Beijo, de Roald Dahl tem contos tão bons, mas tão bons que merecem ser relidos várias vezes

25 dezembro 2024

Olá galera, tudo na boa? Por aqui o “na boa” está um pouco devagar, mas não posso reclamar. Aliás, os meu bons e saudosos pais me ensinaram uma lição básica: “antes de reclamar de seus problemas, procure ver os problemas dos outros”. Depois, essa lição foi aprimorada por uma outra pessoa, também muito importante em minha vida, a qual amo de paixão. Lulu sempre me diz – por coincidência, hoje mesmo ela me falou – antes de reclamar, espernear ou maldizer, pegue o seu problema atual coloque num dosador imaginário e meça, comparando esse seu problema com os problemas de outras pessoas que que você conhece. Certamente, você irá encontrar problemas muito piores do que o seu. Portanto, pare de reclamar, erga a cabeça e siga com a vida. 

Você pode até achar que essa atitude não passe de conformismo, mas o que importa é que para mim, ela funciona como alavanca para tocar a vida pra frente e com isso... parar de ficar se lamuriando.

Mas vamos deixar as divagações de lado e partir, de fato, para o assunto principal dessa postagem que é o livro Beijo, de Roald Dhal – isso mesmo, Beijo com vírgula – que acabei relendo. Optei pela sua releitura enquanto aguardava a chegada de um box que havia comprado com os três livros sobre História do Brasil escritos pelo jornalista Laurentino Gomes, ganhador do Prêmio Jabuti. Como a minha prioridade eram esses três livros, não queria começar a leitura de nenhuma outra obra com muitas páginas; achei melhor aguardar a chega do box para dar início a leitura de 1808, 1822 e 1889. Assim, para preencher esse espaço de tempo, tive a ideia de reler alguns contos curtos. Optei por Beijo,. Inicialmente, pretendia ler dois ou três contos apenas, até a chegada do box, mas entonce...

Cara, os contos são tão interessantes, mas tão interessantes que mesmo sendo uma releitura, acabou me conquistando ou melhor, reconquistando. Resultado: o box do Laurentino Gomes chegou e acabei optando por deixa-lo um pouquinho mais na embalagem da Amazon até terminar a releitura de Beijo,.

Um dos motivos que me prendeu ao livro - não o soltando por nada – foi o caos intermitente presente das histórias, ou seja, você começa a ler e quando tudo parece seguir para um determinado caminho que o leitor espera; pronto; a história dá uma reviravolta que lhe deixa de queixo caído.

Ler os 11 contos de Beijo, é como andar por uma estrada de madrugada, sem luar e na completa escuridão, não sabendo se o caminho que você segue lhe reserva uma curva, um buraco ou pedras.

Vale frisar que não são histórias de terror, mas histórias que exploram a literatura fantástica e algumas, até mesmo abordando o lado cotidiano das nossas vidas. Só que o ‘simples’ nas mãos de um escritor como Dahl acaba se transformando em joia lapidada já que ele foi um dos escritores mais aclamados do mundo.

Como já publiquei a resenha de Beijo, em 2011 (veja aqui); na postagem de hoje vou fazer uma rápida análise de cada um dos seus onze contos. Vamos nessa.

01 – A dona da pensão

A Dona da Pensão é o conto que abre o livro e apresenta aos leitores, o personagem Billy Weaver, um jovem de 17 anos, alto, bonito e com dentes brancos. Ele chega numa pequena cidade e procura um lugar para passar a noite quando dá de cara com uma placa que diz "Hospedaria".

Fascinado com a coincidência, pois mal havia começado a busca, ele conhece uma senhora simpática, a dona da casa. Ela o recebe com chá e biscoitos, apresenta os cômodos impecáveis e o valor que cobra é ridículo de tão baixo.

Billy acaba descobrindo que outros dois jovens estiveram nessa misteriosa pensão antes dele e... sumiram. Isto faz com que ele comece a investigar e quando descobre o segredo daquela simpática senhora e dona de casa...

O conto tem um final abrupto, mas ao mesmo tempo muito interessante.

02 – William e Mary

A surpresa sempre está presente, como no conto Willian e Mary, sobre uma mulher fumante que sempre é censurada pelo marido ao pegar um cigarro; até o dia em que ele morre e um amigo cientista opta por guardar o seu cérebro vivo em um pote. É a hora da reprimida viúva dar o troco.

03 – A ascensão aos céus

A sra. Foster é uma esposa dedicada que sofre de uma ansiedade extraordinária sempre que precisa pegar um avião ou um trem. O problema é que o marido, o sr. Foster, parece sentir um prazer especial em torturar a mulher. Mesmo sabendo que ela está tensa porque vai pegar um voo para visitar a filha em Paris. O homem sente prazer em castigar psicologicamente a esposa, não tendo pressa nenhuma para se arrumar. Sempre lembra de apanhar algo no último minuto, caminhando lentamente em direção ao carro, parando no meio do caminho para sentir o ar fresco da manhã.

A sra. Foster toma então uma decisão inesperada e muda a maneira de se portar com o marido o que acaba causando um final trágico, mas narrado com elegância.

