Aquele velhinho pançudo, de roupas vermelhas, cinto
e botas pretas, esbanjando simpatia também fez parte da minha infância. Eu
pensava que o Papai Noel cruzava os céus num trenó lotado de presentes e puxado
por renas mágicas. Ah! E tem mais! Como na casa de meus pais não tinha lareira
e muito menos chaminé, em minha cabeça de molecote, ele entrava pela porta da
sala ou da cozinha. Por isso, era um Deus nos acuda! Culpa desse pirralho de
outrora que ficava levantando várias vezes durante a madrugada para conferir se
os meus pais haviam, de fato, deixado as portas abertas para que o emblemático
idoso do Pólo Norte pudesse entrar.
Minha mãe, muito inteligente, dizia para que a
‘magia dos presentes’ funcionasse, as crianças não podiam de maneira alguma ver
o bom velhinho, pois, caso esse ‘desastre’ acontecesse, Papai Noel ficaria tão
triste, mas tão triste que iria embora e o encanto se romperia. Entonce, só essa
mentirinha fazia com que eu ficasse na cama.
No dia seguinte, já bem cedinho, pulava do meu leito
e ia correndo até a árvore de natal, armada no canto da sala, para ver o que o
Noel tinha me deixado.
Meu pai, por sua vez, tinha o hábito de desenhar
algumas pegadas no chão de casa para simular que o papai Noel tinha passado por
ali – não me pergunte como ele conseguia fazer essa arte durante a madrugada
sem que eu percebesse. Talvez o medo de que o velhinho de roupas vermelhas me
visse e depois fosse embora triste ou zangado, fazia com que eu ficasse ‘preso’
em minha cama. Enquanto isso, o saudoso Tourão aproveitava para ‘esculpir’, bem
rusticamente, as pegadas do Noel no piso da sala.
Hoje, resolvi escrever esse post para relembrar os
presentes que ganhei naquela época e que me proporcionaram tanta alegria. Mas
qual a relação desse post com literatura que é o tema principal abordado pelo
blog. É simples galera. Os livros eram os presentes do Papai Noel que eu
aguardava com tanta expectativa. E como acreditei nesse velhinho famoso até os
meus 11ou 12 anos, certamente, tenho uma relação considerável de obras infantis
para publicar nesse espaço. Resolvi fazer um top list com 5 livros que
acreditei terem sido dados pelo bom e simpático Noel. Naquele tempo, mal sabia,
que se não fosse a grana de meus pais, essas obras literárias jamais teriam
sido deixadas aos pés da saudosa árvore de Natal. Mas valeu pela magia que eu
vivi naquela época.
E vamos aos livros!
01 – Peter Pan (J.M.Barrie)
Cara, este marcou a minha infância. Apesar dos anos
e décadas que ficaram para trás ainda me lembro dessa preciosidade. O tempo não
conseguiu apagar a imagem do livro, capa dura e inteiramente ilustrado, com as
aventuras de Peter Pan, Sininho, Wendy e toda a galera da Terra do Nunca.
Juntamente com o livro vinha um jogo de dados
chamado – se não me engano – ‘Viagem à Terra do Nunca’ que tinha um tabuleiro
enorme (ocupava quase toda a mesa da sala) que acabou se transformando na minha
principal fonte de lazer no final das tardes. Eu e meu vizinho, Gabriel, grande
de amigo de infância, passávamos horas e horas jogando os dadinhos e
mergulhando de cabeça nas aventuras daquele tabuleiro mágico.
Quanto ao livro, devo ter lido rapidinho.
02
– O Saci (Monteiro Lobato)
No Natal dos meus seis ou sete anos que também
poderia ter sido dos meus oito ou nove, sei lá, faz tanto tempo que não me
lembro, ganhei dois livros numa tacada só: “O Saci” e “Pinóquio”. Vou escrever,
primeiramente, sobre a obra de Monteiro Lobato.
Acredito que o famoso sacizinho foi idéia de minha
mãe, pois ela sabia que eu adorava as histórias de Monteiro Lobato. E assim, decidiu
me presentear com um de seus livros que eu ainda não tinha tido contato. Cara,
devo ter adorado, dado piruetas, plantado bananeira, tudo isso e muito mais.
Apesar dos anos, ainda me recordo vagamente do livro, ali, debaixo da árvore de
Natal. Acho que tinha uma capa dura da cor amarela. Hoje, infelizmente não o
tenho mais. Não sei onde foi parar. Putz, que pecado!
03
– As Aventuras de Pinóquio (Carlo Collodi)
Pois é galera, ‘presente duplo, alegria dupla’.
Juntamente com o moleque de uma perna só e cachimbo, desembarcou também em
minha árvore de Natal, o boneco de pau de nariz comprido.
