Sai o BOPE (Batalhão de Operações Policiais
Especiais) e entra a Draco (Delegacia de Repressão às Ações Criminosas
Organizadas). Se em “Elite da Tropa”, os policiais do Bope são a bola da vez,
agora, nessa sequência, os investigadores da Draco são os que dão as cartas.
Mesmo assim, o Bope ainda aparece como coadjuvante, perto do final do livro.
Em “Elite da Tropa 2”, a luta contra traficantes
cede espaço para o combate contra as milícias que são as máfias formadas por
policiais corruptos – desde o soldado raso ao policial/militar mais graduado –
que extorquem e também matam aqueles que não aceitam serem extorquidos.
A obra escrita por Luiz Eduardo Soares (antropólogo
e ex-secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro), Rodrigo Pimentel (ex-capitão
do Bope), André Batista (ex-bope e atual major da PM) e Claudio Ferraz
(Delegado-chefe da Draco) é pesada, densa, forte, contudente; entendam como
quiserem. Os autores decidiram abordar o problema das milícias do Rio de
Janeiro de uma maneira profunda, explorando os meandros do problema. Eles
cavucam, escarafuncham, enfim, expõem aos leitores o lado mais sórdido da
corrupção no meio policial. É o cabo, o bombeiro, o sargento, o capitão ou até
mesmo o coronel que juntamente com os seus milicianos cometem atrocidades
inimagináveis contra os moradores de morros e favelas, além de se aliarem a
grupos de traficantes com o objetivo de se enriquecerem ilicitamente.
O problema, segundo os autores, é que muitas pessoas
ainda acreditam que as milícias matam apenas bandidos; ‘coisa’ do tipo: fazer
justiça com as próprias mãos. Mas na realidade não é bem assim e “Tropa de
Elite 2” desmistifica esse aspecto das milícias, mostrando a sua verdadeira
face. E como já disse acima, mostra essa realidade da forma mais crua e
realista possível.
No final de 2014, após uma complexa e demorada
operação policial, a Draco conseguiu desbaratar uma quadrilha de milicianos que
extorquia e até matava moradores de unidades do programa "Minha Casa,
Minha Vida", do Governo Federal no Rio. Cara, sabe quanto era o lucro
dessa quadrilha? Mais de R$ 1 milhão por mês!
Segundo a polícia, milicianos cobravam pela internet
clandestina e extorquiam alguns moradores na compra de cestas básicas e também
através de agiotagem. Um dos delegados envolvidos na operação afirmou que os moradores
eram torturados e até mortos se não aceitassem as condições da milícia.
Eles sequestravam pessoas no meio da noite, cobriam
com panos pretos, para dificultar uma potencial identificação, e sumiam com o
corpo. De acordo com as investigações da polícia, o grupo de milicianos cobrava
taxas de segurança, de energia, de TV a cabo e cestas básicas dos moradores de
um condomínio do "Minha Casa, Minha Vida".
Ficou surpreso? Assustado? Lendo “Elite da Tropa 2”
você vai ficar estupefato. Soares, Ferraz, Batista e Pimentel narram em
detalhes a ação desses grupos, tanto no momento da execução de seus planos
quanto nos bastidores onde ocorrem os sórdidos acertos entre os policiais
corruptos. O trabalho e as dificuldades encontradas pela Draco no combate as
milícias também é mostrado em detalhes.
O livro tem passagens fortes como o miliciano que
apesar de estar segurando o seu filho recém
nascido no colo, mata com a maior frieza um ex-comparsa com um tiro na cabeça
ou então o capítulo onde são narrados homicídios, em plena luz do dia, de
moradores que estão em débito com os milicianos. Os homens desse grupo
paramilitar, ainda obrigavam vizinhos, parentes e amigos da vítima a
presenciarem a execução.
“Tropa de Elite 2” é narrado em primeira pessoa por
um fictício inspetor da policia civil que conta o dia a dia da Draco no combate
as milícias.
Os autores dedicam ainda, pouco mais de 40 páginas
ao Bope. No capítulo “Memórias do capitão Lima Neto, os leitores matam saudades
do primeiro livro (Elite da Tropa) ao reverem as incursões do Bope -
cirurgicamente planejadas – nos morros cariocas no combate ao narcotráfico.
Leiam, como certeza, irão gostar.
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