Navio Negreiro

11 junho 2014


Alucinados, escatológicos, hardcores e principalmente transgressores. É dessa maneira que defino os enredos criados por César Bravo, escritor brasileiro e que até agora lançou os seus contos apenas nas versões digitais. O grande problema para os escritores que decidem seguir essa vertente do gênero terror é não cair no ridículo. Cara, é triste ler uma história onde há membros decepados, carne rasgada, entranhas espalhadas e ao invés de sentir o velho amigo medo, você acha tudo aquilo hilário, uma verdadeira comédia e das piores! Parecida com aqueles pastelões de quinta categoria. Talvez por isso, existam tão poucos escritores que optem por seguir essa linha.
Para escrever histórias de terror hardcores é preciso que o escritor seja “O Cara”. Não basta apenas espalhar sangue e mutilações nas páginas, é preciso dar  sentido a toda essa escatalogia, dotá-la de inteligência, perspicácia, suspense e principalmente “surprise. E se o autor der uma deslizada num desses itens: ‘blau-blau’, a sua história já se torna amorfa ou o que é pior: engraçada. Mêo! Pare e pense, existe algo pior para um escritor ou contista de terror do que ouvir: -“Achei a sua história tão engraçada”. Argghhhh!!! Seria o mesmo que receber um soco na ponta do queixo.
Tomando por base os seus três livros de contos que li (“Calafrios da Noite”, “Além da Carne” e “Navio Negreiro), César Bravo conseguiu dotar os enredos de uma dinâmica fantástica, fugindo da... digamos... ‘hilaridade’ ou comicidade. Acredito que ele foi mais além, conseguindo imprimir às suas histórias, um certo humor negro; daqueles que você ri da desgraça alheia, mas com um baita friozinho na espinha, não querendo jamais estar na pele do (a) pobre coitado (a). Explicando melhor: não é aquele riso pastelão, mas um riso mordaz, medroso.
E foi esse riso temente que dei nas últimas páginas do conto “Navio Negreiro” ao ver o fim cômico e ao mesmo tempo horrível do vilão da história. O lance do esfregão imundo passando.... bem melhor parar por aqui para não estragar a história com um spoiler. Ri muito com essa passagem, mas também imaginei o sofrimento do cara. E que sofrimento!
“Navio Negreiro” é um conto curto com apenas 61 páginas, mas a medida que você vai lendo, o desejo é de que “quero mais, mais e mais”.É o tipo de conto, como costumo dizer: ‘crescente’. A cada página lida, o suspense vai aumentando e você tem que se controlar para não ler logo de cara o final. O personagem principal apronta tanto, mas tanto que o leitor não vê a hora do merecido castigo. E para isso, de repente, a gente se vê torcendo para um outro vilão da história. E bota vilão nisso: traficante, feiticeiro, macumbeiro e isso e mais aquilo, mas por outro lado, o tal Manfredi é barra pesada: racista, sádico, espancador, imoral, valentão e capaz de tirar a vida de um homem como se estivesse pisando numa formiga. São dois personagens marginais ao extremo, mas a maioria dos contos de Bravo tem essa característica. Os personagens desenvolvidos  pelo autor sempre estão á beira da marginalidade, sejam eles vilões ou mocinhos, fugindo de situações caricaturais.
Em “Navio Negreiro”, Bravo conta a história de homens que vivem como ratos, disputando espaços e patentes dentro de um presídio de segurança máxima. Esses homens são humilhados fisicamente por alguns carcereiros que se divertem ao praticar atos imorais, entre eles, o pior de todos: Manfredini. O cara gosta de descer o cacete nos presos e se julga o “Rei do Pedaço”. Para ele, bater ou matar são ações semelhantes. Sua vida se torna um verdadeiro inferno quando decide rachar a cabeça de um detento. A partir daí, a coisa pega... literalmente!
Os amantes do gênero terror certamente irão gostar. Pena que o livro saiu, por enquanto, apenas na versão digital, onde os leitores interessados poderão  adquirir na Amazon.
Com certeza, sou um dos blogueiros que mais torcem para que Bravo consiga, em pouco tempo, lançar os seus livros na ‘versão física’. Ele merece.

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