Na segunda-feira, dia 02 de outubro, um dos mais
sangrentos massacres da história do sistema prisional brasileiro completa 25
anos. Uma das páginas mais tristes da história do nosso País e que repercutiu
negativamente em todo o mundo.
Ainda me lembro que no dia 02 de outubro de 1992, no
auge da minha terceira década de vida, estava trabalhando na redação da mesma
rádio onde continuo exercendo as minhas atividades quando no início da tarde o
‘bicho pegou’ na Casa de Detenção do Carandiru.
Naquela época a Rota ainda era considerada uma
espécie de tropa de elite da Policia Militar (PM) e só era convocada para atuar
em áreas de conflito em situação excepcionais, já que a sua especialidade era o
policiamento ostensivo nas ruas da capital paulista. De repente, entra um
colega na sala gritando: - Gente, a Rota vai invadir o Carandiru! – Pronto, a emissora
virou um pandemônio.
Na realidade, além da Rota estavam do lado de fora
da detenção, os policiais do Gate, Choque, Cavalaria e Corpo de Bombeiros,
totalizando aproximadamente 300 homens.
De acordo com a direção do Carandiru e o comando da
PM, houve uma tentativa de negociação, ignorada pelos presos. Ex-detentos, por
outro lado, alegaram que os presos sinalizaram a rendição antes de a polícia
entrar.
A polícia invadiu o pavilhão por volta das
16h30. Logo no primeiro andar, os policiais toparam com barricadas e um
detento morto pendurado de cabeça para baixo. De acordo com a perícia, a
agressividade policial aumentou e cerca de 30 prisioneiros foram mortos fora
das celas neste pavimento. Do terceiro andar em diante, não havia indícios de
conflito
Na versão oficial, aconteceu uma emboscada dos
detentos, equipados com armas de fogo, estiletes e facas com sangue contaminado
e sacos plásticos com fezes e urina. A polícia revidou com disparos de fuzis e
metralhadoras e 60% das vítimas foram mortas entre o primeiro e o segundo
pavimento. Cerca de 70% dos disparos certeiros dos policiais atingiram o
tórax ou a cabeça dos presos. Resultado: 111 presos foram mortos.
O coronel Ubiratan Gonçalves que comandou a invasão
foi condenado a 632 anos de prisão.
Como não poderia ser diferente, um evento dessa
intensidade e que polarizou as atenções em todo o globo acabou gerando, ao
longo dos anos, muitas obras literárias. Vamos conferir cinco delas que tiveram
grande sucesso:
01
– Estação Carandiru (Drauzio Varella)
Lançado em 1999, o livro é considerado um dos
maiores fenômenos editoriais brasileiros, com mais de 460 mil exemplares
vendidos e Prêmio Jabuti 2000 de Livro do Ano de Não-Ficção. Foi adaptado com
grande sucesso para o cinema. Público e críticos aplaudiram de pé.
“Estação Carandiru” narra o convívio entre o médico
Drauzio Varella e os presos durante dez anos de atendimento voluntário na Casa
de Detenção do Carandiru. Conta a história de presos com quem manteve contato,
a rotina deles, os dramas vividos e as crueldades cometidas no presídio.
Destaque para a narração, conforme a versão dos detentos, do dia 2 de outubro
de 1992, quando a PM invadiu o pavilhão 9 e matou mais de 100 presos.
Algumas edições, possuem fotografias das celas e
também de outras partes do presídio, além de alguns cartazes escritos pelos
presos.
02
– Pavilhão 9 – Paixão e Morte no Carandiru (Hosmany Ramos)
Hosmany Ramos era um médico famoso, intelectual
refinado, no final dos anos 70. Trabalhou com grandes nomes como Ivo Pitanguy,
fazendo fama e fortuna, mas de repente, por razões que nem ele mesmo consegue
explicar, viu-se do outro lado da lei. Acusado de vários crimes, tráfico de
drogas, contrabando, estelionato e até mesmo assassinato foi condenado há mais
de 40 de prisão. Depois de 35 anos preso, Hosmany conseguiu a liberdade. Em
2016, recuperou a autorização do Conselho Regional de Medicina para voltar a
trabalhar.
