Com a volta da novela “Tieta”, muitos leitores e
noveleiros passaram a se interessar pela obra Tieta do Agreste de Jorge Amado que serviu de base para a produção
da telelágrima que bombou na Rede Globo no final dos anos 80 e início dos anos
90. Fez tanto sucesso que o canal de TV da Família Marinho resolveu reprisá-la,
agora, no horário da tarde dentro do “Vale a Pena Ver de Novo”.
Ontem, numa roda de amigos, um fã da produção que tem
a Bety Faria - no auge de sua beleza e talento - no papel de Tieta me sugeriu
uma postagem sobre livros que viraram novelas. Achei a sugestão interessante
apesar de já ter escrito algo, um pouco parecido, em 2020 (ver aqui), mas mesmo
assim, aceitei a proposta e cá estou eu escrevendo esse post.
Escolhi cinco novelas baseadas em livros que bombaram
em audiência. Quanto aos livros, por sua vez, bombaram em vendas. Vamos conferir?
01
– As aventuras de Poliana (SBT)
Livro:
Pollyanna (Eleanor H. Porter)
Taí uma novela e um livro que tem algo em comum: o
sucesso. Ambos estouraram em audiência e vendas. A telelágrima baseada no livro
de Eleanor H. Porter pode ser considerada a novela mais vista do SBT – depois
de Carrossel – nas últimas décadas. A prova desse baita sucesso é que “As
aventuras de Poliana” ficou no ar por mais de dois anos. No período de 16 de
maio de 2018 até 13 de julho de 2020, a novela infantil protagonizada por
Sophia Valverde e que substituiu “Carinha de Anjo” ajudou a rechear os cofres
da emissora do “Patrão” graças as suas cotas de publicidade já que todos
queriam anunciar no horário da novela.
O livro Pollyanna
da escritora americana no qual a produção do SBT foi baseada não ficou para
trás. A obra literária lançada originalmente em 1913 ganhou ao longo dos anos o
status de clássico da literatura infanto-juvenil.
Pollyanna fez
muito sucesso o que levou a sua autora a publicar, em 1915, uma continuação
chamada Pollyanna Grows Up (no
Brasil, Pollyanna Moça). Pensa que
parou por aí? Não; não parou. Outras onze edições de Pollyanna se seguiram,
muitas delas escritas por outras autoras. A mais recente publicação da obra
original escrita por Porter foi feita pela editora Ciranda Cultural em 2018.
Porter narra a saga de uma menina de 11 anos, órfã de
pai e mãe, que é acolhida pela tia Polly, sua única parente viva. Rica e
intransigente, a tia é desprovida de compreensão e afetividade, e recebe a
menina em sua casa como um dever.
Pollyanna, por sua vez, é uma menina encantadora, que
a todos conquista com sua paixão pela vida e pelas pessoas, seu otimismo e sua
alegria de viver.
02
– Éramos seis (Record, Tupi e Globo)
Livro:
Éramos seis (Maria José Dupré)
A história de Dona Lola e sua família, uma bondosa e
batalhadora mulher que faz de tudo pela felicidade do marido, Júlio, e dos
quatro filhos: Carlos, Alfredo, Julinho e Maria Isabel emocionou milhares de
leitores brasileiros que amaram o livro Éramos Seis transformando-o num verdadeiro fenômeno de vendas. A obra de Maria José
Dupré, lançada pela primeira vez em 1943 se tornou um clássico da literatura
brasileira e passou a ganhar novas edições ao longo dos anos. A última edição
que tenho conhecimento é da editora Ática publicada em dezembro de 2019.
Na televisão, o enredo de Maria Dupré ganhou cinco
versões em formato de novela, sendo a primeira delas em 1958, pela RecordTV. Nessa
versão Lola e Julio eram interpretados por Gessy Fonseca e Gilberto Chagas. Os
filhos eram vividos por Randal Juliano (Carlos), Fábio Cardoso (Alfredo),
Silvio Luiz (Julinho) e Arlete Montenegro (Isabel). Um detalhe: Silvio Luiz é
ele mesmo, o locutor esportivo.
