5 livros sobre o massacre do Carandiru

29 setembro 2017
Na segunda-feira, dia 02 de outubro, um dos mais sangrentos massacres da história do sistema prisional brasileiro completa 25 anos. Uma das páginas mais tristes da história do nosso País e que repercutiu negativamente em todo o mundo.
Ainda me lembro que no dia 02 de outubro de 1992, no auge da minha terceira década de vida, estava trabalhando na redação da mesma rádio onde continuo exercendo as minhas atividades quando no início da tarde o ‘bicho pegou’ na Casa de Detenção do Carandiru.
Naquela época a Rota ainda era considerada uma espécie de tropa de elite da Policia Militar (PM) e só era convocada para atuar em áreas de conflito em situação excepcionais, já que a sua especialidade era o policiamento ostensivo nas ruas da capital paulista. De repente, entra um colega na sala gritando: - Gente, a Rota vai invadir o Carandiru! – Pronto, a emissora virou um pandemônio.
Na realidade, além da Rota estavam do lado de fora da detenção, os policiais do Gate, Choque, Cavalaria e Corpo de Bombeiros, totalizando aproximadamente 300 homens.
De acordo com a direção do Carandiru e o comando da PM, houve uma tentativa de negociação, ignorada pelos presos. Ex-detentos, por outro lado, alegaram que os presos sinalizaram a rendição antes de a polícia entrar. 
A polícia invadiu o pavilhão por volta das 16h30. Logo no primeiro andar, os policiais toparam com barricadas e um detento morto pendurado de cabeça para baixo. De acordo com a perícia, a agressividade policial aumentou e cerca de 30 prisioneiros foram mortos fora das celas neste pavimento. Do terceiro andar em diante, não havia indícios de conflito
Na versão oficial, aconteceu uma emboscada dos detentos, equipados com armas de fogo, estiletes e facas com sangue contaminado e sacos plásticos com fezes e urina. A polícia revidou com disparos de fuzis e metralhadoras e 60% das vítimas foram mortas entre o primeiro e o segundo pavimento. Cerca de 70% dos disparos certeiros dos policiais atingiram o tórax ou a cabeça dos presos. Resultado: 111 presos foram mortos.
O coronel Ubiratan Gonçalves que comandou a invasão foi condenado a 632 anos de prisão.
Como não poderia ser diferente, um evento dessa intensidade e que polarizou as atenções em todo o globo acabou gerando, ao longo dos anos, muitas obras literárias. Vamos conferir cinco delas que tiveram grande sucesso:
01 – Estação Carandiru (Drauzio Varella)
Lançado em 1999, o livro é considerado um dos maiores fenômenos editoriais brasileiros, com mais de 460 mil exemplares vendidos e Prêmio Jabuti 2000 de Livro do Ano de Não-Ficção. Foi adaptado com grande sucesso para o cinema. Público e críticos aplaudiram de pé.
“Estação Carandiru” narra o convívio entre o médico Drauzio Varella e os presos durante dez anos de atendimento voluntário na Casa de Detenção do Carandiru. Conta a história de presos com quem manteve contato, a rotina deles, os dramas vividos e as crueldades cometidas no presídio. Destaque para a narração, conforme a versão dos detentos, do dia 2 de outubro de 1992, quando a PM invadiu o pavilhão 9 e matou mais de 100 presos.
Algumas edições, possuem fotografias das celas e também de outras partes do presídio, além de alguns cartazes escritos pelos presos.
02 – Pavilhão 9 – Paixão e Morte no Carandiru (Hosmany Ramos)
Hosmany Ramos era um médico famoso, intelectual refinado, no final dos anos 70. Trabalhou com grandes nomes como Ivo Pitanguy, fazendo fama e fortuna, mas de repente, por razões que nem ele mesmo consegue explicar, viu-se do outro lado da lei. Acusado de vários crimes, tráfico de drogas, contrabando, estelionato e até mesmo assassinato foi condenado há mais de 40 de prisão. Depois de 35 anos preso, Hosmany conseguiu a liberdade. Em 2016, recuperou a autorização do Conselho Regional de Medicina para voltar a trabalhar.
