Cara, vou lhe dizer uma coisa: eu detesto esse lance
de leitura eletrônica. Podem me chamar de ‘brucutu’, ‘leitor de Neanderthal’,
‘matuto das letras’ e o escambau á quatro; eu não ligo, mas livro para o chato
aqui, tem que ser o velho e tradicional calhamaço de papel com capa e
sobre-capa. Se no meu trabalho, a informática e os equipamentos que
possibilitam transmissões via satélite são os meus melhores amigos, quando
chego em casa e me escarrapacho na poltrona da minha sala de leitura, o texto
que irá invadir as áreas mais recônditas do meu cérebro devem vir do bom e
velho papel. Por isso, quando vejo algum livro digital fujo dele como o diabo
foge da cruz.
Já adianto que “Calafrios da Noite”, do escritor
brazuca César Bravo é uma obra no formato digital e mais: ...”acreditem galera,
eu li todos os seus 15 contos”.
Certo dia, recebi uma mensagem do Bravo perguntando
se eu queria receber um livro de contos de terror para temperar os meus medos.
“É prá já! Pode mandar!”. Respondi sem pestanejar. O tonto, aqui, pensou que já
ia ganhar mais uma obra literária para engrossar a sessão “terror e suspense’
de sua estante de livros. Imagine só a decepção quando fiquei sabendo que o
autor só tinha disponível – naquele momento – versões digitais. Então o “PODE
MANDAR!!”, supremamente exclamado do fundo do peito e da alma, se transformou
num: ‘pode
mandar’, minúsculo, sem vergonha e tímido. Pensei comigo: -
“Cara, não vai dar”. Além do mais estava com a leitura de “A Passagem” de
Justin Cronin em ponto de bala, ou seja, já tinha vencido aquela fase morna da
história e havia mergulhando no chamado ‘pega prá capá’. E olha ‘man’, ler dois
livros simultaneamente, sendo um deles com mais de 800 páginas é uma injeção
letal. Digo isso, porque ainda sou obrigado – digo obrigado, de fato, porque os
temas são um chute no saco – a ler uma batelada de livros técnicos, manuais de
redação e isso e aquilo diariamente. Então, quando chego em casa, fica quase
impossível grudar um livro na mão direita e outro na esquerda e lê-los ao mesmo
tempo.
Por todos esses fatores, a versão digital de
“Calafrios da Noite” estava fadada a cair no limbo do esquecimento. Mas, então,
numa dessas noites em que me sento à frente do computer para verificar as
minhas mensagens, vi lá, o anexo do Bravo com a sua obra. Resolvi ler as
primeiras linhas, assim, sem compromisso. Talvez, o título do primeiro conto
(Torniquete) me chamou a atenção. Depois me lembrei que havia lido um livro
chamado “A Corrente: Passe Adiante”, do Estevão Ribeiro, o qual havia gostado
muito e chegado a conclusão de que autores brasileiros também sabem escrever
ótimas histórias de terror. Sei lá, sei lá e sei lá. O que sei é que comecei a
ler as primeiras linhas e pronto; quando percebi já estava no quinto conto! “-
Caraca! Isso aqui é muito bom mêo!”. Dei um tempo, fui comer alguma coisa,
adiantei algumas pautas e pimba! Voltei a leitura dos contos do Bravo.
No dia seguinte, resolvi ler o livro digital nos
intervalos do meu serviço e “A Passagem”, à noite. Se sobrava um tempinho após
editar uma matéria, lá estava eu ‘abrindo’ o texto em pdf.
Foi então que percebi que os tais contos do Bravo
haviam conseguido quebrar várias regras em meu perfil de leitor. Primeira delas
e a mais séria de todas: a ojeriza aos livros eletrônicos. Segunda: ler dois
livros ao mesmo tempo. Terceira: ler um romance nos intervalos do meu trabalho.
Bem, já deu prá entender que gostei muito dos
contos; alguns, realmente, incomodam, pois apesar de serem situações
fantásticas, podem perfeitamente fazer parte do nosso cotidiano; quer dizer, eu
ou você pode vir a enfrentar pesadelos e medos semelhantes aqueles vividos
pelos personagens das histórias. A maioria delas podem ser consideradas terror
de primeira, o que me deixa muito contente, pois afinal de contas, é mais um autor
brazucão que está se aventurando com competência nesse gênero literário, cuja
maioria dos escritores são gringos da terra do Tio Sam.
Os personagens dos contos de “Calafrios da Noite”
pertencem ao mundo marginal. É o cara revoltado que foi demitido do emprego por
ter agredido o patrão; o sujeito que foi traído pela mulher, perdendo a esposa
para um verdadeiro lixo, uma escória da sociedade; o bêbado sem amor próprio
que se mete numa enrascada; o profissional fracassado em sua área que quer dar
a volta por cima, prejudicando outras pessoas, nem que seja a própria mãe e por
aí vai. Por isso mesmo, a linguagem usada por esses personagens também é bem
marginal.
