O que seria de nós, leitores inveterados, se não fossem os sebos

25 fevereiro 2013


Escrever o quê quando se está sentado numa cadeira tendo como companheiras uma mesinha e uma cama de hospital? Sem se esquecer do grande e velho Touro. Esse personagem real que faz parte de minha vida desde o primeiro ar que expeli dos pulmões na forma de um choro sofrido há tantos e tantos anos atrás.
Cara! Prá você que sempre acompanha esse blog e me dá o prazer de sua visita há aproximadamente dois anos, vou confessar uma coisa. Tá difícil... O ‘Tourão’ tá com um problema meio complicado no abdômen e que certamente necessitará de uma intervenção cirúrgica. E, já viu né, pelos seus mais de 80 anos, quase noventa bem vividos, uma intervenção, às vezes , nem tão complicada, acaba se tornando complicada.
Bem, mas o caso é que estou aguardando a visita do médico para fazer um relatório dos exames e cá entre nós, estou muito preocupado. Como o ‘seo dotozinho’ – ele é muito jovem - só vai dar os ares da sua graça daqui há duas horas, resolvi abrir o meu laptop e bater um papo com vocês.
Sei lá; pode ser efeito da solidão, já que estou numa outra cidade, longe da minha; pode ser preocupação, já que estou contando nos dedos os minutos para a vinda do médico; pode ser angústia; mas o que acho, de verdade, é que simplesmente o instinto de escrever sobre um assunto que eu amo, acabou ‘falando’ mais alto. Então, vamos à palavrinha mágica que como num conto de fadas consegue expulsar da minha aura, do meu espírito, qualquer carma ou fluído negativo. Essa palavrinha se chama: L-E-I-T-U-R-A!!
Hoje, quando recebi a informação de que o velho Touro iria ser internado para realizar essa bateria de exames, antes da cirurgia, só tive tempo de passar a mão em algumas roupas, colocar numa sacola e Zuummm!!! Escapulir porta afora, entrar no carro e pneus para quem te quero! (rs). Mas apesar de toda essa correria desvairada, ainda tive tempo de pegar um livro da minha estante e colocar na manjada sacolinha de roupas. A palavra certa é “pegar” mesmo, já que não tive tempo para escolher.
Quando cheguei no hospital e abri a sacola para começar a leitura, adivinha o estado da obra.Paupérrima!! Velhinha, velhinha. Mas como diz o ditado popular: “O que vale é o que está dentro da casca”. E posso garantir que o enredo desse livro é fantástico.
Agora que me encontro sentado ao lado da cama do Tourão, redigindo essas linhas - após ter lido mais um capítulo exuberando desse “velhinho calhamaço - paro pra pensar o quer seria de nossas vidas de leitores inveterados se não existissem os sebos!  Imagine aquele livro que você sempre sonhou ler, mas a edição já está esgotada há “milênios”, como esse que peguei da minha estante. Rapaz! Não dá aquele desespero saber que não será lançada uma nova edição e que você ficará privado por toda a eternidade de ler, talvez, a história dos seus sonhos?!
Fico aqui, nesse quarto de hospital à meia luz e com um cheiro visceral de remédios, pensando se lá pelo século XVI - acho que foi nesse período que surgiram os primeiros sebos,  me desculpem a incerteza, mas é que estou sem internet por aqui, nem modem apanhei – um ou alguns mascates europeus não tivessem tido a idéia de comercializar, de porta em porta,  papiros e outros documentos raros. Mas aqui, ao lado da cama do Tourão, me bateu uma dúvida cruel e profunda, daquelas que coçam as raízes dos neurônios: “Qual foi o cara que teve peito e coragem para começar a comercializar livros velhos no Brasil, concorrendo com as já famosas e estruturadas livrarias?”. Mêo! Nós leitores inveterados, nós ratos de bibliotecas, nós devoradores de livros, nós sei lá o que mais, devemos muito à esse sujeito. Afinal de contas, se não fosse ele, talvez os sebos não teriam “vingado” por aqui. Pôrra! Quem foi esse sujeito ou esse grupo de sujeitos!! Me desculpe o palavrão; é que às vezes me empolgo além da conta. Mas quem seria esse cara, caramba!!
Bem, como a curiosidade foi crescendo, decidi procurar o postinho de enfermagem prá ver se algum “enfermeiro sangue bom” concordaria em me liberar a senha do sinal de internet por alguns poucos minutos para que eu pudesse fazer uma rápida pesquisa. “Não posso”. A enfermeira – uma senhora com cara de vovó matrona – foi lacônica em sua resposta. Tentei novamente; dessa vez ela foi mais simpática, mas a negativa continuou valendo. Então, desci até a recepção e fiz o mesmo pedido para um ‘carinha’ que estava com um notebok matando o tempo na Net. Acho que como já era de madrugada e não havia mais nada pra fazer naquele horário, ele decidiu ‘embromar’ no Face. Passei óleo de peroba na cara e fui com tudo: “Tô com meu pai internado e precisaria pesquisar na Net alguma coisa sobre o seu problema de saúde... sabe como é, apenas curiosidade... e além do mais, ele tem mais de 80 anos...”
