“Marvels”: Uma minissérie onde o que conta são as pessoas comuns e não os super-heróis

20 outubro 2012
Calma gente, calma... Este blog não abandonou as suas origens literárias. Não decidi esquecer os livros e mergulhar de cabeça nas histórias em quadrinhos. Acredito que a minha fase de leitura ávida e deliciosamente descontrolada dos quadrinhos da Marvel e DC Comics já passou. Agora estou “de boa” somente nos livros e não me arrependo. Não que eu esteja menosprezando os quadrinhos, prova disso é o post que vocês estão lendo agora, mas tudo em nossa vida passa e os quadrinhos passaram; passaram mas deixaram um grande legado na minha história de leitor inveterado. Foi graças aos quadrinhos que fui aprendendo a ganhar o gosto pela leitura. Que o diga Tio Patinhas, Mickey, Os Metralhas e mais recentemente Batman, Superman, Homem Aranha e companhia.
Acho que perdi o hábito de ler quadrinhos nos meus 18 anos. Lembro bem, porque foi a época em que me tornei um réco, sabe? Um recruta, entendeu? (rs). Tinha acabado de entrar no Tiro de Guerra, sendo obrigado a sacrificar os meus cabelos ultra-rebeldes, mas que eu julgava inocentemente e estupidamente ser o meu charme. Vruuuummmm. Até hoje tenho trauma do barulho dessas máquinas zero utilizadas pelos barbeiros. Vejam bem que utilizei o termo “barbeiros”, já que os cabeleireiros mais moderninhos usam máquinas mais moderninhas sem aquele barulho infernal.
Recordo que um dos últimos quadrinhos que li foi uma história em que o Batman encontrava-se perdido num deserto, quase nas últimas, após ter sido picado por uma cobra no tornozelo. Ainda pensei comigo: - “PQP, mas que botinha fina essa, heimm? O morcegão deve ter comprado em algum bazar da pechincha!” Li essa história após receber a notícia de que havia sido aprovado nos exames médicos e que passaria a me tornar um réco. Que felicidade! Que felicidade! (rsss)
Bem, depois desse período me esqueci completamente dos quadrinhos e só fui ter uma “recaída quadriniana” quinze anos depois. Neste intervalo já tinha casado com os livros, e as histórias da Marvel e DC Comics já não me interessavam mais.
Mas ao ingressar na idade do lobo, ou seja, após me tornar um balzaqueano, vi, um dia, exposto na banca de revistas da minha cidade um gibi diferente que me chamou a atenção. Cara! Me lembro como se fosse hoje: a capa era muito realista! Trazia o personagem Tocha Humana entrando em combustão numa rua movimentada, enquanto as pessoas fugiam em pânico, temendo serem queimadas vivas. Sem brincadeira, parecia que o Tocha estava ali, vivo, em carne e osso, ou melhor,
em pura chamas, pronto para sair das páginas.
Confesso que naquele momento me esqueci dos livros e da minha humilde biblioteca que estava começando a montar. Só pensava em comprar aquele gibizão que fugia um pouco do formato convencional para aquela época.
Li e adorei! Alguns dias depois soube que na realidade a história continuava em outros três gibis, perfazendo um total de quatro. Adivinha se não dei um jeitinho de adquirir os outros três que restavam.
Putz! Que recaída gostosa!! Por isso, hoje decidi escrever um post sobre essa minissérie que conseguiu fazer com que o blogueiro aqui - após mais de uma década e meia - se esquecesse, por alguns momentos, dos seus amados livros. Como já deu prá perceber, estou falando escrevendo sobre a minissérie “Marvels” idealizada pela dupla de gênios: Alex Ross e Kurt Busiek. Quatro gibis que fizeram os fãs das histórias em quadrinhos arregalarem os olhos e exclamarem: - “O que é isso!!! É verdade o que estou vendo e lendo?!!”
Cara, “Marvels” foge completamente dos padrões dos quadrinhos convencionais, do tipo ‘super-herói versus vilão e esquece o resto’ ou então ‘problemas existenciais ou familiares dos super-heróis’. A minissérie de quatro gibis lançada nos anos 90 deu uma virada ao avesso nesse tipo de visão que já estava ficando ultrapassada.
Busiek chegou e deu um chute no traseiro desses roteiros enfadonhos que já estavam cansando os leitores das histórias em quadrinhos. Ele, simplesmente, esqueceu a cansativa luta contra vilões e passou a questionar como seria o posicionamento do super-herói junto a sociedade humana. Resumindo: Busiek criou um roteiro onde os seres humanos normais teriam mais importância do que os super-heróis. Os leitores passariam, então, a ver o Universo Marvel de uma forma diferente, ou seja, não pela ótica do super-herói, mas pela ótica de um ser humano comum que convive no mesmo ambiente desses seres dotados de poderes descomunais e até mesmo extraordinários. Como seria a convivência dessas duas espécies tão distintas num mesmo espaço físico?
Imagine-se você vivendo em um mundo repleto de seres super-poderosos que protegem os humanos de inúmeras adversidades? Como seria conviver com esses super-seres? Agora imagine-se, você como repórter de um jornal cobrindo algum fato envolvendo esses seres poderosos, parecidos com semi-deuses? Suponhamos que o Homem Aranha estivesse enfrentando um vilão em cima de um prédio e durante a luta, um pedaço da marquise - de “puro concreto” – se soltasse do edifício e, literalmente, ‘despinguelasse ladeira abaixo’ caindo no chão e espalhando pedaços  e pontas de concreto para todos os lados no meio de uma multidão que atônita assistia ao combate? Imagine-se você como repórter vendo um desses pedaços de concreto indo em sua direção e atingindo-lhe em cheio?
Deu pra entender? É esse realismo que Kurt Busiek ‘despejou’ em suas histórias. Mas para conseguir atingir esse realismo, o premiado autor de histórias em quadrinhos precisaria dotar o seu enredo de um grande impacto visual. Foi, então, que entrou outro gênio no ‘lance’, o pintor de quadrinhos Alex Ross.
Ross, através de imagens, conseguiu dobrar o impacto do enredo desenvolvido por Busiek. Chega a ser chocante, por causa do realismo, a imagem de Jim Hammond se transformando no Tocha Humana. Mais chocante ainda ver as imagens de seres humanos sem super-poderes sofrerem o impacto dos embates entre super-seres.
Nos quatro gibis que completam a minissérie idealizada por Busiek e Ross, pessoas normais contam as suas experiências de como é viver ao lado de super-heróis. É intrigante saber que um herói - comparado a um semi-deus - era apenas um homem vestindo um uniforme, cujo tecido fazia dobras ou tinha costuras ou remendos como as roupas de um cidadão normal.
Ross e Busiek conseguiram colocar nas páginas de “Marvels” qual seria a reação de qualquer um de nós se um dia topássemos com o Tocha-Humana, o mutante “Anjo”, Namor ou então o Homem Aranha. Fuja da realidade, pelo menos um pouquinho, e imagine como seria esse encontro. Pois é, é isso que sentimos ao ler “Marvels”.
Resumidamente, a minissérie lançada em 1994, retrata a história do Universo Marvel desde o fim dos anos de 1930, com ênfase para o primeiro Tocha Humana – Jim Hammond e não Johnny Storm, que nessa época nem sequer pensava em nascer - que tem a sua origem retratada, deixando o leitor informado sobre como surgiu o Tocha original. A minissérie prossegue até meados dos anos 1970, quando acontece a morte de Gwen Stacy, a namorada do Homem Aranha. Durante esse período, acontece um desfile de super-heróis e vilões poderosos nas páginas dos quatro gibis, entre eles, Namor, Quarteto Fantástico, Galactus, entre outros. Tudo isso, seguindo um clima mais do que sombrio, por meio do ponto de vista do fotógrafo Phil Sheldon, uma pessoa mais do que normal que acompanha os heróis em suas aventuras.
A minissérie em quatro capítulos explodiu em sucesso e catapultou a carreira de desenhista de Alex Ross que se tornaria um dos maiores astros das histórias em quadrinhos.
Fucem nos sebos e confiram, pois vale a pena!