Apesar desses personagens pertencerem ao submundo,
eles possuem carisma e por isso mesmo, o leitor acaba se identificando com a
maioria deles e até mesmo torcendo para que muitos acabem levando a melhor.
Bravo não perde tempo com aqueles preâmbulos
enjoativos em suas histórias. Ele já parte direto para a ação e a ação no seu
caso se chama terror e suspense. Dessa forma, o medo e a tensão já tomam conta
da gente logo nas primeiras linhas.
A maioria dos contos são narrados em primeira
pessoa, no formato de diário, com o próprio personagem contando o seu drama, o
que contribui para aumentar ainda mais o grau de suspense.
Como já disse escrevi no início desse post, o
conto que abre “Calafrios da Noite” se chama ‘Torniquete’ e posso garantir que é um ‘trucão peso pesado’. Prova
disso é que a história conseguiu segurar, de cara, um certo sujeito que detesta
ficar lendo ‘livros de computador’. A história de um homem que decide amputar a
própria perna foi responsável por despertar em mim o interesse pelos outros
contos. Pensei comigo: - “Bem, se os contos seguintes forem iguais a esse,
valerá a pena ficar plantado aqui na frente do monitor rolando as tais páginas
virtuais”. O trecho mais pesado da narrativa é o momento em que o personagem
decide explicar em detalhes quais serão os cuidados imediatos que tomará após a
amputação, visando amenizar as hemorragias e também as dores atrozes. Baldes de
gelo, torniquetes, anestésico, vale tudo. O cara faz questão de descrever como
agirá ‘tim-tim por tim-tim’. Arghhhh!!!
O que levou o pobre coitado a decidir pela amputação
de sua perna? Porque ele mesmo decidiu se auto-mutilar? Bem... leia o conto,
não estou afim de remomorar a leitura, sério. Ah! Antes que me esqueça. Segundo
o autor, esse conto foi baseado numa história real.
Na sequencia, Bravo ataca de “Pague a sua conta”, onde um cara mau caráter chamado Jason após conquistar
tudo o que queria na vida, acaba perdendo o gosto pelas suas conquistas e,
então, através de um amigo fica sabendo de uma velha bruxa ou cigana – sei lá,
o que sei é que a anciã é mais feia que a morte – que tem o poder de fazer os
outros enxergarem a vida de uma outra maneira, bem mais zen, bem melhor. Após
tomar uma poção oferecida pela velha bruxa, os seus olhos passarão a ver ‘coisas’
e imagens aterradoras, levando o infeliz as raias da loucura.
No terceiro conto, “Cavalo bravo”, um pai de família, no momento mais miserável de
seus dias recebe uma proposta irrecusável de um estranho, um velhinho
aparentemente inocente. O homem que está numa pendura total acaba aceitando a
oferta e depois de pouco tempo, a sua vida muda totalmente. De simples funcionário
assalariado, ele se transforma – da noite para o dia - num milionário. O que o
sujeito não sabe é que o estranho voltará depois de muitos anos para cobrar a
sua dívida, fazendo com que o infeliz se
arrependa amargamente de ter aceitado a proposta do velhinho maligno.
O que leva alguém a pular de um prédio de
"Vinte Andares"? O passado? Futuro? E quem encontrará lá em cima?
Deus? Diabo? Ele mesmo? Quem sabe encontre a paz... Essa é a temática de “Vinte andares”.
Há também a história do China; o maldito chinês gótico que entra num bar onde encontra um grupo de pinguços e acaba oferecendo algo que tem o poder de deixar os ‘paus d’águas’ bêbados para sempre. Cara, você já imaginou o que pode acontecer quando alguém dorme e acorda bêbado continuamente sem que seu fígado apodreça? O final de “Posso fumar aqui” irá surpreender o leitor.
Há também a história do China; o maldito chinês gótico que entra num bar onde encontra um grupo de pinguços e acaba oferecendo algo que tem o poder de deixar os ‘paus d’águas’ bêbados para sempre. Cara, você já imaginou o que pode acontecer quando alguém dorme e acorda bêbado continuamente sem que seu fígado apodreça? O final de “Posso fumar aqui” irá surpreender o leitor.
"O
homem que falava palavrão" fala de algo que todos
nós já vivenciamos... De repente, aquele seu amigo chato dos tempos de colegial
que era um nada na escola, aparece no Facebook. Bonitão, rico; carreira de
sucesso e pedindo para que você o adicione. Pronto! O terror já começa a entrar em sua vida.