A nossa mente é fantástica. Ela consegue guardar
eventos que ocorreram há ‘anos-luz’ em nossas vidas. No meu caso, um desses
eventos foi uma longínqua noite de véspera de Natal em que ganhei esses dois
livros. Não sei por qual motivo, mas bati os olhos primeiramente em “As
Aventuras de Pinóquio”. Após vários meses, volta e meia, lá estava eu relendo o
livro ou então simplesmente vendo as suas gravuras.
Apesar de eu ter citado Carlo Collodi como o autor
da história, não me recordo se o livro que ganhei dos meus pais foi escrito por
ele ou adaptado por Walt Disney. A versão mais conhecida foi realizada por Walt
Disney, em 1940, e conta uma história muito diferente daquela escrita por
Collodi.
Independente desse detalhe, o que interessa é que eu
amei o presente daquele distante Natal.
04
– O Trópico (Enciclopédia)
Esta enciclopédia de 10 volumes encerraria o ciclo
de Papai Noel em minha vida. Foi o último presente que acreditei ter sido
entregue pelo bom velhinho. Nesta época a magia da arvore de Natal, das pegadas
do Noel produzidas pelo meu pai, além de
outras lendas já começavam a deixar de fazer parte da minha ideologia infantil.
Certamente, ‘O Trópico’ foi o presente que concluiu esse... digamos, fim de
ciclo.
Lembro-me ainda das palavras de minha mãe: - Como você
passou de ano, Papai Noel disse que pode escolher um presente. – Imediatamente
respondi - aquela enciclopédia ilustrada
do vendedor que passou em casa!
Lembro que uma semana antes, um vendedor de ‘porta
em porta’ havia passado na casa de meus pais fazendo propaganda do “Trópico”.
As histórias sobre o anel dos nibelungos e a queda
de Tróia, respectivamente mitologia nórdica e grega, foram as que mais marcaram
a minha infância na época inesquecível do Trópico.
A Enciclopédia O Trópico foi publicada no Brasil em
1957 pela Editora Martins S.A, tendo como diretor José Giuseppe Maltese e
reunia 10 volumes abordando assuntos gerais.
05
– Contos de Fadas (Charles Perrault)
A coletânea de contos escritos por Perrault e
traduzidos por Monteiro Lobato foi outra obra que marcou a minha infancia. Foi outro
livro que encontrei embrulhadinho na já icônica árvore de Natal que era armada
todo final de ano na sala - perto da mesa onde ficava um vitrolão de vinil dos
meus irmãos.
Os contos "A capinha vermelha", "As
fadas", "Barba azul", "O gato de botas", "Pele de
asno", "A gata borralheira", "Riquet topetudo",
"A bela adormecida" e "O pequeno polegar" proporcionaram-me
viagens inesquecíveis para o mundo mágico da leitura.
Minha mãe sempre admirou Monteiro Lobato, para ela o
escritor de Taubaté era muito mais do que um autor, era um educador. Por isso,
não fazia questão de gastar o seu minguado dinheirinho na compra de seus livros
para presentear-me. Acredito que ao ver a edição de “Contos de Fadas” com o
nome de Monteiro Lobaro mais destacado do que o do próprio autor, no caso
Perrault, ela imediatamente comprou o livro pensando ser do escritor
brasileiro.
Taí galera, espero que tenham gostado dessa viagem
no tempo.
Inté!
2 comentários
Adoro suas listas literárias, Jam.
ResponderExcluirRealmente, algumas obras que lemos na infância são tão marcantes que conseguimos recordar delas com detalhes anos depois.
Contudo, uma coisa que percebo - não sei se isso acontece com você também - é que, muito embora a leitura de determinadas obras tenha marcado muito na infância, lê-las agora parece não fazer mais sentido. Como se tivesse pertencido apenas àquele período da nossa vida. Não sei, acho que isso é o tempo, e nós mudamos com o passar dos anos, sei lá.
Não sei se você me entendeu, e desculpa se eu tiver divagado aqui fugindo do foco da postagem, mas foi um pensamento que me ocorreu.
Forte abraço!
Entendo perfeitamente e concordo com você. Nós, leitores, passamos por diversas fases em nossas vidas: literatura infantil, infantojuvenil e adulta. Quanto a primeira, acabou ficando guardada em nossas recordações e boas recordações, mas atualmente, não nos dá mais aquele tesão de leitura. Quanto as infantojuvenis, quando bate a nostalgia, encaramos numa boa, mas apenas para 'matar' o tempo. São fases... fases vividas, sentidas e enterradas... mas enterradas com carinho.
ExcluirAbraços, Tex!