Os livros que ganhei durante as visitas do Papai Noel em minha infância

23 dezembro 2017
Aquele velhinho pançudo, de roupas vermelhas, cinto e botas pretas, esbanjando simpatia também fez parte da minha infância. Eu pensava que o Papai Noel cruzava os céus num trenó lotado de presentes e puxado por renas mágicas. Ah! E tem mais! Como na casa de meus pais não tinha lareira e muito menos chaminé, em minha cabeça de molecote, ele entrava pela porta da sala ou da cozinha. Por isso, era um Deus nos acuda! Culpa desse pirralho de outrora que ficava levantando várias vezes durante a madrugada para conferir se os meus pais haviam, de fato, deixado as portas abertas para que o emblemático idoso do Pólo Norte pudesse entrar.
Minha mãe, muito inteligente, dizia para que a ‘magia dos presentes’ funcionasse, as crianças não podiam de maneira alguma ver o bom velhinho, pois, caso esse ‘desastre’ acontecesse, Papai Noel ficaria tão triste, mas tão triste que iria embora e o encanto se romperia. Entonce, só essa mentirinha fazia com que eu ficasse na cama.
No dia seguinte, já bem cedinho, pulava do meu leito e ia correndo até a árvore de natal, armada no canto da sala, para ver o que o Noel tinha me deixado.
Meu pai, por sua vez, tinha o hábito de desenhar algumas pegadas no chão de casa para simular que o papai Noel tinha passado por ali – não me pergunte como ele conseguia fazer essa arte durante a madrugada sem que eu percebesse. Talvez o medo de que o velhinho de roupas vermelhas me visse e depois fosse embora triste ou zangado, fazia com que eu ficasse ‘preso’ em minha cama. Enquanto isso, o saudoso Tourão aproveitava para ‘esculpir’, bem rusticamente, as pegadas do Noel no piso da sala.
Hoje, resolvi escrever esse post para relembrar os presentes que ganhei naquela época e que me proporcionaram tanta alegria. Mas qual a relação desse post com literatura que é o tema principal abordado pelo blog. É simples galera. Os livros eram os presentes do Papai Noel que eu aguardava com tanta expectativa. E como acreditei nesse velhinho famoso até os meus 11ou 12 anos, certamente, tenho uma relação considerável de obras infantis para publicar nesse espaço. Resolvi fazer um top list com 5 livros que acreditei terem sido dados pelo bom e simpático Noel. Naquele tempo, mal sabia, que se não fosse a grana de meus pais, essas obras literárias jamais teriam sido deixadas aos pés da saudosa árvore de Natal. Mas valeu pela magia que eu vivi naquela época.
E vamos aos livros!
01 – Peter Pan (J.M.Barrie)
Cara, este marcou a minha infância. Apesar dos anos e décadas que ficaram para trás ainda me lembro dessa preciosidade. O tempo não conseguiu apagar a imagem do livro, capa dura e inteiramente ilustrado, com as aventuras de Peter Pan, Sininho, Wendy e toda a galera da Terra do Nunca.
Juntamente com o livro vinha um jogo de dados chamado – se não me engano – ‘Viagem à Terra do Nunca’ que tinha um tabuleiro enorme (ocupava quase toda a mesa da sala) que acabou se transformando na minha principal fonte de lazer no final das tardes. Eu e meu vizinho, Gabriel, grande de amigo de infância, passávamos horas e horas jogando os dadinhos e mergulhando de cabeça nas aventuras daquele tabuleiro mágico.
Quanto ao livro, devo ter lido rapidinho.
02 – O Saci (Monteiro Lobato)
No Natal dos meus seis ou sete anos que também poderia ter sido dos meus oito ou nove, sei lá, faz tanto tempo que não me lembro, ganhei dois livros numa tacada só: “O Saci” e “Pinóquio”. Vou escrever, primeiramente, sobre a obra de Monteiro Lobato.
Acredito que o famoso sacizinho foi idéia de minha mãe, pois ela sabia que eu adorava as histórias de Monteiro Lobato. E assim, decidiu me presentear com um de seus livros que eu ainda não tinha tido contato. Cara, devo ter adorado, dado piruetas, plantado bananeira, tudo isso e muito mais. Apesar dos anos, ainda me recordo vagamente do livro, ali, debaixo da árvore de Natal. Acho que tinha uma capa dura da cor amarela. Hoje, infelizmente não o tenho mais. Não sei onde foi parar. Putz, que pecado!
03 – As Aventuras de Pinóquio (Carlo Collodi)
Pois é galera, ‘presente duplo, alegria dupla’. Juntamente com o moleque de uma perna só e cachimbo, desembarcou também em minha árvore de Natal, o boneco de pau de nariz comprido.
