O Homem dos 13 Pontos

19 maio 2024

Maurício Kubrusly

Interessei-me pelo livro de Maurício Kubrusly após ter ouvido um podcast onde ele foi entrevistado, acho que na CNN. Nesta entrevista ele explicava que aceitou escrever O Homem dos 13 Pontos como uma forma de desafio. Ele queria provar para um amigo – isso lá nos idos da década de 1970 – que era possível publicar um livro com um pseudônimo, ou seja, sem o seu nome verdadeiro que já era muito conhecido no meio jornalístico naquela época. O seu amigo não acreditava nisso porque naqueles saudosos anos 70, as editoras não davam muito crédito para escritores novatos ou desconhecidos, além disso, publicar um livro de maneira independente era loucura devido aos altos custos e o pouco retorno financeiro, ainda mais sendo um escritor desconhecido. Tudo bem, o desafio foi aceito e assim nasceria em 1975 “Os 13 Pontos” escrito por sujeito mais do que desconhecido chamado Mauro Demack.

Kubrusly apresentou o original da obra escrita pelo seu alter ego  para várias editoras sem revelar o seu verdadeiro nome e obviamente, todas elas rejeitaram a história. Quer saber o que Kubrusly fez? Ok; eu conto. Ele, ou melhor, Mauro Demack, resolveu publicar o livro com os seus próprios recursos. O jornalista foi juntando dinheiro, ele e a mulher, e de “migalhas em migalhas” juntou a quantia necessária e pimba! Conseguiu publicar a história de maneira independente em 1975.

Kubrusly deixou três exemplares em uma farmácia e a fama do livro foi crescendo naturalmente. Então, os leitores começaram “correr” atrás da obra, mas não a encontravam. Aqui, cabe um outra “PIMBA”, mas dessa  vez escrito em letras bem maiúsculas porque as editoras – e várias delas – adivinhem? Simplesmente, elas ficaram interessadas pelo livro e loucas para saber quem havia escrito aquele enredo que misturava ação, humor e suspense num “bolo” só. Resultado: três anos depois dessa verdadeira proeza, Maurício Kubrusly foi convencido por um editor a relançar a obra, mas dessa vez com o seu nome verdadeiro. Nem preciso dizer que a história que foi rebatizada com o nome de O Homem dos 13 Pontos foi um sucesso total na época de seu lançamento em 1978.

Taí um pouquinho da origem do primeiro e acredito único romance – ele escreveu várias obras jornalísticas - publicado por essa lenda do meio jornalístico chamado Maurício Kubrusly, cujos textos adoráveis escritos de uma maneira única estão fazendo uma falta danada para nós leitores. Vale lembrar que o renomado jornalista foi diagnosticado no ano passado com demência frontotemporal (DFT), a mesma condição enfrentada pelo ator Bruce Willis.

Depois de viajar todo o país contando as mais inusitadas histórias com o "Me leva, Brasil", Kubrusly trocou São Paulo para viver em Serra Grande, no litoral sul da Bahia, a 43 km de Ilhéus. Ao lado da esposa Beatriz Goulart e do cachorro Shiva, a nova cidade tem feito bem ao jornalista, que agora convive com sequelas da doença, como a perda da memória.

Mas “falando” do livro em si; cara... gostei muito; muito, mesmo! Enredo leve, divertido e com pitadas de suspense, mas um suspense diferente, daqueles que chegam carregados de humor. Juro que o tempo passou voando e nem percebi quando terminei a leitura.

Acho que a época em que foi escrito colaborou para o charme de seu enredo. Na década de 70 quando a “Loteria Esportiva” com os seus 13 jogos e a “Loteria Federal” com os seus bichos famosos eram as duas únicas rainhas da festa, ganhar numa delas era um glamour. O apostador felizardo não fazia questão de ficar no anonimato, melhor dizendo, ele não queria ficar no anonimato. Gostoso, de fato, era se gabar que ele havia conseguido acertar os 13 pontos na Loteca ou ‘cravar’ os seis bichos na Federal. E se o sortudo fosse o único ganhador, o glamour aumentava ainda mais porque assim, ele passaria a ganhar o status de milionário, entrando para um grupo seleto de celebridades naquela década.

Hoje, no mundo violento em que vivemos onde os sequestradores fazem plantão em cada esquina, esse glamour deixou de existir. Imagine, atualmente, você ganhar sozinho na +Milionária - cujo prêmio, até o concurso 146 estava em R$ 187 milhões - e logo depois sair por aí bradando aos quatro ventos que ganhou sozinho essa fortuna. E como não bastasse, ainda resolvesse dar uma entrevista coletiva para falar sobre o assunto? Galera, seria algo tão inviável que acabaria ganhando ares de surreal. Concordam?

Pois é, mas é dessa maneira que se comporta o personagem principal de O Homem dos 13 Pontos que não foi premiado na +Milionária, mas a certou sozinho os 13 pontos da Loteria Esportiva ganhando um prêmio quase perto do valor atual da +Milionária. Esta é a essência do enredo do romance escrito por Kubrusly ou, como queiram, Mauro Demack.

No enredo, após ganhar só ele o prêmio da Loteca, Gilberto consegue realizar todos os seus sonhos – mulheres bonitas, carros novos, viagens, enfim um novo padrão vida – mas então começam a surgir os problemas que acabam se transformando em verdadeiros pesadelos até a surpresa final quando todo o mistério é revelado.

Acho que basta escrever apenas isso porque se revelar mais sobre a trama creio que acabarei entregando com spoillers trechos deliciosos do livro.

Ah! E não se enganem pela simplicidade do layout da obra, já que ela foi publicada no formato livro de bolso com páginas em papel jornal. Lembrem-se daquele ditado: “a embalagem não importa, o que importa é o conteúdo”, o que cabe perfeitamente para O Homem dos 13 Pontos.

Boa leitura!

2 comentários

  1. Achei essa história muito interessante, deu vontade de ler esse livro

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    1. É uma história leve, simples, mas prende a atenção do leitor. Acho que você vai gostar.

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