Vocês querem saber, de fato, quando um livro consegue
ultrapassar um filme, deixando a película para trás comendo poeira? Ok, eu
respondo na lata: leiam Mundo Perdido
de Michael Crichton e depois assistam ao filme de Steven Spielberg. Cara, o
livro é anos-luz melhor do que a produção cinematográfica de 1997, considerada
a sequência direta do megassucesso “O Parque dos Dinossauros”, esse sim, uma
adaptação à altura da obra literária.
Tudo no livro é melhor: enredo, personagens e claro,
os dinossauros. Sinceramente acho que o roteirista David Koepp pisou feio na
bola e entregou um material muito abaixo da expectativa para Spielberg dirigir.
O livro é tão superior ao filme que eu já o reli três ou quatro vezes; quanto a
película, assisti somente uma vez e confesso que após ter lido a obra de
Crichton perdi, completamente, o interesse pelo filme.
Para variar, no mês passado bateu uma vontade enorme
de reler – mais uma vez – Mundo Perdido
o que consequentemente acabou resultando nessa postagem que você lê agora.
Lembrando que já escrevi uma resenha sobre o livro nos primórdios do blog, em
2012; se quiser conferir acesse aqui.
Nessa nova resenha vou me ater mais na comparação da
história escrita com o filme. Começando pelos personagens. Enquanto o
roteirista da produção cinematográfica optou por centralizar a trama no
personagem Ian Malcolm; no livro ele se apresenta quase como um personagem
secundário, ou seja, um coadjuvante. Na minha opinião, os dois personagens
principais no contexto idealizado por Crichton são Richard Levine e Sarah
Harding. Justamente os mais prejudicados no filme. O primeiro deles foi cortado
por Koepp e o segundo foi alterado pelo roteirista; diga-se, alterado para
pior.
Talvez, para dar mais foco em Ian Malcolm, vivido por Jeff
Goldblum, optou-se por cortar Richard Levine, o que achei um enorme erro. Sei
lá, se essa decisão aconteceu por questões contratuais, exigência do ator ou o
escambau a quatro. O que sei é que foi um grande erro. Na trama escrita, tudo
gira em torno de Levine e Harding. Malcolm pouco faz no livro. Ele se apresenta
como uma espécie de assessor. Fora isso, excetuando o trecho em que o
Tiranossauro Rex ataca o trailer onde ele e Sara se encontram, suas aparições
na trama são quase sem importância. Do meio da história em diante, ele pouco
faz, a não ser ficar murmurando algumas frases desconexas sobre a “Teoria do
Caos”.
O contexto muda quando nos referimos a Richard Levine,
um paleontólogo autossuficiente e arrogante, mas por outro lado muito
inteligente que resolve explorar uma ilha isolada onde acredita existir animais
pré-históricos dos períodos Cretáceo e Jurássico. Levine acredita que a tal
ilha chamada Sorna é o local onde os dinossauros da empresa de biotecnologia
InGen eram clonados em suas várias instalações para depois serem transportados
para o Sítio A, a Ilha Nublar, onde ficava o Jurássic Park. O paleontólogo crê
que ainda existam alguns animais pré-históricos naquela ilha e assim, resolve
montar uma expedição com veículos e equipamentos ultramodernos para explorar o
local. Ele convida Malcolm e Sarah para participar, juntamente com outros
integrantes. Tudo transcorre dentro da noirmalidade até que Levine é vencido
por sua curiosidade e resolve partir para a ilha Sorna antes dos preparativos,
acompanhado apenas de um guia. Chegando lá, “a coisa” se complicada.
Após receberem uma mensagem de Levine, onde
supostamente entende-se que ele está em perigo, os seus amigos de expedição
resolvem também partir para ilha na esperança de salvá-lo. Chegando lá, tem o
início o “pega prá capá” o qual não pretendo estragar com spoillers.
Crichton foi muito feliz na criação de Levine. Ele é
um personagem complexo e de muitas facetas: algumas você admira e outras você
odeia. Crichton vai desconstruindo aos poucos um de seus personagens
principais. No início vemos um Levine destemido, seguro e autossuficiente, mas
conforme o enredo vai se desenrolando e chegando ao final, alguns fatos acabam
mudando a sua determinação e com isso vamos conhecendo o verdadeiro Levine.
Achei um put... de um personagem; um dos melhores criados pelo autor e que
inexplicavelmente foi podado do filme.
