Quem sou eu para cometer o sacrilégio de criticar o
gênio Edgar Allan Poe. Não sou e tampouco serei maluco para isso, mas...
Caraca! Perceberam como essa conjunção, o afamado
‘mas’, que é parente em primeiro grau do “porém”, “contudo” e do “todavia” é um
baita de um bagre ensaboado? Para não ficar em maus lençóis com alguém ou
alguma coisa que pretende criticar, ele primeiramente passa com toda a
delicadeza o algodão com o álcool para depois dar a picada. E neste texto, o
tal do ‘mas’ tem essa função e justamente com Poe.
Gente, os textos desse escritor americano
influenciaram grandes nomes da literatura contemporânea, mas não podemos negar
que eles – os textos – seguem uma dinâmica literária característica do século
XIX: linguagem rebuscada, vocabulário
culto e descrições detalhadas. Poe faz parte dessa geração.
Portanto, se você
já está acostumado ou viciado na linguagem descompromissada, leve e
direta dos autores atuais, com certeza irá estranhar “Histórias
Extraordinárias”, já que todos os 18 contos que compõem o livro foram escritos
no século XIX.
No meu caso, fiquei incomodado com o rebuscamento e
detalhismo das primeiras três histórias e juro que pensei em abandonar o livro,
mas fui persistente e prossegui com a leitura. Resultado: acabei me adaptando
com o estilo literário de Poe e daí para frente tudo fluiu normalmente. É
importante lembrar que encontrei a mesma dificuldade inicial com os livros
“Contos Fantásticos do Século XIX” e “Contos de Horror do Século XIX”.; pelo
mesmo motivo: conflitos de linguagens. Pois é, e tudo por culpa do meu vício
literário em Stephen King, César Bravo e Clive Barker (rs).
Mas isto serve como desculpa para criticar a obra de
Poe. Desde que você se adapte à linguagem daquela época, as histórias do autor,
pelo menos a maioria, são ótimas.
Gostei de “Os Crimes na Rua Morgue”, uma mistura de
suspense e investigação; “O Gato Preto”, um conto angustiante com doses
generosas de violência, o final me deixou com taquicardia; “ O Escaravelho de
Ouro” também pode ser considerado ‘trucão’, onde três personagens saem a caça
de um tesouro que poderá trazer sérias conseqüências; além de vários outros.
Um livro muito bom para os leitores contemporâneos,
desde que eles passem por um processo de adaptação para a linguagem de dois
séculos atrás.
Inté!
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