Olá galera, tudo na boa? Por aqui o “na boa” está um
pouco devagar, mas não posso reclamar. Aliás, os meu bons e saudosos pais me
ensinaram uma lição básica: “antes de reclamar de seus problemas, procure ver
os problemas dos outros”. Depois, essa lição foi aprimorada por uma outra
pessoa, também muito importante em minha vida, a qual amo de paixão. Lulu sempre
me diz – por coincidência, hoje mesmo ela me falou – antes de reclamar,
espernear ou maldizer, pegue o seu problema atual coloque num dosador
imaginário e meça, comparando esse seu problema com os problemas de outras
pessoas que que você conhece. Certamente, você irá encontrar problemas muito
piores do que o seu. Portanto, pare de reclamar, erga a cabeça e siga com a
vida.
Você pode até achar que essa atitude não passe de
conformismo, mas o que importa é que para mim, ela funciona como alavanca para tocar
a vida pra frente e com isso... parar de ficar se lamuriando.
Mas vamos deixar as divagações de lado e partir, de fato,
para o assunto principal dessa postagem que é o livro Beijo, de Roald Dhal –
isso mesmo, Beijo com vírgula – que acabei relendo. Optei
pela sua releitura enquanto aguardava a chegada de um box que havia comprado
com os três livros sobre História do Brasil escritos pelo jornalista Laurentino
Gomes, ganhador do Prêmio Jabuti. Como a minha prioridade eram esses três
livros, não queria começar a leitura de nenhuma outra obra com muitas páginas; achei
melhor aguardar a chega do box para dar início a leitura de 1808, 1822 e 1889. Assim, para
preencher esse espaço de tempo, tive a ideia de reler alguns contos curtos.
Optei por Beijo,. Inicialmente, pretendia ler dois ou três
contos apenas, até a chegada do box, mas entonce...
Cara, os contos são tão interessantes, mas tão interessantes
que mesmo sendo uma releitura, acabou me conquistando ou melhor,
reconquistando. Resultado: o box do Laurentino Gomes chegou e acabei optando
por deixa-lo um pouquinho mais na embalagem da Amazon até terminar a releitura
de Beijo,.
Um dos motivos que me prendeu ao livro - não o soltando por
nada – foi o caos intermitente presente das histórias, ou seja, você começa a
ler e quando tudo parece seguir para um determinado caminho que o leitor
espera; pronto; a história dá uma reviravolta que lhe deixa de queixo caído.
Ler os 11 contos de Beijo, é como andar por
uma estrada de madrugada, sem luar e na completa escuridão, não sabendo se o
caminho que você segue lhe reserva uma curva, um buraco ou pedras.
Vale frisar que não são histórias de terror, mas histórias
que exploram a literatura fantástica e algumas, até mesmo abordando o lado
cotidiano das nossas vidas. Só que o ‘simples’ nas mãos de um escritor como Dahl
acaba se transformando em joia lapidada já que ele foi um dos escritores mais
aclamados do mundo.
Como já publiquei a resenha de Beijo, em 2011 (veja
aqui); na postagem de hoje vou fazer uma rápida análise de cada um dos seus onze
contos. Vamos nessa.
01 – A dona da pensão
A Dona da Pensão é o conto que abre
o livro e apresenta aos leitores, o personagem Billy Weaver, um jovem de 17
anos, alto, bonito e com dentes brancos. Ele chega numa pequena cidade e
procura um lugar para passar a noite quando dá de cara com uma placa que diz
"Hospedaria".
Fascinado com a coincidência, pois mal havia começado a
busca, ele conhece uma senhora simpática, a dona da casa. Ela o recebe com chá
e biscoitos, apresenta os cômodos impecáveis e o valor que cobra é ridículo de
tão baixo.
Billy acaba descobrindo que outros dois jovens estiveram
nessa misteriosa pensão antes dele e... sumiram. Isto faz com que ele comece a investigar
e quando descobre o segredo daquela simpática senhora e dona de casa...
O conto tem um final abrupto, mas ao mesmo tempo muito interessante.
02 – William e Mary
A surpresa sempre está presente, como no conto Willian e
Mary, sobre uma mulher fumante que sempre é censurada pelo marido ao pegar
um cigarro; até o dia em que ele morre e um amigo cientista opta por guardar o
seu cérebro vivo em um pote. É a hora da reprimida viúva dar o troco.
03 – A ascensão aos
céus
A sra. Foster é uma esposa dedicada que sofre de uma
ansiedade extraordinária sempre que precisa pegar um avião ou um trem. O
problema é que o marido, o sr. Foster, parece sentir um prazer especial em
torturar a mulher. Mesmo sabendo que ela está tensa porque vai pegar um voo
para visitar a filha em Paris. O homem sente prazer em castigar
psicologicamente a esposa, não tendo pressa nenhuma para se arrumar. Sempre
lembra de apanhar algo no último minuto, caminhando lentamente em direção ao
carro, parando no meio do caminho para sentir o ar fresco da manhã.
A sra. Foster toma então uma decisão inesperada e muda a
maneira de se portar com o marido o que acaba causando um final trágico, mas
narrado com elegância.
