As Vinhas da Ira

19 julho 2014


Acabei de ler “As Vinhas da Ira” há uma semana, mas ainda estou boquiaberto com o final da história. Mil vezes caraca!! O que é aquilo?! John Steinbeck, de fato, caprichou, e encerrou a saga da família Joad com chave de ouro. Fiquei loucamente apaixonado por aquele final inesperado, ousado e poético. Admiro ainda a coragem e a audácia de Steinbeck que criou uma situação inimaginável para os padrões morais do final da década de 1930, período em que o livro foi lançado, rompendo assim, velhos paradigmas relacionados à mulher. Posso afirmar com toda minha convicção que “As Vinhas da Ira” nos brinda com um dos finais mais surpreendentes da literatura mundial de todos os tempos.
Mas deixando o final fantastic de lado, é importante frisar aos leitores que pretendem devorar “As Vinhas da Ira” que a obra de Steinbeck não é para ser lida por diversão ou lazer. Nada disso. Se você estiver essa intenção, fuja do livro porque ele é pura reflexão. Uma obra para o leitor ler, parar e pensar. Uma história sobre a dignidade humana em condições desesperadas num sistema capitalista selvagem.
Steinbeck utiliza a família Joad como instrumento para contar o drama de milhares de pequenos agricultores americanos que durante o período pós- depressão de 1939, foram obrigados a migrar da costa leste para a oeste, principalmente para o estado da Califórnia. Esses agricultores eram meeiros que plantavam diversas culturas em terras pertencentes às classes ricas e abastadas. Eles já estavam nessas terras há muitas décadas, tendo crescido, vivido e constituído famílias ali. Mais do que isso, a sua sobrevivência e o seu sustento vinham daquelas terras. Então com a chegada da grande crise econômica da década de 30, agravada pelo advento do trator e de outros maquinários agrícolas que podiam substituir cinco ou mais trabalhadores no plantio e na colheita, essas famílias de pequenos agricultores acabaram sendo expulsas de suas casas pelos donos da terra. Assim, de uma hora para a outra, um grande número de pessoas não tinham para onde ir.
Iludidas com as notícias enganosas de que na Califórnia havia trabalho em abundância e ótimas remunerações, esses meeiros iniciaram uma viagem de milhares de quilômetros na esperança de chegar à ‘terra prometida’ onde corre o leite e mel e lá reiniciarem as suas vidas com dignidade. Mas quando chegam ao local descobrem que a realidade é bem diferente daquela que sonhavam e imaginavam.
Os Joads são uma dessas famílias que decidem buscar a sorte nas terras do oeste americano. Para isso, vivem uma verdadeira odisséia durante a longa viagem, onde conhecem pessoas más que se divertem com a desgraça alheia, mas por outro lado também encontram verdadeiros exemplos de solidariedade.
Com o virar das páginas, uma personagem vai se sobressaindo bem mais do que os demais. Trata-se de Ma Joad, a matriarca da família que aos poucos vai assumindo o seu papel de líder nessa odisséia, ganhando o respeito de, todos. Nem mesmo o seu marido, considerado o chefe de família a quem, naturalmente, caberia tomar as decisões mais difíceis, ousa questionar a sabedoria e liderança de Ma Joad.
O autor nos mostra todas as nuances desse relacionamento familiar formado por personagens dominadores, covardes, sábios, fracos e temperamentais.
Além de Mãe e Pai Joad, temos também Tom Joad, o filho mais velho que acabou de sair da prisão, após ter matado um homem; os seus irmãos Al e Rosa de Sharon, o cunhado Connie; o avô e a avó Joad (hiper-engraçados); enfim, cada um deles com a sua história e os seus segredos.
Enfim, os Joads são a essência daquelas famílias americanas que sofreram com a depressão que assolou a economia do país, atingindo em cheios os pequenos arrendatários rurais. Uma família que teve coragem suficiente de colocar todos os seus pertencentes na carroceria de um velho caminhão – com grande possibilidade de quebrar no caminho – e rodar mais de dois mil quilômetros com destino à uma terra desconhecida.
Enfim, uma história espetacular e com um final mais espetacular ainda. Não foi a toa que Steinbeck ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 1962.
Inté!

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