4 comentários

  1. Cara, nunca li Marvels - por puro relaxo da minha parte - mas foram os quadrinhos que me levaram à leitura. Só que, no meu caso, meu gosto é mais dividido entre HQ's e livros.
    Se você gostou dos quadrinhos que falam sobre o passado do Universo Marvel, talvez também goste de Reino do Amanhã, que conta sobre o futuro dos heróis da DC Comics. Também é pintada por Alex Ross.

    Há vários títulos que eu te recomendaria que fogem bastante do gênero dos super-heróis (100 Balas, Fábulas, Preacher, etc), mas há UM DELES que simplesmente é leitura obrigatória pra você:

    Sandman, de Neil Gaiman. A Panini tem republicado a série completa em uns volumões que, se atingirem a cabeça de alguém podem até matar - o preço é equivalente, viu?

    Abraço.
    regthorpe.blogspot.com

    Ah, o seu post me inspirou a fazer um do mesmo tema. Quando terminá-lo, te mando o link.

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    1. Augusto, como fiquei sabendo que é um grde fã dos quadrinhos, nem preciso dizer que vc tem "quase" a obrigação de ler Marvels (rssss). Li o seu post sobre Quadrinhos e achei fantástico - muito bem escrito - como já registrei nos comentários referentes ao post. Com certeza vou seguir as suas sugestões...
      Abcs!

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  2. Aí está:

    regthorpe.blogspot.com/2012/10/as-historias-em-quadrinhos.html

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