Um dos muitos contos de terror do Almirante

26 julho 2014


Estou curtindo demais os contos do livro “Incrível! Fantástico! Extraordinário!” Afinal, contos de terror brasileiríssimos que abordem os ‘causos’, aqui da terrinha, do nosso povo, da nossa cultura são tão raros, não é mesmo?
As 44 historietas – não ‘historietas’ no sentido pejorativo, mas no sentido ‘tamanho’, já que são bem curtas, não ultrapassando mais de três páginas – na realidade foram escritas para o rádio. Isso mesmo! Em 1947, o apresentador da Rádio Tupi, Henrique Foreis Domingues, mais conhecido por “Almirante” iniciou um programa totalmente inédito no rádio brasileiro: o Incrível! Fantástico! Extraordinário! Que propunha a relatar todo o tipo de experiências inexplicáveis ocorridas com pessoas das mais diversas partes  do país. O programa se tornou um verdadeiro ícone do rádio no Brasil. Devido ao sucesso do programa, em 1951, Almirante decidiu transferir para o livro 70 dos casos narrados no rádio.
Tão logo conclua a leitura do livro estarei postando a resenha no blog, enquanto isso, resolvi publicar nesse espaço um dos ‘causos’ presentes na obra do saudoso Almirante: um conto ‘danado’ de bom e que impressiona. Enquanto a resenha não sai, ‘batam’ os dentes de medo com essa história. Eheheheh. Faça de conta que você é um dos integrantes daquele famoso seriado dos anos 80, Clube do Terror. Imagine-se sentando ao redor de uma fogueira ouvindo a história de um dos garotos do grupo. Vamos à ela.
Bem o conto de hoje se chama...
PALAVRA ASSUMIDA
“Até mesmo depois da morte, certos compromissos assumidos em vida, são respeitadas pelas almas...”
‘Este caso se passou com L.D., que na época estava com 17 anos e morava com seus pais na Fazenda Jupaguá, distante mais ou menos nove quilômetros da cidade de Manga, em Minas Gerais. Todos os dias L. ia até a cidade para fazer compras. Tinha lá inúmeros amigos e, entre lês, um dos mais chegados era o Antônio.
No dia 3 de outubro de 1949, uma segunda-feira, L. encontrou-se na cidade com seu amigo Antônio:
- Olá, Antônio, como vai?
- Salve, L. Vou bem, graças a Deus!
E os dois seguiram longo tempo em amistosa conversa, que terminou com uma promessa de Antônio:
- Olha, L. Domingo que vem eu vou lá na tua casa...
Não era a primeira vez que Antônio fazia tal promessa. Por diversas vezes ele havia garantido aquela visita, mas nunca a fizera. Por isso, L. zombou, brincando:
- Qual... Você já cansou de prometer que vai lá em casa e não aparece nunca! Você já está desacreditado, Antônio!
- Não, mas desta vez eu juro que vou. Estou falando sério! Pode me esperar que domingo sem falta eu vou lá.
- Tá bom. Só quero ver isso!
- Eu juro. Antes eu nunca jurei, mas hoje estou jurando. Portanto, até domingo!
- Até domingo – disse L., rindo como quem não acredita.
Naquele dia L. terminou suas compras na cidade e foi para caswa sem tornar a ver o amigo. No dia seguinte, seus pais viajaram e ele não foi à cidade, onde só retornou na sexta-feira, dia 7 de outubro. Mas não se avistou com o companheiro. Naquela mesma tarde, um portador foi levar-lhe uma notícia tristíssima – seu amigo Antônio havia falecido repentinamente, naquela manhã!
Imediatamente L. rumou para a cidade, onde chegou a tempo de acompanhar o enterro do bom amigo. Depois, voltou para casa, abatido, acabrunhado com a morte inesperada de Antõnio, comentando consigo mesmo a última conversa que tivera com ele;
- E ele, coitado, que tinha jurado ir me visitar domingo...
Pois é, pelo que parecia, estava escrito que Antônio nunca lhe faria a prometida visita...
O dia de domingo foi triste para L. O amigo não lhe saía da lembrança. À noite, L. e sua irmã foram deitar-se mais cedo do que o costume. A moça dormia num quarto pegado ao seu e logo os dois pegaram no sono.
Mais ou menos às 10 horas da noite, L. acordou com um som que parecia um tropel de um cavalo vindo pela estrada em direção a sua casa e que parava no terreiro bem diante da porta. Depois de um instante de silêncio – com o tempo exato de um cavaleiro desmontando e caminhando até a soleira, L. ouviu as batidas.
Ele ia se levantar, mas percebeu que sua irmã tudo escutara e já havia se antecipado. Ele ouviu, nitidamente, que ela abria a porta e ... que alguma coisa anormal tinha acontecido.
- Quem é? Quem está aí Quem é?... – perguntava a irmã num tom de voz que iniciou natural e foi ficando aflita.
Não havia ninguém do lado de fora. Nenhum cavalo no terreiro! E ninguém que tivesse saltado ali e batido na porta teria tempo de se afastar o suficiente e se esconder!
Assombrada, a garota fechou a porta depressa e voltou correndo para seu quarto e não quis saber de mais nada. L., em sua cama, tudo percebia mas, inexplicavelmente não tomava a resolução de ir ver o que acontecia. Nesse meio tempo, as batidas à porta se repetiam...
Tremendo dos pés à cabeça, L. encolheu-se na cama, enquanto ouviu o barulho característico de uma porta se abrindo. Ouviu também passos caminhando em direção ao seu quarto... Percebeu que os passos atravessavam a sala, que paravam junto à porta e que alguém batia levemente à sua porta.
L. não pôde se mexer. Mas isso não foi necessário, pois a porta foi se abrindo lentamente e nela apareceu, com nitidez, o vulto do amigo Antônio, falecido dois dias antes!
Antônio vestia um terno branco e, deixando a porta escancarada, caminhou até os pés da cama de L. e ali, fitando-o de modo estranho, falou:
- Eu não disse que viria visitar você hoje?
L. ia gaguejar alguma coisa mas não teve tempo, pois, repentinamente, a porta do quarto bateu com violência e a figura do amigo desapareceu naquele instante...’
Taí galera! Este é um dos inúmeros “causos” que vocês irão encontrar no livro do Almirante. E tem cada história de arrepiar. Ah! Antes que me esqueça... se algum amigo ou amiga jurar que irá lhe visitar determinado dia, siga um conselho de amigo: fala ela ‘desjurar’ (rs).

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