Cara! Impagável! Definitivamente impagável o conto “Violão de Johnny”, onde Bravo fala de
um violão mal assombrado que toca sozinho todos os anos no dia do aniversário
de morte de seu dono. Dois amigos mais do que drogados decidem desafiar o
sobrenatural. Um deles cria coragem e decide tocar o instrumento. Mal sabe ele
o que acontecerá com a sua vida.
Confesso que tive do conto “Kid-Caranguejo”, mas também dei boas risadas. A história assusta,
mas também diverte. Um grupo de jovens, todos góticos, decidem invadir o
cemitério de madrugada para invocar o espírito de um pistoleiro que jamais
errava o alvo. Esta história do Bravo fez com que me lembrasse de um episódio
da série “Além da Imaginação” que assisti nos anos 70 quando criança sobre o espírito
de um índio. O pele vermelha chamado ‘Flecha Ligeira’, após ser invocado num
centro espírita, saia disparando flechas naqueles que não acreditavam na vida
após a morte. Cara, na época, me borrei de medo. “Kid-Caranguejo” lembra muito
esse episódio da famosa série criada por Rod Serling.
O bobalhão Herman é o personagem principal de “Não há vagas”. Ele é feito de gato e
sapato pela megera de sua mulher. Elaine se diverte humilhando o marido, só
faltando fazer o infeliz lamber o chão que ela pisa. O que Elanie desconhece é
que Herman tem um morador secreto em sua cabeça chamado Jack que começa a ditar
ordens. Entonce num belo dia...
Em “Dor nas
costas”, dois amigos hipocondríacos cismam que estão com implantes
alienígenas pelo corpo. O final da dupla será assustador... muito assustador.
"Alguém
a olhar por você" é uma homenagem a sociopatia.
Conta uma manhã qualquer de um cara que está na fila errada, mas na hora certa.
Um tipo caladão que não aguenta mais ver velhinhas doces com cabelo de algodão
cortando a frente da fila. E quando uma dessas velhinhas, mas não tão amável
quanto aparenta, corta a sua frente na fila. Hummmm!! O ‘forrobodó’ está armado.
"Danação" é um thriller psicológico onde um sujeito
começa a ver os seus próprios fantasmas que representam as coisas erradas que
fez na vida. Digamos que sejam os seus remorsos mais íntimos.
"Colheita obrigatória" é uma loucura ‘man’!! Um cara
considerado uma escória em sua cidade, num certo dia sofre um surto de loucura
e começa a ver os moradores como demônios. Resultado: Decide limpar a cidade
desses ‘demônios’, torturando e matando todos eles.
Fechando “Calafrios da Noite” vem o "Lado
oculto" que narra a história de um escritor fracassado que ao parar
numa encruzilhada, em busca de carona, recebe uma visita inesperada que poderá
mudar a sua vida. Quem é o visitante? Bom... leia o conto, é melhor.
È evidente que numa coletânea de histórias curtas nem todas conseguirão
lhe agradar, mas isso é muito relativo, pois o bom para você pode ser ruim para
mim. No meu caso, saboreei a maioria das histórias contadas pelo Bravo. Gostei
muito, tanto é que escrevi esse post recomendando a obra para aqueles que são
aficcionados do gênero terror.
Depois do Estevão Ribeiro, fico feliz em saber que temos mais uma jovem
promessa desse gênero literário que consagrou Stephen King e tantas outras
feras.
Fui!
2 comentários
Oi J.A.
ResponderExcluirComo foi de férias? Volta às aulas? Mês de provas, defesas e otras cositas más? Praticamente fim de mês :/
Como estão todos? Tourão? Lulu your love? Abraçooo em todos.
Bacanérrimo este Calafrios da noite heim ?
Dor nas costas, Kid-Caranguejo, um chinês gótico deve ser mto bacanérrimo! palavrão eu não sei o que é, nunca disse nem ouvi um :)))) e um thriller psicológico deve ser mtoo instigante.
Vlw a dica!
Ahhh já conhece a editora DarkSide? É só de terror, tem uns livros caprichados lá.
abraço
Olá Luna, seja "re-benvinda" ao blog, afinal ficou um tempão sem postar comentários (rs). Bem, vamos lá: Não tive férias, aliás isso é raro em minha profissão; chega de ginasial, colegial, terceiro grau e mais pós e isso e aquilo, já cumpri minha missão com os estudos; Kid-Tourão está cada vez melhor, vencendo etapas em sua recuperação e Lulu, esse 'my love' especial "in my life" está ótima. Luna, recomendo os contos de "Calafrios da Noite", são muito bons, alguns mesclam humor e terror, lembrando alguma semelhança com "Contos da Cripta". Qto a Dark Side, conheço, mas ainda não tive oportunidade de ler algum livro da editora, mas vou ler.
ExcluirGrande abraço!