Robin Hood

20 outubro 2024

Muitas pessoas que apreciam a leitura de obras contemporâneas quando decidem ler algum clássico do século 19 geralmente “enroscam”. Quando escrevo “enroscam” estou querendo dizer que elas acham a leitura maçante, lenta, enfim... chata. Concordo em parte porque prefiro analisar a literatura clássica obra por obra. Vou tentar explicar o que estou querendo dizer com essa análise ‘obra por obra’. Vamos lá. Sabemos que os relacionamentos sentimentais no século 19 eram muito diferentes dos relacionamentos atuais e botam diferentes nisso. Tinha todo aquele cortejo, aquele desfile de poesias e poemas apaixonados, todo aquele lirismo. Neste cortejo, o pretendente fazia perguntas na forma de poemas para a sua enamorada e ela também respondia em poemas para o seu enamorado ou então, utilizava longas frases apaixonadas. Por outro lado, os momentos de dramaticidade eram descritos detalhadamente até a ‘última gota’, antes dos momentos de ação começarem.

Acredito que por “culpa” dessas características, a chamada literatura clássica ganhou o estigma de maçante e cansativa. Mas por outra perspectiva, os plots, ou seja, as sequências de eventos que faziam parte da estrutura central da história eram fantasticamente bem elaboradas o que acabava compensando o que os leitores atuais chamam de “encheção de linguiça”. 

E é aí que entra Robin Hood de Alexandre Dumas publicado originalmente na década de 1800. Ao contrário de O Conde de Monte Cristo (ver aqui, aqui e mais aqui) que tem um plot excelente capaz de deixar o leitor ligado no enredo até o fim da leitura; Robin Hood carece desse núcleo. O seu enredo nada mais é do que um folhetim de aventuras do herói arqueiro contra o xerife de Nottinghan. Em O Conde de Monte Cristo, já nos primeiros capítulos, Dumas cria a expectativa de que tão logo consiga fugir da prisão, Edmund Dantes irá se vingar de todos aqueles que tramaram para prendê-lo injustamente no terrível Castelo de If. O leitor fica imaginando, fica projetando como será o castigo de cada um dos traidores de Dantes. Outro núcleo central desse romance é o relacionamento do herói com a sua noiva Mercedes. O casal foi separado de maneira traiçoeira após um complô de seus amigos traidores. E agora? Como fica? Dantes e Mercedes reatarão ou essa chance se perdeu ao longo doa anos já que ela, agora, tem um filho com um outro homem? Tudo isso, sem contar o relacionamento misterioso entre Dantes e um outro prisioneiro: o abate Faria que se torna o mentor do marinheiro preso até a sua fuga.

Um enredo com tantas tramas e subtramas interessantes pode até abusar do lirismo descritivo entre os seus personagens porque que o leitor não estará nem aí para isso, já que o núcleo central da trama foi muito bem construído.

Pois é, no caso de Robin Hood a ausência de uma trama central bem com a ausência de subtramas transforma a história num embate simplista e cansativo entre o herói arqueiro e o xerife Nottinghan. São mais de 600 páginas – no formato Bolso Luxo da Zahar – desse embate. Putz, chega uma hora que cansa! E eu me cansei várias vezes o que me levou a atrasar a leitura porque não tinha mais estimulo para prosseguir. Juro que terminei no osso.

A história até começa interessante, contando a infância do herói, mas depois de algumas páginas viradas, tome brigas e mais brigas, refregas e maias refregas, flechadas e mais fechadas. Enquanto isso, cadê a trama? Qual o sentido de todas essas brigas? De todas essas flechadas? Como diz um velho ditado: “brigar por brigar”?

Por esse motivo, não recomendo a leitura. Se quiserem ler alguma obra de Dumas fiquem com O Conde de Monte Cristo, Os Três Mosqueteiros (confira resenha aqui, aqui e novamente aqui) ou ainda 20 Anos Depois, esses sim, verdadeiros clássicos capazes de despertar o interesse galera.

A edição relançada pela Zahar há 10 anos reúne os dois volumes de Alexandre Dumas sobre Robin Hood: O príncipe dos ladrões e O proscrito publicados postumamente em 1872 e 1873. O primeiro acompanha a gênese do personagem, desde a sua adoção recém-nascido até a proscrição e o estabelecimento na floresta, assumindo-se como fora da lei. O segundo apresenta a sequência de suas aventuras, até a velhice e a morte.

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