A magia do “Cemitério dos Livros Esquecidos” está de
volta; pelo menos para mim. Uma magia que prazerosamente venho desfrutando há
quase10 anos. Tudo começou em 2014 com A Sombra do Vento que foi a porta de entrada para personagens que tão
carismáticos passaram a ser tratados por mim como pessoas e não como fulanos ou
beltranos fictícios presentes apenas no enredo de um livro. Como chamar de
beltrano: Daniel Sempere, David Martin, Isabella, Julián Carax, Bea, Tomás
Aguilar e tantos outros? Não; para mim eles são pessoas. E tudo culpa do
saudoso Carlos Ruiz Zafon (morto em 2020) que soube compor personagens com um
carisma tão viciante, personagens tão perfeitos que acabaram rompendo a
barreira da ficção.
Poucos personagens conseguem essa proeza – aliás, acho
até possível contar nos dedos -; e sabem como percebemos que um personagem
rompeu tal barreira? Ok, eu conto. Este fenômeno acontece quando algum tempo
após termos lido um livro, começamos a sentir falta da companhia de alguns
personagens dessa obra. É uma falta do tipo: “poxa, como eu gostaria de
conversar com esse ‘cara’ agora”, e então, quando começamos a reler esse enredo,
sentimos como estivessemos conversando com aquele personagem. Todas as vezes
que reli a saga tivesse essa sensação.
Nestes últimos dez anos, estou relendo “O Cemitério
dos Livros Esquecidos” pela segunda vez, não incluindo a chamada “leitura
inédita”, aquela que você faz tão logo após ter comprado os livros. Se somar essa
leitura, estou começando o meu terceiro contato com os personagens dos quatro
livros de Zafon (A Sombra do Vento, O Jogo do Anjo, O Prisioneiro do Céu e O Labirinto dos Espíritos)
Desta vez, optei por ler a quadrilogia seguindo a
ordem cronológica do enredo ao invés de seguir a ordem de lançamento dos livros.
Aliás, com relação a isso, é importante frisar que o próprio Zafón chegou a
dizer numa entrevista que não importa a maneira como você leia os quatro livros
porque os seus relatos são independentes e auto-suficientes em si mesmo,
compartilhando alguns personagens e cenários como o cemitério dos livros
esquecidos, a família Sempere e sua livraria. (escrevi algo sobre isso aqui
onde indico qual é a melhor forma de leitura: ordem cronológica ou ordem de
publicação). Como estou seguindo a ordem cronológica, comecei a minha maratona
de releitura da saga por O Jogo do Anjo
que foi lançado depois de A Sombra do
Vento. E é sobre esse livro que eu quero escrever.
Cara, como foi inebriante se reencontrar com David
Martin e Isabella; na minha opinião, os dois personagens mais marcantes de toda
a saga. Sei que muitos leitores poderão discordar, pois veem em Julián Carax,
Daniel Sempere e Fermin Romero as verdadeiras essências da saga, ou seja, as suas
pedras filosofais – se é que pode existir mais de uma pedra filosofal (rs).
Carlos Ruiz Zafón |
Tudo bem, não discordo daqueles que pensam dessa
maneira, mesmo porque, esses personagens podem ser considerados o eixo de toda
a saga, já que o enredo gira em torno deles, excetuando “O Jogo do Anjo”. Mas,
no meu caso, me afeiçoei tanto com David e Isabela que eles passaram a ser
considerados os mais carismáticos de toda a quadrilogia. Ok, ok... para não ser
injusto, deixe-me retificar: “eles passaram a ser considerados tão carismáticos
quanto Julián Carax, Daniel Sempere e Fermin Romero”.
Escrevendo primeiramente sobre Isabella, aquela que
virá ser a mãe de Daniel Sempere – isto é, se você começar a leitura da
quadrilogia pelo seu segundo volume, O
Jogo do Anjo – eu simplesmente, gamei. Gamei nas suas atitudes, na sua
personalidade, na sua força, na sua perseverança, no seu altruísmo e também na
sua teimosia. Simplesmente, me apaixonei por essa personagem. Quanto ao carisma
emanado por David Martim, não fica devendo nada ao de Isabella, apesar de ambos
terem personalidades opostas. Acho que é por isso que eles se completam e
formam um casal tão homogêneo, apesar das brigas e desentendimentos que rolam
nesse relacionamento. Não quis ‘dizer’ um casal como marido e mulher ou até
mesmo como amantes, mas um casal de amigos; amigos muito especiais. Ambos
auxiliando um ao outro nas situações difíceis, mas não nego que os leitores poderão
encontrar um clima camuflado de romance entre eles e até mesmo, torcer pela
concretização desse romance, um romance, diga-se, impossível por vários
motivos. Só mesmo lendo o livro para entender melhor essa minha colocação.
O
Jogo do Anjo pode ser considerado o início de toda
saga. Escrito em primeira pessoa - o narrador do romance é David Martín, um
jovem escritor de 28 anos, desiludido no amor e na vida profissional e
gravemente doente que vive em Barcelona na década de 20 – o livro brinda os
leitores com a história da mãe de Daniel Sempere, ainda adolescente, e como ela
conheceu o pai de Daniel, contando com uma ajudazinha de David.
Além das origens de Isabella, Zafón nos mostra todo o
desenvolvimento de David, desde a sua infância até a fase adulta quando se
tornou um escritor maldito.
O
Jogo do Anjo é uma história de amor, superação e de um
pacto maldito. Ação? Sim; nos últimos capítulos, o autor brinda os seus
leitores com mistério e ação de tirar o fôlego. A genialidade de Zafón
conseguiu fazer isso: mesclar romance, mistério e ação.
O livro termina com uma carta escrita por Isabela e
endereçada à David Martin. Confesso que quase chorei com o seu conteúdo. Emocionei-me
tanto que pretendo escrever um post apenas sobre essa carta.
Enfim, galera; O
jogo do Anjo é um livraço e merece ser lido e relido muitas vezes, assim
como toda a saga Cemitério dos Livros
Esquecidos.
Inté!
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