Antes de entrar no assunto do post, propriamente
dito, me perdoem galera, mas não posso deixar de registrar mais uma das peripécias
do Kid Tourão. Vejam só: o bom velhinho nonagenário estava assistindo ao Jornal
da Band, o seu preferido, quando aparece o repórter falando que Roger Abdelmassih
está sendo acusado de estuprar 56 mulheres. –“Pega esse velho FDP e joga o
danado numa cela do PCC e fala pra ele bancar o touro rufião no pedaço! Quero
ver se ele vai ser ‘hômi’ o suficiente”. Dias antes, ele já tinha visto na
Globo, o William Bonner trucidar o Aécio, o Eduardo Campos e a Dilma naquelas
entrevistas que mais se parecem com bombardeios na Faixa de Gaza. “Esse rapaz
está muito desaforento; quero ver ele bancar o brabão com aqueles brucutus da
luta livre!”. Só para esclarecer os leitores que para o Kid Tourão a sigla MMA
nada significa, para ele os atuais combates de artes marciais mistas não passam
de lutas livres, iguaizinhas aquelas de antigamente com o Fantomas, Mister
Argentino e Tedy Boy Marino. “Vai, coloca um daqueles pra ver se esse rapazinho
(Bonner) vai ficar gritando na orelha e erguendo o dedo na cara. Tá loco!!”
Perdoem-me fugir do tema do post, mas tinha que
contar mais essa ‘pérola’ do velhinho peralta que apesar dos problemas de saúde
continua aprontando das suas e sempre com bom humor. Vocês que ainda não
conhecem o Kid Tourão, se quiserem curtir as suas aventuras acessem aqui, aqui,
aqui e mais aqui. Mas vamos ao que interessa: “O Príncipe da Névoa”.
Se você já leu “A Sombra do Vento”, “O Jogo do Anjo”
ou “Marina” não vá com tanta sede ao pote quando encarar “O Príncipe da Névoa”.
Vá com calma, sem expectativas exacerbadas. É fácil explicar esse chamado “pé
no freio”, afinal de contas “A Sombra do Vento” é considerada a obra máxima de
Carlos Ruiz Zafón, escrita no auge de sua carreira como autor, enquanto “O
Príncipe da Névoa” foi apenas o seu primeiro romance publicado e como o próprio
escritor espanhol disse, o livro que marcou o início de sua singular carreira
de escritor. Portanto, quando escreveu esse livro, logicamente, Zafon estava
começando a desenvolver os seus atributos literários que fariam dele, alguns
anos depois, um dos principais e mais respeitados escritores do mundo. Dessa maneira, a obra – que diga-se de
passagem, tem os seus méritos – apresenta vícios de linguagem e falta de ritmo
em alguns momentos, mostrando um jovem autor ainda ‘verde’. Seria uma grande
falta de bom senso ter a pretensão de comparar “O Príncipe da Névoa” com “A
Sombra do Vento”. Não dá. Esqueça. O próprio
Zafon reconhece as limitações de sua história ao explicar na introdução que se
sentiu tentado a usar algumas coisas que aprendeu na prática de seu ofício, ao
longo dos anos, para reconstruir e reescrever quase tudo. Só não fez isso
porque achou que devia deixar a obra tal como é, com seus defeitos e sua
personalidade intactos. Vale lembrar que apesar de ter sido lançado no mercado
literário brasileiro no ano passado pela Suma de Letras, “O Príncipe da Névoa”
foi escrito em 1993, só chegou aqui na terrinha, 20 anos depois. Com relação à
Sombra do Vento”, Zafon só viria à escrevê-la, oito anos após “O Príncipe da
Névoa”.
Mas certamente, você deve estar pensando que o
enredo do primeiro livro do autor catalão é muito fraco. Bem, o leitor que
pensa dessa maneira se esquece de um detalhe importante: Zafon é um gênio e
quando um gênio escreve algo mediano, esse mediano ganha o status de ótimo. Sendo
assim, “O Príncipe da Névoa” é ótimo, mas...
“A Sombra do vento” é excelente.
Caim: o palhaço demoníaco de "O Príncipe da Névoa" |
Logo de cara, o autor já coloca na ponta da agulha,
um palhaço demoníaco como vilão. Cara, quer coisa pior do que um palhaço todo
desfigurado e com um sorriso macabro ‘pregado’ na cara?! E ainda por cima
feiticeiro, macumbeiro, mago ou o escambau a quatro?! Pois é, o tal Caim de “O
Príncipe da Névoa” não fica devendo nada para o Pennywise de Stephen King. O
primeiro livro escrito por Zafon não tem apenas terror. Nada disso. A história
mescla amor, amizade, respeito e redenção. A cena envolvendo Roland e Alícia no
fundo do mar, quando um dos dois é obrigado a fazer uma escolha que irá mudar o
destino do casal é de estraçalhar o mais duro dos corações. Preparem os lenços.
“O Príncipe da Névoa” é uma caixinha de emoções: ora
lhe provocando arrepios de medo, ora lhe emocionando, sem contar comas
reviravoltas – que já se tornaram marca registrada do estilo de Zafon - que
deixam o leitor de queixo caído. Perto
do final do livro, Zafon faz uma revelação surpreendente envolvendo determinado
personagem que nem mesmo o mais esperto dos leitores poderia desconfiar. Cara, pode acreditar, quando li derrubou o meu
queixo juntamente com todos os dentes. Fiquei com cara de bobo, completamente
pasmado. Aliás é isso que me encanta no estilo de Zafon: “nada é o que parece
ser”. Quando menos se espera vem a bomba.
Em “O Príncipe da Névoa”, o autor conta a história
da família Carver que por decisão do pai, para fugir da guerra, decide se mudar
para um tranqüilo vilarejo no litoral. Porém, a nova casa dos Carver está
cercada de mistérios. Atrás da casa, o pequeno Max Carver descobre um jardim
abandonado, que contem estranhas estátuas, incluindo a de um sinistro palhaço,
juntamente com símbolos desconhecidos.
Os novos moradores se sentem cada vez mais ansiosos:
a irmã de Max, Alícia, tem sonhos perturbadores, enquanto a outra irmã, Irina,
ouve vozes que sussurram para ela de um velho armário.
Escritor espanhol, nascido em Barcelona, Carlos Ruiz Zafon |
Com a ajuda do novo amigo, Roland, Max também
descobre os restos de um barco que afundou há muitos anos, numa terrível
tempestade. Todos a bordo morreram, menos um homem – um engenheiro que
construiu o farol no fim da praia.
Enquanto os adolescentes exploram o naufrágio,
investigam os mistérios e vivem um primeiro amor, um diabólico personagem
começa a surgir: o Príncipe da Névoa, capaz de conceder qualquer desejo a uma
pessoa – mas cobrando um preço alto demais.
“O Príncipe da Névoa” é o primeiro de uma série de
romances juvenis escritos pelo autor, junto com “O Palácio da Meia Noite”, “As
Luzes de Setembro” e “Marina”, escritos antes da publicação de “A Sombra do Vento”.
Podem ler tranqüilos, sem medo de se decepcionarem,
afinal estamos nos referindo ao gênio Carlos Ruiz Zafon e como já escrevi no
início do post, um gênio quando faz algo simples, esse simples se torna
sofisticado.
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