Ok... Ok... antes de dizer escrever o que o cara da recepção me respondeu, confesso que fui sínico, dissimulado, descarado e etc. Por isso pode me chamar do que quiser. Tá legal, eu dou a minha face para receber os tapas; aceito numa boa, pois na hora eu me senti pior do que um inseto por ter usado o Tourão numa mentira; mas... entenda...  como eu já disse, a curiosidade estava triturando os meus neurônios. Cara! Eu não tava mais agüentando! Pois é, voltando a recepção... O sujeito do “Face no Notebok” – foi assim que aprendi a chamá-lo – deve ter ficado com pena de mim ou então simplesmente se sentiu culpado por ter sido flagrado em seu trabalho matando o tempo numa rede social e acabou concordando em liberar o sinal. Iahuuuuuuuuu!! Só faltei ir para o quarto aos pulinhos!
Chegando lá, entrei no nosso infalível Google e comecei a minha viagem na rede para juntar subsídios sobre o assunto, ou seja, descobrir como surgiu o primeiro sebo, aqui, na terrinha.
Olha, você não imagina como foi difícil encontrar alguma coisa sobre o assunto. A maioria das informações que obtinha só falava da origem dos sebos na Europa, lá nos idos do século XVI. Mas após vasculhar e vasculhar consegui pinçar alguma coisinha.
Bem, pelo que eu vi, reza a lenda que foi um livreiro de Pernambuco, o primeiro adotar o nome sebo no Brasil. Ele teria escrito essa palavra numa tabuleta e pregado na porta de seu estabelecimento. A partir de então começou a vender e trocar livros usados. E o negócio acabou se tornando um grande sucesso comercial, o que incentivou outras pessoas a seguirem o seu exemplo. Cansei de zapear na Net prá ver se conseguia localizar a data desse fato, e parece que tudo começou no início dos anos 50.
Juro que se pudesse daria um abraço nesse livreiro ‘cabra-macho’ de Pernambuco, pois tudo começou com ele aqui no Brasil. Vejam bem, ele teve coragem suficiente para peitar as primeiras livrarias famosas que estavam começando os seus negócios no Brasil. Etchaa cabrinha da peste esse (rsss).
Apesar da maioria dos estudiosos acharem que o termo surgiu por causa dos  livros serem manuseados constantemente, o que deixava os volumes engordurados, “ensebados”; eu prefiro ficar com a teoria relacionada ao livreiro ‘cabra’ de Pernambuco.
Entonce, dos anos 50 pra cá, os sebos não pararam mais de crescer, até chegarem a nosso mundo globalizado, onde a Net é quem dita as regras.
Apesar das facilidades da rede mundial de computadores, no início de 2000 não eram muitos os sebos que se dispunham a realizar vendas on line. Dessa forma, os leitores interessados em alguma obra tinham de ir à loja física do livreiro para adquiri-la. O problema era quando não havia sebo na cidade. Isso obrigava o leitor a viajar para algum município vizinho que tivesse uma loja, na esperança de encontrar o seu ‘objeto de desejo e consumo’. Isso me faz recordar de como suei para conseguir “ O Parque dos Dinossauros” , de Michael Crichton. Comecei a torpedear  mensagens nas salas de bate-papos – era um assíduo freqüentador de chats, hoje parei de vez – na esperança de que alguma alma caridosa me indicasse um sebo, próximo à minha cidade, onde pudesse encontrar a obra. No final, acabei recebendo o livro de presente de uma amiga virtual pelo correio. Acredita?!
Depois me lembro que comecei a comprar on line várias obras na Livraria Osório, de Curitiba, considerada um dos primeiros sebos – não gosto de dizer “o primeiro”, mas no site da livraria, eles se consideram os pioneiros – a lançar um portal ultra-completo livros usados na Net, com sistema de buscas e tudo mais.
E em 2005, os sebos brasileiros dariam um salto milenar, parecido com aquela cena antológica do filme “2001 – Uma Odisséia no Espaço”, quando um bando de macacos jogava um pedaço de osso para cima e na mesma hora, a câmera dava um corte para uma nave no espaço sideral. Este salto milenar se chama: “Estante Virtual”: um portal brasileiro de comércio eletrônico que reúne o maior acervo de sebos e livreiros de todo o país.
A Estante Virtual se transformou nesses sete anos, em referência para todos os leitores do Brasil que desejam encontraram obras já esgotadas nas livrarias. Através de um eficiente sistema de busca, o portal oferece aos interessados acesso rápido e fácil a mais de 9 milhões de livros semi-novos e usados, além de raros a preços acessíveis.
Putz! Quantos livros comprei , graças a esse portal!
Galera é isso aí! Acredito que deu pra viajar um pouquinho no mundo dos sebos e matar algumas curiosidades. E graças ao meu amigo da recepção do hospital. É... o cara do “Face no Notebok”. Se não fosse ele, acredito que o final da matéria ficaria bastante vago, sem informações técnicas. E pior, a galera não iria ficar sabendo desse livreiro de Pernambuco, o tal do cabra macho que escreveu sebo numa tabuleta e pregou na porta de sua loja. Como já disse acima, prefiro acreditar nessa teoria do que em outras mais populares, mas tão chocas.
Bom... chega por hoje. Fechando o Notebok. Vamos aguardar o “dotozinho”. Ele  já avisou que hoje vai passar bem mais tarde para ver o Tourão e trazer os resultados dos exames.
Inté!

