Livros especiais que proporcionaram momentos mágicos em minha infância

27 abril 2014


Galera, nesta manhã quando cheguei no trabalho, bateu uma saudade danada da minha infância. Saudades daquela época em que eu usava kichute amarrado na canela ou então as famigeradas conquinhas sem meia. Período em que juntava com os meus amigos – alguns deles já se foram – para jogar futebol num terreno abandonado, perto de casa, o qual carinhosamente chamávamos de ‘Datinha” ou então, íamos até a praça principal da cidade para ficarmos sentados nos bancos paquerando as ‘minas’ que passavam pelo redondinho do jardim. No cinema, então, a bagunça era geral. Antes de começar o filme ‘pintava’ aquela guerra de saquinhos de papel que em nosso fértil imaginário infantil se transformavam em bombas letais.
Mas querem saber qual a saudade que está doendo mais? Ganhando disparado das demais? Tudo bem, eu conto pra vocês. É a saudades dos livros daquela época.  Eles foram responsáveis por despertar em mim, o gosto pela leitura. Vários deles se perderam no tempo, enquanto outros estão com as lombadas corroídas, páginas amareladas e capa puída.
Pois é, ao lembrar-me dessas obras, imediatamente a minha memória traz à tona as recordações dos períodos maravilhosos que vivi graças à elas. Estes livros do passado juntamente com os momentos mágicos que me proporcionaram são tão especiais para mim, que hoje cheguei ao ponto de perder alguns minutos em meu serviço para escrever esse post. Caraca! Eu disse escrevi que perdi alguns minutos?! Pára com isso; com certeza o correto seria ter escrito que ‘ganhei alguns minutos’.
Portanto galera, neste momento eu quero homenagear Monteiro Lobato, Dona Benta e suas histórias, Alexandre Dumas e outros autores e personagens, cujas imagens ainda trago, aqui, guardadas na cabeça.
No post que escrevo agora, não quero apenas ‘falar’ dos livros em si, mas também dos momentos especiais que eles me proporcionaram. Vamos à eles.
01 – As Aventuras de Hans Staden (Monteiro Lobato)
Como a maioria das crianças, o ‘ menino’ aqui, cresceu lendo Monteiro Lobato. Com certeza, os primeiros livros de cabeceira de milhares de crianças brasileiras foram de autoria desse esse escritor taubateano. “As Aventuras de Hans Staden”, lançado pela Editora Brasiliense, em 1968, foi uma das obras de Lobato que mais marcou a minha infância. O escritor já havia publicado em 1925 o livro “Meu cativeiro entre os selvagens do Brasil”, escrito pelo europeu Hans Staden, relatando o período em que havia sido prisioneiro dos índios tupinambás, no início do século XVI. Lobato então lançou, em 1927, o livro “As aventuras de Hans Staden”, versão do mesmo livro, só que as aventuras eram narradas por Dona Benta para os seus netos.
A obra teve zilhões de edições, mas como já disse a que mais marcou – pelo menos para mim - foi a publicada pela Brasiliense que traz o desenho do personagem principal agarrado a um tronco no meio do mar. Recordo que essa edição tinha a capa dura e cada capítulo trazia uma gravura das peripécias de Staden.
Este livro tem o poder de rememorar um período marcante em minha infância. O momento em que ‘assaltava’ o baú secreto do meu irmão mais velho. O baú onde ele guardava obras de inestimável valor. Obras que tinham o poder de me enfeitiçar, seduzir, amarrar e blá-blá e mais blá-blá. Aqueles livros podiam fazer tudo isso comigo, mas eram os ovos de ouro do mano, os quais guardava com toda a paixão, não deixando ninguém se aproximar. Agora imaginem o que aconteceria se ele pegasse no flagra um moleque de 11 ou 12 anos fuçando nas suas coisas. Cara, seria morte e esquartejamento na certa!
Como, naquela época, o ‘manão véio de guerra’, trabalhava numa cidade vizinha e só voltava perto do final da tarde, eu aproveitava a brecha para invadir o seu baú secreto – que nada mais era do que um simples armário – para me deliciar com aquelas obras estonteantes e Hans Staden era uma delas. Não quero e não vou prolongar esse assunto, mesmo porque pretendo escrever, brevemente, um post específico sobre o famoso baú secreto do mano, inclusive como eu conseguia abri-lo. Bem, por enquanto, o importante é que vocês saibam que as aventuras de Hans Staden narradas por Dona Benta eram uma das preciosidades que faziam parte do baú.
Enquanto o post não vinga, aqueles que quiserem conhecer alguns poucos detalhes sobre o ‘bauzaço’ secreto, podem acessar aqui.
02 – Coleção Monteiro Lobato (Monteiro Lobato)