A segunda adaptação, na TV Tupi, chegou nove anos
depois, em 1967, com direção de Hélio Souto e Cleyde Yáconis assumindo o papel
de Lola, com Sílvio Rocha interpretando Júlio. Os filhos dessa vez foram Plínio
Marcos (Carlos), Roberto Orosco (Alfredo) Tony Ramos (Julinho) e Guy Loup
(Isabel). Para interpretar personagem tia Emília foi escolhida a atriz Dina
Lisboa.
A TV Tupi voltaria a apostar no clássico de Maria José
Dupré em 1977, dessa vez com adaptação de Sílvio de Abreu e Rubens Ewald Filho.
Nicette Bruno e Gianfrancesco Guarnieri assumiram os papeis de Lola e Júlio, e
os quatro filhos foram interpretados por Carlos Augusto Strazzer (Carlos),
Carlos Alberto Riccelli (Alfredo), Ewerton de Castro (Julinho) e Maria Isabel
de Lizandra (Isabel). Nydia Lícia foi a tia Emília e Jussara Freire fez Olga.
Em 1994, “Éramos seis" marcou uma aposta do SBT
em investir mais seriamente em telenovelas. Exibida em dois horários, às 19h45
e 21h45, trazia Irene Ravache e Othon Bastos nos papeis de Lola e Julio. Os
filhos foram Jandir Ferrari (Carlos), Tarcísio Filho (Alfredo), Leonardo Bricio
(Julinho) e Luciana Braga (Isabel), com Nathalia Timberg como a tia Emília. Foi
ainda a estreia de Ana Paula Arósio como atriz, no papel de Amanda, uma
namorada de Carlos.
Em sua quinta versão na TV, em 2019, a novela chegou à
TV Globo, com adaptação de Ângela Chaves. Os papeis principais dessa vez
ficaram com Glória Pires (Lola), Antonio Calloni (Julio), Danilo Mesquita
(Carlos), Nicolas Prattes (Alfredo), Giullia Buscacio (Isabel), André Luiz
Frambach (Julinho) e Susana Vieira (tia Emília).
Creio que as adaptações de maior sucesso foram as
1977, da TV Tupi e a de 2019, da Globo.
03
– A Escrava Isaura (Globo)
Livro:
Escrava Isaura (Bernardo Guimarães)
A Escrava Isaura, o maior sucesso do escritor mineiro
Bernardo Guimarães, marcou época na literatura, ganhou o cinema e rodou o mundo
em formato de telenovela.
A obra foi publicada em 1875, quando a causa
abolicionista estava no centro do debate sobre o Brasil ainda Imperial, treze
anos antes da abolição definitiva. Àquela altura, o Brasil era um dos únicos
dois países do continente americano que ainda permitiam legalmente a prática da
escravidão. O outro era Cuba.
A presença da história de Bernardo Guimarães na
cultura popular brasileira em grande parte se deve à novela “Escrava Isaura”,
exibida pela TV Globo, na faixa das 6 da tarde, entre 11 de outubro de 1976 e 5
de fevereiro de 1977. Exibida em 100 capítulos, ela foi o primeiro grande
sucesso do autor Gilberto Braga, que dois anos mais tarde estouraria no horário
nobre com “Dancin’ Days”.
“Escrava Isaura”
catapultou a audiência das 18 horas e é considerada uma das novelas de maior
sucesso na história da Globo. Lucélia Santos viveu a protagonista Isaura e
Edwin Luisi e Rubens de Falco fizeram os papeis de Álvaro e Leôncio,
respectivamente.
04
– Gabriela, Cravo e Canela (Tupi e Globo)
Livro:
Gabriela (Jorge Amado)
A história do livro de Jorge Amado lançado
originalmente em 1958 gira em torno de Gabriela, uma jovem e bela retirante
sertaneja que chega a Ilhéus, na Bahia, em busca de trabalho.