04 - O prazer do pastor

No conto O Prazer do Pastor, Dahl nos ensina que querer levar vantagem em tudo nas custas de outras pessoas, principalmente das mais humildes, pode custar caro. O Sr. Boggis, personagem central da história, que o diga. Ele é um comerciante de antiguidades que se disfarça de sacerdote para pode aplicar o golpe nos incautos e inocentes moradores de um vilarejo. A maioria das casas desse local tem móveis ou peças antiguíssimas e de raro valor. E assim, ele vai comprando essas peças, enganando os moradores, e se enriquecendo. Sua sorte muda quando encontra uma família mais do que ingênua e tenta dar o golpe da sua vida e que lhe renderá milhões. Só que o tiro sai pela culatra. Dei muitas gargalhadas com esse conto. Coitado do falso sacerdote.

05 – A srª Bixby e o casaco do coronel

Fiquei surpreso com o final do conto e a exemplo de O prazer do pastor também dei boas gargalhadas. Fiquei imaginando a cara de espanto da Srª Bixby. Nesta história, uma mulher casada com um pacato dentista – a tal da srª recebe um casaco de vison glamoroso de um homem com quem teve um caso. Ela espera levar o casaco para sua casa sem despertar as suspeitas do marido, mas logo descobre que o marido tem seus próprios planos.

06 – Geleia real

Um conto de terror com elementos fantásticos que me agradou muito. Um jovem casal, Albert e Mabel, têm uma filha recém-nascida. A criança não come e vem perdendo peso desde o nascimento. Albert, um apicultor, extrai das colmeias, um produto chamado geleia real, usado para fazer larvas de abelhas crescerem, e adiciona ao leite do bebê. O bebê, então, começa a beber vorazmente, ficando cada dia mais gordo. O final é aterrorizante.

07 – Georgy Porgy

A história é narrada por um vigário sexualmente reprimido, George, que tem um grande problema com mulheres. Por um lado, ele é louco por elas - a mera visão de uma mulher de salto alto é o suficiente para excitá-lo enormemente. Por outro lado, ele não suporta tocá-las ou estar perto delas. George não entende o motivo desse paradoxo. Isso se torna um problema na vila onde fica sua paróquia, pois as solteironas locais tentam seduzi-lo de todas as maneiras. Ele resiste, mas uma finalmente coloca algo em sua bebida e...

08 – Gênese e catástrofe

Conto baseado numa história real.  Nesta história, Dahl deixa evidente que até uma mulher legal pode ter um filho que acaba sendo um assassino em massa. Em Gênesis e catástrofe, de Dahl, Klara Hitler teve 4 filhos que acabaram morrendo antes de completarem três anos.

Ela acabou de dar à luz e fica muito ansiosa quando seu novo bebê está com o médico sendo examinado porque ela não quer que outro de seus bebês morra. Os médicos dizem que o bebê é normal e que não há nada de errado com ele. Eventualmente, eles revelaram que o nome do bebê é Adolf. Acho que não preciso escrever mais nada, não é?

09 – Edward, o conquistador

Neste conto, um casal se dedica silenciosamente à vida no campo quando um gato aparece de repente em suas vidas. Por vários motivos, a esposa, Louisa, começa a acreditar firmemente que o gato é a reencarnação do compositor Franz Liszt, crença que se baseia nos gostos musicais do gato na música que Louisa toca ao piano, gostos que parecem coincidir. com o gato do compositor.

Neste ponto, a tensão entre o casal aumenta. Edward não apenas fica cético, mas também começa a demonstrar uma pitada de ciúme do gato que em poucas horas conquistou o coração de sua esposa e que parece monopolizar sua atenção. Este clima tenso rola até o desfecho final, um tanto... trágico.

10 – Porco

Porco foi o conto de Beijo, que mais me impressionou. Dahl escreve sobre um garoto criado por uma tia vegetariana que o alerta dos perigos de se comer carne. O menino cresce seguindo os conselhos da tia e quando a parente morre, ele vai para a cidade em busca de sua herança.

O encontro do inocente jovem com o advogado golpista é outro momento cômico do livro. Depois disso, a história é puro terror. Quando o rapaz vegetariano para em uma lanchonete e em seguida num frigorífico.

Dahll deixa evidente nesse conto como a violência contra os animais é legitimada, aceita como parte de um “processo natural”, a partir de nossos hábitos de consumo.

11 – O campeão do mundo

Para, pode parar tudo. Cara, dei muita, mas muita risada ou melhor, gargalhadas com essa história que fecha a coletânea de “Beijo,”. O final é apoteótico e não há como reprimir as gargalhadas.

No conto, Danny é um garoto muito inteligente, leal e prestativo. Ele ajuda seu pai, um mecânico, a consertar carros de outras pessoas num posto de gasolina. O pai de Danny é descrito como "brilhante" no livro, porque ele sempre tem ideias incrivelmente interessantes. Assim como seu avô, seu pai é um caçador furtivo mestre de faisões e tem muitas maneiras criativas de pegá-los; até que num belo dia resolve colocar em prática uma dessas “belas” ideais, entonce... o inesperado acontece.

Taí galera, um resumo dos onze contos de Beijo, de Roald Dahl. Um livro que certamente recomendo.

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