Estou curtindo demais os contos do livro “Incrível!
Fantástico! Extraordinário!” Afinal, contos de terror brasileiríssimos que
abordem os ‘causos’, aqui da terrinha, do nosso povo, da nossa cultura são tão
raros, não é mesmo?
As 44 historietas – não ‘historietas’ no sentido
pejorativo, mas no sentido ‘tamanho’, já que são bem curtas, não ultrapassando
mais de três páginas – na realidade foram escritas para o rádio. Isso mesmo! Em
1947, o apresentador da Rádio Tupi, Henrique Foreis Domingues, mais conhecido
por “Almirante” iniciou um programa totalmente inédito no rádio brasileiro: o Incrível! Fantástico! Extraordinário! Que
propunha a relatar todo o tipo de experiências inexplicáveis ocorridas com
pessoas das mais diversas partes do
país. O programa se tornou um verdadeiro ícone do rádio no Brasil. Devido ao
sucesso do programa, em 1951, Almirante decidiu transferir para o livro 70 dos
casos narrados no rádio.
Tão logo conclua a leitura do livro estarei postando
a resenha no blog, enquanto isso, resolvi publicar nesse espaço um dos ‘causos’
presentes na obra do saudoso Almirante: um conto ‘danado’ de bom e que impressiona.
Enquanto a resenha não sai, ‘batam’ os dentes de medo com essa história.
Eheheheh. Faça de conta que você é um dos integrantes daquele famoso seriado dos
anos 80, Clube do Terror. Imagine-se sentando ao redor de uma fogueira ouvindo
a história de um dos garotos do grupo. Vamos à ela.
Bem o conto de hoje se chama...
PALAVRA ASSUMIDA
“Até
mesmo depois da morte, certos compromissos assumidos em vida, são respeitadas
pelas almas...”
‘Este caso se passou com L.D., que na época estava
com 17 anos e morava com seus pais na Fazenda Jupaguá, distante mais ou menos
nove quilômetros da cidade de Manga, em Minas Gerais. Todos os dias L. ia até a
cidade para fazer compras. Tinha lá inúmeros amigos e, entre lês, um dos mais
chegados era o Antônio.
No dia 3 de outubro de 1949, uma segunda-feira, L.
encontrou-se na cidade com seu amigo Antônio:
- Olá, Antônio, como vai?
- Salve, L. Vou bem, graças a Deus!
E os dois seguiram longo tempo em amistosa conversa,
que terminou com uma promessa de Antônio:
- Olha, L. Domingo que vem eu vou lá na tua casa...
Não era a primeira vez que Antônio fazia tal
promessa. Por diversas vezes ele havia garantido aquela visita, mas nunca a
fizera. Por isso, L. zombou, brincando:
- Qual... Você já cansou de prometer que vai lá em
casa e não aparece nunca! Você já está desacreditado, Antônio!
- Não, mas desta vez eu juro que vou. Estou falando
sério! Pode me esperar que domingo sem falta eu vou lá.
- Tá bom. Só quero ver isso!
- Eu juro. Antes eu nunca jurei, mas hoje estou
jurando. Portanto, até domingo!
- Até domingo – disse L., rindo como quem não
acredita.
Naquele dia L. terminou suas compras na cidade e foi
para caswa sem tornar a ver o amigo. No dia seguinte, seus pais viajaram e ele
não foi à cidade, onde só retornou na sexta-feira, dia 7 de outubro. Mas não se
avistou com o companheiro. Naquela mesma tarde, um portador foi levar-lhe uma
notícia tristíssima – seu amigo Antônio havia falecido repentinamente, naquela
manhã!
Imediatamente L. rumou para a cidade, onde chegou a
tempo de acompanhar o enterro do bom amigo. Depois, voltou para casa, abatido,
acabrunhado com a morte inesperada de Antõnio, comentando consigo mesmo a
última conversa que tivera com ele;
- E ele, coitado, que tinha jurado ir me visitar
domingo...
Pois é, pelo que parecia, estava escrito que Antônio
nunca lhe faria a prometida visita...
O dia de domingo foi triste para L. O amigo não lhe
saía da lembrança. À noite, L. e sua irmã foram deitar-se mais cedo do que o
costume. A moça dormia num quarto pegado ao seu e logo os dois pegaram no sono.
Mais ou menos às 10 horas da noite, L. acordou com
um som que parecia um tropel de um cavalo vindo pela estrada em direção a sua
casa e que parava no terreiro bem diante da porta. Depois de um instante de
silêncio – com o tempo exato de um cavaleiro desmontando e caminhando até a soleira,
L. ouviu as batidas.
Ele ia se levantar, mas percebeu que sua irmã tudo
escutara e já havia se antecipado. Ele ouviu, nitidamente, que ela abria a
porta e ... que alguma coisa anormal tinha acontecido.
- Quem é? Quem está aí Quem é?... – perguntava a
irmã num tom de voz que iniciou natural e foi ficando aflita.
Não havia ninguém do lado de fora. Nenhum cavalo no
terreiro! E ninguém que tivesse saltado ali e batido na porta teria tempo de se
afastar o suficiente e se esconder!
Assombrada, a garota fechou a porta depressa e
voltou correndo para seu quarto e não quis saber de mais nada. L., em sua cama,
tudo percebia mas, inexplicavelmente não tomava a resolução de ir ver o que
acontecia. Nesse meio tempo, as batidas à porta se repetiam...
Tremendo dos pés à cabeça, L. encolheu-se na cama,
enquanto ouviu o barulho característico de uma porta se abrindo. Ouviu também
passos caminhando em direção ao seu quarto... Percebeu que os passos
atravessavam a sala, que paravam junto à porta e que alguém batia levemente à
sua porta.
L. não pôde se mexer. Mas isso não foi necessário,
pois a porta foi se abrindo lentamente e nela apareceu, com nitidez, o vulto do
amigo Antônio, falecido dois dias antes!
Antônio vestia um terno branco e, deixando a porta
escancarada, caminhou até os pés da cama de L. e ali, fitando-o de modo
estranho, falou:
- Eu não disse que viria visitar você hoje?
L. ia gaguejar alguma coisa mas não teve tempo,
pois, repentinamente, a porta do quarto bateu com violência e a figura do amigo
desapareceu naquele instante...’
Taí galera! Este é um dos inúmeros “causos” que
vocês irão encontrar no livro do Almirante. E tem cada história de arrepiar.
Ah! Antes que me esqueça... se algum amigo ou amiga jurar que irá lhe visitar
determinado dia, siga um conselho de amigo: fala ela ‘desjurar’ (rs).
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