Sua chegada desperta a atenção de Nacib, dono do bar
Vesúvio, que decide contratá-la como cozinheira. Gabriela, com sua beleza
exuberante e sua personalidade cativante, conquista a todos na cidade,
tornando-se uma figura icônica. Além disso, a moça é uma excelente cozinheira e
seu tempero atrai muita clientela para o bar Vesúvio.
Com sua sensualidade inocente, Gabriela não apenas
conquista o coração de Nacib como também seduz um sem-número de homens
ilheuenses, colocando em xeque a lei que exigia que a desonra do adultério
feminino fosse lavada com sangue.
Publicado em 1958, o livro logo se tornou um sucesso
mundial. Na televisão, a história se transformou numa das novelas brasileiras
mais aclamadas mundo afora. Estou me referindo a telelágrima de 1975 na Globo,
adaptada por Walter George Durst e com Sonia Braga no papel principal. Esta novela
fez sucesso não só no Brasil mas também em Portugal onde o comércio chegava a
parar ou então fechar mais cedo para que as pessoas não perdessem os capítulos.
O livro de Jorge Amado teve ainda outras duas adaptações
para a telinha: 1960, na extinta TV Tupi e em 2012, novamente na Globo,
contando agora com Juliana Paes no papel que consagrou Sonia Braga.
05
– 0 Meu Pé de Laranja Lima (Tupi e Bandeirantes)
Livro:
O Meu Pé de Laranja Lima (José Mauro de Vasconcelos)
O romance de José Mauro Vasconcelos (ver resenha aqui), publicado em
1968, é a obra mais conhecida do escritor e constitui uma referência na
literatura infanto-juvenil brasileira.
Traduzido para mais de cinquenta línguas, a criação
influenciou gerações no Brasil e no exterior. Após o estrondoso sucesso do
livro, surgiram adaptações para o cinema e para a televisão.
A novela que estreou na Band em 29 de setembro de 1980,
a exemplo do livro, emocionou todo o País. Obra literária e novela narram a
história de Zezé, um menino de seis anos, inteligente, sensível e carente, que
mora nos arredores da cidade do Rio de Janeiro, e cujo pai se encontra
desempregado, ficando a mãe a sustentar a casa. Zezé faz várias asneiras e
traquinices, sendo, portanto sucessivas vezes castigado.
Vivendo num ambiente pobre, solitário e duro, Zezé
procura refugiar-se num mundo de fantasia, imaginando animais e árvores com
vida. A partir da sua imaginação, o rapaz cria amizade com um pé de laranja
lima, que se encontrava nas traseiras da casa nova, e que se torna o seu grande
confidente.
Zezé encontra ainda ternura e afeto, de que tanto
necessitava, em Manuel Valadares, o Portuga, um velho rico e solitário, que
torna mais feliz a vida da criança. Antes da novela da Band, tivemos a
adaptação que foi ao ar em 1970 na extinta TV Tupi.
O livro de Mauro de Vasconcelos ganharia ainda uma
terceira adaptação, também na Band, em 1998, mas ao contrário da história de
1980, a novela não fez o sucesso esperado. Com o fracasso da trama, a emissora
desistiu de produzir telelágrimas e passou a apostar em séries.
Mas se o remake de 1998 não agradou a galera
noveleira, as duas anteriores, 1970 e 1980, que exibidas, respectivamente, pela
extinta TV Tupi e a Rede Bandeirantes, fizeram muito sucesso.
Bônus - Tieta (Globo)
Livro: Tieta do Agreste (Jorge Amado)
E como bônus para os seguidores do blog deixo o livro Tieta do Agreste de Jorge Amado que
inspirou o megassucesso “Tieta” exibida na Rede Globo em 1989 e em reprise,
atualmente, no mesmo canal.
A novela acabou fazendo muito mais sucesso do que o livro
que, por sinal, é muito bom. A obra conta a história de Tieta, uma mulher
expulsa do vilarejo onde nasceu após ser estuprada, que retorna às suas origens
com mais poder e dignidade social.
“Tieta” compõe, junto de “Roque Santeiro” (1985) e “Vale
Tudo” (1988), a tríade de novelas de maior audiência da história da
teledramaturgia nacional.
Por hoje só galera.
Inté!
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