Terra em Chamas (Crônicas Saxônicas - Livro V)

20 novembro 2015
Man! Man! Não queira comparar Uhtred com o Derfel de “As Crônicas de Artur” (ver aqui, aqui e aqui). Nada a ver. Antes de começar a resenha de “Terras em Chamas”, o 5º livro da saga “Crônicas Saxônicas”, gostaria de fazer um desabafo. Cara, alguns leitores estão malhando o guerreiro pagão, pintando-o das piores cores possíveis. – O Uhtred é convencido, arrogante, violento, sem coração, enfim, o personagem menos humano criado por Bernard Cornwell. – Pois é, depois da cuspida na cara do guerreiro de Alfredo, O Grande, esses leitores deram o golpe de misericórdia e, diga-se, muito mal dado. – O Derfel é mil vezes melhores que o Uhtred!.
Pode ‘pará’ mêo! Faz isso não. Desta maneira, você não entendeu absolutamente nada da essência do personagem.
Derfel é carismático à sua maneira, fazendo o tipo bom moço e Uhtred é carismático, também à sua maneira, mas fazendo um tipo que classifico de “eu ou você”, mas com uma diferença: enquanto nós engolimos alguns sapos para contornar certas situações que, muitas vezes, não merecem ser contornadas, jamais; Uhtred, simplesmente libera geral. O personagem de Cornwell quando vê alguém aprontando alguma sacanagem, ele vai lá e tasca: “Você está errado amigo, por isso pára com isso ou então vou lhe dar ‘umas’ boas porradas”. – Tá, vai dizer que você nunca deve vontade de agir dessa maneira com algum babaca metido à besta que vive sacaneando alguns pobres coitados?
Outro exemplo: Uhtred quando conquista alguma vitória ou então antes de uma batalha, ele canta de galo gritando: “Eu sou Uhtred, aquele que matou Ubba que liderou o exército dos dinamarqueses! E aí? Quer me encarar seu bosta de vaca?! Então vem e sinta o poder de bafo de serpente (nome de sua espada)!”
Resumindo: Uhtred é tão exageradamente sincero e verdadeiro que às vezes passa a imagem de um FDP de um mau caráter; mas não é.
Em “Terra em Chamas”, novamente o personagem de “Crônicas Saxônicas” está mais arrogante do que nunca. Oops! Quis dizer, mais verdadeiro do que nunca, cuspindo desafios na cara de seus inimigos; mandando as favas o juramento feito à Alfredo; escarnecendo do ‘mala’ de seu primo Ethelred e levando a filha do rei para a cama!!
Você deve estar exclamando: - Pô! Mas Uhtred poderia ser mais maneiro! – Vê se entende uma coisa: Derfel tinha Artur, Sagramor e Cia. Tudo bem que ele era um guerreiro tão corajoso quanto Uhtred, mas contava com o apoio de um timaço de primeira; agora, Uhtred, bem... sobra tudo para o ‘coitado’. Alfredo joga o caminhão de problemas em seus ombros e diz: Vai, se vira! Sem contar os inimigos que a cada livro ficam cada vez piores. Se ele não fosse casca grossa como é, já teria sucumbido ao seu calvário há muito tempo.
No livro “Terra em Chamas”, Uhtred mais do que nunca precisa de todos os seus atributos que não são tão populares entre alguns leitores. Os problemas em seu caminho surgem sem economia, desde batalhas quase impossíveis de se vencer à maldições, traições e humilhações.
Mas, acredito, que de todas essas pancadas, nenhuma se compara a morte da pessoa mais importantes de sua vida. Um alguém que deu ao nosso polêmico herói todo o sentido de viver. No enredo, Uhtred ainda está se recuperando do golpe, quando um dos padres do ‘time’ de Alfredo começa a arengar publicamente – na frente de centenas de guerreiros - que esta pessoa não vale uma cusparada no chão. E mais: continua gritando impropérios contra essa pessoa que é considerada uma ‘jóia rara’ por Uhtred. Quanto a Alfredo, presencia tudo sem tomar nenhuma atitude. Mêo! Não dá, né? Após tanta humilhação, o cara que não tem sangue de barata, se levanta e zacatrás!!!