6 comentários

  1. Muito boa a postagem. Eu como um leitor inveterado sofro por não ter um sebo na minha cidade. Ainda bem que existem muitos espalhados pela net. Abraços e melhoras para o grande Tourão..

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    1. Sabe de uma coisa Marcelo... O portal da Estante Virtual se tornou o anjo da guarda de todos nós leitores inveterados e ratos de bibliotecas (rss). E obrigado em nome do Tourão. Ele será operado na semana que vem. Tudo dará certo, se Deus quiser.
      Abcs!!

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  2. \O/ Muito bom o post.
    Sou rata de sebo e vivo fuçando as novidades da Estante Virtual. Aliás, foi lá que encontrei uma pequena preciosidade que desejava há um século, e faz pouco tempo encontrei na Estante Virtual, A Gralha Azul. Fiz uma viagem no tempo rs
    Sou Tb amalucada pelo Sebo Messias, quando dá, passeio pelas paginas na internet, reservo e vou buscar lá na Praça da Sé, senão fico roendo as unhas esperando pelo correio ...
    Tb troquei muito livro numa comunidade virtual Bumerangue e era assídua frequentadora do Viciados em livros.
    Ah, segundo o site debatesculturais, o nome do livreiro de PE, era Eurico Brandão, por isso o nome do sebo, Sebo Brandão.

    Estimo melhoras para o Sr Touro. Desejo que ele fique bom logo, que seu restabelecimento seja breve.

    Abraços literários.

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    1. Oi Luna; bom ver vc por aqui novamente;
      Tbém sou rato de sebo. Grde parte dos livros de minha biblioteca foram adquiridos de "segunda mão". Não vivo sem sebos (rs).
      Qto ao "Tourão", vem aí mais uma batalha... Os exames indicaram cirurgia - sem discussão - e com certa urgência. Mas ele com certeza sai dessa. Afinal, apesar da idade, é um vencedor!
      Abcs!

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  3. Vc poderia postar uma resenha do livro ''A Estrada da noite'' do Joe Hill, ele é o filho do Stephen King?
    Fiquei interessado no livro mas tenho duvidas

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  4. Leonardo, se vc curte o gênero terror, pode comprar sem receio...
    A história é ótima. O vilão Craddock foi um dos mais assustadores que conheci na literatura de terror. Mete medo, de fato.
    Brevemente estarei postando uma resenha sobre a obra; mas nem precisa esperar por isso. pode adquirir.
    Abcs!

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