Após ter lido o livro do jornalista Luiz Felipe
Carneiro posso afirmar que Rock in Rio - A
História: Bastidores, Segredos, Shows e Loucuras Que Marcaram o Maior Festival
do Mundo é uma verdadeira “bíblia” para todos os leitores que desejam
conhecer a fundo o principal evento musical brasileiro - pelo menos é dessa
maneira que eu vejo o Rock in Rio. Vou um pouquinho mais além: o principal
evento de música em nosso País desde a época dos inesquecíveis festivais de MPB
e do saudoso Festival Internacional da Canção (FIC) que marcaram os anos 60 e
70. “Digo” isso porque com o passar dos anos, o Rock in Rio acabou se
transformando num festival de música que engloba todos os gêneros musicais,
desde os mais conhecidos aos menos conhecidos. Já a partir de sua segunda
edição, a atração deixou de reunir apenas roqueiros e metaleiros para ampliar o
seu leque, convidando outros ritmos a fazerem parte do evento. Assim, foram
chegando o samba, a MPB, o Pop, o Dance, e acreditem: o fado, a música alemã,
caribenha e por aí afora, graças a brilhante ideia dos produtores do festival
em criarem o denominado Palco Sunset com a proposta de divulgar ritmos menos
conhecidos, além de promover encontros, muitas vezes inusitados, entre artistas
ao longo do dia até a noite. Com isso, o Rock in Rio passou a contar com dois
palcos: o Sunset e o Mundo. Lembrando que o palco Mundo estava reservado para
as atrações principais.
O livro de Felipe Carneiro destrincha as origens do
Rock in Rio, ou seja, como tudo começou lá nos idos de 1985 até evolução dos
tempos atuais quando o festival extrapolou fronteiras passando a acontecer
também em Lisboa e Madri. O autor aborda em sua narrativa os eventos de oito
festivais que ‘rolaram’ em solo brasileiro: 1985, 1991, 2001, 2011, 2013, 2015,
2017 e 2019.
Em certo momento, a narrativa de Rock in Rio – A História passa a ser muito detalhista, passando a
descrever os mínimos detalhes dos shows realizados. Mais ou menos assim:
“fulano cantou essa música, depois mais essa e encerrou com essa”, “tal grupo
musical entrou no palco, afinaram os instrumentos, olharam para o público
e...”, “depois da apresentação da cantora tal, a próxima convidada entrou no
palco e cantou uma música, enquanto o telão refletia a sua imagem onde ela
dançava e ...”. Entenderam? São detalhes, detalhes e mais detalhes; alguns que
na minha opinião, acabaram deixando certos capítulos cansativos. Essa explosão
de detalhes ocorre mais a partir da edição de 2011, ou seja, do meio do livro
em diante, onde o autor passa a ser hiper-detalhista nas descrições das
atrações do Palco Sunset.
Esta mudança de foco depõe contra a obra? De maneira
alguma, pelo contrário: vai deixa-la ainda mais completa como se os leitores
estivessem lá, na frente do palco. Quando cheguei nessa parte do livro procurei
intercalar a sua leitura com uma outra obra e a partir da daí o “negócio” foi
fluindo.
Agora, vou de contar uma ‘cosita’. Devorei numa tacada
só os capítulos referentes as edições de 1985, 1991 e 2001 que deixaram de lado
as explicações detalhadas de shows para se ater mais as informações de
bastidores e da odisseia do empresário Roberto Medina em tentar implantar um
evento dessa grandeza em nosso País.
Felipe Carneiro nos conta como quase o Rock in Rio não
aconteceu em 1985 por causa de divergências políticas, tendo sido necessário
até mesmo a intervenção de Tancredo Neves para que o festival tivesse “sinal
azul”. Devorei os capítulos que abordam as dificuldades de Medina em contratar
artistas para o primeiro Rock in Rio quando o Brasil ainda não tinha tradição
na realização de shows internacionais. Nessa época, grandes nomes da música
internacional esnobavam o nosso País, recusando se apresentar em terras
tupiniquins. Quando Medina estava quase desistindo da realização do festival
por causa de tantas recusas, até mesmo de cantores e grupos medianos, ele teve
uma ideia genial que despertou o interesse desses artistas chegando ao ponto do
grupo Queen, um dos mais famosos daquela época, em aceitar correndo o convite
para se apresentar no evento.
Adorei as fofocas de bastidores contadas por Amin
Khader que foi coordenador de backstage das primeiras edições do Rok in Rio.
Uma das passagens mais icônicas reveladas por Khader foi a chegada “triunfal”
de Freddie Mercury num helicóptero, esnobando todos os artistas brasileiros que
se encontravam no local para conhece-lo. Como era, na realidade, a rotina de
bastidores de Ozzy Osbourne, conhecido na época por devorar morcegos em seus
shows. A atitude totalmente “fora da casinha” que Rod Stewart teve no hotel
onde estava hospedado. Como foi o comportamento de Nina Hagen nos bastidores.
Cara, me prendi com essa parte das chamadas fofocas de bastidores.
O livro também traz revelações importantes como a de
que por muito pouco os Bee Gees não se apresentaram no Rock in Rio 2, em 1991, aquele
realizado no estádio do Maracanã. O motivo dos Rolling Stones, Bob Dylan e
Michael Jackson, considerados grandes nomes dos showbiz nos anos 80, 90 e
início de 2000 nunca terem se apresentado no Rock in Rio. Além de outras revelações
importantes.
O autor insere ainda o Rock in Rio dentro do contexto
político brasileiro onde em 1985, durante a sua primeira edição, o País vivia uma
fase de transição da ditadura militar para a democracia. Foi nesse período que
aconteceram as eleições indiretas que teve na disputa para presidente da
República: Tancredo Neves e Paulo Maluf. Os leitores ganham a oportunidade de
saber como essa disputa política influenciou no evento musical.
As passagens envolvendo as apresentações de Erasmo
Carlos, Carlinhos Brown e Lobão que durante as suas apresentações foram vaiados
e hostilizados por grupos de metaleiros que aguardavam impacientes as
apresentações de suas bandas preferidas. Erasmo teve um baita sangue frio,
Carlinhos Brown continuou se apresentando e ao mesmo tempo tirando o sarro mandando
todos os metaleiros enfiarem o dedinho (“dedinho”, foi esse mesmo o termo que
ele usou), enquanto Lobão parou o seu show, virou as costas e foi embora, não
sem antes mandarem todos tomarem no.... (mas tomada no... de uma maneira bem
diferente).
Portanto taí galera; trata-se de um grande livro,
apesar do excesso de descrições dos shows, principalmente no Palco Sunset.
Vale muito a leitura.
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