04 - O prazer do
pastor
No conto O Prazer do Pastor, Dahl nos ensina
que querer levar vantagem em tudo nas custas de outras pessoas, principalmente
das mais humildes, pode custar caro. O Sr. Boggis, personagem central da
história, que o diga. Ele é um comerciante de antiguidades que se disfarça de
sacerdote para pode aplicar o golpe nos incautos e inocentes moradores de um
vilarejo. A maioria das casas desse local tem móveis ou peças antiguíssimas e
de raro valor. E assim, ele vai comprando essas peças, enganando os moradores,
e se enriquecendo. Sua sorte muda quando encontra uma família mais do que
ingênua e tenta dar o golpe da sua vida e que lhe renderá milhões. Só que o
tiro sai pela culatra. Dei muitas gargalhadas com esse conto. Coitado do falso
sacerdote.
05 – A srª Bixby e
o casaco do coronel
Fiquei surpreso com o final do conto e a exemplo de O prazer
do pastor também dei boas gargalhadas. Fiquei imaginando a cara de espanto
da Srª Bixby. Nesta história, uma mulher casada com um pacato dentista – a tal
da srª recebe um casaco de vison glamoroso de um homem com quem teve um caso.
Ela espera levar o casaco para sua casa sem despertar as suspeitas do marido,
mas logo descobre que o marido tem seus próprios planos.
06 – Geleia real
Um conto de terror com elementos fantásticos que me agradou muito.
Um jovem casal, Albert e Mabel, têm uma filha recém-nascida. A criança não come
e vem perdendo peso desde o nascimento. Albert, um apicultor, extrai das colmeias,
um produto chamado geleia real, usado para fazer larvas de abelhas crescerem, e
adiciona ao leite do bebê. O bebê, então, começa a beber vorazmente, ficando cada
dia mais gordo. O final é aterrorizante.
07 – Georgy Porgy
A história é narrada por um vigário sexualmente reprimido,
George, que tem um grande problema com mulheres. Por um lado, ele é louco por
elas - a mera visão de uma mulher de salto alto é o suficiente para excitá-lo
enormemente. Por outro lado, ele não suporta tocá-las ou estar perto delas.
George não entende o motivo desse paradoxo. Isso se torna um problema na vila
onde fica sua paróquia, pois as solteironas locais tentam seduzi-lo de todas as
maneiras. Ele resiste, mas uma finalmente coloca algo em sua bebida e...
08 – Gênese e
catástrofe
Conto baseado numa história real. Nesta história, Dahl deixa evidente que até uma
mulher legal pode ter um filho que acaba sendo um assassino em massa. Em Gênesis e
catástrofe, de Dahl, Klara Hitler teve 4 filhos que acabaram morrendo
antes de completarem três anos.
Ela acabou de dar à luz e fica muito ansiosa quando seu novo
bebê está com o médico sendo examinado porque ela não quer que outro de seus
bebês morra. Os médicos dizem que o bebê é normal e que não há nada de errado
com ele. Eventualmente, eles revelaram que o nome do bebê é Adolf. Acho que não
preciso escrever mais nada, não é?
09 – Edward, o
conquistador
Neste conto, um casal se dedica silenciosamente à vida no
campo quando um gato aparece de repente em suas vidas. Por vários motivos, a
esposa, Louisa, começa a acreditar firmemente que o gato é a reencarnação do
compositor Franz Liszt, crença que se baseia nos gostos musicais do gato na
música que Louisa toca ao piano, gostos que parecem coincidir. com o gato do
compositor.
Neste ponto, a tensão entre o casal aumenta. Edward não
apenas fica cético, mas também começa a demonstrar uma pitada de ciúme do gato
que em poucas horas conquistou o coração de sua esposa e que parece monopolizar
sua atenção. Este clima tenso rola até o desfecho final, um tanto... trágico.
10 – Porco
Porco foi o conto de Beijo, que mais me
impressionou. Dahl escreve sobre um garoto criado por uma tia vegetariana que o
alerta dos perigos de se comer carne. O menino cresce seguindo os conselhos da
tia e quando a parente morre, ele vai para a cidade em busca de sua herança.
O encontro do inocente jovem com o advogado golpista é outro
momento cômico do livro. Depois disso, a história é puro terror. Quando o rapaz
vegetariano para em uma lanchonete e em seguida num frigorífico.
Dahll deixa evidente nesse conto como a violência contra os
animais é legitimada, aceita como parte de um “processo natural”, a partir de
nossos hábitos de consumo.
11 – O campeão do
mundo
Para, pode parar tudo. Cara, dei muita, mas muita risada ou
melhor, gargalhadas com essa história que fecha a coletânea de “Beijo,”. O
final é apoteótico e não há como reprimir as gargalhadas.
No conto, Danny é um garoto muito inteligente, leal e
prestativo. Ele ajuda seu pai, um mecânico, a consertar carros de outras
pessoas num posto de gasolina. O pai de Danny é descrito como
"brilhante" no livro, porque ele sempre tem ideias incrivelmente
interessantes. Assim como seu avô, seu pai é um caçador furtivo mestre de
faisões e tem muitas maneiras criativas de pegá-los; até que num belo dia resolve
colocar em prática uma dessas “belas” ideais, entonce... o inesperado acontece.
Taí galera, um resumo dos onze contos de Beijo, de Roald Dahl. Um
livro que certamente recomendo.
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