O 4º livro de
“Crônicas Saxônicas” é ambientado cinco anos após os acontecimentos narrados em
“Os Senhores do Norte” e conta como o exército de Alfredo, ‘O Grande’, expulsa os
dinamarqueses de Londres, dando início ao antigo sonho do rei em fundar um novo reino chamado Inglaterra.
Mas quer saber de uma coisa? Esqueça todo esse lance
de História sobre fundação de um novo reino ou país, pretensões reais e o
escambau a quatro; e mergulhe de cabeça nos conflitos envolvendo os personagens
Uhtred, Ethelred, Ethelflaed, Pyrlig (mesmo aparecendo pouco) e Alfredo, é
claro.
Acredito que o segredo para devorar “Crônicas
Saxônicas” é não direcionar o foco de leitura, inteiramente, para o intrincado
aspecto histórico que abrange a transformação de Wessex, Mércia, Lundene e
outros reinos saxões na Inglaterra que conhecemos hoje. Não podemos negar que a
saga escrita por Bernard Cornwell é rica em detalhes históricos já que ele
mistura eventos e personagens reais com fictícios. O problema é que muitos
leitores acabam ficando fissurados pelo lado histórico do enredo e então meu
amigo... eles acabam esquecendo-se de viajar nas aventuras, conflitos e romance
vividos por esses personagens. Lembrando que muitas dessas situações são
fantasiosas como o próprio autor afirma no capítulo “Notas Históricas”,
publicado no final de cada livro. Por exemplo: o enigmático personagem Svein do
Cavalo Branco que aparece com destaque em “O Cavaleiro da Morte” não existiu;
ele foi inventado por Cornwell. O trecho fantástico em que Uhtred queima os
barcos de Svein também está à margem da história.
E as deliciosas invenções do autor no meio do bolo
histórico não param por aí. Ragnar, Kjartan e Gisela – por quem me apaixonenei
- são fictícios.
A grande sacada de Cornwell foi fazer com que esses
personagens fictícios contracenassem com os verdadeiros. Quer outra sacada de
gênio do autor? Foi criar situações fictícias para os seus personagens reais.
Todas essas nuances deram um tempero especial para “Crônicas Saxônicas”, mas
então, chega o leitor chato que opta por ler a saga em companhia do “Santo
Google”, somente para conferir datas, eventos, locais de batalhas, nomes de
reis ou então para certificar-se de que o autor não cometeu nenhum erro relacionado
a unificação dos reinos saxões na ‘nossa’ gloriosa Inglaterra dos tempos
atuais.
Mêo! O lado ficção das “Crônicas” é divinamente
fantástico! Taí, Uhtred que não me deixa mentir. O arrogante guerreiro faz
parte do elenco ficcional criado pelo autor. A saga ‘enormemente e
saborosamente’ longa é para se ler descompromissadamente, como um romance;
aproveitando cada batalha, cada conflito, cada desafio e cada lágrima. E,
quando sobrar um tempinho; tudo bem, aproveite o lado histórico da trama; mas
nada de fanatismo.
É dessa forma que estou encarando os livros e
confesso que estou amando. Em “A Canção da Espada” não foi diferente. Este 4º
volume é recheado de relações conflituosas entre os personagens. São momentos
tão intensos que conseguem superar, em importância, as batalhas descritas com
extremo realismo e violência pelo autor.
O relacionamento do tipo ‘pega prá capá’ entre
Uhtred e seu primo Ethelred faz com que o leitor agarre o livro com uma vontade
enorme, sem querer largá-lo jamais. Ethelred é um mala aberta sem alças e ainda
com as rodinhas quebradas: incompetente, arrogante, falso, puxa saco do rei, traiçoeiro
e ainda adora bater em mulher. O problema é que Alfredo, O Grande dá um crédito
danado para o sacana. Então, de repente, o leitor fica torcendo para Uhtred dar
aquelas chicotadas verbais no FDP do rei e alguns petelecos bem dados no seu genro
puxa-saco.
Outro momento tenso na história é o casamento entre
a encantadora Ethelflaed (filha de Alfredo) com o ‘novamente’ FDP do Ethelred.
Caraca, nunca desejei tanto que a menina assumisse a mesma postura rebelde que
tinha antes de se casar com aquele crápula.
O reencontro de Uhtred e o padre Pyrlig é outro
momento chapado e que deixa o leitor
numa puta expectativa. O guerreiro pagão, seduzido pelos chefes dinamarqueses e
noruegueses que querem invadir Wessex, prometendo-lhe a coroa de um reino, fica
muito próximo de quebrar um juramento feito à Alfredo, então ele reencontra
Pyrlig que lhe dá uma baita lição de moral. Uma lição tão grande que faz com
Uhtred faça um outro juramento, fugindo inteiramente de suas convicções
religiosas, deixando os leitores boquiabertos. Outro lance imperdível, ainda
sobre os dois personagens, é o embuste que Uhtred aplica nos captores do padre
que querem crucificá-lo vivo. Que que é aquilo!!
Prestem atenção, também, no guerreiro norueguês Erik
irmão do temível Sigefrid. Ele será responsável por uma reviravolta incrível na
história. Reviravolta que envolve Ethelflaed, Ethelred e Uhtred. O final desse
conflito à três, certamente, irá render algumas lágrimas para os leitores mais
sentimentais.
Tá bem, mas aí você me pergunta: - Pôxa, “A Canção
da Espada” só tem conflitos? E quanto as batalhas?! – É claro que não! As três
batalhas do livro são ótimas, mas os conflitos vividos pelos personagens
principais são tão profundos que você acaba se esquecendo das escaramuças.
O confronto
que mais me impressionou não esteve relacionado às paredes de escudo envolvendo
centenas de guerreiros, mas a luta entre Steapa e um brutamontes dinamarquês.
PQP! Como o saudoso Kid Tourão costumava
dizer: - O duelo fedeu chifre queimado. Palavra, galera, que fiquei muito
impressionado.
Livraço, livrão!
Novamente, valeu a pena.
2 comentários
Finalmente iniciei a série ! Estou terminando o primeiro e estou gostando muito, pois a escrita do autor faz toda diferença.
ResponderExcluirbomlivro1811.blogspot.com.br
Fico feliz que esteja gostando. O melhor ainda está por vir.
ExcluirBoa leitura :)