Alucinados, escatológicos, hardcores e
principalmente transgressores. É dessa maneira que defino os enredos criados
por César Bravo, escritor brasileiro e que até agora lançou os seus contos
apenas nas versões digitais. O grande problema para os escritores que decidem
seguir essa vertente do gênero terror é não cair no ridículo. Cara, é triste ler
uma história onde há membros decepados, carne rasgada, entranhas espalhadas e
ao invés de sentir o velho amigo medo, você acha tudo aquilo hilário, uma
verdadeira comédia e das piores! Parecida com aqueles pastelões de quinta
categoria. Talvez por isso, existam tão poucos escritores que optem por seguir
essa linha.
Para escrever histórias de terror hardcores é
preciso que o escritor seja “O Cara”. Não basta apenas espalhar sangue e mutilações
nas páginas, é preciso dar sentido a
toda essa escatalogia, dotá-la de inteligência, perspicácia, suspense e
principalmente “surprise. E se o autor der uma deslizada num desses itens:
‘blau-blau’, a sua história já se torna amorfa ou o que é pior: engraçada. Mêo!
Pare e pense, existe algo pior para um escritor ou contista de terror do que
ouvir: -“Achei a sua história tão engraçada”. Argghhhh!!! Seria o mesmo que
receber um soco na ponta do queixo.
Tomando por base os seus três livros de contos que
li (“Calafrios da Noite”, “Além da Carne” e “Navio Negreiro), César Bravo
conseguiu dotar os enredos de uma dinâmica fantástica, fugindo da... digamos...
‘hilaridade’ ou comicidade. Acredito que ele foi mais além, conseguindo imprimir
às suas histórias, um certo humor negro; daqueles que você ri da desgraça
alheia, mas com um baita friozinho na espinha, não querendo jamais estar na
pele do (a) pobre coitado (a). Explicando melhor: não é aquele riso pastelão,
mas um riso mordaz, medroso.
E foi esse riso temente que dei nas últimas páginas
do conto “Navio Negreiro” ao ver o fim cômico e ao mesmo tempo horrível do
vilão da história. O lance do esfregão imundo passando.... bem melhor parar por
aqui para não estragar a história com um spoiler. Ri muito com essa passagem,
mas também imaginei o sofrimento do cara. E que sofrimento!
“Navio Negreiro” é um conto curto com apenas 61
páginas, mas a medida que você vai lendo, o desejo é de que “quero mais, mais e
mais”.É o tipo de conto, como costumo dizer: ‘crescente’. A cada página lida, o
suspense vai aumentando e você tem que se controlar para não ler logo de cara o
final. O personagem principal apronta tanto, mas tanto que o leitor não vê a
hora do merecido castigo. E para isso, de repente, a gente se vê torcendo para
um outro vilão da história. E bota vilão nisso: traficante, feiticeiro,
macumbeiro e isso e mais aquilo, mas por outro lado, o tal Manfredi é barra
pesada: racista, sádico, espancador, imoral, valentão e capaz de tirar a vida
de um homem como se estivesse pisando numa formiga. São dois personagens
marginais ao extremo, mas a maioria dos contos de Bravo tem essa
característica. Os personagens desenvolvidos pelo autor sempre estão á beira da
marginalidade, sejam eles vilões ou mocinhos, fugindo de situações caricaturais.
Em “Navio Negreiro”, Bravo conta a história de homens
que vivem como ratos, disputando espaços e patentes dentro de um presídio de
segurança máxima. Esses homens são humilhados fisicamente por alguns
carcereiros que se divertem ao praticar atos imorais, entre eles, o pior de
todos: Manfredini. O cara gosta de descer o cacete nos presos e se julga o “Rei
do Pedaço”. Para ele, bater ou matar são ações semelhantes. Sua vida se torna
um verdadeiro inferno quando decide rachar a cabeça de um detento. A partir
daí, a coisa pega... literalmente!
Os amantes do gênero terror certamente irão gostar.
Pena que o livro saiu, por enquanto, apenas na versão digital, onde os leitores
interessados poderão adquirir na Amazon.
Com certeza, sou um dos blogueiros que mais torcem
para que Bravo consiga, em pouco tempo, lançar os seus livros na ‘versão física’.
Ele merece.
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