Em 2001, ele escreveu um livro de contos cortantes, secos e duros, que revelam violentas histórias ambientadas na Casa de Detenção do Carandiru. Na realidade, “Pavilhão 9 – Paixão e Morte no Carandiru”, não teria sido escrito por Hosmany, mas sim por outro pessoa. Explicando melhor: Ele teria guardado, em segredo, o relato de um bandido que conviveu com ele em sua cela e depois veio a falecer.
03 – Carandiru – Um Depoimento Póstumo (Renato Castelani)
Esta obra escrita em 2008 é o relato de um dos presos do Carandiru executados no fatídico dia 2 de Outubro de 1992. Trata-se um uma obra espírita que narra a história de um rapaz que se chamava  Zeca, um garoto pobre e sem esperança que viveu na Zona Norte de São Paulo. 
Após ingressar no mundo das drogas e do dinheiro fácil, acabou se afundando num mar de lama até ser preso e encaminhado para o Carandiru. Naquela casa de detenção passou por dias difíceis e complicados. O lado bom de tanto sofrimento é que foi no presídio que conheceu uma moça que passou a visitá-lo com freqüência e que se transformou no grande  amor de sua vida. Por ela, poderia ter se salvado, mas acabou desencarnando no massacre que ocorreu em 1992. A obra é um testemunho sobre o massacre e também sobre a vida de Zeca.
Após dar uma fuçada na Net com o objetivo de encontrar mais informações sobre o livro, todos os comentários que eu li foram só elogios. Grande parte dos leitores derramou elogios para a obra lançada pela editora Lachâtre.
04 – Vidas do Carandiru (Humberto Rodrigues)
O jornalista Humberto Rodrigues, preso por um ano e meio no Carandiru, conta neste relato como encontrou histórias de otimismo e esperança em meio ao inferno da maior penitenciária da América Latina.
Ele foi preso e condenado no dia 23 de maio de 2000 por um crime que não havia cometido. As autoridades só reconheceram que o jornalista era inocente um ano e meio depois. Caraca!! Que penúria! Portanto, ele viveu todo esse período no inferno do Carandiru, sofrendo poucas e boas e comendo o pão que o coisa ruim amassou. O livro é dividido em duas partes, na primeira, o autor  retrata a sua realidade na casa de detenção e na segunda, ele conta a história de 12 outros presos.
Tenho um colega de trabalho que já leu “Vidas do Carandiru” e gostou muito, principalmente da primeira parte onde Rodrigues narra o seu dia a dia. Pois é galera, imagine uma pessoa que nunca esteve presa e de repente é ‘jogada’, injustamente, num mundo movido por regras completamente diferentes daquelas que regem a nossa sociedade. Tá loko!!
O livro é isso aí; pelo menos a primeira parte.
05 – Carcereiros (Drauzio Varella)
Olha o ‘homi’ novamente aí. Drauzio Varella é fera, meu amigo! Após narrar o cotidiano dos presos em “Estação Carandiru”, Varella conta a vida dos agentes penitenciários, as dificuldades enfrentadas no trabalho e as consequências dele nos relacionamentos com amigos e parentes.
O livro começa com a narrativa de como um carcereiro experiente impediu que a rebelião no pavilhão 9 ultrapassasse o muro e contagiasse os presos do pavilhão 8 do Carandiru. O agente também conseguiu fazer com que a PM não entrasse no bloco oito naquele sangrento 2 de outubro.
Digo sempre para os meus amigos: vida de agente penitenciário é barra. E, de fato, é. Vejam só, na cidade onde moro, esses profissionais tem fama de ganhar um ótimo salário, mas por outro lado, não vemos o que eles sofrem atrás das muralhas. Conheço muitos agentes que ao chegarem perto da aposentadoria estão com o seu lado psicológico em frangalhos.
Imagine, então, o que seria ser um guarda de presídio no Carandiru?  “Carcereiros” aborda com profundidade esse assunto. Varella narra os  tormentos pessoais dos carcereiros com anos de histórias pra contar, os problemas familiares, os acertos de contas do crime, as corrupções dentro e fora dos presídios e outras ‘cositas mas’.

Taí galera, escolha o seu e boa leitura!

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