O Jogo do Anjo: uma releitura mais do que prazerosa. Obrigado David Martin e Isabella

09 dezembro 2023


A magia do “Cemitério dos Livros Esquecidos” está de volta; pelo menos para mim. Uma magia que prazerosamente venho desfrutando há quase10 anos. Tudo começou em 2014 com A Sombra do Vento que foi a porta de entrada para personagens que tão carismáticos passaram a ser tratados por mim como pessoas e não como fulanos ou beltranos fictícios presentes apenas no enredo de um livro. Como chamar de beltrano: Daniel Sempere, David Martin, Isabella, Julián Carax, Bea, Tomás Aguilar e tantos outros? Não; para mim eles são pessoas. E tudo culpa do saudoso Carlos Ruiz Zafon (morto em 2020) que soube compor personagens com um carisma tão viciante, personagens tão perfeitos que acabaram rompendo a barreira da ficção. 

Poucos personagens conseguem essa proeza – aliás, acho até possível contar nos dedos -; e sabem como percebemos que um personagem rompeu tal barreira? Ok, eu conto. Este fenômeno acontece quando algum tempo após termos lido um livro, começamos a sentir falta da companhia de alguns personagens dessa obra. É uma falta do tipo: “poxa, como eu gostaria de conversar com esse ‘cara’ agora”, e então, quando começamos a reler esse enredo, sentimos como estivessemos conversando com aquele personagem. Todas as vezes que reli a saga tivesse essa sensação.

Nestes últimos dez anos, estou relendo “O Cemitério dos Livros Esquecidos” pela segunda vez, não incluindo a chamada “leitura inédita”, aquela que você faz tão logo após ter comprado os livros. Se somar essa leitura, estou começando o meu terceiro contato com os personagens dos quatro livros de Zafon (A Sombra do Vento, O Jogo do Anjo, O Prisioneiro do Céu e O Labirinto dos Espíritos)

Desta vez, optei por ler a quadrilogia seguindo a ordem cronológica do enredo ao invés de seguir a ordem de lançamento dos livros. Aliás, com relação a isso, é importante frisar que o próprio Zafón chegou a dizer numa entrevista que não importa a maneira como você leia os quatro livros porque os seus relatos são independentes e auto-suficientes em si mesmo, compartilhando alguns personagens e cenários como o cemitério dos livros esquecidos, a família Sempere e sua livraria. (escrevi algo sobre isso aqui onde indico qual é a melhor forma de leitura: ordem cronológica ou ordem de publicação). Como estou seguindo a ordem cronológica, comecei a minha maratona de releitura da saga por O Jogo do Anjo que foi lançado depois de A Sombra do Vento. E é sobre esse livro que eu quero escrever.

Cara, como foi inebriante se reencontrar com David Martin e Isabella; na minha opinião, os dois personagens mais marcantes de toda a saga. Sei que muitos leitores poderão discordar, pois veem em Julián Carax, Daniel Sempere e Fermin Romero as verdadeiras essências da saga, ou seja, as suas pedras filosofais – se é que pode existir mais de uma pedra filosofal (rs).

Carlos Ruiz Zafón

Tudo bem, não discordo daqueles que pensam dessa maneira, mesmo porque, esses personagens podem ser considerados o eixo de toda a saga, já que o enredo gira em torno deles, excetuando “O Jogo do Anjo”. Mas, no meu caso, me afeiçoei tanto com David e Isabela que eles passaram a ser considerados os mais carismáticos de toda a quadrilogia. Ok, ok... para não ser injusto, deixe-me retificar: “eles passaram a ser considerados tão carismáticos quanto Julián Carax, Daniel Sempere e Fermin Romero”. 

Escrevendo primeiramente sobre Isabella, aquela que virá ser a mãe de Daniel Sempere – isto é, se você começar a leitura da quadrilogia pelo seu segundo volume, O Jogo do Anjo – eu simplesmente, gamei. Gamei nas suas atitudes, na sua personalidade, na sua força, na sua perseverança, no seu altruísmo e também na sua teimosia. Simplesmente, me apaixonei por essa personagem. Quanto ao carisma emanado por David Martim, não fica devendo nada ao de Isabella, apesar de ambos terem personalidades opostas. Acho que é por isso que eles se completam e formam um casal tão homogêneo, apesar das brigas e desentendimentos que rolam nesse relacionamento. Não quis ‘dizer’ um casal como marido e mulher ou até mesmo como amantes, mas um casal de amigos; amigos muito especiais. Ambos auxiliando um ao outro nas situações difíceis, mas não nego que os leitores poderão encontrar um clima camuflado de romance entre eles e até mesmo, torcer pela concretização desse romance, um romance, diga-se, impossível por vários motivos. Só mesmo lendo o livro para entender melhor essa minha colocação.

O Jogo do Anjo pode ser considerado o início de toda saga. Escrito em primeira pessoa - o narrador do romance é David Martín, um jovem escritor de 28 anos, desiludido no amor e na vida profissional e gravemente doente que vive em Barcelona na década de 20 – o livro brinda os leitores com a história da mãe de Daniel Sempere, ainda adolescente, e como ela conheceu o pai de Daniel, contando com uma ajudazinha de David. 

Além das origens de Isabella, Zafón nos mostra todo o desenvolvimento de David, desde a sua infância até a fase adulta quando se tornou um escritor maldito.

O Jogo do Anjo é uma história de amor, superação e de um pacto maldito. Ação? Sim; nos últimos capítulos, o autor brinda os seus leitores com mistério e ação de tirar o fôlego. A genialidade de Zafón conseguiu fazer isso: mesclar romance, mistério e ação.

O livro termina com uma carta escrita por Isabela e endereçada à David Martin. Confesso que quase chorei com o seu conteúdo. Emocionei-me tanto que pretendo escrever um post apenas sobre essa carta.

Enfim, galera; O jogo do Anjo é um livraço e merece ser lido e relido muitas vezes, assim como toda a saga Cemitério dos Livros Esquecidos.

Inté!

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