A nossa mente é fantástica. Ela consegue guardar eventos que ocorreram há ‘anos-luz’ em nossas vidas. No meu caso, um desses eventos foi uma longínqua noite de véspera de Natal em que ganhei esses dois livros. Não sei por qual motivo, mas bati os olhos primeiramente em “As Aventuras de Pinóquio”. Após vários meses, volta e meia, lá estava eu relendo o livro ou então simplesmente vendo as suas gravuras.
Apesar de eu ter citado Carlo Collodi como o autor da história, não me recordo se o livro que ganhei dos meus pais foi escrito por ele ou adaptado por Walt Disney. A  versão mais conhecida foi realizada por Walt Disney, em 1940, e conta uma história muito diferente daquela escrita por Collodi. 
Independente desse detalhe, o que interessa é que eu amei o presente daquele distante Natal.
04 – O Trópico (Enciclopédia)
Esta enciclopédia de 10 volumes encerraria o ciclo de Papai Noel em minha vida. Foi o último presente que acreditei ter sido entregue pelo bom velhinho. Nesta época a magia da arvore de Natal, das pegadas do Noel  produzidas pelo meu pai, além de outras lendas já começavam a deixar de fazer parte da minha ideologia infantil. Certamente, ‘O Trópico’ foi o presente que concluiu esse... digamos, fim de ciclo.
Lembro-me ainda das palavras de minha mãe: - Como você passou de ano, Papai Noel disse que pode escolher um presente. – Imediatamente respondi -  aquela enciclopédia ilustrada do vendedor que passou em casa!
Lembro que uma semana antes, um vendedor de ‘porta em porta’ havia passado na casa de meus pais fazendo propaganda do “Trópico”.
As histórias sobre o anel dos nibelungos e a queda de Tróia, respectivamente mitologia nórdica e grega, foram as que mais marcaram a minha infância na época inesquecível do Trópico. 
A Enciclopédia O Trópico foi publicada no Brasil em 1957 pela Editora Martins S.A, tendo como diretor José Giuseppe Maltese e reunia 10 volumes abordando assuntos gerais. 
05 – Contos de Fadas (Charles Perrault)
A coletânea de contos escritos por Perrault e traduzidos por Monteiro Lobato foi outra obra que marcou a minha infancia. Foi outro livro que encontrei embrulhadinho na já icônica árvore de Natal que era armada todo final de ano na sala - perto da mesa onde ficava um vitrolão de vinil dos meus irmãos.
Os contos "A capinha vermelha", "As fadas", "Barba azul", "O gato de botas", "Pele de asno", "A gata borralheira", "Riquet topetudo", "A bela adormecida" e "O pequeno polegar" proporcionaram-me viagens inesquecíveis para o mundo mágico da leitura.
Minha mãe sempre admirou Monteiro Lobato, para ela o escritor de Taubaté era muito mais do que um autor, era um educador. Por isso, não fazia questão de gastar o seu minguado dinheirinho na compra de seus livros para presentear-me. Acredito que ao ver a edição de “Contos de Fadas” com o nome de Monteiro Lobaro mais destacado do que o do próprio autor, no caso Perrault, ela imediatamente comprou o livro pensando ser do escritor brasileiro.
Taí galera, espero que tenham gostado dessa viagem no tempo.
Inté!

2 comentários

  1. Adoro suas listas literárias, Jam.

    Realmente, algumas obras que lemos na infância são tão marcantes que conseguimos recordar delas com detalhes anos depois.

    Contudo, uma coisa que percebo - não sei se isso acontece com você também - é que, muito embora a leitura de determinadas obras tenha marcado muito na infância, lê-las agora parece não fazer mais sentido. Como se tivesse pertencido apenas àquele período da nossa vida. Não sei, acho que isso é o tempo, e nós mudamos com o passar dos anos, sei lá.

    Não sei se você me entendeu, e desculpa se eu tiver divagado aqui fugindo do foco da postagem, mas foi um pensamento que me ocorreu.

    Forte abraço!

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    1. Entendo perfeitamente e concordo com você. Nós, leitores, passamos por diversas fases em nossas vidas: literatura infantil, infantojuvenil e adulta. Quanto a primeira, acabou ficando guardada em nossas recordações e boas recordações, mas atualmente, não nos dá mais aquele tesão de leitura. Quanto as infantojuvenis, quando bate a nostalgia, encaramos numa boa, mas apenas para 'matar' o tempo. São fases... fases vividas, sentidas e enterradas... mas enterradas com carinho.
      Abraços, Tex!

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