Galera, nesta manhã quando cheguei no trabalho, bateu uma
saudade danada da minha infância. Saudades daquela época em que eu usava
kichute amarrado na canela ou então as famigeradas conquinhas sem meia. Período
em que juntava com os meus amigos – alguns deles já se foram – para jogar futebol
num terreno abandonado, perto de casa, o qual carinhosamente chamávamos de
‘Datinha” ou então, íamos até a praça principal da cidade para ficarmos
sentados nos bancos paquerando as ‘minas’ que passavam pelo redondinho do jardim.
No cinema, então, a bagunça era geral. Antes de começar o filme ‘pintava’
aquela guerra de saquinhos de papel que em nosso fértil imaginário infantil se
transformavam em bombas letais.
Mas querem saber qual a saudade que está doendo mais?
Ganhando disparado das demais? Tudo bem, eu conto pra vocês. É a saudades dos
livros daquela época. Eles foram
responsáveis por despertar em mim, o gosto pela leitura. Vários deles se
perderam no tempo, enquanto outros estão com as lombadas corroídas, páginas
amareladas e capa puída.
Pois é, ao lembrar-me dessas obras, imediatamente a minha
memória traz à tona as recordações dos períodos maravilhosos que vivi graças à
elas. Estes livros do passado juntamente com os momentos mágicos que me
proporcionaram são tão especiais para mim, que hoje cheguei ao ponto de perder
alguns minutos em meu serviço para escrever esse post. Caraca! Eu disse
escrevi que perdi alguns minutos?! Pára com isso; com certeza o correto seria
ter escrito que ‘ganhei alguns minutos’.
Portanto galera, neste momento eu quero homenagear Monteiro
Lobato, Dona Benta e suas histórias, Alexandre Dumas e outros autores e
personagens, cujas imagens ainda trago, aqui, guardadas na cabeça.
No post que escrevo agora, não quero apenas ‘falar’ dos
livros em si, mas também dos momentos especiais que eles me proporcionaram.
Vamos à eles.
01 – As Aventuras de Hans Staden (Monteiro Lobato)
Como a maioria das crianças, o ‘ menino’ aqui, cresceu lendo
Monteiro Lobato. Com certeza, os primeiros livros de cabeceira de milhares de
crianças brasileiras foram de autoria desse esse escritor taubateano. “As
Aventuras de Hans Staden”, lançado pela Editora Brasiliense, em 1968, foi uma
das obras de Lobato que mais marcou a minha infância. O escritor já havia
publicado em 1925 o livro “Meu
cativeiro entre os selvagens do Brasil”, escrito pelo europeu Hans
Staden, relatando o período em que havia sido prisioneiro dos índios tupinambás,
no início do século XVI. Lobato então lançou, em 1927, o livro “As aventuras de Hans Staden”, versão
do mesmo livro, só que as aventuras eram narradas por Dona Benta para os seus
netos.
A obra teve zilhões de edições, mas como já disse a que mais marcou
– pelo menos para mim - foi a publicada pela Brasiliense que traz o desenho do
personagem principal agarrado a um tronco no meio do mar. Recordo que essa
edição tinha a capa dura e cada capítulo trazia uma gravura das peripécias de
Staden.
Este livro tem o poder de rememorar um período marcante em
minha infância. O momento em que ‘assaltava’ o baú secreto do meu irmão mais
velho. O baú onde ele guardava obras de inestimável valor. Obras que tinham o
poder de me enfeitiçar, seduzir, amarrar e blá-blá e mais blá-blá. Aqueles
livros podiam fazer tudo isso comigo, mas eram os ovos de ouro do mano, os
quais guardava com toda a paixão, não deixando ninguém se aproximar. Agora
imaginem o que aconteceria se ele pegasse no flagra um moleque de 11 ou 12 anos
fuçando nas suas coisas. Cara, seria morte e esquartejamento na certa!
Como, naquela época, o ‘manão véio de guerra’, trabalhava
numa cidade vizinha e só voltava perto do final da tarde, eu aproveitava a
brecha para invadir o seu baú secreto – que nada mais era do que um simples
armário – para me deliciar com aquelas obras estonteantes e Hans Staden era uma
delas. Não quero e não vou prolongar esse assunto, mesmo porque pretendo
escrever, brevemente, um post específico sobre o famoso baú secreto do mano,
inclusive como eu conseguia abri-lo. Bem, por enquanto, o importante é que
vocês saibam que as aventuras de Hans Staden narradas por Dona Benta eram uma
das preciosidades que faziam parte do baú.
Enquanto o post não vinga, aqueles que quiserem conhecer
alguns poucos detalhes sobre o ‘bauzaço’ secreto, podem acessar aqui.
02 – Coleção Monteiro Lobato (Monteiro Lobato)
A coleção de oito livros com as aventuras contagiantes de
Emília, Pedrinho, Narizinho, Visconde de Sabugosa, Dona Benta e Cia, lançada
nos anos 70 pela editora Brasiliense, me induziu à mentir para uma vendedora ambulante
de livros e depois para a minha própria mãe. Como já contei num post que
escrevi há algum tempo; nos anos 70 estava “desesperadamente-desvairadamente-loucamente”
morrendo de vontade de sentir em minhas mãos essa coleção de livros de capa
dura, tamanho A 4 e ricamente ilustrados, escrito por Monteiro Lobato. Assim, quando
uma mulher apareceu na casa de meus pais há décadas e décadas atrás, o então moleque
de calças curtas e kichute – que hoje escreve esse post – soltou o mentirasso:
“Pôxa vida! Que coincidência, minha mãe estava louca pra comprar essa coleção!