Em 2001, ele escreveu um livro de contos cortantes,
secos e duros, que revelam violentas histórias ambientadas na Casa de Detenção
do Carandiru. Na realidade, “Pavilhão 9 – Paixão e Morte no Carandiru”, não
teria sido escrito por Hosmany, mas sim por outro pessoa. Explicando melhor:
Ele teria guardado, em segredo, o relato de um bandido que conviveu com ele em
sua cela e depois veio a falecer.
03
– Carandiru – Um Depoimento Póstumo (Renato Castelani)
Esta obra escrita em 2008 é o relato de um dos
presos do Carandiru executados no fatídico dia 2 de Outubro de 1992. Trata-se
um uma obra espírita que narra a história de um rapaz que se chamava Zeca, um garoto pobre e sem esperança que
viveu na Zona Norte de São Paulo.
Após ingressar no mundo das drogas e do dinheiro fácil,
acabou se afundando num mar de lama até ser preso e encaminhado para o
Carandiru. Naquela casa de detenção passou por dias difíceis e complicados. O
lado bom de tanto sofrimento é que foi no presídio que conheceu uma moça que
passou a visitá-lo com freqüência e que se transformou no grande amor de sua vida. Por ela, poderia ter se
salvado, mas acabou desencarnando no massacre que ocorreu em 1992. A obra é um
testemunho sobre o massacre e também sobre a vida de Zeca.
Após dar uma fuçada na Net com o objetivo de
encontrar mais informações sobre o livro, todos os comentários que eu li foram
só elogios. Grande parte dos leitores derramou elogios para a obra lançada pela
editora Lachâtre.
04
– Vidas do Carandiru (Humberto Rodrigues)
O jornalista
Humberto Rodrigues, preso por um ano e meio no Carandiru, conta neste relato
como encontrou histórias de otimismo e esperança em meio ao inferno da maior
penitenciária da América Latina.
Ele foi preso e condenado no dia 23 de maio de 2000
por um crime que não havia cometido. As autoridades só reconheceram que o
jornalista era inocente um ano e meio depois. Caraca!! Que penúria! Portanto,
ele viveu todo esse período no inferno do Carandiru, sofrendo poucas e boas e
comendo o pão que o coisa ruim amassou. O livro é dividido em duas partes, na
primeira, o autor retrata a sua
realidade na casa de detenção e na segunda, ele conta a história de 12 outros
presos.
Tenho um colega de trabalho que já leu “Vidas do
Carandiru” e gostou muito, principalmente da primeira parte onde Rodrigues
narra o seu dia a dia. Pois é galera, imagine uma pessoa que nunca esteve presa
e de repente é ‘jogada’, injustamente, num mundo movido por regras
completamente diferentes daquelas que regem a nossa sociedade. Tá loko!!
O livro é isso aí; pelo menos a primeira parte.
05
– Carcereiros (Drauzio Varella)
Olha o ‘homi’ novamente aí. Drauzio Varella é fera,
meu amigo! Após
narrar o cotidiano dos presos em “Estação Carandiru”, Varella conta a vida dos
agentes penitenciários, as dificuldades enfrentadas no trabalho e as
consequências dele nos relacionamentos com amigos e parentes.
O livro começa com a narrativa de como um carcereiro
experiente impediu que a rebelião no pavilhão 9 ultrapassasse o muro e
contagiasse os presos do pavilhão 8 do Carandiru. O agente também conseguiu
fazer com que a PM não entrasse no bloco oito naquele sangrento 2 de outubro.
Digo sempre para os meus amigos: vida de agente
penitenciário é barra. E, de fato, é. Vejam só, na cidade onde moro, esses
profissionais tem fama de ganhar um ótimo salário, mas por outro lado, não
vemos o que eles sofrem atrás das muralhas. Conheço muitos agentes que ao
chegarem perto da aposentadoria estão com o seu lado psicológico em frangalhos.
Imagine, então, o que seria ser um guarda de
presídio no Carandiru? “Carcereiros” aborda
com profundidade esse assunto. Varella narra os
tormentos pessoais dos carcereiros com anos de histórias pra contar, os
problemas familiares, os acertos de contas do crime, as corrupções dentro e
fora dos presídios e outras ‘cositas mas’.
Taí galera, escolha o seu e boa leitura!
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