Noturno (Trilogia da Escuridão - Volume I)

27 dezembro 2012


Juro que entrei em pânico quando comecei a ler vários posts nas redes sociais sobre “Noturno”. A maioria dos textos implodia a história, os personagens e os autores. Cara! Fiquei desesperado porque havia comprado numa cacetada só os dois primeiros livros da chamada “Trilogia da Escuridão” de Guilherme Del Toro e Chuck Hogan. Numa das várias noites insones de minha vida, fuçando nas lojas e sebos virtuais, vi dois livros sobre vampiros que fugiam daquele arroz com feijão, ou seja, o vampirão  metido a conquistador com aqueles dois dentinhos pontiagudos, capa e um castelo abandonado como moradia ou então o vampiro bonzinho que se apaixona por uma mortal que só falta fazer o pobre coitado ficar de quatro por ela. Não queria nada disso, mesmo porque já havia lido tudo isso. Queria algo diferente, que fugisse do convencional. Então encontrei uma história bem interessante, onde as pessoas se transformavam em vampiros por causa de um vírus. A partir do momento em que elas ficavam contaminadas transmitiam o vírus não através de uma mordida com dois dentes incisivos e salientes no pescoço alheio, mas por meio de uma ferroada com a língua que na realidade era uma extensão direta de todo o sistema digestivo do vampiro. Quando o infeliz colocava aquela língua de sapo horrorosa para fora, a fim de “caçar” alguma pobre vítima, na realidade, o sanguessuga estava projetando, juntamente com a língua: a garganta, estômago, intestino, enfim, todo o seu sistema digestivo!! Arghhhhh! Que nojo!
Além da picada com essa língua imunda, o vírus vampírico também entrava no corpo do hospedeiro através de qualquer orífico do corpo. Quando um vampiro morria, o verme ficava ‘zanzando’ no chão, à espera, para invadir o corpo da vítima pelo ouvido, boca, nariz, olhos ou qualquer outro... digamos... buraquinho.
Essa breve resenha que li numa livraria virtual começou a me seduzir. Depois que descobri os nomes dos autores, pronto! Me entreguei de corpo e alma para a sedução dizendo: “me leva, vai; me leva!”
Gente! Afinal de contas quem havia escrito a história eram dois monstros sagrados: o primeiro do cinema e o segundo da literatura. Para quem não sabe, Del Toro é o pai de Hellboy, Blade e do Labirinto do Fauno. Quanto a Hogan escreveu Princes of Thieves, eleito por Stephen King como um dos dez melhores romances de 2004.
Pode parar! Nem pesquisei mais nada. Comprei de cara “Noturno” e “A Queda”. Deixei os dois livrinhos guardadinhos na estante, à espera daquele momento especial para devorá-los. Mas num belo dia, zapeando a net, por acaso entrei em alguns blogs e pau! pau! pau! Era pancada pra todos os lados. Del Toro, Hogan e sua rempa de personagens vinham sendo trucidados por um grande número de blogueiros. No facebook não era diferente: mais pau e pau. Caraca! As críticas eram em número bem maior do que os elogios; então entrei em pânico por dois motivos: pela minha expectativa de ler os livros estar sendo ruída terra abaixo como se recebesse um golpe na ponta do queixo aplicado pelo Anderson Silva e também pelo prejuízo no meu já apertado orçamento mensal. Afinal de contas, os dois livros, na época, não saíram tão baratos, assim.
Podem me chamar de influenciável, mas confesso que as críticas me abateram. Por isso, perdi em parte o tesão de ler os dois livros; quer dizer, até a semana passada, quando criei coragem e puxei – meio enraivecido – da minha estante, o exemplar de “Noturno”. “Vem cá! Tomara que você não me decepcione porque a minha grana ta curta e investi parte dela em você!” E lá vou eu meio receoso para a minha sala de leitura, numa madrugada dessas ler a obra de Del Toro e Hogan.
“Noturno” começa explicando a origem de um dos personagens centrais da história: Abraham Setrakian. Desde a sua infância até o momento em que consegue fugir de um campo de concentração nazista. É no prólogo, também, que o leitor começa a entender a origem de um dos vampiros mestres responsáveis pela propagação do vírus e que no futuro viria se tornar o maior inimigo de Setrakian.
