Como o advento da Internet não fez parte da minha
infância e adolescência, a iniciação do
‘menino’, aqui, na rede mundial de computadores só foi acontecer perto dos
‘seus’ vinte e poucos anos. Se me arrependo de ter tido uma juventude sem o
apoio da tecnologia no que se refere a games e canais de TV a cabo? De maneira
nenhuma. Pelo contrário. Em meus momentos de reflexão, quase sempre, agradeço
por ter nascido num período em que navegar pela Internet não passava de um
sonho desvairado.
Sou grato, porque assim pude viajar para eras
distantes, participar de pendengas envolvendo reis, príncipes e senhores
feudais; encarar batalhas homéricas; ajudar detetives famosos a solucionar
crimes intrincados; sondar esquemas secretos com espiões; visitar o mítico farol
de Alexandria; viajar para o espaço e conhecer planetas distantes quando o
homem mal tinha pisado na lua, e por aí afora.
Tudo bem, não tinha em minhas mãos um computador de
última geração acoplado a uma Internet de 500 megas, mas por outro lado tinha
os livros e principalmente as enciclopédias que permitiam que eu realizasse
viagens marcantes como se fosse um internauta dos dias de hoje navegando pela
blogosfera.
Neste post gostaria de falar escrever sobre uma enciclopédia que contribuiu
para que esse adolescente de ontem se tornasse um amante da literatura de hoje,
um verdadeiro devorador de livros. Acredito que foi o Trópico que despertou em mim o desejo de ter sempre um livro nas
mãos.
Ainda me lembro da minha mãe comprando os dez volumes
dessa enciclopédia ilustrada de um vendedor de porta e porta. Para a minha
felicidade, ele tinha todos os dez volumes para pronta entrega. Quando o
vendedor abriu a caixa para conferir se tudo estava ok, o meu coração só faltou
sair pela boca.
Sempre que chegava da escola, minha primeira atitude
era ‘sacar’ um volume da enciclopédia da estante e começar a ‘viajar’. Cara,
viajava por horas e horas com os assuntos hiper-interessantes contidos naquelas
páginas; sem contar que a famosa e antológica enciclopédia me ajudou na
elaboração de muitos trabalhos escolares.
Recordo dos momentos que ficava sentado na poltrona do
papai na sala – e dos quais nem via as horas passar – viajando com os
conhecimentos da saudosa enciclopédia. E que viagem gostosa. “História da
Humanidade”, “História das Religões”, “Mitologia Grega”, “Mitologia Nórdica”,
“Castro Alves”, “José Bonifácio”, “biografias de personagens famosos da nossa
história”, “História dos presidentes do Brasil”, etc e mais etc. Esta é apenas
uma pequena prévia dos inúmeros dos assuntos que ocupavam as páginas de o Trópico.
As histórias sobre o anel dos Nibelungos e a queda de
Tróia, respectivamente mitologia nórdica e grega foram as que mais marcaram a
minha infância. A saga de Orlando Furioso, poema épico, escrito pelo italiano
Ludovico Ariosto em 1516 foi outro tema marcante para mim. A enciclopédia
transformou o poema de Ludovico em prosa, tornando assim, a leitura muito mais
atrativa.
Além do texto fluido e de fácil compreensão, as suas
ilustrações eram desenhos feitos à mão. Isto Mesmo! Estes desenhos eram tão
perfeitos que chegavam a dar um toque de realidade nas ilustrações. Tenho
certeza que os editores responsáveis pela enciclopédia chamaram um time de
grandes artistas especializados em desenho artístico para ilustrar as páginas
da publicação. Mas como era comum naquela época, nenhum artista teve o seu nome
creditado nas artes criadas por eles.
A Enciclopédia Trópico
foi publicada no Brasil em 1957 pela Editora Martins S.A, tendo como diretor
José Giuseppe Maltese e reunia 10 volumes abordando assuntos gerais. Após o seu
lançamento, nos anos 50, o “Trópico” continuou dominando as estantes das
residências e escolas durante vários
anos. Era considerada a grande “pop star” dos vendedores ambulantes de
enciclopédias que visitavam nossas casas naqueles tempos.
Pena que num momento de “pura insanidade” resolvi doar
os meus 10 volumes ao invés de restaurá-los. Agora é tarde demais para chorar
pelo leite derramado. Que pena... Mas foi bom recordar nessa postagem uma das
fases mais felizes da minha vida de leitor, e o Trópico contribuiu muito para
isso.
Inté!
6 comentários
Minha mãe tinha quatro ou cinco edições aleatórias dessa enciclô.
ResponderExcluirCara, eu era moleque e viajava demais com os textos e ilustrações.
Augusto, eu também. Viagem garantida. Era um super-fã das sessões "História da Humanidade" "História das Religiões".
ExcluirGrande abraço!
Amigo não tenho palavras pra descrever o quão era fantástica essa enciclopédia, que marcou a infância de muitas crianças da época. Parabéns aos seus idealizadores.
ResponderExcluirWill, com certeza, marcou a infância e a adolescência de muitos leitores. Uma enciclopédia fantástica!
ExcluirConheci a Trópico em uma biblioteca não faz mais que 2 anos e não me esqueço de como ela me fascinou. Obrigada por compartilhar a sua experiência, de um tempo que não vivi, mas que marcou tanto a vida do nosso povo.
ResponderExcluirOlá Ayanda. Posso lhe dizer com toda a certeza - porque vivi a geração do "Trópico" - que esta enciclopédia causou um verdadeiro frisson na época de seu lançamento, principalmente no meio estudantil. Isto aconteceu na saudosa época dos vendedores de livros e coleções de "porta em porta". Uma enciclopédia tão boa que mesmo após décadas continua sendo lembrada por gerações contemporâneas. Grande abraço!
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