Há algum tempo, conheci um sujeito muito chato. Para
a minha infelicidade, a ‘figura’ trabalhava comigo. O ‘Mirtinho Chupa-Cabra’
(esculachei no nome fictício de propósito, porque o cara era ‘um’ mala quebrada,
sem alça e sem rodinhas) só lia – ou fingia ler – livros cultos ou técnicos e
torcia o nariz para aquelas pessoas que encontravam prazer na literatura infanto-juvenil.
No final do expediente – ainda me lembro como se
fosse hoje – ao sair da redação, ele viu um amigo meu, o Marcos, lendo um livro
com ‘milhares’ de páginas e tascou na lata: “PQP! Não acredito que um
jornalista que pensa em fazer pós graduação esteja perdendo tempo lendo um
livrinho para crianças!!”
Bem, antes de revelar qual foi a resposta da vítima
ao ‘mardito’ do Chupa-Cabra, vamos esclarecer algumas cositas. Marcos era
considerado o cara mais inteligente e sarcástico de toda a redação. Muito gente
boa, mas mexer com o sujeito não era bom negócio. Ele lhe arrebentava com
respostas ácidas e educadas, fazendo com que o agressor se sentisse a pessoa
mais ridícula e idiota do mundo. Quanto ao livro que ele estava lendo, se
chamava “As Crônicas de Nárnia”, de C.S Lewis. Ah! Duas observações importantes:
O Chupa Cabra estava estudando para se tornar pastor em sua igreja e por isso
dominava com facilidade a Bíblia, além de ser fã incondicional – de maneira
enrustida, é óbvio, da trilogia “O Senhor dos Anéis” de J.R.R. Tolkien.
Agora, vamos ao diálogo constrangedor entre os dois,
começando com a resposta do Marcos. – Você sabia que esse livrinho, que na
realidade não é um livrinho, mas um livrão, já que tem mais de 750 páginas são reescrituras
de histórias bíblicas?
- Ô Marcos
pára com isso. Você agora vai querer discutir assuntos bíblicos comigo? E logo
comigo cara? - Disse o Mirtinho Chupa-Cabra de maneira arrogante.
- O texto de Carrol é uma adaptação dos mitos da
criação do mundo ao ambiente de Nárnia, incluindo, inclusive, a árvore do fruto
proibido. – Marcos prosseguiu de maneira imperturbável. – você sabia que J.R.R.
Tolkien tinha o maior respeito pelo autor desse ‘livrinho’, tanto é que Tolkien
pediu para que ele lesse os manuscritos de O Hobbit, antes de sua publicação?
- Antes que o Chupa interrompesse,
Marcos continuou – Você sabia que foi o autor desse livrinho que incentivou
Tolkien a continuar com o seu projeto que deu origem a trilogia “O Senhor dos
Anéis”?
O Marcão, que a partir daquele momento passou a ser
o meu ídolo, disse tudo isso sem interromper a sua leitura como se o Chupa
Cabras nem estivesse ali.
O golpe de misericórdia foi dado pelo nosso editor que
passava por ali naquele momento. – Marcos, é verdade; C.Lewis, de fato, faz essa alusão à Bíblia e
ao cristianiusmo em sua obra. Aliás, eu já li. Lewis é um gênio.
Mirtinho, simplesmente, virou as costas e saiu completamente
desconcertado. No meu íntimo gritei: - Toma Chupa Cabra! Chupa que é de uva!
Esta cena fatídica para o Mirtinho acabou
despertando em mim o interesse de ler “As Crônicas de Nárnia”, o que fiz alguns
dias depois.
O livro de C.S. Lewis é bárbaro! Deixando de lado as
questões religiosas e filosóficas que dizem estarem arraigadas em seu contexto,
“As Crônicas de Nárnia” tem o poder de levar o leitor para o interior de suas
páginas. Olha, imagine que você, leitor, seja Bastian – aquele garoto do filme
Never Ending History – e “As Crônicas de Nárnia” o próprio livro História Sem
Fim. Pois é, é como se você entrasse no
âmago da história e também passasse a fazer parte dela, vivendo as mesmas
aventuras dos seus personagens.
Com certeza, adultos e crianças viajaram com as peripécias
de Pedro, Susana, Edmundo e Lúcia que certo dia foram parar no reino de Nárnia.
Lá deixaram de ser crianças comuns para se tornarem reis e princesas de uma
terra mágica. Quem não se encantou com o enigmático e justo leão Aslan; com o
valente príncipe Caspian ou então torceu pela queda da maldosa feiticeira?
Todos os sete volumes de “As
Crônicas de Nárnia” foram
escritos entre 1949 e 1954, tendo sido publicados originalmente no Reino Unido
pela editora Harper Collins entre 1950 e 1956.
Lewis lançou inicialmente “O Leão, A Feiticeira e o
Guarda-Roupa” em 1950, sem ter a intenção de produzir uma série de livros.
Entretanto, encorajado pelas críticas positivas do público e de amigos
(incluindo J.R.R. Tolkien), o
autor decidiu prosseguir, no ano seguinte, escrevendo outros livros contando
outras histórias do mundo de Nárnia, as quais Lewis já estava desenvolvendo
desde antes da publicação de “ O Leão, a
Feiticeira e o Guarda-Roupa.
Ao longo do processo de escrita dos demais livros,
que levou cerca de quatro anos, até 1954, Lewis aproveitou para retomar partes
anteriores da história para preencher lacunas deixadas no primeiro livro e
poder, ao mesmo tempo, contar o que ocorria posteriormente ao primeiro livro. Por isso a
ordem de publicação não coincide com a ordem cronológica, que é estruturada
através dos eventos que ocorrem nas histórias dos livros.
O tal livrão com mais de 750 páginas que o Marcos
estava lendo, trata-se de uma edição especial lançada pela Martins Fontes em
2009 e que reúne os sete volumes de “As Crônicas de Nárnia”.
Li a obra em
poucos dias e graças a ela perdi madrugadas de sono, já que os sete livros de
Lewis são viciantes. Não dá pra ficar imune as batalhas épicas entre o bem e o
mal, as criaturas fantásticas, traições, feitos heróicos e amizades (ganhas e
perdidas).
Livraço! Muito melhor do que o filme.
Recomendo.
Recomendo.
Um comentário
Maravilhoso!!!!💞💞💞
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