Pesadelos e Paisagens Noturnas (Volumes 1 e 2)

31 julho 2017
Analisar um livro de contos de Stephen King é complicado, muito complicado. O bom pra mim pode ser ruim para outra pessoa. Tomo por base, a última postagem que fiz sobre “O Bazar dos Sonhos Ruins” – o mais recente lançamento do autor - onde afirmei que não havia gostado do livro que me decepcionou em muitas partes, tanto é verdade que dos vintes vinte contos, apenas dez me agradaram.
No dia seguinte à postagem recebi quatro e-mails de leitores; todos eles discordando do meu ponto de vista, afirmando que o livro de contos tinha sido um dos melhores já escritos por King. Agora, recentemente, recebi outras duas mensagens de leitores do blog, dessa vez, dizendo que o livro deixou a desejar.
Cheguei a conclusão há muito tempo que os contos do mestre terror sempre irão causar divergências em seus leitores, e algumas dessas divergências, é importante dizer, são bem díspares.
Vejam só o caso de “Pesadelos e Paisagens Noturnas – Volumes 1 e 2” lançadas pela primeira vez em 1993. Muitos fãs de King não gostaram dos dois livros ou pelo menos, da maioria dos contos, mas eu amei. É claro que não se compara com “Tripulação de Esqueletos” – este insuperável, acredito que King e, também, nenhum outro autor do gênero conseguirão escrever uma obra de contos de terror tão perfeita e arrepiante – mas as histórias dos dois volumes são muito boas. É evidente que alguns contos são fracos, mas isso é normal numa coletânea, fator do qual nem “Tripulação de Esqueletos” escapa, mas o importante é que após colocá-los todos na balança, você perceba que a maioria são bons.
“Pesadelos e Paisagens Noturnas” representa um dos períodos mais profícuos de King no que se refere a produção de contos. Ele estava com muitas idéias na cabeça o que acabou gerando histórias em grande profusão. Graças a essa fase produtiva nasceram os livros Sombras da Noite (1978), Tripulação de Esqueletos (1985) e Pesadelos e Paisagens Noturnas (1993). Podemos dizer que as idéias que saíam da cabeça do autor eram tantas que em 15 anos eles conseguiu escrever – além de outros 25 romances – mais três livros de contos de terror, considerados os seus primeiros do gênero.
“Pesadelos e Paisagens Noturnas faz parte dessa ‘leva’. O livro foi lançados nos States em volume único, mas no Brasil, a Objetiva optou por dividir as histórias em dois volumes. Para faturar mais? Provavelmente.
Os dois volumes contem uma coleção de histórias inquietantes com a marca inigualável do mestre do terror. Logo nas primeiras páginas, o leitor é levado para um mundo onde reinam o grotesco e o extraordinário, um lugar de pesadelos sombrios. Todo esse clima dark foi transferido para as telas de TV em 2006, quando alguns executivos do canal TNT decidiram criar uma série de terror baseada em contos do livro. A série teve apenas oito episódios e no Brasil, foi exibida pelo Warner Channel a partir de 17 de julho de 2007 e também pelo SBT nas madrugadas de quarta para quinta, às 02H30m, no Tele-Seriados, substituindo “O Exterminador do Futuro – Crônicas de Sarah Connor”. E olha eu, aqui, novamente do contra: a série de TV foi malhada pela crítica e também pelo público, mas... eu gostei.
Com relação aos livros, também apreciei a maioria dos contos. No livro 1, destaco “O Cadillac de Dolan” onde um homem decide vingar o assassinato de sua esposa, enterrando o assassino e seus cupinchas vivos no deserto de Nevada. Querem saber onde o Cadillac entra nessa trama macabra? Melhor lerem o conto. Apesar de não ser uma história de terror, propriamente dita, a trama engendrada pelo personagem para revidar a morte da mulher arrepia. Este conto foi adaptado para o cinema em 2009 com o nome “Sede de Vingança” com Christian Slater. Além desse, o livro tem ainda outros contos de qualidade:
* O Piloto da Noite: Um jornalista investiga várias mortes brutais cometidas por um estranho serial killer. As vítimas são encontradas em aeroportos remotos com dois furos no pescoço e sem sangue. A suspeita é de que os assassinatos sejam cometidos por um piloto-vampiro que conduz um misterioso avião.
* Que Sofram as Criancinhas: Uma professora pensa que as crianças de sua classe podem se transformar em monstros. Acreditando nessas visões, ela consegue matar várias delas até ser trancafiada num sanatório. Dúvida cruel: será que tudo não passava de um delírio ou as crianças, de fato, podiam se transformar em monstros horrendos.
* Popsy: Para conseguir pagar uma dívida à um perigoso criminoso, um homem começa a seqüestrar crianças e entregá-las para um pedófilo. Ao avistar um menino perdido num shopping, o seqüestrador vê uma oportunidade de ouro, mas após seqüestrar o garoto, ele percebe o erro que cometeu. A criança não estava esperando ‘alguém’ no shopping, mas algo sobrenatural que iniciará uma perseguição implacável ao seqüestrador
* O Dedo Semovente: Certo dia. Howard vê um dedo humano saindo do ralo da pia. Assustado, ele foge. A partir daí, o misterioso dedo começa a aparecer para ele todos os dias e cada vez mais cumprido. Mas que mistério é esse? Como aquele dedo foi aparecer num ralo de pia?
* Par de Tênis: Um homem, John Tell, que trabalha num estúdio de gravação, toda vez que necessita ir ao banheiro, no 3º andar, um lugar isolado e calmo, percebe que a mesma pessoa , usando o mesmo tênis ocupa o mesmo box. O tênis era velho e sujo, cheio de moscas. Independente da hora que Tell ia ao banheiro, o par de tênis estava lá. De quem eram? Por que nunca se mexiam? Ele conseguirá descobrir de uma maneira terrível.
No tocante ao volume 2 de “Pesadelos e Paisagens Noturnas” os contos também são ótimos, entre eles:
* Estação Chuvosa: Achei o máximo a atmosfera de terror e suspense criada por n King nesse conto. Ela vai crescendo à medida em que você lê o conto. Um casal, Elise e John Graham decidem passear, por alguns dias, numa pequena cidade. Ao chegarem, são recebidos por um velho e por uma mulher que os alertam para dormirem fora da cidade durante aquela noite. O motivo seria uma chuva misteriosa que acontece no lugarejo a cada sete anos. Uma chuva não só misteriosa, mas também bizarra e macabra. Elise e John ignoram o conselho e decidem passar a noite na cidadezinha. Eles irão se arrepender amargamente.
* As Pessoas das Dez Horas
Imagine o mundo sendo invadido por uma raça de mutantes ou monstros, mas somente um grupo de pessoas é capaz de ver essas estranhas criaturas e por isso mesmo, enfrentá-las de maneira astuciosa sem que elas percebam. Esta é a premissa do conto. As tais ‘pessoas das dez horas’ formam o grupo que tem o poder de identificar os invasores.
* O Caso do Doutor
Nesta história não há monstros ou seres estranhos. “O caso do Doutor” nos mostra um King experimentando novos gêneros, neste caso, o policial. E se saindo muito bem. Os personagens principais da história são Sherlock Holmes e o seu inseparável parceiro, Watson. 
No conto é Watson quem resolve o crime e não a mente aguçada de Holmes. Achei diferente e muito interessante.
* A Casa da Rua Maple
Quatro irmãos que juntamente com a mãe são agredidos com freqüência pelo padrasto violento descobrem que a casa em que moram está se transformando lentamente numa ‘coisa’ metálica. 
Assim, eles decidem utilizar esse estranho fenômeno para planejar uma vingança terrível contra o homem.
Galera, tudo bem, pode ser que a maioria não tenha aprovado os dois livros, mas no meu caso, gostei muito.
Inté! 