Quanto a Sarah Harding fiquei super-fã da jovem
bióloga e naturalista, especialista em estudo de campo dos predadores da
África, no caso leões e hienas, mas que acaba indo parar na ilha de Sorna,
lutando pela sua sobrevivência em meio a perigosos dinossauros carnívoros.
De maneira oposta ao personagem do filme de 1997
vivida por Julianne Moore (diga-se de passagem, uma excelente atriz), a Sarah
das páginas do livro te conquista logo de cara. Ela não é afoita como a sua
cara metade dos cinemas. Ela é muito corajosa, mas toda essa coragem tem como
alicerce uma inteligência aguçada baseada no senso. Ela enfrenta qualquer
obstáculo, por pior que seja, mas sempre com conhecimento de causa. Ela é muito
segura. Tão segura que qualquer um dos personagens do livro acaba se sentindo
bem perto dela. A sua empatia é incrível. E, infelizmente, faltou isso, para a
Sarah Harding do filme.
Outro personagem importante cortado do filme foi o Dr.
Thorne, engenheiro responsável pela construção e montagem dos veículos e demais
equipamentos da expedição. Ele é presença constante no livro, mas Koepp também
optou por tesoura-lo.
Além da poda e da alteração nos personagens, o plot do
enredo escrito por Crichton foi profundamente modificado pelo roteirista. Mêo! Ficou
uma caca, muito estranho. Que loucura (que loucura no pior sentido) ver aquele
Tiranossauro Rex perdido no meio da cidade! My God! Ao contrário do filme, no
livro, toda a ação se passa na Ilha de Sorna, no chamado Sítio B da InGen.
Enquanto a expedição de cientistas quer apenas estudar os dinossauros para
descobrir como eles foram extintos, os vilões comandados por Lewis Dodgson
querem roubar dos ninhos os ovos dos dinossauros para criarem um novo Jurassic
Park num novo local. Ao contrário, no
filme, o personagem John Hammond – que na duologia de Crichton morreu no
primeiro livro - quer que Ian Malcolm e um grupo de cientistas observem e
documente as criaturas antes que mercenários cheguem até eles. Hammond revela
que quer descobrir uma nova ilha onde as criaturas possam viver longe do
contato com as pessoas. Paralelamente a isso, um grupo de mercenários planeja
invadir a Ilha Sorna para capturar os animais vivos e leva-los para a cidade
onde planejam montar uma espécie de “Hopi Hari Jurássico”, mas com dinossauros
no lugar de brinquedos. Os dois grupos acabam entrando em conflito.
Resumindo, o plot original da obra literária é
muuuuuito, mas muuuuuito melhor do que aquele desenvolvido por Koepp. Quanto ao vilão Lewis Dodgson que no filme
foi substituído pelo insosso sobrinho de Hammond é outro ponto alto do livro;
muito diferente do Dodgson de “O Parque dos Dinossauros” que teve apenas uma
aparição relâmpago naquele filme e do Dodgson caricato ao extremo da recente
produção “Jurassic World 3: Domínio”.
E para finalizar essa resenha, não posso me esquecer,
é evidente, dos dinossauros dos livros que são muito mais aterrorizantes do que
os animais do filme. Os Tiranossauros (são dois no livro, isso mesmo) e os
velociraptores são muito amedrontadores e com elementos de terror em alguns
trechos.
Achei uma heresia o corte, por parte do roteirista, da
cena arrepiante em que os personagens, perto do final do livro, se escondem num
galpão, apenas para descobrir que os Carnotauros que os cercam podem se
camuflar no meio da vegetação como se fossem camaleões, tornando-se
praticamente invisíveis e por isso mesmo, mais letais; tão letais que chegam ao
ponto de intimidar os Velociraptores e os Tiranossauros duante a noite.
Adorei a releitura! Quanto ao filme... apenas
razoável.
Valeu!
2 comentários
Que resenha perfeita. Consegui senti toda a sua paixão pela leitura daqui mesmo.
ResponderExcluirConcordo contigo. O segundo filme é bem mais ou menos, mas o terceiro filme é um desastre tão grande que faz com que achemos o anterior uma obra-prima do cinema.
Obrigado! De fato, gostei muito do livro. Concordo com vc quanto a "Jurassic World: Dominium". Ficou algo estranho, fora da casinha. Aqueles gafanhotos gigantes.... aqueles dinossauros guiados por mira telescópica... Sinistro, muito sinistro (rs). Jurassic Park, continua imbatível.
ExcluirAbraços!!