Cinco livros excelentes adaptados para o cinema que devem ser lidos, obrigatoriamente, antes dos filmes e jamais depois.

15 dezembro 2024

Se existe uma frase que me irrita e muito, é aquela que comumente também irrita a maioria dos leitores: “Para que ler o livro se eu já assisti ao filme”. Não vá me dizer que essa bendita, ou melhor, maldita frase não lhe tira do sério? Se for um leitor assíduo – daqueles que de fato podem ser chamados de leitores – garanto que tal afirmação vai conseguir lhe tirar do sério.

Mesmo o filme sendo um clássico, é impossível deixar de ler o livro que originou esse clássico. Aliás, vou mais além, o correto seria ler primeiramente a obra literária para somente depois, assistir a produção cinematográfica.

O principal motivo é que o livro proporciona uma riqueza detalhes relacionadas ao enredo e aos personagens que os filmes não apresentam. Detalhes que no cinema pelas modificações necessárias - devido ao fator tempo -, vão ser provavelmente ignorados.

Ler o livro primeiro também melhora a experiência de visualização, proporcionando uma exploração mais profunda de temas, motivações de personagens e histórias de fundo que podem ser perdidas na adaptação cinematográfica. Ler o livro antes leva o leitor ao filme com um bom conjunto de conhecimentos prévios. Dessa forma, vejo o filme como um complemento do que li.
Na minha opinião, as pessoas que primeiro assistem ao filme, acabam matando o enredo do livro tornando-o desinteressante. O mesmo não acontece quando você dá prioridade ao livro e somente depois, assisti ao filme. Isto faz com que a produção cinematográfica fique mais completa. Vejam bem, não se trata de uma regra básica ou imutável, sei que muitos não pensam assim; mas... paciência;  é dessa forma que me sinto ao inverter as bolas, ou seja, deixar o livro como um complemento do filme.

Para aqueles que tem uma linha de raciocínio parecida com a minha, escrevi essa postagem onde indico cinco adaptações cinematográficas de grande sucesso, as quais você deveria ler o livro primeiro; e só depois, assistir ao filme.

01 – O Silêncio dos Inocentes (1991)

Acho interessante ler O Silêncio dos Inocentes antes do filme porque o livro traz informações importantes sobre alguns personagens que foram praticamente suprimidas na adaptação cinematográfica de Jonathan Demme. O maior exemplo disso diz respeito ao agente Jack Crawford, chefe de Clarice Starling, que no filme passa quase despercebido, mas nas páginas tem uma participação destacada. Ele atua como um importante mentor sobre a jovem agente; passando-lhe seu legado de anos de experiência como agente do FBI. No filme, não aprendemos muito sobre sua história de fundo, também aprendemos muito pouco sobre o quanto ele se sacrifica por seu trabalho e, o mais importante, a conexão com o enredo de Dragão Vermelho, onde Crawford vê Clarice como uma forma de se redimir de seu tratamento com Will Graham que deixou a desejar, colocando a vida daquele agente em perigo.

No filme também não fica claro o que o Dr. Chilton, diretor do manicômio - onde o Dr. Lecter está encarcerado - faz com as fitas das gravações clandestinas das conversas entre Lecter e Clarice. Mas no livro os leitores ficam sabendo o destino dessas fitas.

Um livraço que complementa um filmaço e que deve ter a sua leitura priorizada.

02 – O Grande Gatsby (2013)

A narrativa forte e envolvente de F. Scott Fitzgerald é o grande diferencial do livro - publicado originalmente em 1925 - para o filme de Baz Luhrmann que tem nos papéis principais Leonardo DiCaprio, Tobey Maguire e Carey Mulligan.

O narrador Nick Carraway tem um papel fundamental no livro ao mostrar aos leitores todo o mundo de luxo e intrigas do personagem Jay Gatsby, além de apresentar em detalhes alguns personagens do enredo. Sem a força desta prosa, o espectador não consegue criar os laços com alguns desses personagens, nem conhecê-los o suficiente para sentir e entender vários de seus sentimentos como medo, dúvidas ou insegurança.

Não posso negar que o visual extravagante dos anos 20 no filme de Luhrmann é fantástico e embriagador, mas sem a narrativa de Nick que temos a oportunidade de ver no livro, esse visual acaba ficando vazio. Por isso, acho importante ler a obra literária primeiro para que possamos entender as verdadeiras motivações desses personagens e depois... nos deliciarmos com o visual do filme de 2013 que muitos críticos consideram a melhor adaptação do livro de Fitzgerald.

03 – O Diário de Uma Paixão (2004)

Se você ler o livro de Nicholas Sparks antes do filme, ficará conhecendo os detalhes da doença e do tratamento de Allie. Enquanto o livro dedica tempo para explorar o diagnóstico e a jornada da doença da personagem, o filme opta por uma abordagem mais simplificada, não especificando a natureza de sua condição e focando mais na emoção de seus momentos de lucidez.

