Se você quiser entender, de fato, a essência de um
enredo de literário, a releitura dessa obra se torna indispensável. Acredito
que só após o leitor ter relido um livro é que ele passará a entender todas as
suas nuances, ou seja, as qualidades e até mesmo os defeitos não enxergados
durante o entusiasmo da leitura. Foi exatamente isto que aconteceu comigo ao
reler o o elogiadíssimo livro de Taylor Caldwell, Médicos de Homens e de Almas, que vendeu milhares de cópias em todo
o mundo desde a sua primeira publicação em 1958.
Uma curiosidade que vale a pena citar nessa resenha é
que Caldwell levou quarenta e seis anos para escrever esse emocionante livro
sobre a vida de São Lucas. E aqui, cabe uma outra curiosidade, Lucano ou Lucas,
foi o único apóstolo que não era judeu, nunca viu Cristo, e tudo o que está
escrito em seu Evangelho e também nos Atos dos Apóstolos foi reunido por meio
de pesquisas e testemunhos da mãe de Cristo, dos discípulos e dos apóstolos.
E quer saber? Amei a releitura. Amei, mesmo! Apesar de
ser um livro muito descritivo – algumas dessas descrições ocupam quase
capítulos inteiros da obra – o seu enredo é viciante. Por isso costumo afirmar
que Caldwell foi uma das poucas autoras, senão a única, que consegue ser
exageradamente descritiva sem deixar a sua história enjoativa. Sei lá galera,
não é algo que se consegue explicar de maneira técnica, só posso dizer que as
suas várias páginas com descrições extensas e poucos diálogos não cansam, pelo
contrário, encantam.
A autora usa essa técnica porque não sabe escrever
diálogos entre os seus personagens? Longe disso. Os diálogos escritos por
Caldwell são tão deliciosos quanto as suas descrições. E para aqueles leitores
que torcem o nariz para as chamadas biografias romanceadas por acreditarem que
não são fiéis aos fatos envolvendo a vida do biografado; tal afirmação não cabe
para Médicos de Homens e de Almas.
Por que não cabe? Simples. Como já citei no início dessa resenha, Caldwell
demorou 46 anos para escrever o seu livro. Foram mais de quatro décadas e meia
pesquisando detalhes e minúcias sobre a vida do apóstolo São Lucas. Por isso,
na minha opinião, dar uma pitada de romance no seu texto, deixou a sua história
ainda mais interessante, bem mais palatável.
O livro é rico em detalhes históricos e com uma
narrativa emocionante. Conhecemos a infância de Lucas ou Lucano; a sua revolta
com Deus – passando a trata-lo até mesmo com o inimigo - ao perder duas pessoas, as quais amava
profundamente; as suas peregrinações como médico; os seus milagres; as suas
alegrias, as suas tristezas e claro, o momento da sua conversão quando ele
reencontrou a sua fé.
Médicos
de Homens e de Almas mostra em detalhes como foi o encontro de
São Lucas com personagens bíblicos importantes como por exemplo: Pôncio
Pilatos; Herodes Antipas e o centurião romano que estava em Jerusalém com uma
centena de soldados e pediu para que Jesus curasse um servo seu que estava
doente, dando origem a conhecida frase que se encontra nos evangelhos,
inclusive no de Lucas: “Senhor, não mereço receber-te debaixo do meu teto. Mas
dize apenas uma palavra, e o meu servo será curado”. Outros encontros marcantes
que acontecem no livro envolvem Lucas e seu irmão Prisco, um soldado romano,
que presenciou a crucificação de Cristo e a conta detalhadamente para o
evangelista; Ramo, um escravo que Lucas tornou liberto e testemunhou a cura de
um grupo de cegos por Cristo; além de outras interações que aparecem nos
evangelhos que fazem parte do Novo Testamento na Bíblia Sagrada.
Mas o encontro de Lucano e de Maria - a mulher que
carregou Deus em seu ventre - e que acontece nas últimas páginas do enredo é,
sem dúvida, o momento mais emocionante da obra, capaz de quebrar em pedacinhos
o mais duro dos corações.
Lucano passa um longo período à procura de Maria e
quando ele descobre o seu paradeiro... agüenta coração!!! O encontro dos dois é
uma avalanche de emoções.
Maria relata ao evangelista detalhes da infância de
Jesus; do amor de seu esposo José pelo Menino Deus. A Virgem Imaculada conta,
ainda, de maneira minuciosa, como foi o momento da aparição do Arcanjo Gabriel
que anunciou que ela seria a mãe de Jesus. Descreve também detalhes de seu
encontro com a prima Isabel e da origem do canto Magnificat; além de outras
revelações.
Mesmo não tendo a oportunidade de conhecer Cristo,
pessoalmente, São Lucas, que ao que tudo indica teria nascido na Antioquia, se
tornou o maior defensor da fé cristã e, como Saulo de Tarso (mais tarde Paulo,
o apóstolo dos gentios), não acreditava que Nossos Senhor Jesus Cristo tinha
vindo para salvar apenas os judeus.
Antes de se tornar um dos maiores apóstolos de Cristo,
Lucas foi um grande médico que viajou para vários países do mundo sempre com o
firme propósito de cuidar da saúde dos mais pobres e miseráveis, que não tinham
condições de pagar por um médico particular.
Médico
de Homens e de Almas é um livro que merece, com certeza, o
status de antológico. Daqueles que devem ser relidos mais de uma vez.
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