Ultra Carnem

18 dezembro 2016
Mesmo não sendo nenhum Anatoly Karpov ou Mequinho, o escritor paulista César Bravo fez uma jogada de mestre, daquelas que deixariam esses grandes jogadores de xadrez de queixo caído.
Logo que recebeu o convite da DarkSide para publicar o seu primeiro livro de terror impresso – lembrando que já existem no mercado varias de suas obras no formato e-books – ao invés de escrever algo inédito, ele optou por seqüenciar aquela que é considerada a sua grande obra prima: o livro “Além da Carne – Contos Insanos”. Man, este e-book lançado pela Amazon em 2013 vendeu como água no deserto e foi o principal responsável por catapultar o nome de Bravo no contexto literário brasileiro, transformando-o num dos principais escritores do gênero terror, aqui, na terrinha.
“Além da Carne” despertou, inclusive, a curiosidade dos leitores para as primeiras obras lançadas pelo autor e que também são muito boas. Resultado: livros digitais até então desconhecidos pela grande maioria sofreram um verdadeiro ‘boom’ de vendas. Outro efeito de “Além da Carne” foi o ter  plantado na galera a curiosidade e expectativa quanto ao lançamentos de novas histórias do escritor. Com isso, os próximos e-books lançados por Bravo: “Navio Negreiro” (2014) e “Ouça o que eu digo” (2015) também atingiram vendas excelentes.
Viram só como tudo começa com “Além da Carne”? Por isso no momento em que foi convidado por uma das maiores editoras do país para lançar o seu primeiro livro físico, Bravo não titubeou e optou por escrever uma sequência do seu principal livro de contos.
Em “Ultra Carnem” temos a oportunidade de conhecer as origens de Wladmir Lester, o menino pintor cigano que apesar de aparecer apenas no final de “A Cor da Tinta”, história que abre a coletânea de “Além da Carne”, pode ser considerado o principal personagem daquele livro de contos. O autor revela os detalhes da vida de Lester na época em que suas obras começaram a ser produzidas, ou seja nos idos de 1800, quando carros e energia elétrica ainda eram novidades. Temos a oportunidade de acompanhar a influência dessas obras de arte malditas na vida de pessoas atuais, nos dias de hoje ou em um passado bem próximo.
O autor ainda revela segredos envolvendo a “Ciganinha”, a misteriosa estatueta de
Cesar Bravo
de gesso que parece no conto “Pagamento Cigano”, também de “Além da Carne”. Nele, um homem cheio de problemas e perto do desespero resolve fazer um pacto com a estatueta de uma cigana considerada amaldiçoada. De repente ele vê todos os seus desejos se transformarem em realidade, mas no final chega o momento de pagar para a ciganinha por todos esses favores. Aliás, um pagamento terrível. “Ultra-Carnem” explica como Lester criou a ciganinha, quais os materiais (arggghhh!!!) que utilizou e que pessoa ele quis homenagear com aquela imagem.

O quadro maldito do conto “A Expressão da Desgraça” também retorna em “Ultra Carnem”. O enredo gira em torno de um quadro maldito pintado por Lester. A obra é tão demoníaca que por mais de dois séculos ficou com a sua tela coberta para que ninguém a visse. Reza a lenda que a pessoa curiosa que decidisse descobrir o que Lester havia pintado, sofreria conseqüências terríveis em sua vida; não só ele, como também os seus familiares. Em seu primeiro livro “físico” lançado pela DarkSide, Bravo também revela a origem desse quadro; como ele nasceu.
Podemos dizer que “Ultra Carnem” é uma trama com quatro contos que fazem parte de uma mesma história, mas em contextos temporais diferentes. Tudo gira em torno de Wladimir Lester e suas obras de arte amaldiçoadas.
Com certeza, muitas pessoas que estão conferindo esse post podem ficar na dúvida que se por se tratar de uma continuação, para entender o enredo de “Ultra Carnem” teremos de ler, antes, o e-book “Além da Carne”. Nada a ver. E novamente temos uma outra jogada de gênio de Bravo. Ele escreveu um livro independente que não te obriga a ler os contos de “Além de Carne”, apenas instiga a sua curiosidade.
Acredito que “Ultra Carnem” promoverá um novo estouro de vendas do e-book  lançado por Bravo em 2013; dessa vez por leitores que estão começando a conhecer recentemente o seu trabalho.
Ah! Já estava me esquecendo de um detalhe. Se você não estiver acostumado, se prepare para o texto visceral do autor com contos de pessoas que amputam suas pernas, assassinatos brutais, órgãos expostos e uma liguagem ácida. Bravo é direto e usa palavras que podem impressionar ou machucar os leitores que não estão acostumados com gênero gore de terror; mas não podemos negar que os enredos que saem de sua cabeça tem o poder de nos prender.
Você não lê os seus livros, você os devora.
E a DarkSide, muito esperta, percebeu isso, contratando o autor e passando a perna nas outras editoras da terrinha que marcaram uma bobeira homérica.

Fui!

Um comentário

  1. Grande Jam! Man, essa é daquelas para emoldurar. Muito obrigado pelas palavras, pela confiança e por sua sempre sincera opinião. Abração!!!

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