7 comentários

  1. Quando li o Vol. 1, há 10 anos aproximadamente, não gostei da maioria dos contos, tanto que não comprei o Vol. 2.
    Estou relendo os contos e os entendendo melhor, todos estão me agradando. Talvez por conhecer melhor outros trabalhos do autor. Penso em adquirir o Vol. 2 em breve.

    Parabéns, ótimo site.

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    1. De fato, 'Pesadelos e Paisagens Noturnas' é uma das obras mais polêmicas de King em termos de opiniões. Enquanto alguns consideram os contos fantásticos, outros não curtiram tanto. Eu e também você - pelo que deu a entender em seu comentário - pertencemos a categoria dos que gostaram.
      Fico feliz que tenha apreciado o trabalho do blog.
      Volte sempre!

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  2. Nunca havia me interessado muito em ler esses dois, pois são dos anos 90 e eu, particularmente, não acha lá muito boa essa fase do King.
    Mas, depois da resenha que você fez, deu vontade de ler ao menos todos os contos resenhados!
    Post com a qualidade de sempre, Jam!

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    1. Tex, gostei muito dos dois volumes de Pesadelos e Paisagens Noturnas, mas não poderia deixar de lhe dar uma dica muito importante: se ainda não leu, leia "Tripulação de Esqueletos", na minha opinião, o melhor livro de contos escrito por SK, como também o melhor do gênero.
      Grde abraço e continue enviando os seus comentários.

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  3. Já li o livro 1 e estou no livro 2. Achei bom o primeiro, mas comparando com os outros dois livros de contos que lo do autor(Bazar dos sonhos ruins e Sombras da noite) estão um pouco abaixo. Tem um conto do livro 2 que vc poderia muito bem ter resenhado sobre ele, que é o"Desculpe, número certo". Esse conto é escrito sob forma de roteiro de filme, o que achei meio esquisito no começo, já que não sou acostumado a ler nada do autor escrito sob essa perspectiva, porém depois que me adaptei a proposta, me envolvi no conto e o final é surpreendente!! Valeu colega, abração!!!

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    1. Olá,
      Como disse em resposta ao primeiro comentário desse post, "Pesadelos e Paisagens Noturnas" é uma das obras mais polêmicas do autor: alguns gostam, outros não; vários amam, muitos detestam. No final, tudo se resume a uma questão de gosto. Quanto ao "Bazar dos Sonhos Ruins", achei regular. Gostei apenas da metade dos contos. Agora, quando se fala de "Sombras da Noite", caráculas... sai de baixo! O livro é top dos top. Acredito que juntamente com "Tripulação de Esqueletos", são as melhores coletâneas de histórias curtas escritas pelo mestre do terror.
      OBS: Ooops! pulei, mesmo o conto "Desculpe, número certo". Desculpe aí. (rs)
      Grande abraço e volte sempre.

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    2. Ontem li O conto pessoas das 10 horas. Achei envolvente. Também li o Crouch End, que traz referência ao mundo de Lovecraft. Estou gostando desse volume 2. Ainda não cheguei na metade do livro, mas me arrisco a dizer q esse volume está melhor que o primeiro.

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