A história narrada num tom sombrio, de fato prende o leitor. E foi o que aconteceu comigo. Após o prólogo de três páginas, meu receio começou a se esvair, mas ainda tinha um restinho de dúvida que insistia em ficar grudado em alguma parte do meu subconsciente. Prossegui a leitura e quando cheguei nas partes seguintes: “O Início” e “O Pouso”, pronto, a coisa pegou. A partir daí não consegui mais largar o livro. Cara! Não dava! A história te prendia, amarrava, viciava. Juro que se tivesse uma caixa de rojões em casa, iria correndo para o meio da rua  - mesmo de madrugada – para soltar um foguetório dos diachos! Viva! Viva! Acertei na compra! Iahuuuu!!
Guillermo Del Toro e Chuck Hogan
Gente! Os capítulos iniciais: “O Início” e “O Pouso” são definitivamente aterrorizantes e cria o clima de tensão que irá predominar durante toda a história.
Estes dois capítulos se resumem ao Boeing 777 da Regis Airlines, vindo de Berlim, que aterrissa no aeroporto JFK com todas as suas luzes apagadas e as janelas fechadas. Em outras palavras a aeronave fica parecendo um ‘avião fantasma’.
Considerando a possibilidade de um ataque terrorista biológico, o Centro de Controle de Doenças é acionado e o Dr. Eph Goodweather, responsável pelo projeto Canário, assume a liderança das investigações. Ao subir a bordo, o seu sangue gela com o que vê. É claro que não vou ser um crápula à ponto de contar o que o médico infectologista presenciou quando abriu a porta de emergência do avião, mas garanto que realmente é de gelar o sangue.
Quanto ao número excessivo de personagens que foi muito criticado por alguns blogueiros; tudo bem, há de fato muitos personagens, mas todos eles são interessantes, desde um roqueiro gótico muito louco chamado Gabriel Bolivar; à advogada que quer processar todo mundo do vôo 777; passando por uma dona de casa que depende do marido contaminado até para respirar. Ah! Tem ainda um tal Gus, ladrãozinho barato que tem um papel importante na história; além de Nora, a bióloga do projeto Canário que nutre uma paixão secreta por Eph; Matt, um sujeito chato para caramba que se torna o namorado da ex-mulher de Eph; Barnes, o alienado diretor do projeto Canário que insiste em fechar os olhos para pandemia vampírica, não dando a atenção devida; etc. Todos eles com um papel importante na trama.
Não há como ficar disperso com a corrida contra o tempo de Eph, Nora, Setrakian e  Vasily - um caçador de ratos do subsolo de Nova York que também se junta a equipe – para evitar a infestação de Nova York pelo vírus. Se nada for feito Manhattan será destruída; depois, em um mês, os Estados Unidos; em dois meses, o mundo.
“Noturno” tem passagens pesadas e que requer estômagos fortes, como o momento em que os nojentos vibriões vampíricos entram na vagina de uma mulher, tomando todo o seu corpo. Para evitar a transformação em vampira, ela decida cometer o suicídio da maneira mais dolorosa possível. Del Toro e Hogan, prá variar, fazem questão de contar em detalhes como a personagem põe fim à própria vida.
Olha, mas cá entre nós, nada é mais nojento do que aquela língua gurgitando de sangue, que após a transformação, se torna parte do sistema digestivo do vampiro.
E para finalizar não poderia deixar de falar do eclipse solar que ocorre na história. É de “g-e-l-a-r” o sangue do leitor. A melhor descrição do medo e mal-estar provocado pelo eclipse é narrado por uma astronauta que do interior de um módulo espacial resolve fotografar o momento em que a lua encobre o sol. “A tarefa de Thalia era tirar algumas fotos da terra... A grande mancha negra formada pela sombra da lua parecia um trecho morto na terra... toda aquela região do nosso planeta fora tragada por um vazio negro”  Vários personagens revelam os seus medos durante o eclipse. A impressão que fica para o leitor é de que aquele momento de escuridão total da terra em pleno dia jamais irá terminar!
Enfim, gostei tanto de “Noturno” que acabei quebrando uma regra particular com relação à leitura de trilogias: a de jamais ler os três livros na sequência. Eu não consigo fazer isso. Sei lá, tenho que dar um tempo porque se não a história acaba ficando cansativa, enfadonha, por melhor que seja. Mas com o primeiro volume da “Trilogia da Escuridão”, simplesmente, não consegui fazer isso. Como já disse no início desse post, a história é muito viciante para darmos um tempo após a leitura do primeiro volume. Por isso, tão logo terminei “Noturno” já mergulhei de cabeça em “A Queda”, e acho que farei o mesmo com o recém lançado “Noite Eterna” que fecha a trilogia idealizada por Del Toro e escrita por Hogan.
Até a próxima!

