Muitas pessoas que apreciam a leitura de obras
contemporâneas quando decidem ler algum clássico do século 19 geralmente
“enroscam”. Quando escrevo “enroscam” estou querendo dizer que elas acham a
leitura maçante, lenta, enfim... chata. Concordo em parte porque prefiro
analisar a literatura clássica obra por obra. Vou tentar explicar o que estou
querendo dizer com essa análise ‘obra por obra’. Vamos lá. Sabemos que os
relacionamentos sentimentais no século 19 eram muito diferentes dos
relacionamentos atuais e botam diferentes nisso. Tinha todo aquele cortejo,
aquele desfile de poesias e poemas apaixonados, todo aquele lirismo. Neste
cortejo, o pretendente fazia perguntas na forma de poemas para a sua enamorada
e ela também respondia em poemas para o seu enamorado ou então, utilizava
longas frases apaixonadas. Por outro lado, os momentos de dramaticidade eram
descritos detalhadamente até a ‘última gota’, antes dos momentos de ação
começarem.
Acredito que por “culpa” dessas características, a
chamada literatura clássica ganhou o estigma de maçante e cansativa. Mas por
outra perspectiva, os plots, ou seja, as sequências de eventos que faziam parte
da estrutura central da história eram fantasticamente bem elaboradas o que
acabava compensando o que os leitores atuais chamam de “encheção de linguiça”.
E é aí que entra Robin
Hood de Alexandre Dumas publicado originalmente na década de 1800. Ao
contrário de O Conde de Monte Cristo
(ver aqui, aqui e mais aqui) que tem um plot excelente capaz de deixar o leitor ligado no
enredo até o fim da leitura; Robin Hood
carece desse núcleo. O seu enredo nada mais é do que um folhetim de aventuras
do herói arqueiro contra o xerife de Nottinghan. Em
O Conde de Monte Cristo, já nos
primeiros capítulos, Dumas cria a expectativa de que tão logo consiga fugir da
prisão, Edmund Dantes irá se vingar de todos aqueles que tramaram para
prendê-lo injustamente no terrível Castelo de If. O leitor fica imaginando,
fica projetando como será o castigo de cada um dos traidores de Dantes. Outro
núcleo central desse romance é o relacionamento do herói com a sua noiva
Mercedes. O casal foi separado de maneira traiçoeira após um complô de seus amigos
traidores. E agora? Como fica? Dantes e Mercedes reatarão ou essa chance se
perdeu ao longo doa anos já que ela, agora, tem um filho com um outro homem?
Tudo isso, sem contar o relacionamento misterioso entre Dantes e um outro
prisioneiro: o abate Faria que se torna o mentor do marinheiro preso até a sua
fuga.
Um enredo com tantas tramas e subtramas interessantes
pode até abusar do lirismo descritivo entre os seus personagens porque que o leitor
não estará nem aí para isso, já que o núcleo central da trama foi muito bem
construído.
Pois é, no caso de Robin
Hood a ausência de uma trama central bem com a ausência de subtramas transforma
a história num embate simplista e cansativo entre o herói arqueiro e o xerife Nottinghan.
São mais de 600 páginas – no formato Bolso Luxo da Zahar – desse embate. Putz,
chega uma hora que cansa! E eu me cansei várias vezes o que me levou a atrasar
a leitura porque não tinha mais estimulo para prosseguir. Juro que terminei no
osso.
A história até começa interessante, contando a
infância do herói, mas depois de algumas páginas viradas, tome brigas e mais
brigas, refregas e maias refregas, flechadas e mais fechadas. Enquanto isso,
cadê a trama? Qual o sentido de todas essas brigas? De todas essas flechadas? Como
diz um velho ditado: “brigar por brigar”?
Por esse motivo, não recomendo a leitura. Se quiserem
ler alguma obra de Dumas fiquem com O
Conde de Monte Cristo, Os Três
Mosqueteiros (confira resenha aqui, aqui e novamente aqui) ou ainda 20 Anos Depois,
esses sim, verdadeiros clássicos capazes de despertar o interesse galera.
A edição relançada pela Zahar há 10 anos reúne os dois
volumes de Alexandre Dumas sobre Robin Hood: O príncipe dos ladrões e O
proscrito publicados postumamente em 1872 e 1873. O primeiro acompanha a
gênese do personagem, desde a sua adoção recém-nascido até a proscrição e o
estabelecimento na floresta, assumindo-se como fora da lei. O segundo apresenta
a sequência de suas aventuras, até a velhice e a morte.
Postar um comentário