A coleção de oito livros com as aventuras contagiantes de Emília, Pedrinho, Narizinho, Visconde de Sabugosa, Dona Benta e Cia, lançada nos anos 70 pela editora Brasiliense, me induziu à mentir para uma vendedora ambulante de livros e depois para a minha própria mãe. Como já contei num post que escrevi há algum tempo; nos anos 70 estava “desesperadamente-desvairadamente-loucamente” morrendo de vontade de sentir em minhas mãos essa coleção de livros de capa dura, tamanho A 4 e ricamente ilustrados, escrito por Monteiro Lobato. Assim, quando uma mulher apareceu na casa de meus pais há décadas e décadas atrás, o então moleque de calças curtas e kichute – que hoje escreve esse post – soltou o mentirasso: “Pôxa vida! Que coincidência, minha mãe estava louca pra comprar essa coleção! Daria pra senhora retornar ainda hoje? Com certeza, mamãe vai comprar.” Ehehehe... Na verdade, a pobre da minha mãe não estava sabendo, absolutamente, de nada. Mas depois, acabei convencendo-a e ela me presenteou com os oito livros da “Coleção Monteiro Lobato”.
Cara! Não dá prá descrever o êxtase que senti quando a vendedora ambulante que trabalhava para a Brasiliense disse para a minha saudosa mãe que tinha a coleção para pronta entrega. Uhauuuuu!!! Mêu! Jamais vou esquecer aquele momento! Lembro-me que fiquei um bom tempo longe das peripécias com a minha tchurma de amigos. Jogos de futebol? Paqueras na praça? Matinês no cinema da cidade? Que nada! O meu passatempo preferido passou a ser devorar as aventuras maravilhosas da turma do Sítio do Pica-Pau Amarelo contidas nas páginas dos oito volumes ilustrados da Coleção Monteiro Lobato.
03 – Éramos Seis (Maria José Dupré)
Caraca! Como a história de dona Lola ‘seo’ Júlio e seus filhos: Carlos, Alfredo, Juninho e Maria Isabel mexeram comigo! Li esse livro que fez parte da série “Vagalume” quando tinha 12 ou 13 anos. Me apaixonei de cara por aquela bondosa mulher que fazia de tudo pelo seu marido e seus quatro filhos. Dona Lola foi uma das minhas heroínas de infância. Como diz o título do romance de Dupré, a batalhadora mulher foi perdendo aos poucos todos os membros de sua querida e amada família, até sobrar somente ela. Dona Lola, então, recorda a sua história numa casa de repouso, onde foi parar após a morte de seus entes queridos.
“Éramos Seis” faz com que eu me recorde dos tempos de biblioteca da minha escola. Todos os dias, após o sinal que indicava o fim das aulas no período da manhã, o blogueiro aqui, disparava pela sala de aula afora com a sua mochila pendurada nas costas, para ficar fuçando nos livros da biblioteca, escolhendo qual deles iria levar para ler em casa. O romance de Dupré foi um dos que mais marcaram essa fase da minha vida: a de rato de biblioteca de escola.
04 – Os Irmãos Corsos (Alexandre Dumas)
Mais um livro do ‘baú secreto’ do meu irmão! Putz, como esse tal baú marcou a minha infância. O romance de Dumas sobre o qual estou me referindo é aquele da editora Melhoramentos que trazia na capa a ilustração de dois esgrimistas se enfrentando, enquanto um terceiro jazia no chão. Não sei porque, mas essa capa me inspirou a ler a história de duas famílias que há várias gerações brigavam entre si: a família Franchi e a família Giudice. Muito sangue, morte e dor marcou a briga entre elas. Mas esta guerra chegaria em seu ápice quando o Conde de Franchi, sua mulher e o resto da família foram brutalmente assassinados no dia do nascimento de seus filhos pelo Barão Guido Giudice. Os dois filhos sobrevivem, porém, todos tem uma grande surpresa: são gêmeos siameses. O médico da família os separa e cada um toma um rumo diferente. O jovem Luciano continua a morar em sua terra natal, a Córsega; já Luíz ruma para Paris com uma família adotiva, e é educado finamente entre a burguesia. Quando completam a maioridade, os dois são convocados para se vingar da morte de seus pais e acabar de vez com essa guerra entre famílias.
05 – A Horta do Juquinha (Renato Sêneca Fleury)
Apesar de ter lido esse livro com oito ou nove anos, até hoje o trago guardado em meu armário. A pequena obra do educador, pedagogo e poeta Renato Sêneca Fleury, com certeza, contribuiu para criar em milhares de crianças o gosto pela leitura.
No meu caso, foi graças à estória do pequeno Juquinha e de sua famosa horta que descobri, precocemente, a magia dos livros. Apesar de curto, apenas 28 páginas, o texto de Fleury consegue seduzir qualquer criança. Além do mais, as ilustrações são fantásticas e tem o poder de mexer com o subconsciente do leitor mirim, fazendo com que ele realize uma viagem no mundo de Juquinha.
“A Horta do Juquinha” foi um presente de aniversário que ganhei da minha estimada professora do pré-primário, Dona Cecília. Portanto, ela também tem culpa de ter me transformado num devorador de livros.
É isso aí; espero que tenham gostado!
Há! Aqueles que quiserem conhecer outros livros, revistas, gibis, manuais e álbuns de figurinhas que marcaram a minha infância, basta acessar aqui para visualizar um post sobre o tema que escrevi no finalzinho de 2011.
E aguardem que logo, logo vem por aí as aventuras do baú secreto do meu mano.
Inté!

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