Daria pra senhora retornar ainda hoje? Com certeza, mamãe vai comprar.” Ehehehe...
Na verdade, a pobre da minha mãe não estava sabendo, absolutamente, de nada. Mas
depois, acabei convencendo-a e ela me presenteou com os oito livros da “Coleção
Monteiro Lobato”.
Cara! Não dá prá descrever o êxtase que senti quando a
vendedora ambulante que trabalhava para a Brasiliense disse para a minha
saudosa mãe que tinha a coleção para pronta entrega. Uhauuuuu!!! Mêu! Jamais
vou esquecer aquele momento! Lembro-me que fiquei um bom tempo longe das
peripécias com a minha tchurma de amigos. Jogos de futebol? Paqueras na praça? Matinês
no cinema da cidade? Que nada! O meu passatempo preferido passou a ser devorar
as aventuras maravilhosas da turma do Sítio do Pica-Pau Amarelo contidas nas
páginas dos oito volumes ilustrados da Coleção Monteiro Lobato.
03 – Éramos Seis (Maria José Dupré)
Caraca! Como a história de dona Lola ‘seo’ Júlio e seus
filhos: Carlos, Alfredo, Juninho e Maria Isabel mexeram comigo! Li esse livro
que fez parte da série “Vagalume” quando tinha 12 ou 13 anos. Me apaixonei de
cara por aquela bondosa mulher que fazia de tudo pelo seu marido e seus quatro
filhos. Dona Lola foi uma das minhas heroínas de infância. Como diz o título do
romance de Dupré, a batalhadora mulher foi perdendo aos poucos todos os membros
de sua querida e amada família, até sobrar somente ela. Dona Lola, então,
recorda a sua história numa casa de repouso, onde foi parar após a morte de
seus entes queridos.
“Éramos Seis” faz com que eu me recorde dos tempos de
biblioteca da minha escola. Todos os dias, após o sinal que indicava o fim das
aulas no período da manhã, o blogueiro aqui, disparava pela sala de aula afora
com a sua mochila pendurada nas costas, para ficar fuçando nos livros da
biblioteca, escolhendo qual deles iria levar para ler em casa. O romance de
Dupré foi um dos que mais marcaram essa fase da minha vida: a de rato de
biblioteca de escola.
04 – Os Irmãos Corsos (Alexandre Dumas)
Mais um livro do ‘baú secreto’ do meu irmão! Putz, como esse
tal baú marcou a minha infância. O romance de Dumas sobre o qual estou me referindo
é aquele da editora Melhoramentos que trazia na capa a ilustração de dois
esgrimistas se enfrentando, enquanto um terceiro jazia no chão. Não sei porque,
mas essa capa me inspirou a ler a história de duas famílias que há várias
gerações brigavam entre si: a família Franchi e a família Giudice. Muito
sangue, morte e dor marcou a briga entre elas. Mas esta guerra chegaria em seu
ápice quando o Conde de Franchi, sua mulher e o resto da família foram
brutalmente assassinados no dia do nascimento de seus filhos pelo Barão Guido
Giudice. Os dois filhos sobrevivem, porém, todos tem uma grande surpresa: são
gêmeos siameses. O médico da família os separa e cada um toma um rumo
diferente. O jovem Luciano continua a morar em sua terra natal, a Córsega; já
Luíz ruma para Paris com uma família adotiva, e é educado finamente entre a
burguesia. Quando completam a maioridade, os dois são convocados para se vingar
da morte de seus pais e acabar de vez com essa guerra entre famílias.
05 – A Horta do Juquinha (Renato Sêneca Fleury)
Apesar de ter lido esse livro com oito ou nove anos, até hoje
o trago guardado em meu armário. A pequena obra do educador, pedagogo e poeta
Renato Sêneca Fleury, com certeza, contribuiu para criar em milhares de
crianças o gosto pela leitura.
No meu caso, foi graças à estória do pequeno Juquinha e de
sua famosa horta que descobri, precocemente, a magia dos livros. Apesar de
curto, apenas 28 páginas, o texto de Fleury consegue seduzir qualquer criança.
Além do mais, as ilustrações são fantásticas e tem o poder de mexer com o
subconsciente do leitor mirim, fazendo com que ele realize uma viagem no mundo de
Juquinha.
“A Horta do Juquinha” foi um presente de aniversário que
ganhei da minha estimada professora do pré-primário, Dona Cecília. Portanto,
ela também tem culpa de ter me transformado num devorador de livros.
É isso aí; espero que tenham gostado!
Há! Aqueles que quiserem conhecer outros livros, revistas,
gibis, manuais e álbuns de figurinhas que marcaram a minha infância, basta
acessar aqui para visualizar um post sobre o tema que escrevi no finalzinho de
2011.
E aguardem que logo, logo vem por aí as aventuras do baú
secreto do meu mano.
Inté!
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