Após defender sua honra, todos ficam contra Uhtred, incluindo Alfredo que só é rei por causa das batalhas vencidas pelo seu guerreiro mais poderoso. Neste momento, os únicos que apóiam Uhtred são os soldados jurados à ele. Resultado: o cara é obrigado a se exilar e abandonar as suas terras e seus filhos.
E no momento em que o leitor acredita que as relações entre Uhtred e Alfredo estão definitivamente rompidas, entra em cena a doce, meiga e corajosa Ethelflaed, a filha de Alfredo e... pimba! Uma grande reviravolta acaba acontecendo e o leitor é premiado com uma surpresa homérica: daquelas de fazer a maior algazarra em matinês, com direito a bater os pés no chão, socar as cadeiras, jogar pipocas pra cima e gritar Iahuuuuuuuuuuuuuu!!
Mal você se recupera dessa reviravolta na história, uma nova surpresa – agradável, diga-se de passagem - chega a galope e da pessoa que o leitor menos espera! Quando Uhtred está no ‘osso’, completamente sem esperança de vencer uma batalha, precisando urgente de um grande numero de guerreiros; o sujeito que você julgava um verdadeiro FDP, presenteia o ‘Senhor das Guerras’ com um exército de fazer inveja.
“Terra em Chamas”, à exemplo dos livros anteriores, é fantástico. Considero o 5º volume de Crônicas Saxônicas o mais dramático e denso de todos ue eu li até agora. Também é um livro onde as mulheres ganham o destaque merecido. Acho que Cornwell escolheu “Terra em Chamas” para homenagear as personagens femininas da saga. Gisela, Ethelflaed e Skade, cada uma à sua maneira, dominam o enredo. Das três, Skade é a mais complexa, já que começa como uma vilã sanguinária e coberta de maldade para depois mostrar o seu lado mais feminino, terno e desprotegido, capaz de conquistar, até mesmo, o coração de Uhtred;  mas então, algo inesperado acontece e ela acaba reassumindo o seu lado maligno.
Quanto as batalhas, man! man! Sem comentários. Cornwell é fodástico. A descrição das cenas é realista ao extremo. É como se você estivesse no meio de uma parede de escudos ou numa escaramuça com machados de guerra e espadas afiadas ‘rolando soltas’.
Em “Terra em Chamas”, Os dinamarqueses de Ânglia Oriental e os vikings da Nortúmbria – se aproveitando da sua debilitada de Alfredo – decidem elaborar um ousado plano para conquistar toda a Inglaterra. Para isso, o velho inimigo de Uhtred, jarl Haesten pretende unificar todos os exércitos dinamarqueses para invadir o reino de Alfredo.  A filha do rei de Wessex, então, implora pela ajuda do guerreiro pagão e ele, incapaz de dizer não a jovem, toma a frente do exército derrotado da Mércia, rumo a uma batalha inesquecível num campo encharcado de sangue junto ao Tâmisa. Antes do grande clímax, Uhtred ainda tem que enfrentar o violento viking, Harald ‘Cabelo de Sague’ e seus homens na inesquecível batalha de Feanhamme.
Enfim, um 5º volume que faz jus aos livros anteriores de ‘Crônicas Saxônicas’.

Vale e muito a leitura!

3 comentários

  1. Não vejo a hora de ler o segundo livro da série, pois o primeiro gostei muito, principalmente das batalhas descritas com maestria por Cornwell.

    bomlivro1811.blogspot.com.br

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    1. Não lhe disse que iria gostar? :)
      Até agora - na minha opinião - "Os Senhores do Norte" é o melhor de toda a saga.
      Abcs!

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  2. Preciso retornar ao Bernard. Há muito tempo não o leio. Esse personagem parece ser dos meus. Excesso de humildade me cansa. Se ele é o cara tem que se achar mesmo.

    http://porquelivronuncaenguica.blogspot.com.br/

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