Rock in Rio - A História

11 janeiro 2023

Após ter lido o livro do jornalista Luiz Felipe Carneiro posso afirmar que Rock in Rio - A História: Bastidores, Segredos, Shows e Loucuras Que Marcaram o Maior Festival do Mundo é uma verdadeira “bíblia” para todos os leitores que desejam conhecer a fundo o principal evento musical brasileiro - pelo menos é dessa maneira que eu vejo o Rock in Rio. Vou um pouquinho mais além: o principal evento de música em nosso País desde a época dos inesquecíveis festivais de MPB e do saudoso Festival Internacional da Canção (FIC) que marcaram os anos 60 e 70. “Digo” isso porque com o passar dos anos, o Rock in Rio acabou se transformando num festival de música que engloba todos os gêneros musicais, desde os mais conhecidos aos menos conhecidos. Já a partir de sua segunda edição, a atração deixou de reunir apenas roqueiros e metaleiros para ampliar o seu leque, convidando outros ritmos a fazerem parte do evento. Assim, foram chegando o samba, a MPB, o Pop, o Dance, e acreditem: o fado, a música alemã, caribenha e por aí afora, graças a brilhante ideia dos produtores do festival em criarem o denominado Palco Sunset com a proposta de divulgar ritmos menos conhecidos, além de promover encontros, muitas vezes inusitados, entre artistas ao longo do dia até a noite. Com isso, o Rock in Rio passou a contar com dois palcos: o Sunset e o Mundo. Lembrando que o palco Mundo estava reservado para as atrações principais.

O livro de Felipe Carneiro destrincha as origens do Rock in Rio, ou seja, como tudo começou lá nos idos de 1985 até evolução dos tempos atuais quando o festival extrapolou fronteiras passando a acontecer também em Lisboa e Madri. O autor aborda em sua narrativa os eventos de oito festivais que ‘rolaram’ em solo brasileiro: 1985, 1991, 2001, 2011, 2013, 2015, 2017 e 2019.

Em certo momento, a narrativa de Rock in Rio – A História passa a ser muito detalhista, passando a descrever os mínimos detalhes dos shows realizados. Mais ou menos assim: “fulano cantou essa música, depois mais essa e encerrou com essa”, “tal grupo musical entrou no palco, afinaram os instrumentos, olharam para o público e...”, “depois da apresentação da cantora tal, a próxima convidada entrou no palco e cantou uma música, enquanto o telão refletia a sua imagem onde ela dançava e ...”. Entenderam? São detalhes, detalhes e mais detalhes; alguns que na minha opinião, acabaram deixando certos capítulos cansativos. Essa explosão de detalhes ocorre mais a partir da edição de 2011, ou seja, do meio do livro em diante, onde o autor passa a ser hiper-detalhista nas descrições das atrações do Palco Sunset.

Esta mudança de foco depõe contra a obra? De maneira alguma, pelo contrário: vai deixa-la ainda mais completa como se os leitores estivessem lá, na frente do palco. Quando cheguei nessa parte do livro procurei intercalar a sua leitura com uma outra obra e a partir da daí o “negócio” foi fluindo.

Agora, vou de contar uma ‘cosita’. Devorei numa tacada só os capítulos referentes as edições de 1985, 1991 e 2001 que deixaram de lado as explicações detalhadas de shows para se ater mais as informações de bastidores e da odisseia do empresário Roberto Medina em tentar implantar um evento dessa grandeza em nosso País.

Felipe Carneiro nos conta como quase o Rock in Rio não aconteceu em 1985 por causa de divergências políticas, tendo sido necessário até mesmo a intervenção de Tancredo Neves para que o festival tivesse “sinal azul”. Devorei os capítulos que abordam as dificuldades de Medina em contratar artistas para o primeiro Rock in Rio quando o Brasil ainda não tinha tradição na realização de shows internacionais. Nessa época, grandes nomes da música internacional esnobavam o nosso País, recusando se apresentar em terras tupiniquins. Quando Medina estava quase desistindo da realização do festival por causa de tantas recusas, até mesmo de cantores e grupos medianos, ele teve uma ideia genial que despertou o interesse desses artistas chegando ao ponto do grupo Queen, um dos mais famosos daquela época, em aceitar correndo o convite para se apresentar no evento.

Adorei as fofocas de bastidores contadas por Amin Khader que foi coordenador de backstage das primeiras edições do Rok in Rio. Uma das passagens mais icônicas reveladas por Khader foi a chegada “triunfal” de Freddie Mercury num helicóptero, esnobando todos os artistas brasileiros que se encontravam no local para conhece-lo. Como era, na realidade, a rotina de bastidores de Ozzy Osbourne, conhecido na época por devorar morcegos em seus shows. A atitude totalmente “fora da casinha” que Rod Stewart teve no hotel onde estava hospedado. Como foi o comportamento de Nina Hagen nos bastidores. Cara, me prendi com essa parte das chamadas fofocas de bastidores.

O livro também traz revelações importantes como a de que por muito pouco os Bee Gees não se apresentaram no Rock in Rio 2, em 1991, aquele realizado no estádio do Maracanã. O motivo dos Rolling Stones, Bob Dylan e Michael Jackson, considerados grandes nomes dos showbiz nos anos 80, 90 e início de 2000 nunca terem se apresentado no Rock in Rio. Além de outras revelações importantes.

O autor insere ainda o Rock in Rio dentro do contexto político brasileiro onde em 1985, durante a sua primeira edição, o País vivia uma fase de transição da ditadura militar para a democracia. Foi nesse período que aconteceram as eleições indiretas que teve na disputa para presidente da República: Tancredo Neves e Paulo Maluf. Os leitores ganham a oportunidade de saber como essa disputa política influenciou no evento musical.

As passagens envolvendo as apresentações de Erasmo Carlos, Carlinhos Brown e Lobão que durante as suas apresentações foram vaiados e hostilizados por grupos de metaleiros que aguardavam impacientes as apresentações de suas bandas preferidas. Erasmo teve um baita sangue frio, Carlinhos Brown continuou se apresentando e ao mesmo tempo tirando o sarro mandando todos os metaleiros enfiarem o dedinho (“dedinho”, foi esse mesmo o termo que ele usou), enquanto Lobão parou o seu show, virou as costas e foi embora, não sem antes mandarem todos tomarem no.... (mas tomada no... de uma maneira bem diferente).

Portanto taí galera; trata-se de um grande livro, apesar do excesso de descrições dos shows, principalmente no Palco Sunset.

Vale muito a leitura.

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