Dois personagens presentes no livro, publicado pela primeira vez em 1996, não aparecem no filme de 2004: o cão Clem e um personagem chamado Gus. O cinema não mostra a amizade de Noah com Gus e no filme, Noah se envolve com uma viúva, a qual no livro ela apenas é amiga dele.

O final do enredo literário é completamente diferente daquele que vocês viram nos cinemas. Juro que chorei lendo o final do livro. Cara, emocionante demais. Você também poderá comparar os dois finais, mas prepare as lágrimas ao ler o “The End” do livro.

04 – A Garota do Trem (2016)

O filme com Emily Blunt adaptado do livro de grande sucesso da autora Paua Hawkins mantém o cerne do livro, mostrando o crescente envolvimento da alcoólatra e divorciada Rachel (Emily Blunt) com um casal perfeito que vê diariamente pela janela em seu trajeto de trem para o trabalho. Apesar de não destoar tanto do livro, a produção cinematográfica enxugou e também suprimiu vários trechos, alguns importantes, da obra de Hawkins.

Enquanto o livro é extremamente fluido, o longa-metragem dá a impressão  de ser um pouco arrastado, principalmente para quem não leu a obra original. No livro, Rachel pega o trem diariamente em direção à Londres todos os dias. No filme, o cenário foi mudado para Manhattan.

Diferentemente do livro, em que Hawkins consegue pela narrativa prender a atenção do leitor, o longa abusa dos recursos de slow motion e até da trilha sonora para criar a situação, soando tudo muito exagerado.

Por ter uma narrativa muito mais completa e envolvente, aconselho ler o livro de Hawkins primeiro, depois mergulhe no filme.

05 – Rambo – Programado par Matar (1982)

Primeiro Sangue (1972) de David Morrel publicado dez anos antes do filme “Rambo – Programado para Matar” - que transformou Sylvester Stallone num ícone das produções de ação em Hollywood - é muito mais profundo e sério do que a sua adaptação para os cinemas. Primeiro Sangue é uma reflexão sobre os traumas da guerra, a alienação dos veteranos, o abuso de poder e a moralidade da violência.

David Morrell, de fato, caprichou em seu enredo o qual considero um dos thrillers de ação sobre a Guerra do Vietnã mais importantes das últimas décadas. Creio que esteja no mesmo nível de O Franco Atirador de E.M. Corder. Curiosamente esses dois livraços que exploram os terrores psicológicos enfrentados por alguns soldados americanos no Vietnã acabaram sendo ofuscados por suas adaptações cinematográficas: “Rambo – Programado para Matar” (1982) e “O Franco Atirador” (1978)

No filme “Rambo”, o diretor  Ted Kotcheff foca principalmente na ação, deixando de lado as origens do personagem e os seus traumas vividos no Vietnã. O plot do filme gira em tono do conflito de Rambo com o xerife de uma pequena cidade do Kentucky.

Um dos pontos fortes do livro é a construção dos personagens principais. Rambo não é retratado como um herói ou um vilão, mas como um homem traumatizado pela guerra e pela rejeição da sociedade.

Ao ler o livro antes, os leitores terão a oportunidade de conhecer os traumas enfrentados pelo personagem e que até certo ponto, transformaram a sua personalidade. Depois disso... divirta-se com o filme que nada mais é do que um festival de explosões, tiros e pancadaria.

Bônus: Tubarão (1975)

Por que ler Tubarão (ver resenhas aqui e também aqui) antes do filme? Simples. Vários conflitos interpessoais, vários núcleos do romance e várias situações foram podadas para transformar o filme num blockbuster de aventura e suspense. Acrescente-se a isso, as alterações significativas na personalidade de personagens importantes da trama. Quer mais? Ok; vamos lá: o livro de Peter Benchley é um estudo do medo com personagens mais desenvolvidos deixando à mostra, de maneira escancarada, todos os seus medos, receios e inseguranças.

Por exemplo, quando os personagens Brody, Quint e Hooper saem em alto mar à caça do grande tubarão branco que fez várias vítimas na praia da pequena cidade de Amity, os três vivem uma série de conflitos que foram cortados do filme. Além disso, os receios, dúvidas e inseguranças tanto da tripulação quanto de outros personagens que vivem na cidade costeira de Amity são explorados de maneira mais profunda na obra literária de Benchley. Um desses conflitos envolve o xerife Brody e sua esposa Ellen que literalmente foi cortado da produção cinematográfica.

Na minha opinião, a galera que optar por assistir ao filme depois de ter completado a leitura do livro, verá na tela personagens mais completos com muitas de suas qualidades e principalmente defeitos expostos de maneira bem clara. Resumindo: o livro é muito mais completo. Por isso deve ser lido antes.

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