4 comentários

  1. Jam,

    Já tinha visto este livro nas prateleiras mas não havia me interessado.... até agora.. (até o filme do fauno me deixou interessado).

    E esta resenha me fez lembrar os doze do Justin Cronin...aliás.. eu entrei em contato com a ed. Arqueiro e eles disseram que será lançado no 1º semestre de 2013.

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    1. Olá Marcelo!
      Apesar de ainda não ter lido a obra de Cronin. Estou com "A Passagem" em minha estante. Brevemente, pretendo lê-la. Acredito que "Noturno" tem um enredo parecido, mas tbém com as suas diferenças. Digo isso,pque já li algumas resenhas e comentários sobre "A Passagem". Devido a sua expectativa pelo lançamento da continuação de "A Passagem" deu pra perceber que vc é fã do livro de Cronin, o que me estimulou a ler a história o qto antes, furando a fila de algumas prioridades da minha lista de leitura (rs).
      Se aceita uma sugestão, leia "Noturno"; vc não irá se arrepender.
      Grde abraço!!

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  2. Comprei Noturno no lançamento, sem nem saber que seria uma trilogia.

    Particularmente, não gosto de comprar livros de trilogias não terminadas, porque geralmente vou perder o pique da leitura até o lançamento dos próximos livros. Diferente de você, quando pego uma trilogia não gosto de ler nada entre elas, e lê-la toda de uma vez.

    Quando saiu o segundo livro, tinha emprestado o primeiro para um amigo, que devolveu o livro todo detonado. Dava tanta tristeza olhar pra ele que acabei não pegando o segundo. Até agora. hehe

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  3. Manoel! Que amigo da onça vc tem heimm?? (rss)Que é isso! Para nós leitores, emprestar um livro é como emprestar um carro novo recém comprado. Se tivermos de bater ou riscar o veículo que sejamos nós, os donos, e não os outros, que deveriam ter todo o cuidado com algo que não é seu. Já passei por isso uma vez e fiquei P... da vida. O infeliz me devolveu "O Silencio dos Inocentes" faltando uma página!! Arrancada!! Olha o sacrilégio.
    Mas vamos ao que interessa. Leia "Noturno" - mesmo que debulhando em lágrimas por causa do estado do livro (rs)- porque vale à pena. Vc vai gostar. E aproveite para adquirir os dois livros restantes da "Trilogia da Escuridão" ("A Queda" e "Noite Eterna"). Já estou quase na metade de "A Queda" e posso lhe garantir que o ritimo é semelhante à "Noturno". Alguns fios envolvendo personagens importante e que ficaram soltos no primeiro livro, começam a ser amarrados em "A Queda".
    Abcs e ótima leitura!

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