semelhança ao
dizer: “Muitos dos meus ex-alunos reconhecem a inspiração quando veem o
filme. Eles vêm até mim e dizem: ‘Nós vimos você no filme, senhor'”.
Mito: Na série de livros, Snape é um bruxo excepcionalmente habilidoso que ensina Poções na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. No sexto livro, ele passa a ensinar Defesa Contra as Artes das Trevas, (deixando a matéria de Poções para Horácio Slughorn).
Snape é caracterizado como uma pessoa de grande
complexidade, cujo exterior controlado e friamente sarcástico oculta angústias
e emoções profundas.
07
– Os Três Mosqueteiros (Alexandre Dumas)
Realidade:
Charles de Batz-Castelmore, também conhecido por Conde D’Artagnan foi o capitão
dos mosqueteiros do Rei Luís XIV. Ele nasceu em 1611 e morreu em 25 de junho de
1673 em batalha, após muitos anos à serviço do Rei da França.
Com relação a Athos ou se preferirem Armand de
Sillègue d'Athos d'Autevielle, ao contrário do romance de Dumas, onde foi
considerado o mosqueteiro mais velho; na vida real ele foi quatro anos mais
novo do que D’Artagnan, tendo nascido em 1615.
Porthos, considerado o mosqueteiro mais forte dos
quatro foi inspirado no soldado francês Isaac de Portau. Ele entrou para a
guarda francesa em 1640 e segundo os historiadores, Porthos e D’Artagnan
prestaram o serviço juntos. Porthos passou a integrar o corpo dos mosqueteiros
do rei em 1643, no mesmo ano da morte de Athos, o que prova que os dois não
chegaram a servir juntos na guarda de elite do Rei da França.
E finalmente, Aramis ou melhor, Henri d’Aramitz. O
famoso e conquistador mosqueteiro do rei, era um abade laico de uma família
protestante de Béarn, na Gasconha e que por ser sobrinho, por afinidade,
de M. de Tréville, comandante da Companhia dos Mosqueteiros, não encontrou
nenhuma dificuldade para ingressar na guarda de elite do Rei da França.
Mito: No livro “Os Três Mosqueteiro” escrito por Alexandre Dumas, D’ Artagnan é um jovem de 20 anos, proveniente da Gasconha que vai a Paris buscando se tornar membro do corpo de elite dos guardas do rei: os mosqueteiros. Chegando lá, após acontecimentos similares, ele conhece três mosqueteiros chamados de ‘os inseparáveis: Athos, Porthos e Aramis. Juntos, os quatro enfrentaram grandes aventuras a serviço do rei da França, Luís XIII, e principalmente, da rainha, Ana de Áustria.
Durante a sua jornada, eles encontram seus
tradicionais inimigos, o Cardeal Richelieu e Milady, uma bela mulher e
assassina à serviço do Cardeal, que já foi casada com Athos.
Algumas diferenças envolvendo ficção e mundo real é
que Athos - considerado no romance de Dumas, o mais habilidoso espadachim entre
os seus amigos, juntamente com D’Artagnan – foi morto num duelo o que prova que
na realidade, ele não manejava tão bem a espada. Outras disparidades: nem todos
os quatro mosqueteiros serviram juntos na mesma época, como por exemplo Athos e
Porthos. Reforçando que esse último só passou a integrar a guarda dos
mosqueteiros após a morte de Athos.
08
– Quasímodo (Victor Hugo)
Realidade:
Recentemente foram descobertos registros de que um pedreiro corcunda trabalhou
na Catedral de Notre Dame na mesma época em que Victor Hugo escreveu O Corcunda de Notre Dame, no século
19. Este pedreiro se chamava Monseigneur Trajano e de acordo com relatos
de documentos encontrados por historiadores naquela época, era um homem digno e
amigável, apesar de sua aparência. Ele também era escultor e não gostava de se
misturar com os outros escultores.
O famoso escritor francês teria encontrado em
Monseigneur Trajano a fonte de sua inspiração para criar o icônico Quasímodo.
Mito:
No livro “O Corconda de Notre Dame” publicado em 1831, Quasimodo é um corcunda de
nascença que habita o campanário da Catedral de Notre-Dame de Paris, afastado
da sociedade e temido pelos habitantes locais por causa de sua aparência.
O personagem nasceu com uma notável deformação física,
descrita por Hugo como "uma enorme verruga que cobre seu
olho esquerdo" e "uma grande corcunda”. Abandonado ainda criança
em um domingo de Páscoa, foi adotado pelo vigário geral que o designou
para ser sineiro da Catedral. Devido ao alto som dos sinos da Catedral,
Quasimodo acaba por ficar surdo. Visto como um monstro pela população de Pais, o
personagem mais tarde apaixona-se pela cigana Esmeralda e a salva quando ela se
envolve em um assassinato.
Por hoje é só galera, espero que a postagem tenha
esclarecido as dúvidas dos nossos leitores com relação a alguns personagens que
pensávamos ser fictícios, mas na verdade foram baseados em pessoas reais.
Postar um comentário